quarta-feira, 30 de janeiro de 2019



                     o réquiem do apocalipse







Barragens-bomba-relógio dizimam lugarejos inteiros.
Viadutos desmoronam na selva de pedra.
Logo serão prédios vetustos a cair, 
o solo se abrirá para expelir lixo e fezes.
Nas cidades superpovoadas, mendigos disputarão território
com ratos e baratas,
e formarão uma irmandade que sobreviverá
ao Apocalipse.
Haverá mais carros do que gente. 
Filas intermináveis congestionarão ruas e rodovias,
onde se abrirão enormes crateras,
engolindo passantes e veículos.
As cidades se tornarão inabitáveis, 
de tanta gente.
Sem emprego suficiente, 
haverá mais ladrões e prostitutas do que trabalhadores - se é
que já não há.
Chegará o dia em que não haverá comida suficiente,
água suficiente.
Lixões dominarão a paisagem, as praias contaminadas, 
e a falta de saneamento básico 
disseminará enfermidades 
e doenças letais.
Não tardará para que as mudanças climáticas se intensifiquem,
os rios sequem, as geleiras derretam, os oceanos avancem, 
espalhando destruição e dizimando populações inteiras.
Tudo devidamente documentado e transmitido em stremming,
com direito a selfies e tudo mais.
Para que os herdeiros do que sobrar do planeta
- se é que haverão - possam entender o que aconteceu.
E começar tudo de novo. 
O réquiem do apocalipse já começou.







                    lúcida quietude


Às vezes me sinto como se já não existisse,
como se já tivesse feito 
o que poderia ter feito.
E em já não podendo desfazer os malfeitos,
vivendo apenas para gastar o tempo.

Sinto como se a vontade e os pensamentos
já não importassem. 
Sem mais me importar com coisas 
que não posso mudar.
Sem nada a aspirar a não ser me juntar
aos que debaixo da terra repousam.

Ainda haverá um tempo para mim ?
Ainda haverá chance de me redimir ?
Só resta esperar.
Só o tempo dirá.
Livrar-me do passado para me libertar, 
              eis o caminho.
Nem queda, nem ascensão. 
Nem pausa, nem fruição.
Passado e presente se enlaçam,
para fazer o futuro.
Na lúcida quietude de quem mais nada espera. 












 

terça-feira, 29 de janeiro de 2019



O pior inimigo do homem : o próprio homem.
O pior inimigo da mulher : o espelho.










      


As coisas são assim porque são, 
ou são porque são o quê não são ? 






                 o manual da hipocrisia
       (ou, coisas que os livros de auto-ajuda não ensinam)







1. Quando alguém finge que gosta de você, finja que acredita. Falsidade com falsidade se paga.

2. O mesmo vale quando falam que te amam. Mas cuida para não se auto-enganar, aquela história de o sapo virar príncipe, só com muita grana no banco.

3. Não conte seus problemas e pecados a ninguém, para não ficar vulnerável. Muito menos a sua mulher. Porque tudo e muito mais será usado contra você numa eventual separação. Até ruim de cama corre o risco de ser chamado.

4. Acredite, desconfiando. Só empreste quando se estiver ciente de que provavelmente ficará na mão. Melhor dar. No meu caso, nem o meu Neruda devolveram...

5. Não queira entender a cabeça das pessoas. Muito menos da mulher. Elas são capazes literalmente de tudo para conseguir o que querem. Inclusive se prostituir. Não que isso seja desonroso, no vale-tudo da sobrevivência. São mais honestas do que muitas donas de casa que fazem as coisas pelas costas do marido.

6. Ninguém é feliz sendo 100% honesto, correto, sincero. Atributos que viram sinônimo de otário. A regra de ouro hoje em dia é ser pragmático. Dançar conforme a música. Andar no limite entre a decência e a imoralidade. 

7. Nada é mais hipócrita do que julgar os outros. Porque cada um sabe onde o calo lhe aperta. E ninguém dá nada a ninguém de graça. 

