domingo, 29 de novembro de 2020




O que se ganha sendo bom,

compreensivo, humano ?

Um toco, um soco, um chifre ? 


Ser legal não basta,

se não for com a pessoa certa.

Se for com quem não presta.




Há um tempo na vida, com a página quase em branco,

em que ansiamos por companhia, atenção,

quase imploramos por um amor, correspondido ou não.

Mas vem o tempo em que a ausência de tudo isso,

é tudo de bom.






                            natural que tenha acabado






Recordarás, ainda, de mim

tal qual me conhecestes ?

Seria eu, então, melhor

naquela época ?

Com o pouco que te oferecia ?


Ora, se mudei para pior, quem sabe 

foi porque nossa relação me faz mal.

Assim como, pelo visto, fez à você também.

Mas, não nos culpemos.

Afinal, é o velho roteiro de sempre.

Finda a paixão, arrefecido o amor, que julgávamos

sentir,

acabamos por nos ver

como realmente somos.

Natural que tenha acabado.






                                       

                  O MAIOR PRESENTE






Tudo de bom e de gratificante na vida

passa pela possibilidade de fazer o que se gosta,

o que nos dá prazer.

O que as apreciáveis posses materiais e o dinheiro

nem sempre conseguem.

Como, por exemplo, a sensação de paz, de liberdade.

Não precisar dar (nem pedir) satisfações de seus atos.

Poder falar, pensar, fazer o que lhe der na veneta,

sem receio de contrariar, de ser mal-interpretado. 

Tendo apenas

a própria consciência como juiz.

Poder ligar o foda-se, 

e ir dormir leve como uma pluma.

Pode haver coisa melhor ?


Coisas simples, aparentemente fáceis de obter,

mas cujos obstáculos se agigantam 

na proporção

das responsabilidades e compromissos

que estamos sempre à assumir. Voluntariamente ou não.

Afinal, ninguém vive sozinho.

Há regras, obrigações, imposições

das quais não se consegue fugir nem ignorar.

Que tendem a aumentar a medida que 

formamos família, progredimos, 

eventualmente galgamos a fama,

o sucesso e o dinheiro jorram.

Cujo preço, no mais das vezes, é o fim do sossego,

da paz,

da liberdade.

Dos pequenos prazeres que são o maior

presente da vida.




 


   



    

                 de ouro ou de merda





Há sempre muitos caminhos à trilhar.

Múltiplas escolhas.

Muitas maneiras de conseguir as coisas.

E de perdê-las.

Sob o áugure desse estranho mundo,

a um só tempo indulgente e temerário.


De vigílias e sevícias é o nebuloso aprendizado

que se impõe as misérias de cada dia.

Sobre o ontem e as perdidas coisas

esculpimos o amanhã de ouro 

ou de merda.


 

sábado, 28 de novembro de 2020



                                      o espelho partido





Em tempo percebi que há tarefas que

que jamais serão cumpridas.

Que o inútil esforço se desfaz diante do austero 

breviário de desilusões.

Que paira como um espelho partido, deformando 

o que foi perdido.

Alheio a conversão de todas as coisas.


Nunca se sabe qual o momento da mudança

irreversível.

Constatado que não há mais nada pelo que

valha a pena lutar.

Quando o amor não mais compartilhado se avilta

de tal forma

que nem o perdão se faz mais necessário.



  

quinta-feira, 26 de novembro de 2020



 


 






    



 

    





Acho que o obituário mais honesto que poderia

ser escrito, sobre qualquer pessoa,

é o seguinte : tinha um lado bom,

como todo mundo, mas também tinha 

o seu lado sujo.

Que cada receba aquilo a que fez jus.


Descanse em paz, eterno pibe Maradona.




 

domingo, 22 de novembro de 2020



            a sina dos deserdados



          


E se eu tivesse  nascido aleijado,

deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,

largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,

num buraco qualquer, num gueto, indesejado, 

mal-amado, 

maltratado,

como tantas crianças,

como a maioria das crianças, 

que crescem sob as maiores privações,

sem acesso a nada,

estudo, saúde, 

discriminados,

marginalizados,

sejamos francos,

quem poderia me julgar ?

Quem poderia me condenar 

por não seguir as regras,

aos padrões vigentes,

impostos pela burguesia, pelos poderosos ?

Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,

a vida foi generosa comigo,

o que me obriga a ser minimamente compreensivo

e tolerante

diante da excruciante sina dos deserdados.

Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.

Ninguém é ruim por acaso.

E nem todos são maus por natureza.












  



                             ninguém merece

               ser feliz

               para sempre





A minha melhor lembrança 

é daquela tua alegria escandalosa.

Do teu jeito de fazer as coisas darem

certo, mesmo quando não davam.


A minha melhor lembrança é de como

nos bastávamos, 

mesmo nem tudo sendo flores.

 

A minha melhor lembrança...foram tantas

que se tornaram banais.

Daí, talvez, não ter durado.

Ninguém merece ser tão feliz

para sempre.


  



A vida só muda 

quando a gente muda.


 



                                       o buraco





Quando se têm um buraco no coração

Tudo o que se quer

É que pare de doer.

Não importa como.

O que só com o tempo se consegue.

E olhe lá.

Pois dependendo de como acaba,

Nunca passa.

Não enquanto houver mágoa e ressentimento.

A ferida pode até cicatrizar.

Pode até não mais doer.

Mas o buraco continua.










sexta-feira, 20 de novembro de 2020



                    DEUS ME LIVRE DOS AFETOS





Meus afetos me fazem mais mal do que meus desafetos. 

É o preço que se paga pelo amor, pelo apego, pelos cuidados, 

pelas preocupações.

No mais das vezes não correspondidos, 

sequer valorizados.


E o pior é que não se pode fazer nada a respeito. 

O que vai no íntimo de cada um, ninguém sabe.

Ninguém ao outro verdadeiramente conhece. 

Nem mesmo os entes queridos.

Que são os que mais nos decepcionam.  

As vezes sem culpa estabelecida.  

Nós é que os superestimamos. Nos iludimos.


Eis porque rezo a Deus

para que me livre do jugo dos afetos. 

Que dos desafetos me livro eu.







 De todas as cicatrizes, um filho que te volta as voltas

é a mais funda.

De todas as vinganças, a alienação parental é a 

mais nefanda.




quinta-feira, 19 de novembro de 2020



                 doce e singular servidão





Nem todo saber que perscruta o tempo incessante

é capaz de conciliar 

as mais preciosas dádivas : amor e liberdade.

Amar é a mais doce e singular servidão,

posto que consentida. 

Abre-se mão da liberdade, como no paradoxo do eleata,

em nome da ilusória doação incondicional.

Amor de entrega, que persiste,  não obstante feito 

de devoção e guerra. 

Pois não há um instante em que não possa ir

do Paraíso ao Inferno.


Não há liberdade no amor.

Não há liberalidade no enleio amoroso.

Ninguém conhece o mapa da alma de uma mulher, 

como já cantou alguém.

Como tudo na vida, da empolgação à decepção, 

é só uma questão de tempo.

Tudo nos remete ao adeus. 

O que nos parece divino, dura o tempo 

que duram as fugazes magias.

Fazer durar em meio a tantos antagonismos 

é como tatear às cegas.

Arriscando-se à tudo.

Sem certeza de nada.









  




 







O traído que também trai ou traiu, sem o traidor saber, 

e ainda se faz de vítima, não perdoa, 

pode enganar todo mundo,

mas a ELE não.


 



quarta-feira, 18 de novembro de 2020



                                     expectativas




Não se iluda,

tudo o que é muito desejado,

depois de obtido,

acaba invariavelmente aquém

das expectativas.

Bens materiais nunca suficientes.

O amor que se revela um blefe.

Respeito e reconhecimento que só perduram

enquanto você for de alguma utilidade.


Eis porque da vida nada mais espero

além do que a vida pode dar.

Expectativas, zero.

Fé nas pessoas, zero.

Fé em Deus, bem, aí entra o benefício da dúvida.

Posto que de nada posso reclamar.

Além de ter nascido.








 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020


                o justo e o razoável




 


Faça só o que for justo e razoável.

Nada além disso.

Para não acharem que o que você faz

é por desencargo de consciência.

Para se redimir, expiar culpas,

como se fosse devedor.

Faça só o que for justo e razoável,

e já está bom demais.

Porque a maioria sequer merece.








domingo, 15 de novembro de 2020




Às vezes é preciso a vida te dar uma rasteira,

para você sair da zona de conforto.

