domingo, 30 de junho de 2019

sábado, 29 de junho de 2019



                                                  por que ?



Por que é tão difícil ser feliz ?
Porque é mais fácil ser infeliz ?
Porque tudo conspira contra ?
Porque sempre (ou quase) sempre 
optamos pelos caminhos mais difíceis ?
Ou porque, pura e simplesmente, 
não fazemos por merecer ?


quarta-feira, 26 de junho de 2019


                   é o amor, meu chapa





Quem mais te ama, é quem mais te odeia.
Mas ainda não sabe.
Até o dia em que a ira explode.
Mágoas e frustrações represadas vem à tona,
levando tudo de roldão.
E o que era lindo e imaculado
num Vesúvio se transforma.

Não se iluda, não se engane,
juras de amor eterno não impedem
que cedo ou tarde
tudo desande,
tudo desabe.
Que tudo se volte contra você.
Os podres, as baixarias.

É o amor, meu chapa.
Não dura para sempre.
No máximo, alguns anos.
A medida que as pessoas se conhecem,
o amor aos poucos se apequena.
Em outra coisa se transforma.
Quando muito,
companheirismo, cumplicidade.

Feliz de quem entende e impede 
que o passado o presente atropele.
Que o amor ferido de morte 
mate tudo o que de bom foi vivido.
Que quem mais te amava, 
mais venha a te odiar.  







sábado, 22 de junho de 2019



                      possibilidades





Havia tudo naquela vida à ser descoberto.
À ser vivido, explorado à exaustão.
Tantas possibilidades denegadas. 

Aquilo que de ti desconhecia.
Aquilo que de mim desconhecias.
Aquilo que não tivemos oportunidade
de revelar.
Por medo, insegurança.

Coisas que poderiam nos unir
mas, ao omitidas,
acabaram por nos separar.




sexta-feira, 21 de junho de 2019



                                 O RESTO É RESTO







Há pessoas que se acham superiores porque são ricas.
Há pessoas que se acham superiores porque são cultas.
Há pessoas que se acham superiores porque se acreditam mais íntegras.
Há pessoas que se acham superiores porque são bonitas.
Há pessoas que se acham superiores porque são poderosas.
Há pessoas que se acham superiores porque se consideram mais espertas.
Ledo engano.
Nada disso efetivamente conta quando 
a sorte muda. 
Quando algum deus sacana estala os dedos e a vida
vira do avesso. 
E a pessoa se vê impotente, doente, perde entes queridos, 
faz besteira, ou simplesmente 
chega ao fim da jornada. 
Toda soberba e arrogância reduzida a pó.
É quando se percebe que só o que nos faz superiores, 
quase divinos, capazes de tudo enfrentar, é o amor.
A capacidade de amar. De perdoar. 
O resto é resto. 





quinta-feira, 20 de junho de 2019




               O OLHAR DO POETA


"É um mundo vertical : uma nação de pássaros, uma multidão de árvores... Tropeço em uma pedra, escarvo a cavidade descoberta e uma aranha imensa de pelo vermelho me olha fixamente, imóvel, como um grande caranguejo... Um besouro dourado me lança sua emanação metífica enquanto desaparece como um relâmpago seu radiante arco-íris... Ao passar, atravesso um bosque de abetos muito mais altos do que eu; caem no meu rosto sessenta lágrimas de seus verdes olhos frios e atrás de mim ficam por muito tempo agitando seus leques...Um tronco podre, que tesouro ! ... fungos negros e azuis deram-lhe orelhas, plantas parasitas vermelhas cobriram-no de rubis, outras plantas preguiçosas emprestaram-lhe seus filamentos e brota, veloz, uma cobra de suas entranhas podres como uma emanação, como se do tronco morto lhe escapasse a alma... Mais adiante cada árvore se separou de suas semelhantes...Erguem-se sobre a alfombra da selva secreta, e cada uma de suas folhas, linear, encrespada, ramosa, lanceolada, tem um estilo diferente, como cortada por uma tesoura de movimentos infinitos...Um barranco; a água transparente desliza sobre o granito e o jaspe...Voa uma mariposa pura como um limão, dançando entre a água e a luz...A meu lado as carceolárias infinitas me saúdam com suas cabecinhas amarelas...Lá no alto, como gotas arteriais da selva mágica, vergam-se as liliáceas vermelhas...Num tremor de folhas, a velocidade de uma raposa atravessa o silêncio, mas o silêncio é a lei destas folhagens...Ao longe, o grito distante de um animal confuso...A intersecção penetrante de um pássaro escondido... O universo vegetal apenas sussurra até que uma tempestade ponha em ação toda a música terrestre."