8. Viver bem é uma arte que requer um pouco de tudo. Ser essencialmente bom, mas obrigatoriamente eclético. Capaz de gestos do maior altruísmo e dedicação, 
mas se dando o direito de usufruir do que a vida tem de melhor. Questão de merecimento. Quem labuta, cumpre com suas obrigações, garante o sustento dos seus chegados, tem direito a contrapartida. Do jeito que for.

9.  Não se deixe influenciar ou subjugar por imposições que venham a tolhê-lo ou limitá-lo. A vida é um processo evolutivo
constante e implacável, há que se moldar e acompanhar o status quo vigente. Não seja a palmatória do mundo, assim como não permita que caguem na sua cabeça. Finja ser amigo de todo mundo e veja o que acontece. 

10. Esqueça do amor. Finja que ama que é melhor. Dói menos no caso da inevitável bola nas costas. E não diga que nunca tomou alguma. 
Não sabe de nada, inocente. 

  



sexta-feira, 25 de janeiro de 2019


                        

                     prazer e calvário


Ah, essas moças,
que tudo querem da vida,
sem medir consequências,
e quebram a cara.
Se entregam à fruição,
arrumam filho cedo, desarrumam a vida.
Ah, essas moças lindas e precocemente envelhecidas,
que querem tudo da vida e nada conseguem,
que investem no corpo ao invés da mente.
Bonitas por fora, corroídas, ocas por dentro.

Não, não é fácil ser mulher. 
Flutuando entre o ser e o não ser,
no breve trânsito em que a vida se consome,
tendo como única certeza a eterna aflição materna.
Vivendo por viver numa esfera de tempo que excede 
a própria privação dos sonhos.
Na evasão de tudo que faz sentido
- Lar, família, amor. -, 
o jugo da renúncia, do sexo sem desejo.

Sim, o jugo do sexo sem desejo, 
como só a mulher é capaz. 
Por obrigação, no matrimônio desgastado; 
por necessidade, para obter o que deseja. 
Sim, o jugo do sexo sem amor, moeda de troca,
que toda mulher não tarda a aprender,
ante o sexo com amor e sua plenitude que pouco dura.
Poder e submissão, prazer e calvário, eis o recorrente dilema.

Ah, essas moças que tudo querem e se perdem
entre o querer e o poder.
Quando a beleza acaba.
Quando o mundo desaba.
E tudo murcha.
"Flores que florescem, florescem
E desfolham..."





























quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

                            

                     devagar, devagar





Não obstante os escombros e fracassos
em tudo que fiz e por onde passei,
alento nunca me faltou.

Calaram-se os meus sonhos mais diletos,
sob o peso de sentimentos ressequidos,
mas da alma o amor nunca se apartou.

Remoo à noite a surdez dos dia.
Devagar, devagar, me afasto do que fui,
para ser o que não sei.









As 3 coisas mais importantes da minha vida :

1. O amor dos meus filhos.
As outras, não lembro.






terça-feira, 22 de janeiro de 2019

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019







O problema não é ficar velho, mas obsoleto.



 

            a falta que nos faz

Queria ver o mundo como tu o vês.
Sentir o que sentes,
A textura dos teus sonhos.
Entender o que se passa no teu íntimo,
Decifrar tua alma.
Que para mim permanece uma incógnita.