Para saber quem é quem.


Pior do que a indecisão é não ter opções.


Sabedoria não é cultura, erudição, estudo. 

É a arte de viver. De conviver.


O maior erro que se comete no amor 

é achar que o que está bom para um, está para o outro. 

O segredo da longevidade está no meio-termo.


As coisas só param de piorar

quando precedidas de uma atitude mental compatível.



Nas separações, a retaliação sempre é o pior caminho.

Principalmente quando envolve filhos. 

Que são os que mais perdem.



  









 



                                             c´est la vie






Ah, quantas tralhas carregamos ao longo da vida.

Verdadeiras cangalhas que nos tolhem, oprimem, mutilam.

Quase sempre insuficientes, incapazes de atender as severas

expectativas alheias.


Às duras penas, 

venho aprendendo a lidar com o jugo dos sentimentos, 

das cobranças e responsabilidades.

Aprendendo a ficar quieto no meu canto,

sem esperar nada de ninguém.

Ainda que o distanciamento magoe e machuque.

Ainda mais para quem se sente merecedor de um mínimo

de reconhecimento e reciprocidade.


Ledo engano. Ninguém se acha devedor.

Todos se acham merecedores.

Tudo tem seu preço.

Às vezes você não dá nada 

e recebe tudo.

Em outras, é o contrário,

e até um pé na bunda acaba recebendo.


Ces´t la vie,  como diriam os chineses.


 

sábado, 14 de novembro de 2020


                                         o mar de Ulisses






Quem me dirá o que é certo ou errado ?

O que devo ou não devo fazer,

argumentos que me justifiquem perante os outros ?

A um só tempo, compreensivo e indulgente.

Sensatamente, em meio à selva de interesses 

e mistificações ?

Ora, ao amor defenestrado impõem-se às misérias 

de cada dia.

A sabedoria que há na falta de respostas 

me redime.

No mar de Ulisses me perdi.

Esse incessante mar que no diário exercício da vida

sabota os esforços, destrói os sonhos,

sulca a areia infinita. 

Alheio a nossa vontade.







                        tempestades





Depois que as tempestades passam,

a vida sempre se refaz.

Às vezes para melhor.

Às vezes precisa alguém te dar a mão,

te levantar do chão,

te chamar à razão.


Sozinho é sempre mais difícil,

deixar-se assim,

derivar a vida.

Esquecer as mágoas vãs.

As expectativas descabidas.

Deixar para trás o que não pode ser mudado.

Laços desfeitos,

tudo que amamos.

Amor que ao deixar de existir,

vê-se sem méritos, atrativos.

Como a flor e o fruto abruptamente

arrancados pela 

tempestade.

 

  




















 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020


                                    a nova realidade



 


Viver não é mais preciso.

Séculos de História reduzido à fábulas.

Basta simular, projetar, fantasiar sob estímulos alheios.

Amamos, copulamos, matamos e morremos

sem sair de casa, 

no âmbito de uma telinha mágica. 

O próximo passo - a inteligência artificial -

recriará o Genesis. 

O homem como deveria ter sido.

Sem a tutela de Deus.

Cuja invenção nunca deu certo.

Nem do homem, nem de Deus.













     









quinta-feira, 12 de novembro de 2020




                                        polifonia





Tanta exuberância, tanta abundância, tanta

diversidade, 

e o planeta não existiria sem o labor

anônimo da minúscula abelha. 


Tanta prosápia, tanta bazófia, tanta jactância,

e o homem não é capaz de conviver

em paz e harmonia.


Tanto querer, tanto empenho, tanta devoção,

e nem assim o amor 

resiste as armadilhas do tempo.


 

terça-feira, 10 de novembro de 2020



                             vida bizarra





Sou apenas um homem só 

"que sonha que alguém o sonha".

Sei que para ti sou apenas um eco,

alguém que deixou de ter qualquer mérito ou

atenuante.

No entanto, folgo em constatar, 

nem todos pensam assim.

Ah, vida bizarra, em que são os estranhos 

que te dão mais valor.

Se essa é a lei da vida, não sei.

Só sei que aos olhos de quem mais amei,

um inimigo me tornei.  







 




 



 




 


 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020



"Por que açoitas essa pobre rameira ?

