sábado, 29 de abril de 2017




                            A TRAMA 
            
                 


A vida rouba tudo da gente.
Cobra caro por tudo, concedido ou obtido.
Sonhos e esperanças tolhidos na juventude. 
Saúde e dignidade ceifados na velhice. 
Não obstante, tudo se cumpre em perfeita harmonia
e encadeamento.
Finda a trama, o homem morre sem saber quem é.
Perverso e sem culpa.










quarta-feira, 26 de abril de 2017


RIO JACUÍ, PESCARIAS INESQUECÍVEIS


                                                      PESCARIA


Adorava pescar com meu pai no rio Jacuí, num trecho entre Agudo e Dona Francisca, no interiorzão gaúcho. Ele talvez nem tanto, dizia que de tão tagarela, eu espantava os peixes... Mas troça mesmo ele fazia quando minha linha de pesca embaraçava, fazendo uma maçaroca que mais parecia uma rede. Coisa de principiante, por mais cuidado que eu tomasse, era só acumular um pouco de água no fundo da canoa e me via a desperdiçar um tempo precioso para desfazer o emaranhado que sempre se formava.
O que certa vez levou meu tio Gunter, gozador emérito, a comentar em alemão, idioma que toda família falava, inclusive eu : leute, wollen sie fischernetz ? - "gente, ele está querendo pescar de rede...", ou algo parecido, seguido de uma gostosa gargalhada que ecoou por todo rio. 
Mas nada que me chateasse, mesmo em relação a maldita linha que vivia embaraçando, e que em última caso, na surdina, me levava a apelar para o recurso extremo que o pescador veterano mais abomina : passar a faca na parte embaraçada. O que equivalia a comprometer todo o rolo, devido aos nós que tendiam a romper no caso de algum peixe maior morder a isca. Sem falar que os caroços das emendas costumavam resultar em maçarocas ainda piores . Daí que, como dá para perceber, nunca cheguei a ser um pescador de mão cheia, como meu velho, que tinha a chamada manha e uma técnica que me fascinava.


Sabia só de olhar o fluxo das águas, por exemplo, o lugar exato para poitear. "Pode largar (a poita) aqui, mas devagar para não assustar os peixes", dizia ele, na calma de sempre, cedendo a minha insistência, mesmo rapazola, para lançar a tal poita, que vinha a ser uma pedra enorme, de uns dez quilos pelo menos. Com a canoa devidamente ancorada e estabilizada, era só uma questão de tempo para ele encher os viveiros de pintados, jundiás, e esporádicas piavas e dourados, já então troféus cada vez mais raros. 

Atento à tudo, eu acompanhava, embevecido, sua técnica infalível. A minhoca ainda viva, espetada no anzol de modo a não aparecer nadinha do metal, seguindo do lançamento perfeito, como se fosse uma boleadeira, a 20 ou 30 metros de distância. Movimentos que pareciam simples e descomplicados, mas que não obstante meu esforço para imitá-lo, raramente conseguia. Ou a bosta da linha embaraçava, ou o arremesso não ia além de alguns metros, por falta de força e traquejo. 
Vexame ainda maior era quando, inadvertidamente, pisava na linha, e o anzol, com o sobrepeso da chumbada, ricocheteava a ponto de quase nos atingir. 
Trapalhadas que meu pai não achava nada engraçado, mas que não chegavam a ser motivo de irritação. O máximo que fazia era comentar que da próxima vez eu deveria pescar de caniço, como os meninos de minha idade. 
Pitos que nem de leve me aborreciam ou desanimavam, de tanto que adorava aquelas pescarias das férias de verão. O mais importante para mim era estar na companhia dele, dos tios Gunter e Orlando, e desfrutar de tudo aquilo que normalmente era exclusividade dos adultos. Pescar num rio majestoso como o Jacuí, ouvir e participar da prosa, observá-los em ação, e aos poucos também fisgar os meus peixinhos e até alguns peixões, safo e persistente como eu era. 