Aos olhos de uma pessoa comum, um simples, tedioso e até assustador bosque. 
Aos olhos do poeta, um mundo cheio de belezas, surpresas e encantamento.

(Descrição de Pablo Neruda de um bosque chileno de sua infância - "daquelas terras, daquele barro, daquele silêncio, eu saí a andar, a cantar pelo mundo"). Prefácio do livro autobiográfico, Confesso que Vivi.




                            pode crer





O inimigo está por toda parte.
Assassinos, ladrões, cobras traiçoeiras,
cães raivosos
caminham lado a lado, ao nosso lado.
À nossa espreita. Prontos para dar o bote.
Convenientemente disfarçados.
Lobos em pele de cordeiro.
Com uma mão estendida,
a outra de punho cerrado.
Numa mão,uma flor. 
Na outra, uma pedra.

Não fazem nada sem segundas intenções.
Pessoas comuns, aparentemente respeitáveis,
de terno, batina, jaleco, farda, toga,
disfarces perfeitos.
Afáveis, cordiais, amorosos, confiáveis,
até se revelarem. 
Ai de quem seus segredos a eles confiarem.
Que lhes permita de seus sentimentos e fraquezas se adonarem.
Pois advirá o dia em que tudo virá à tona.
Da pior forma possível.
Dirão, a teu respeito : olhem, nunca prestou.
Não passa de um farsante, filho da puta.

Tua casa frequentaram.
Em tua mesa comeram.
De ti, do teu trabalho, dependeram. 
E no entanto, te apunhalam.
Te enganam.
Te roubam.
Te humilham.
Te esmagam como uma mosca, se puderem.
Pois assim é o ser humano.
Ingrato, perverso, falso.

Não se iluda.
Nunca lhes dê as costas.
E sobretudo, não lamente de eventualmente
ficar sozinho.
Deus designou um anjo da guarda 
para estar sempre contigo.
Para o que der e vier.
É o que basta.
Pode crer.



















quarta-feira, 19 de junho de 2019







                    cadáveres insepultos






Estou cansado de desenterrar cadáveres.
Exumar sentimentos que se foram. 
Pessoas que deixaram de existir. 
Que talvez nunca existiram. 
Não do jeito que eu pensava.

Fantasmas rondam minha vida.
Atiçam a imaginação.
Exorcizá-los eu preciso
Para voltar à realidade.
Por mais triste e solitária que seja.

Antes assim do que viver no passado.
Tentando consertar o que não tem conserto.
Posto que o amor quando acaba,
Quando em indiferença ódio se transforma,
Nada nos redime, nada nos reabilita.
Nem os cadáveres que teimamos em desenterrar. 










Falar em moralidade e ética no Brasil
é como falar em Deus num puteiro.






                             quem me estranha






Minha sina é não saber ser o que não sou.
Vou ser sempre assim, falo o que penso e sinto,
doa a quem doer.
Impulsivo, melodramático,
às vezes meio inconsequente
mas jamais dissimulado, farsante.

Sou o que sou, o que sempre fui.
Quem me estranha agora, é porque nunca 
me conheceu.
Não sabe quem eu sou.
Nem se interessou em saber.

Se não crio raízes, se meu amor 
se desintegra, vai ver, 
são carmas que cultivo.
Nada posso fazer a respeito.
A não ser me reerguer a cada revés,
com a sagrada força que no coração atua.











sábado, 15 de junho de 2019



                  

Não peço muito da vida, para não abusar.
Um cadinho de paz.
Um bocadinho de carinho.
Ganhar meu dinheirinho
Para não depender de ninguém.

E, claro, 
Saúde e sabedoria
Para tocar minha vida
Não fazer tanta besteira
E sobretudo,
Não ser jamais motivo de pena,
ou chacota.