Vira contra ti próprio essa chibata.

Estás ardendo de desejo de com ela

realizar o ato de que a castigas."


(Shakespeare/ rei Lear/ato IV/cena V) 





domingo, 8 de novembro de 2020

                           

                                           outros olhos





O que vês em mim, que tanto te espanta ?

O que vês agora, que já não vias antes ?

Talvez com outros olhos.


Não, não fui eu que mudei.

Sou o mesmo que conhecestes, de longa data.

Fraco, falho, promíscuo ( como dizes ).

Tu que mudaste.

Tu que abriste os olhos

para o que antes não vias.

Para aquilo que o amor escamoteava,

não te deixava ver.





sábado, 7 de novembro de 2020

 

                             houve um tempo



                                 



Houve um tempo maravilhoso na minha vida,

em que eu tinha tudo, era feliz

mas não dava valor.

Por falta de sabedoria.


Envelheci.

Perdi quase tudo que tinha.

Mas não vou cometer o mesmo erro.

Descobri muitas coisas. 

Redescobri outras tantas.

E sobretudo, saber valoriza-las.

Mesmo as mais simples.

Como uma boa noite de sono.

Acordar sem dor.

Reparar na paisagem, nos detalhes,

nos pequenos prazeres.

Como um prato de feijão bem temperado.

O valor de um abraço.

Deixar a emoção fluir, sem vergonha de demonstrar, 

assumir as culpas,

não querer ser a palmatória do mundo.

Encarar as privações e provações

não como castigo, 

mas como degraus a mais

para o crescimento espiritual.


Perdoar-se,

para poder perdoar.

Porque o perdão faz mais bem 

para quem perdoa

do que para quem é perdoado.




 





 
Ele me pede uma esmola,
sem saber que o mendigo sou eu.




 


                                                           meus sentimentos

 



Onde eu gostaria de estar, não posso.

O que eu gostaria de fazer, não deixam.

Mas pouco importa.

Aprendi a lidar com as perdas.

O que eu tenho me basta. 

E não é pouco.

A beleza das coisas simples.

E a afeição dos que (se) importam.





 


 

                                 memórias roubadas





O que eu não daria

pela memória

de te ouvir dizendo

que te enganastes.

Que te arrependes.

E que ainda me amas.

Ver-te estender a mão, à

a sonhada reconciliação.

Ah, laboriosa mente, 

que entesoura o que o tempo

me roubou.




  


 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020





A gente pode abandonar os desejos, 

mas os desejos nunca abandonam a gente.


            A vida não me deu tudo o que pedi,

            mas me deu muito mais do que mereci.


Sentir-se só

em meio a tanta gente.

Bem-vindo ao mundo virtual.






              






            



                            O PÊNDULO





Pouco nos importa o fado alheio.

Ainda que de "breves sortes e penas sem fim".

São problemas dos outros, danem-se !

No inclemente tempo que tudo corrói, ignoramos

A implacável lei de causas e efeitos 

Que a tudo rege. 

Nos simulacros da vida embutidos,

A visão do austero espelho,

Os pequenos milagres do cotidiano.

A noite infinita.

As vigílias e as desditas.

O plano incompreensível dos geômetras.

O mar.

As ondas.

Os jardins.

Os livros.

Os ancestrais.

Nas infinitas ramificações da existência,

as fábulas,

as metáforas

que nos conectam 

as duas faces opostas de Jano.

Ao mundo de ferro e magia

que não entendemos.

Ao perpétuo pêndulo dos sentimentos

que nos governa.





 


terça-feira, 3 de novembro de 2020



                    O TROCO




O que pode o amor

diante da cruel indiferença,

se não consegue sequer dar o troco

na mesma moeda ?

Eludido, talvez diáfano, 

em que procura quem já não

o procura.

Anterior ao tempo que se fez

ausente.

Longe de mim qualquer revide.

Pouco importam as troças, o menosprezo.

Não serei indigno de um passado

tão ditoso.

De tão deprimente desfecho

não compartilharei.




                                  a lei do retorno





No fundo, a única questão existencial e filosófica

relevante

é a dor.

Todo o resto, é resto.

Supera-se.

Já a dor é permanente,

atormenta, tortura,

inferniza.

A curto, médio e longo prazo. 

Física ou mentalmente.

E o que é pior : compulsoriamente.