Parece mentira mais de meio século tenha transcorrido desde então. E mais incrível ainda, que essas lembrança continuem tão vívidas e fortes em algum lugar de minha mente. Nada épico ou minimamente comparável a aventuras famosas do gênero, como o Velho e o Mar,  de Ernest Hemigway, ou Moby Dick, do também do norte-americano, Herman Melville, ainda que a leitura dessas obras-primas não me sensibilizem tanto quanto as lembranças de pescarias bem mais modestas como aquelas.
Pelo simples e óbvio fato de serem parte de minha história de vida, talvez a mais gratificante, o convívio com entes queridos que já se foram, mas não no meu coração.



         


   

domingo, 23 de abril de 2017



         
UM LEGADO PARA NÃO ESQUECER
(entre um chimarrão e outro)


Meu pai, com cinco dos oito netos.


Dos tempos em que as fotos ainda eram em preto e branco. 


Ainda que a ninguém importe, além de mim, em se tratando de reminiscências de ordem pessoal, que tendem à emotividade e melancolia, é chegada a hora de honrar o pacto que firmei comigo próprio lá trás, no sentido de não deixar perecer - e dentro do possível resgatar - aquilo que sempre tive como meu bem mais precioso, meu tesouro particular : as recordações de uma vida pregressa rica e venturosa, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. 
Reminiscências as quais nunca deixei de acalentar, mesmo distante da terra amada há tantos e tantos anos. E nem poderia ser diferente, tal a riqueza de minha agitada infância em recônditos lugarejos gaúchos, de nomes pitorescos como Pertil, Rincão da Porta, Paraíso do Sul, Faxinal do Soturno, Restinga Seca, Agudo, à época quase todas partes do município de minha cidade natal, Cachoeira do Sul, a capital brasileira do arroz. Lembranças que me enchem de nostalgia, e sobretudo, de eterna devoção aos que povoaram aqueles tempos inesquecíveis.
Meus avós, com os seis filhos, na década de 40.

Principalmente, minha avó paterna, a quem chamávamos simplesmente de Mutter - mãe no idioma alemão, predominante em nossa família no passado. E que vinha a ser exatamente isto, uma mãe para filhos, netos, enteados e agregados da numerosa família Berger. Com o falecimento prematuro de meu avô Rudolfo, vítima de um câncer no estômago aos 57 anos, coube a ela não só o papel de chefiar uma família de seis filhos adolescentes - meus tios Arnaldo, Bernardo, Orlando, e as tias Onira e Lolita, além de meu pai, Engelhart -, como garantir o sustento dessa prole que mal havia aprendido a ler e escrever. 
Mas que como todos os jovens à época, disciplinados desde cedo a arcar com suas obrigações e afazeres nos 3 ou 4 hectares da propriedade agrícola da família, deram conta do recado, e de certa forma, nunca foram tão felizes, livres da mão de ferro de meu avô. 
E assim foi até cada um achar a respectiva cara metade, o que não tardou a acontecer, numa época em que era comum casar cedo e começar a vida do zero, em sendo a atividade agrícola e o comércio insipiente o ganha-pão predominante nos idos de pós-guerra, até o incremento da economia lá pela década de 60.



  Minha amantíssima mutter.
Voltando à minha querida e inesquecível avó, nascida Irma Margaretha Laura Losekann, com quem convivi dos 3 aos 5 anos, enquanto meus pais se aventuravam no cultivo de arroz, numa ignota região conhecida como Pertil, atravessada pelo rio Jacuí, às margens do qual se estendiam os arrozais em que meu pai apostara tudo o que tinha e o que não tinha. 
E quando digo que nada tinha, refiro-me ao fato de ter entrado na empreitada praticamente com a cara e a coragem, tendo arrendado as terras, os equipamentos e dinheiro emprestado para as demais despesas, como sementes, fertilizantes, mantimentos para meses a fio de isolamento. Enfim, empenhado até os pentelhos, como enfatizou certa vez, ao relembrar ironicamente as peripécias passadas.