Quase lá.  Reportagem de A Tribuna com o amigo das tartarugas. 

sexta-feira, 14 de junho de 2019


         O SONHO MAIS BELO

            

Acordei do mesmo jeito de sempre,
mas me senti diferente.
Ah, os mistérios da mente...
Afinal, estava tudo igual.
Nada havia mudado.
Acordei sozinho, como tenho estado,

desde que meu amor foi embora.
Por que, então, essa leveza ?
Esse quase livramento,
como se tivesse desencarnado ?

Mas, não.
Me senti vivíssimo. 
Atento ao lindo dia que se prenunciava.
Tratei logo de fazer o que mais gosto :
sair para andar, o mesmo trajeto de sempre.
Meu divã, minha terapia,
meu caminho de Compostela.
Ao longo do qual não tardei a atinar
com o motivo de ter acordado diferente.
Diria até, contente.

Lembrei, então, que com ela havia sonhado.
O sonho mais belo, em que ela se ria,
ria a não mais poder.
Riso que eu daria tudo,
todo dinheiro do mundo,
para ouvir outra vez...



















quinta-feira, 13 de junho de 2019

                 

                             FUNGAR NO CANGOTE






Meu saudoso pai tinha um diagnóstico muito sucinto e certeiro para o secular atraso de nosso país. Dizia que o maior problema do Brasil é que enquanto há um tentando fazer as coisas certas, há vinte atrapalhando. Dos quais, dez por meios ilícitos, acrescento eu. 

E isso em todos os setores, é fácil constatar. Os medíocres, invejosos, desonestos e despreparados estão sempre pondo obstáculos ou defeitos. Não fazem e não deixam os mais capazes fazer. Como acontece agora em relação a perseguição nefasta e desesperada que se faz ao símbolo do combate a corrupção no país, Sérgio Moro, e extensiva ao pessoal da Lava-Jato. 

Que se limitada à corja petista desapeada do poder, com seu líder trancafiado há mais de um ano em Curitiba, até seria compreensível, pois ninguém entrega a rapadura sem luta. Mas o que revolta e agride as pessoas de bem, que apostaram no discurso moralizador de Bolsonaro, é ver setores importantes e até fundamentais nesse processo, aliados aos que saquearam e afundaram o país sob a égide da praga lulo-petista.

Desde a posse do novo governo, não houve um dia de trégua nessa conspiração hedionda articulada por setores que temem, e já sofrem, os efeitos das medidas saneadoras aos pouco implementadas. Setores poderosos, gente influente solidamente fincada na mídia, no congresso, na suprema corte, que se mostram capazes de tudo para desestabilizar e se possível, inviabilizar o governo que ameaça acabar com as seculares pilhagens e mamatas da cleptocracia até outro dia reinante.

Mobilização que chega agora ao auge, a sua cartada decisiva, bem ao estilo esquerdopata de fazer as coisas, com base em escutas criminosamente hackeadas entre o então juiz Moro e a força-tarefa da Lava-Jato. Material que pelo que foi até aqui vazado, nada acrescenta ao que já se sabia, a não ser a obstinação em manter Lula trancafiado. Condenações que de resto foram mantidas em segunda instância. 

De qualquer forma, um prato cheio e providencial para a corja de conspiradores voltar a por lenha na fogueira. Com tanta fome e disposição que nem o fato de ser um material obtido ilícita e criminosamente, sem qualquer apuração de sua veracidade, se foi editado, tirado de contexto, está sendo levado em consideração por aqueles determinados a minar a imagem de Sérgio Moro. 
A começar pelo patrono da bandidagem, Gilmar Mendes, que já se apressou em recolocar em pauta a questão da prisão em segunda instância, para o dia 25 próximo.
Além de antecipar seu voto, ele já adiantou também ser favorável a anulação de todas as apurações da Lava-Jato, por considerar o material contaminado pela suposta parcialidade de Moro e cia. 

Isto posto, só vejo uma saída para evitar um retrocesso desastroso para o país : sitiar o plenário do STF no dia 25. Que os patriotas saiam às ruas, como nas históricas manifestações de 2013, e cerquem o palco em que os inimigos da pátria pretendem destruir as conquistas que levaram a alma das pessoas de bem desse país. Fungar no cangote dessa gente a essa altura é a única coisa capaz de surtir efeito.





