a oferenda

Se se morre de amor ? 

Não, certamente que não.

Mas há quem mate por amor.

E há quem mate o amor.

Usando e abusando do direito de maltratar 

aquilo que deveria pairar 

como um jubilosa oferenda dos deuses.

                   os algozes

Quem sou eu, afinal ?

O que eu acho que sou

ou o que os outros acham ?

Olho em volta e só vejo falsidade, hipocrisia.

Será que os outros me veem assim, também ?

Porque para os outros, nós somos os outros.

Quem sou eu, afinal ?

Se é que isso importa.

Se é que alguém se importa.

Se já me julgam e condenam à revelia.

Até quem dizia que me amava.

Na verdade, meus piores algozes.

 

                           A ARTE DE VIVER

             (inspirado no Encheiridion, de Epiteto)

Nada é como a gente quer.

Como diz a sabedoria popular, cada cabeça, uma sentença.

A felicidade fundamentada na serenidade e no pleno domínio

de si próprio é a maior das utopias.

Teimamos em ignorar que nada que provém de circunstâncias

alheias a nossa vontade

deveria nos causar dor e sofrimento. Não de maneira contínua,

compulsiva.

Quase tudo o que nos aflige e fere 

diz respeito muito mais a visão que temos das coisas 

do que dos fatos em si.

Há que ter discernimento para entender que existem coisas

que estão em nosso poder e outras

que estão além do que podemos fazer, como já dizia Epiteto

há 2.500 anos atrás.

No mais, todo cuidado é pouco para evitar

que as tentações e desejos possam nos subjugar.

Está no encheiridion  :

1. Bens e dons não definem ninguém.

2. Respeite seus limites

3. Se não for correto, não faça

4. Busque o lado bom das coisas

5. Haja de acordo com sua compreensão

6. Não minta, nem seja falso

7. Siga seus planos, não se deixe importunar

pela opinião alheia.

8. Seja você mesmo, deseje apenas isso.

9. Não se importe com o que pensem de você.

10. Nada te pertence, logo nada perderá.

Viva como o hóspede de um hotel, deixe as coisas partirem.

 

 

 

                     reflexões estoicas

Seria bom lembrar que quando amamos,

amamos alguém que é falível

e cheio de defeitos.

Ignorar isso 

inviabiliza, de antemão, 

qualquer relação. 

                  Não se banha duas vezes nas águas

            do mesmo rio. Pois o rio sempre é outro. 

            (Heráclito, o pai da dialética)

O segredo de viver bem está em não condicionar

nossa felicidade à coisas que estão fora de nosso

controle.

             Esteja preparado para dizer : isto não é para mim.

             (Epiteto) 

que 

                           a liturgia do amor

Se não há sinceridade

Se não há confiança

Se não há cumplicidade

Se não há vontade de ficar junto

Se não sentir ciúmes, mesmo disfarçadamente

Se não sentir saudade 

Se não sentir vontade de tocar, beijar, fazer carinho

Se não estiver disposto a fazer sacrifícios

Se não ficar lembrando e valorizar as coisas boas 

que passaram juntos

Se não demonstrar seu afeto com pequenas atenções

e gentilezas 

Se não é isso, 

ou quase isso,

pode ser tudo,

menos amor. 

                     a quem interessar possa

Tudo o que é demais, sobra.

           Quem é do mal não enjoa.

Ando muito cheio de vazios.

          Se todas as coisas inúteis tivessem serventia,

           ninguém mais passaria necessidade. Todos cagam, né ?   

          O meu vazio é cheio de incoerências ( como diria

Manuel de Barros )

 A quem interessar possa, amanhã é outro dia.

                      

       

                   a armadilha do amor

Não terceirize sua felicidade.

Não projete nos outros seus anseios e desejos.

Não transfira suas expectativas e responsabilidades.

Não dependa de ninguém para fazer o que gosta,

correr atrás de seus sonhos.

Porque nenhum tipo de dependência é salutar.