Vê, nosso amor tem raízes fundas
Feitas de beleza e sofrimento.
Se a nossa volta tudo desmorona,
Aquilo que foi grande e deslumbrante
Nunca morre.
Talvez ainda não te dês conta disso
E essa certeza já não tenhas.
Terás que descobrir sozinha,
Na gélida calma da ausência do amor,
A falta que tudo aquilo nos faz.
O quão incomensurável foi nossa perda.



sábado, 19 de janeiro de 2019


o bandido mais otário da face da terra



O sujeito trabalha, trabalha, 
trabalhou a vida inteira, 
mal ganha para o sustento.
Está sempre pendurado, devendo,
contando os trocados,
para dar conta do recado.
Nem assim é valorizado, nem assim é respeitado.
Pois tudo que faz é visto como obrigação.
Anos a fio labutando, 
faça frio, calor, sol ou chuva,
gripado, quebrado, abandonado, 
desestimulado, 
a mulher fria, o amor nem sombra do que
foi um dia. 
E eis que um belo dia, ela se diz cansada de tudo.
Que anseia por outra vida.
E o trouxa, que sempre correu atrás, arcou com tudo, 
acaba no olho da rua.
Retratado como marido ausente, pai relapso, mau caráter,
um bandido. 
Possivelmente, o bandido mais otário da face da terra.




  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019




                       PENSATAS




Todos tem qualidades e defeitos. Virtudes e fraquezas. O problema é que a maioria não assume os podres.

O rico que tem apego demais ao dinheiro e não pratica a benemerência pode ser respeitado, mas nunca será amado.

O pedinte que faz da pobreza um pretexto para se fazer de coitadinho, não é pobre à toa.

O mundo deixou de ser confiável quando honestidade passou de obrigação à virtude.

A mulher que finge amar para manter as aparências e regalias não é melhor do que uma meretriz, que também é paga para fingir. Com a diferença de que a gente sabe.




                             musas




A musa só veste roupa de grife,

está sempre arrumada, pintada, 
as unhas impecáveis,
cabelos de todos os tipos, de todas as cores.
A musa está sempre com o Iphone
à tira-colo, para uma selfie
uma olhadela nas redes sociais.

São lindas, as musas, com suas caras e bocas.
Celebridades que fascinam, ocas de tudo.
Ganhar a vida não é problema para elas,
sempre há um patrocinador,
um otário para bancar as despesas.

E eu que sou do tempo 
em que as musas não eram apenas belas,
mas envoltas em apelos e mistérios,
inspirando canções e versos imortais, 
me pergunto, 
se ainda há algo que não tenha se convertido
à vulgaridade dos tempos atuais. 







quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

                     

                    fere a alma o grito-punhal



Num átimo percebi o que o Corvo quis dizer,
Quando disse - Nunca mais, nunca mais !
No negrume da noite vazia,
No limiar da perda irreparável,
Cujo propósito desponta apenas ao cumprir-se,
A visão insólita - anjo ou demônio em forma de ave preta -, 
Das trevas emerge o juízo essencial e exato  : 
Siga em frente, tarde se faz.
O bordão da desesperança 
Não carece mais entoar.

Nada faz sentido, e tudo faz sentido.
Até o pássaro negro e agourento de Poe,
Expressão legítima de pesar.
Morte de toda uma vida 
Que era a vida que se tinha.
Vida bem-vivida, e desperdiçada,
Cujo santuário diviso sobre o promontório
Dos dias ocos que se sucedem.
Horas plúmbeas que precedem o torvelinho do naufrágio.
O coro perpétuo do teu altruísmo, fervor, 
Renúncia de si mesmo.

Adiante, em meus umbrais ninguém bate,
ninguém sussurra - Nunca mais, nunca mais...
Hipóteses e conjecturas já não cabem :
É esgotado o tempo de libações.
Teu veredicto é fatal. Morte. Morte em vida.
Lancem-se à fogueira inquisitória
Todos os resquícios dos prazeres e pecados.
A alma liberta assim o exige. Culpa e expiação.
Para teu bem-estar, declaro-me culpado.
Aqui, passado e futuro se separaram. O presente 
É a terra prometida.
A mercê de forças desconhecidas, nós, ctônicos, 
Livraremos a vida do jugo do tempo desperdiçado .
Fere a alma o grito-punhal :
- Nunca mais, nunca mais !