  



   

  





  

quarta-feira, 12 de junho de 2019





Eu era triste e sem esperança, 
antes de te conhecer. 
Tristeza e desesperança sem razão de ser.
Agora que te perdi, 
é que eu sei
o que é ser triste e sem esperança...


























                        se eu morrer amanhã






Se eu soubesse que ia morrer amanhã, 
nada de especial me ocorre fazer.
Provavelmente, as mesmas coisas de sempre.
Não iria procurar ninguém para me despedir
E muito menos para me desculpar,
pelo que fiz ou deixei de fazer. 
O que está feito, está feito, é tarde para consertar.

Também não tentaria me reconciliar com Deus,
pois seria muita hipocrisia.
E Ele saberia.
Nada de preces ou arrependimentos tardios.
Estou preparado para ser julgado por meus atos,
Responder por meus pecados.
Que foram muitos, alguns imperdoáveis.
Que me valeram o desprezo de pessoas que muito amei.
Quem sabe o tempo me faça justiça.

Não deixaria nenhum carta de despedida. 
Essas baboseiras que não servem para nada.
O que fiz em vida que fale por mim.
Quando muito, que deem um fim digno à velha carcaça.  
Se algum órgão pode ser aproveitado. 
E o que sobrar, a exemplo da minha mãe,
dispenso velório.
Pois como disse a velha,
não quero ninguém chorando lágrimas 
(de crocodilo) em cima do meu caixão.

Que incinere-se o corpo, 
e espalhem as cinzas em qualquer lugar
como tributo a vida boa que tive.
Ou joguem na privada.
Por mim tanto faz.
Não me ocorre fim mais apropriado
para esse melancólico fim de jornada.





terça-feira, 11 de junho de 2019


                           

                       SER HUMANO

                       



Interessante como a vida da gente de repente pode encolher, ou desidratar, para usar uma expressão da moda. Quando vemos o trabalho afundar, a família desintegrar, a vida afetiva desmoronar, distante dos poucos amigos, agarrando-se a alguns poucos interesses para segurar as pontas. 
Tudo isso numa espécie de efeito cascata, como à corroborar a velha tese de que desgraça pouca é bobagem. 
Como adepto da teoria da lei do retorno, acredito que tudo, ou quase tudo o que nos acontece, é consequência de nossos próprios atos. Das opções, crenças, maneiras de como lidamos com as peripécias e trapaças da vida. Processos em que os erros e trapalhadas são inevitáveis e de certa forma, vitais para o conjunto da obra, pois são através deles que se dá o crescimento e a sabedoria para seguir em frente sem desabafar. E eventualmente, ser feliz, dentro do conceito que cada um tem de felicidade.
Quanto a impressão, que às vezes se tem, de que nada é tão ruim que não possa piorar um pouco mais, talvez seja em função da corrente de negatividade produzida por nossa mente, a cada porrada que levamos. É a única explicação razoável que me ocorre para explicar o verdadeiro círculo vicioso que se desencadeia em certas etapas de nossas vidas, mormente na velhice, levando tudo de roldão, e em casos extremos, ao nocaute. 

Não faço segredo de que estive nas cordas algumas vezes. O castigo foi e continua sendo grande, os joelhos chegaram a dobrar, mas ainda não me curvei. Em poucos meses me vi descartado de um casamento de 18 anos, minha irmã Ingrid faleceu após dois anos lutando contra uma leucemia, sofri um golpe de um antigo parceiro comercial, perdi meu principal cliente por conta de um mal-entendido bobo, e otras cositas más, que prefiro nem comentar.  
Não tenho como saber se o mais difícil passou, nunca se sabe o que o destino vai aprontar, mas espero que sim. Já me conformei com as perdas, também não me preocupo mais em resgatar coisas que não dependem de mim, e troquei a revolta e o negativismo pela resignação.

Estou consciente do que represento para as poucas pessoas que ainda fazem parte da minha vida. Felizmente, ainda não sou um estorvo para ninguém. Felizmente, ainda consigo ser útil e capaz de cumprir dignamente com meu papel de pai, provedor e ser humano. 