Ninguém, além de você mesmo, é capaz de suprir,

de forma duradoura, suas carências e necessidades.

Sequer compreensão e reconhecimento espere.

Eis a grande armadilha do amor.

Quando o superestimamos.

Quando achamos que vale qualquer sacrifício.

O que está longe de ser verdade.

Tudo na vida requer reflexão, comedimento.

E o amor ainda mais, a partir do entendimento 

de que é em cima dos erros que se cresce.

Desde que sirvam de lição para construir

algo que liberte, ao invés de oprimir.

Que acrescente, ao invés de suprimir.

Sou fiel a meus pecados.

Deles não abro mão.

De nada me arrependo.

Sinto remorso mas faria tudo outra vez.

De outro modo.

Com mais esmero.

Sem tantos medos de me arriscar.

E sobretudo, sem me importar tanto

com quem não se importa comigo.

 

Esse céu de fogo

enfeitando o final de outono,

dispensa clichês.

               Mulheres são como cofres

                       que precisam ser arrombados,

               para saber seus segredos. 

No fim das contas, findo o encanto, 

a beleza,

as distrações que inebriam,

o amor é como qualquer coisa

que se quebra,

que se consome,

e se caga.

                siga em paz

Nunca é fácil desistir de quem se ama.

Mesmo não dando certo.

Mesmo te fazendo sofrer.

Mas tudo tem um limite.

E o amor não é exceção.

Não adianta querer que a vida seja o que não é.

Que as pessoas sejam o que não são.

Fiz de tudo para te compreender.

Fiz um monte de concessões para te aceitar.

Na esperança que mudasse.

Que no mínimo me respeitasse.

Mas a tua natureza mundana sempre acaba

falando mais alto.

Cansei.

Cansei de dar murro em ponta de faca.

Siga em paz, moça.

Ache outro otário para te bancar.

Alguém que não ligue de ser desrespeitado, 

de ser passado para trás.

Já fui traído sem saber, mas levar chifre sabendo,

nem fodendo.

 

                        o impasse crucial

 

O mais difícil numa relação que desvirtua,

é quando você se vê obrigado a optar

entre ser tão desleal quanto o companheiro,

ou partir para outra.

O que nunca é indolor.

Porque quando se ama, é foda.

Tolera coisas inimagináveis, faz das tripas coração 

para superar.

Até chegar ao impasse crucial :

manter um mínimo de dignidade

ou se conformar em ser capacho.

Nunca teremos todas as respostas.

Mas nem por isso deixemos de perguntar.

            Ninguém engana o coração.

            O que pode acontecer 

            é o coração se autoenganar. 

Ponho a isca no anzol.

Só falta combinar com os peixes.

           

            Às vezes o seu pior é o seu melhor.

           

Essa estranha sensação 

não me é estranha. 

O frio na barriga, o dedo na ferida.

Quem já amou, nunca esquece.

Às vezes é preciso celebrar

uma batalha perdida.

Um amor derrotado.

Uma despedida.

´w 

                        meu tempo de otário acabou

No fim das contas, tornei-me aquilo que nunca quis ser.

Não muito diferente de todo mundo.

Egoísta, hipócrita, mentiroso, em suma, um farsante

como outro qualquer.

Que finge ser o que não é, para não ficar 

em desvantagem.

Meu tempo de otário acabou.

Até isso devo a você.

 

               o caos que me devolveu a vida.

Como lido com você, me diga ?

Me diga, me dá uma dica de como me imponho, 

me recomponho, 

recupero o autocontrole,

a vergonha na cara.

Nem me reconheço de tão carente, 

dependente de toda e qualquer coisa que venhas me dar.

Mesmos os rompantes, os despautérios

com que me torturas.

Nunca conheci alguém tão inconstante.

Anjo e demônio ao mesmo tempo.

Que feitiço é esse que me põe de joelhos,

me encanta e castiga,

não tenho mais paz.

Você é o caos que me devolveu à vida.