Ninguém escapa daquilo para o que 

não há antídoto,

remédio, vacina.

Independentemente de cuidados, idade,

o máximo que se pode fazer é prevenir,

retardar.

No mais, quase sempre, é tudo uma questão

de sorte, destino, carma.


Em meio as mais variadas teorias,

eu apostaria na chamada lei do retorno.

Na Justa Lei Máxima da Natureza.

Segundo a qual, por cortesia dos deuses,

os bons e os justos sofrem menos.

No mínimo, é um bom motivo para sermos

menos escrotos.








segunda-feira, 2 de novembro de 2020


                              rompantes




Há defeitos que anulam qualquer

qualidade.

Irascibilidade e impulsividade, por exemplo.

Não adianta ser bom, honesto, bacana,

responsável,

se for pavio curto,

não ter autocontrole.


Falo de cátedra, perdi a conta de quantas

vezes me prejudiquei, pus tudo a perder, 

em função de rompantes, explosões impensadas.

Ainda hoje, minha grande luta continua

sendo contra mim mesmo.

Não sei se há  esperança para mim.


  



                

 




Finados.

A cada ano a lista de perdas

aumenta.

Até chegar a nossa vez.

Não é agradável pensar na morte,

mas em sendo inevitável,

em sendo irrevogável e sempre presente,

convém preparar o espírito.

Viver cada dia como se fosse o último.


Não sei se existe vida após a morte,

mas conforta pensar que sim,

que um dia poderemos reencontrar nossos

entes queridos.

Mas o mais provável é que 

tudo comece e acabe

por aqui mesmo.

Razão a mais para não só  cultivar a memória daqueles

que se foram, como valorizar os que ainda estão conosco. 

Saudades de vocês, meus amados !






                     

                             o horror tem a idade do mundo





O horror das guerras

O horror dos massacres indiscriminados

O horror dos campos de concentração

O horror da miséria, da fome

O horror das doenças

O horror das prisões

O horror dos hospícios

O horror dos hospitais

O horror dos asilos

O horror das torturas

O horror das drogas, dos vícios.

O horror das perdas estúpidas, 

dos atentados, da violência gratuita,

O horror do abandono, da solidão...

Ninguém está imune aos horrores

da vida.

São recorrentes, inevitáveis.

Um dia, sempre batem à nossa porta.

Do nada.

Ou de tudo.

O horror tem a idade do mundo.






 

domingo, 1 de novembro de 2020




"As pessoas estão exaustas, infelizes e frustradas,

as pessoas estão amargas e vingativas,

as pessoas estão iludidas e temerosas, as pessoas

estão enraivecidas e pouco imaginativas" (Charles Bukowski)

 

Eu não quero ser mais uma delas. 















 


 










          A VIAGEM 





A garoa fria desta manhã de domingo

não me impede de fazer uma das coisas

que mais gosto : caminhar.

Minha terapia, em que ponho as ideias

em ordem, 

em que embarco no túnel do tempo,

ganho asas, voo para onde quiser.

Como viajar aos Emirados Árabes, 

abraçar meu amado filho Angelo,

a quem não vejo pessoalmente 

há dois anos e meio.

Voar até  Maringá, onde meu outro

filho, Allan, 

foi passar as férias com a namorada.

Posso ver minha mana Ivania, em Campinas, 

na sua rotina solitária mas nem tanto,

entretida com seus dez dogs. 

Me vejo diante da casa do meu ex-amor, 

em São Vicente, e a tristeza me assalta,

infelizmente continuo não sendo bem-vindo lá.

De volta ao calçadão, passo em frente ao píer 

onde joguei as cinzas de meu pai, há dez anos, 

e meu coração se enche de ternura 

ante a imagem de sua rosto sereno,

que volta-e-meia vejo em sonhos, 

que saudades, meu velho !

Instantaneamente, imagino-o ao lado da minha mãe,

da minha irmã Ingrid, que tão precocemente se foi,

e me vêm uma visão

de todos meus entes queridos reunidos, 

como antigamente.

Que é como idealizo o Paraíso.

Um lugar, um estágio, uma dimensão

em que aqueles breves momentos,

verdadeiramente felizes, que nesse plano

desfrutamos,

são eternos.

Viajo pouco eu, hein ?




 

 










 



 







 


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