Sobretudo, este, o de SER HUMANO. Com virtudes e fraquezas. Com qualidades e defeitos. Provavelmente mais estes do que aqueles, mas sempre colocando o coração acima de tudo. 


  



segunda-feira, 10 de junho de 2019



                     AS MAIORES MENTIRAS
                     DE TODOS OS TEMPOS


1. O crime não compensa.

Compensa, sim. Tanto hoje como antigamente, só os incautos ou ladrão de galinha é punido. Por incauto entenda-se o criminoso
inveterado ou descuidado, que se acha muito esperto para ser pego. No geral, o crime continua sendo a atividade mais lucrativa do mundo.

2. A justiça tarda mas não falha.


Tarda, sim, como de costume. E o pior é que falha, e muito. No Brasil principalmente, por conta não só do código penal leniente como de magistrados despreparados e corruptos. Vale para nossa justiça o mesmo sentimento de desconfiança e medo que se tem da polícia.

3. A vida começa aos 30.

A minha, infelizmente, só piorou.

4. Juro pelo que há de mais sagrado...Te dou a minha palavra...

Quem já não ouviu tais promessas enfáticas e solenes, que não tardam a ser descaradamente quebradas ? 

5. Dinheiro não compra felicidade.

Ah, tá. Vai nessa. Pode não evitar enfermidades, desgostos, e eventualmente até desgraças, mas nada nos consome mais do que a falta de grana. Agora mesmo, de bom grado tiraria um ano sabático de tudo se eu tivesse algum sobrando.

6. "Te amo por toda minha vida..."

Sem querer colocar em dúvida a existência do amor verdadeiro, a verdade é que na maioria das vezes, confunde-se as coisas. Confunde-se amor com paixão, carência, conveniência, e até amizade. Passada a empolgação, cai-se na real, quebra-se a cara, e o estrago muitas vezes é irremediável. Casamentos infelizes, desfeitos, filhos que pagam o pato. Não se iluda com o uso abusivo e indiscriminado da terminologia amorosa, não seja burro de levar à sério quando lhe sussurrarem, "você é o amor da minha vida"...

7. Deixa eu por só a cabecinha...

Dentro da mesma temática, quem já não passou por essa situação ? Mentira aparentemente inofensiva, mas sujeita ao resultado que todos sabem.

8. Deus está no comando. Deus sabe o que faz.

No comando do quê mesmo ? Como assim, sabe o
que faz ? No comando dessa esbórnia ? Só se for tipo aquele filme, "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu." Retoricamente, tudo bem, até se entende que as pessoas precisem de amparo, de um guarda-chuva, mesmo que na prática tudo se revele inútil, e o que prevaleça mesmo é a lei do livre arbítrio, condimentada pelo acaso. Fique em casa coçando o saco ou saia por aí fazendo desatinos, para ver se Deus resolve.

9. Detesto mentira !

Fuja correndo ou disfarce a risada quando ouvir semelhante afirmação. Segundo uma pesquisa recente no Reino Unido, em média mais da metade das coisas que as pessoas falam durante o dia ou são mentira, ou distorções da realidade. Ou seja...

10. Eu não tenho preconceito.

Tema tão antigo quanto controverso, em torno do qual a humanidade se debate desde priscas eras. A rejeição e a resistência a aceitação de outras etnias, credos, e inclinações sexuais, sempre foram - e provavelmente continuarão sendo - o grande entrave para o utópico congraçamento humano. 
 







 