Que o nostálgico pesar nos faça companhia.
Dias alciônicos serão o marco-zero de um novo rumo.
Não poderemos pensar "o passado passou", tendo um filho
em que medra um coração generoso.
Alheio ao itinerário em que nossa história teve fim,
Quiçá ungidos dessa impermanência que ultrapassa o tempo.
A súbita iluminação revivida, ao saber 
Que os momentos de agonia acabaram.
Xô, Corvo, vá atazanar outro pobre diabo !
Aos olvidados fundamentos que ora abjuramos, regressa.
A seu real proprietário -  a juventude perdida - bata à porta.
Enquanto apresto-me rumo à redenção,
Aprendendo as trilhas da penitência.
"O velame em farrapos, enxárcias frouxas", mas
Infenso ao grasnar da ave estúpida :
- Nunca mais, nunca mais!


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019



o que só tua vias


em ti 
eu via
o que eu não sou
o que eu tinha de melhor
o que estava além de mim
e que só tu sentias


um dia
quem diria ?
coube a ti
a despedida tardia

vai ver
porque o que eu sou
e só tu vias
não existia
era uma fria.










           AQUILO

( à moda Paulo Leminski )

Isso de querer ser aquilo que não é,
está aquém do que é. 


aforismos revistos :


quem espera, sempre dança.









terça-feira, 15 de janeiro de 2019




                              volteios





A vigília é permanente. Nada escapa ao escrutínio,  a bisbilhotice alheia. Ninguém está a salvo de nada. Indiferente a tudo - bom senso, escrúpulos, comedimento - a histeria consumista impera. Há sempre algum bostinha famoso dizendo o que se deve ou não deve comprar, consumir. Com a autoridade de qualquer prostituta que dá para qualquer um por dinheiro.
A enganação é a ordem do dia. Enganar, mentir, trapacear, 
o esporte mundial por excelência. O slogan do século sequer é original : me engana que eu gosto. O vigarista te engana. O amigo te engana. Os colegas, o chefe, a namorada, a mulher...

A mídia te faz de otário o tempo todo. O banco fica com teu dinheiro, repassa a peso de ouro, e de quebra te presta um serviço de merda, com suas agências cada vez mais cheias e funcionários de menos. "O que a gente pode fazer por você hoje", tem a coragem de indagar um deles, e eu digo sem titubear : por mim, ir a PQP e parar de explorar a gente.Nesta ordem mesmo.

Ia falar do governo mas deixa pra lá. Voto de confiança aos novos governantes. O derradeiro. Se esta turma não consertar o país, o último que apague a luz.

Vivemos tempos estranhos. Todo mundo se conhece e se desconhece. O que se é por dentro é um assombro. Melhor ninguém saber. Mas como resistir aos apelos da era digital ? De exposição explícita e despudorada. O mundo se desnuda na maior cara dura. A Inquisição faria a festa ! Cadê o anjo exterminador de Sodoma e Gomorra ? Deus desistiu de nós. Também pudera, depois da barbárie medieval, o horror das duas grandes guerras mundiais, o holocausto, como perdoar ? 
Quantos Cristos teriam que morrer para perdoar tanta atrocidade ? 
Quantos Cristos não morrem todos os dias, para salvar inocentes, cordeiros do mundo ? 

Só loucos para ver poesia nesse mundo louco. Lunáticos metidos a entender a alma humana, a decifrar a beleza, o significado oculto das coisas. Poetas eruditos, herméticos, presunçosos, magnificamente ilegíveis. Uns chatos.  
Por que calcinar, ao invés de queimar ?
Por que olvidar, e não simplesmente esquecer ?
Fado, fulva, sovegna, ajaezados versos, o real e o fantástico mesclados com os imperativos de "ser e parecer". 
Ah, a pena de existir e a papoula dos sonhos. 
Ah, malditos metidos a nos humilhar com sua esmagadora cultura e erudição pernóstica. Escrever com a Encyclopaedia Britannica no colo.Volteios pela História, castelos no ar, enredos mirabolantes, que loucos ... Os deuses do Olimpo sequer existiram. Heroísmo, estoicismo, grandeza, tudo ficção. Na vida real, o buraco é mais embaixo. Sempre foi. Não há deuses, crenças que nos salvem. Salvação do quê ? Do fogo dos infernos, se o inferno é aqui ? 