sábado, 8 de junho de 2019



                            O AMIGO DAS TARTARUGAS 






Hoje, não resisti, ao me deparar novamente com aquela figura estranha, que há três semanas vejo sempre no mesmo local, na altura da ponte dos práticos, no calçadão da Ponta da Praia. 
- Qual tua história, cara ? -, fui logo perguntando, curioso e intrigado.
"Desculpe perguntar, mas tenho visto você direito nesse mesmo lugar, sentado na mureta, você passa o dia aqui ?".
- Sim, tenho ficado aqui, enquanto espero...
"Mas o que você está esperando ? Pelo jeito, você é de fora, nordestino talvez, pelo jeito do chapéu?"
- Sim, sim. Sou de fora. Vim para cá em busca de novos ares. Espero conseguir algum trabalho, um lugar para morar.
"Você está dormindo aqui ?"
- Sim, naquele banco do ponto de ônibus...
"Caramba. Difícil, hein ? E mesmo assim, bem disposto, alegre. Vejo você cumprimentando todo mundo. Outro dia vi que estava removendo o lixo do canal do estuário".
- Sim, desde que cheguei aqui, esse tem sido meu trabalho. Você não imagina quanto tem de lixo acumulado só nessa parte. Aproveito quando a maré está baixa e vou retirando o que eu posso. Jogo aqui na calçada, depois as mulheres passam e recolhem. Se eu tivesse onde recolher o lixo, fazia isso também", comentou, com a expressão séria. 
- Estou dando minha colaboração para preservar a natureza. Santos, um lugar tão bonito, que eu sempre quis conhecer, fiquei chocado de ver quanto entulho tem enterrado nessa areia. Coisas que vão se acumulando, peças de todo tipo, pedaços de ferro. Mas o pior de tudo são os plásticos. É o que me dizem minhas amigas, as tartarugas...
"Como assim, dizem ? Elas falam com você ?".
- Claro. Na língua delas. Entendo direitinho. Elas até sorriem para mim, sabem que estou livrando elas daquela sujeira.
"Poxa, legal, impressionante, cara. Como é mesmo seu nome ?"
- Marquinhos.
"De onde mesmo você é?"
- Hummmm. Vim de longe, deixei tudo para trás, casa, família. Precisava mudar de ares".
"Tá certo. Prefere não falar."
- Sim. O passado não me interessa mais".
"Tudo bem, eu entendo. E como entendo ! Espero que você consiga logo se estabelecer, morar em cima dessa mureta não deve ser fácil...",
brinquei, pedindo licença para algumas fotos.
- Tranquilo. Pode bater uma de nós dois. E agradeço o que puder fazer por mim -, exclamou, com um jeito altivo de quem ainda não perdeu a fé na humanidade. 
Oxalá não se decepcione. 



  


  




                        INOCENTES, QUASE VÍTIMAS






Somos todos inocentes.
De qualquer crime. De qualquer maldade.
Inocentes, quase vítimas
no grande tribunal do juízo final.
Hitler, Stalin, Jack, o estripador, Genghis Kahn, 
meros instrumentos, anjos exterminadores,
quando não, apóstolos diletos do Criador.
Heresia ? Certamente.
Monstros aos olhos humanos, sob as dúbias leis
e critérios que norteiam humanidade.

Quem os criou, como se criaram, em que circunstâncias,
sob quais motivações, pouco importa.
Monstros indefensáveis, sem dúvida, 
num mundo feito e regido pela barbárie, 
desde os primórdios.
Maldade, ódio, destruição, são parte da criação,
peças-chave no processo evolutivo.
Não é possível ignorar que as grandes transformações
se deram muito mais à ferro e fogo
do que por meios pacíficos. 
A força sempre foi mais persuasiva do que a conversa.
Tudo gira em torno do livre arbítrio.
O senso das coisas. 
A noção que podemos fazer, até onde podemos ir.
Que por sua vez é regido pelas leis.
Que por sua vez, estão sujeitas a interpretação dos homens.
De seres falíveis, que embora em tese, doutos, sábios, 
ponderados, como se supõe de magistrados,
estão longe de garantir que a Justiça seja feita.
Basta ver os disparates que emanam da Suprema Corte
tupiniquim.

Longe de mim bancar o advogado do diabo.
Sugerir que tudo possa ser perdoado. 
Que haja atenuantes para crimes e delitos deliberados e
premeditados, de toda natureza.
Digo apenas que é preciso cuidado ao se emitir juízos, 
julgamentos sumários, promover linchamentos públicos.
Há mil fatores a considerar. 
Ninguém sabe o que acontece entre quatro paredes.
Ninguém está livre de um dia ser réu.
De se ver na condição de acusado.
De cometer delitos.

Imagine-se alvo de um hipotética aposta entre Deus
e o Demo.
Você, uma pessoa do bem, honesta, íntegra, 
submetida a toda espécie de tentações. 
Como Jesus nos 40 dias que teria ficado isolado no deserto.
Até onde resistiria a promessas de poder, luxo, luxúria ?
Ora, tudo na vida é circunstancial. 
Tudo pode acontecer. Ou nada.
Rezamos para que coisas boas aconteçam, mas só rezar
não adianta. 
Só boas intenções não adiantam.
Ser bom não adianta.
Ser feliz é uma quimera.
Viver cada momento é só o que conta.
É só o que temos.
De preferência, nos abstendo
o quanto possível de julgamentos.

O próprio Deus não existe. 
Não da forma como nos ensinaram.
Deus está dentro de nós. Em cada um de nós.
Projetado em nossos valores, 
naquilo que somos e fazemos.
É a nós mesmos que devemos prestar contas.
Se eu estiver errado, 
já vou de antemão me arrependendo,
para que Deus tenha piedade de mim.
E me perdoe, me faça justiça.
Algo que aqui, 
seres que se julgam superiores se negam a fazer.





  




































quinta-feira, 6 de junho de 2019


                 
                      A JUSTA LEI MÁXIMA




Não se preocupe à toa. 
Nada vai dar certo. 
Nada acontecerá do jeito que você espera. 
Não vai acontecer nada de extraordinário, 
que mude a sua vida para melhor.
As coisas não vão melhorar, ao menos a curto prazo.
E não sem muita luta e sacrifício, 
pois a chamada sorte grande 
é para uma ínfima minoria que a gente só ouve falar
ou conhece á distância.
Aguente firme, espere sempre pelo pior,
alguma rasteira, golpe, calote, pois vigaristas
e mentirosos é o que mais têm.
Prepare o espírito, o bolso, cuide da saúde, porque 
as probabilidades estão contra você. 
As leis de Murfhy regem nossa existência.
Nada é tão ruim que não possa piorar...

Não se trata de negativismo, 
muito menos de pessimismo.
É única e tão somente a grande realidade.
É como as coisas são na grande maioria das vezes.
De que adiante se iludir, seguir os mantras 
da prolífera indústria da auto-ajuda, 
ter fé, e os escambaus quando na prática,
pouco ou quase nada de bom acontece.
E quando acontece, a conta logo chega.
O máximo que podemos aspirar 
é que as coisas não piorem,
mas, infelizmente, quase sempre pioram.

Segundo um escrito caldeu datado de 2.000 anos A.C.,
a Justa Lei Máxima da Natureza 
prevê que os acontecimentos
bons e ruins em nossas vidas se equivalham. 
E que, para as pessoas de bem, lúcidas e proativas, 
por uma cortesia dos deuses, os acontecimentos
favoráveis são em maioria.
Pense a respeito. Se as coisas boas são majoritárias em sua vida. 
Porque se não forem, vai ver 
é porque você não está fazendo por merecer.
Nem eu. 













  




quarta-feira, 5 de junho de 2019




                             a carne é fraca







O amor vem de supetão ou de mansinho,
Com seus jeitos e trejeitos.
Conheço-os de longa data.
As máscaras, os engenhos, a lábia.
Um engodo só.
Ardiloso e sorrateiro,
Não mais me engana.
Zombeteiro, irônico,
Amor que queima as pestanas,
Usa bandana, sandálias havaianas.
"E um torturante bandeide no calcanhar",
Amor que arde e se desfaz em cinzas, 
Que emerge dos mares,
Despenca dos altares,
Entra e sai de cena.
Passeia nos parques, anda de patinete,
Dorme nos bancos da praça.
Faz rafting, crossfit, stand up,
Fuma baseado nos jardins da praia.
Amor profano, que despreza a virtude,
Que caminha entre os mortos,
Dorme ao relento.
Às vezes tem pressa, às vezes retarda o passo.
Canta e dança no calor e no frio.
Na falta de dinheiro, desanda.
No desejo capitula.
Amor de renúncia, do golpe da barriga.
De decepções, muitas, muitas, muitas...
Estúpido, ridículo, lúbrico,
Desaprendido da linguagem dos homens,
Ora rasteja, ora viceja no limbo das redes sociais.
Amor que não se comunica
e se estrumbica, depois de corrompido.
De hábitos devassos, confissões patéticas,
Viaja a lugares imaginários,
De um mundo enorme e rachado.
Na escuridão reverbera,
Como líquido circunda,
E se dilui na riqueza, na busca insatisfatória.
Posto que tudo é falso, 
Nesse amor aviltado, precificado, de desejos nunca satisfeitos.
Que se esborracha no chão, como fruta madura.
Amor que faz das tripas coração, 
Que brilha feito estrela solitária,
E se apaga na noite sem inocência.
Amor de esperanças que malogram mas renascem
Em imposturas, sinecuras, rastejando entre no limpo, 
Para esquecer outro amor sem compostura.
Amor desfigurado e calculista, que corta fundo
Como o talho frio de uma navalha.
Expurgado, regenerado,
Ei-lo que de novo chega.
A carne exige. 
A carne é fraca.