    



  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019


                                              revelação   


     


Em cada um de nós há segredos
os quais a ninguém é dado conhecer,
que nem no delírio da paixão se revelam,
ainda que juras de amor eterno sejam proclamadas.

O tempo passa
e quando a aventura idílica se desfaz,
e diante de nossos olhos, cegos até então,
o preterido e o pressentido enfim se revelam
a gélida face do amor consumido dirá :
    "Sou eu, a tua antiga consciência.
Sou quem encontrou a porta escancarada
e, no beiral da janela,
na casa que de tantos foi,
a coloquei  
- e depois me afastei na ponta dos pés". (adapt.A.A.)

domingo, 13 de janeiro de 2019

                   

                   escapulário




Sei muito bem o que está em jogo.
Não é hora de arrependimentos vãos.
Meti-me em um grande buraco e dele hei de sair. 
Coragem não há de me faltar.
Este livro hei de escrever até a última página.
Sem direito a final feliz mas tudo bem.
Trago em mim lembranças abençoadas 
- é o que me basta.

De nossa última noite de amor, que não houve,
me olvidei.
Talvez eu já houvera morrido e não sabia.
Afinal, tu me inventaste,
e tu me destruíste.

Eu estava murcho por dentro e agora és tu 
que carece de salvação.
Que Deus ilumine teus passos
e o mistério desse desenlace se reverta em triunfo.
Que possas reencontrar a alegria perdida.
Com os resquícios desse amor imortal
que levaremos no peito, feito escapulário.
Amor que amassamos, moemos, trituramos,
até virar o pó que nos permitirá 
um dia
reescrever essa história.  
Que mereça ser lembrada.








que a dor de quem de seu amor 
hoje se despede,
em resignação e força se transforme...



sábado, 12 de janeiro de 2019








                                REENCONTRO






Lento, flui o Guaíba dos meus sonhos,
da infância longínqua que me sorri, zombeteira,
como se o tempo não houvera passado.

Breve miragem que logo se desfaz.
Seis décadas me chamam de volta para casa. 
Minha alma pétrea não conseguiu matar a memória.

Sou teu filho, no fundo continuo o mesmo.
A ameaça da morte próxima já não me assusta,
agora que aqui me reencontrei.

Ao meu lado, os olhos de meu filho brilham.
O abraço de meu irmão me conforta.
Ainda quero colher as rosas deste jardim único.
Rio Grande do Sul amado... 

















                              elos







Pense nos dias como elos da grande corrente da vida.
Elos de amor, lágrimas, risos e sofrimento.
Elos de ferro, de ouro, de vidro.
Que estilhaçam num piscar de olhos.
Pense naqueles dias especiais.
Elos que marcaram sua vida.
E como tudo teria sido sem eles.
Caminhos completamente diferentes.
Outra vida.

Ah, se arrependimento matasse...
Aquele encontro no shopping.
Aquele esbarrão na balada.
Olhares que se cruzam ao acaso.
Elos que se fundem irremediavelmente.
Lamentamos pelo que não deu certo.
Mas quem garante que outros elos teriam melhor sorte ?
Não há elos indissolúveis.
Não há vínculos que não deteriorem.
Tudo é uma questão de saber valorizar.
De elo em elo se faz a corrente.
Elos de compreensão, tolerância, renúncia...
O amor não acontece por acaso. 
Não escolhemos alguém para amar.
A vida escolhe.
Bobagem culpar o destino.
Cabe a nós fazer com que valha a pena.