                                        A               A                                          M        M
                                             O   O
                                                R
       A           M          O
         A        M        O
            A     M     O               A  M  O                              R OOOOOOO M                    R                                    R                        M
                    R                                 R                              M                    R                              R                                    M
                    R                            R                                         M
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR







terça-feira, 4 de junho de 2019



             eterno, porém desabitado







Ah, a renúncia à toda procura,
o princípio e o fim precipitado 
em magoado alvoroço.

Penei mas ao malogrado amor sobrevivi.
Conquanto tudo o que não passa, 
não morre.
Continua eterno.
Eterno e proscrito.
Eterno e maldito.
Eterno, na memória pétrea que resiste aos tempos.
No mundo desintegrado que habito.
Nas garras inefáveis do destino, 
nas defuntas crenças.
No amor desabitado e fluído,
todas as verdades que já não importam.  














domingo, 2 de junho de 2019


                               GENTE


Curioso, quanto mais rogo à Deus para me livrar de todos os males e falsidades, mais isolado fico. 


Às vezes fico em dúvida se só há gente falsa e desonesta nesse mundo. Em outras, tenho certeza. 

Não há defeitos que não possam ser perdoados. Exceto os de caráter.

Somos causa ou consequência ? Nunca saberemos.

Se a falsidade fosse uma doença mortal, o planeta estaria salvo.

Não deixa de ser emblemático que o ser humano se assemelhe tanto a três das espécies mais repelentes da natureza : a barata, pela capacidade de adaptação; o rato, por viver na sujeira e no esgoto; e a cobra, por motivos óbvios.

Ninguém ao outro conhece. O que vemos nos outros, é o que somos.(A lei do espelho) 










                             dona Martha



"Olha, filho, não bastasse a gente saber que se tornou um estorvo, sem serventia alguma, é triste se ver descartada da vida que era a sua vida, como se fosse uma roupa ou objeto velho. Por pessoas que são a sua família, para as quais você se doou e se dedicou enquanto teve forças. E que agora, mal se lembram de você. Talvez achando que já estão fazendo muito ao manter você num lugar como este. Esquecendo do principal, atenção, o calor humano."

Nas imediações do shopping Praiamar, há algumas moradias adaptadas para abrigar idosos, as chamadas casas de repouso, ou Home Care, e outros eufemismos para o que no jargão popular conhecemos como asilo. Na rua em que costumo estacionar, há uma até bem bem bacana, um sobrado grande e moderno em que me habituei a ver os velhinhos sentadinhos no grande corredor que servia de garagem da residência. Muitas coisas me passam pela cabeça ao vê-los assim, quietinhos, olhar perdido, em que estariam pensando ? Como estariam se sentido ?
Pois outro dia não resisti, e ao ver uma senhorinha miúda, o cabelo quase todo embranquecido mas bem cuidado, distraidamente apoiada no portão de entrada, segurei suas mãos e perguntei : tudo bem com a senhora ? 
Ela se assustou, mas em seguida esboçou um bonito sorriso, e respondeu : "sim, está tubo bem. Olhando um pouco o movimento, para me distrair".
Não foi difícil engatar uma conversa com ela, ainda mais lúcida e simpática como se mostrou dona Martha, o sobrenome esqueci. Falou que estava ali há 3 meses, que era bem tratada, não lhe faltava nada, exceto a antiga vida, o convívio familiar, conforme seu desabafo acima. 
De nossa breve conversa, interrompida por uma atenta cuidadora, não pude deixar de me ver como forte candidato a passar por algo parecido, num futuro não muito distante.  A menos que eu tenha a sorte de seu lobo chegar antes.







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