                    meu fracasso é meu sucesso





Se a métrica do sucesso na vida é ter a conta bancária recheada, danei-me.
Se é ser bem-sucedido e realizado profissionalmente, lasquei-me.
Se é um convívio familiar numeroso e caloroso, já foi meu tempo.
Se é ter um largo círculo de amizades e ser figurinha carimbada nas colunas sociais, nunca tive nem sombra disso.
Se é se valer de estratagemas e conchavos para galgar cargos e vantagens pecuniárias ilícitas, não nasci para isso.
Positivamente, não faço parte desse clube. Jogo no time dos otários. Que vive se ferrando por acreditar na meritocracia e na sinceridade das pessoas.
Nunca tive estofo para jogar no time dos espertos. Fracassei em quase tudo. Minha luta ainda é para sobreviver e por aqueles que ainda dependem de mim. Continuo tendo que matar um leão por dia, mas não me queixo. É a vida que escolhi, e é tarde para mudar.
Meu fracasso é meu sucesso.





                         morrer em vida





Podemos ficar velhos e frágeis.
Passar as noites angustiados ouvindo 
o coração desgovernado.
Lembrar, inconsolável, do grande amor perdido.
Ver o mundo vergastado por lunáticos malvados.
Saber que sua honra foi conspurcada no esgoto
das mentes pequenas. 
Mesmo assim, sempre há o que aprender.
Sempre há o que fazer.
Resignação e inação, isso sim, 
é morrer em vida.




sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

                  


               


                  envelhecer é uma merda


os dentes quebram
os cabelos embranquecem e caem
a barriga cresce
o corpo definha
as rugas se multiplicam
as doenças aparecem
a mente embota
o coração fraqueja
as pessoas discriminam 
as alegrias rareiam
o amor míngua
as amizades encolhem
os interesses evaporam
as alegrias se dissipam
as noites são insones
os dias arrastados
os filhos somem
os netos consolam
os remorsos consomem
a fé se resume a um único anseio :
morrer dignamente.
envelhecer é uma merda.











o amor floresce, floresce e depois desfolha. (maiakóvski)



o amor floresce, entorpece e depois prescreve.
(eu)

domingo, 6 de janeiro de 2019


                o exílio e o asilo




ah, que prazer
deitar na relva verdinha
contemplar a imensidão do céu azul
o formato singular das nuvens
figuras, presságios
aqui um anjo
ali um tridente
acolá uma mão espalmada
signos tão familiares a minha vida
em que tudo parece fazer sentido
ou sentido algum
na medida que cabe a cada um
e a mais ninguém
dar-lhes sentido.

sinto a mão do tempo
esmagar o summus inorgânico e fétido
que restou de mim
que para nada mais serve
a ninguém serve
a não ser, cumprir as obrigações de praxe.

que ninguém se iluda,
tudo se resume ao dinheiro.
virtudes, princípios, convicções,
tudo tem seu preço.
tudo à venda.
na fartura, és um príncipe, a melhor
das criaturas;
na penúria, na velhice, um estorvo
que ninguém respeita.
que entre o exílio e o asilo transita.







terça-feira, 1 de janeiro de 2019








resoluções

senhor, 
permita que eu deixe definitivamente
para trás
tudo aquilo que me tolhe e oprime.
que eu possa ser
melhor do que jamais fui.
traçar novos rumos,
soltar as amarras.
buscar as coisas sempre adiadas.

senhor, me dê forças e saúde 
para superar os obstáculos.
que bem sei, serão muitos,
como sempre foram.
que eu tenha sabedoria para escolher
o melhor caminho.
evitar atritos à toa.
ser digno e fazer jus a uma vida mais plena.

que eu consiga, enfim,
ser aquele que sempre quis ser
mas nunca consegui.
aquele que perdeu o rumo
mas se reencontrou.






.













RÉVEILLON EM PIRATUBA/SC












Postagem em destaque

                               de segunda à segunda A vida se mascara e se revela tão perto e tão longe de tudo.   Andamos à esmo como anima...