Pois foi nesse fim de mundo que meus pais se embrenharam, tão logo casaram, ele com 23 e minha mãe com 18 anos - já com este que vos fala à tira-colo -, cheios de disposição e esperanças, como só os jovens conseguem ser. Mas como tal, sem saber o quanto a vida pode ser implacável e cruel com nossos sonhos juvenis. Empreitada na qual, na verdade, só não morri porque Deus não quis, e que para meus pais, veio a ser a primeira grande provação - para não dizer falseta - aprontada pelo destino ao longo dos 60 anos e poucos anos em que estiveram juntos. 
Lembranças para mim vagas e difusas, como disse, mas pungentes, marcantes e de modo algum amargas, tristes ou deprimentes, como poderia transparecer das condições precárias em que vivíamos. Um casebre de pau a pique, numa espécie de palafita, por causa do risco de enchentes, sem eletricidade, água encanada, construído numa clareira aberta na mata, com a vizinhança mais próxima a 20 ou 30 quilômetros. E o dobro disso de Cachoeira do Sul, a cidade mais próxima, e onde nasci na madrugada do dia 25 de outubro de 1950.

                          AVENTURA ÉPICA

E para onde certo dia me dirigi, ainda mal saído dos cueiros, eu e meus dois fieis escudeiros - o buldogue Calu e o perdigueiro Respeito, verdadeiros anjos da guarda que não saiam de meu lado -, seguindo pela linha férrea que cruzava nossas terras, a qual ouvira falar, ia dar em Cachoeira, onde meu pai estava hospitalizado. 
Aventura épica, da qual mal lembro os detalhes, mas que minha mãe gostava de contar, sempre que lembrávamos desses tempos. Logo cedo, deu por minha falta mas a princípio não se preocupou, acostumada a meus sumiços e crente que eu estaria no galpão situado na parte mais alta da propriedade, onde costumava brincar e azucrinar os empregados de meu pai. 
Mas ao verificar que eu lá não estava, temeu pelo pior, que tivesse me afogado no traiçoeiro rio Jacuí, em cujas margens sempre andava. Após uma busca de horas, e já desesperada, sua única esperança residia no fato de que meus cachorros também haviam sumido, o que sugeria que eu pudesse ter me perdido no cerrado bosque que circundava a propriedade. 
Mas não foi nada disso. Que perdido, que nada. Eu estivera é muito ciente de como e onde queria chegar. Sabedor que aqueles trilhos me levariam a Cachoeira, foi naquela direção que me pus logo cedinho, acompanhado de meus cães, a fim de ver meu pai, preocupado com sua saúde.
Já caía a tarde quando o trem de sempre me trouxe de volta, flagrado, segundo o maquinista, quando já estava perto de Cachoeira. "Mas, ora, é o filho do Berger", contou à minha mãe, dando conta do sufoco que passou para me convencer a subir no trem, com meus cachorros bravos a me ladear.

Foi a primeira das muitas travessuras que marcaram minha movimentada infância, a tal ponto de me levar a dois, como direi, exílios forçados no então pacato vilarejo de Agudo. O primeiro deles, logo depois do evento acima narrado, que serviu para que meus pais se dessem conta dos riscos que eu corria, ao perambular ainda tão criança por uma região assim inóspita e perigosa. Cuja gota d`água, por assim dizer, foi outro susto danado - um profundo corte num caco de vidro, que me perfurou uma das bochechas, quando engatinhava no porão de chão batido da casa. O susto de me ver todo cheio de sangue, estancado com borra de café e sem maiores consequências - e sem eu dar sequer um pio, segundo ela -, foi determinante para que fosse entregue aos cuidados de minha querida grossmutter. 
Avó querida com quem vivi, seguramente, os momentos mais mágicos e ternos de minha existência. Dois anos que nunca esqueci, e nos quais tive o que toda criança sonha e merece ter : amor, fantasia, ludismo, alegria.   

Não que meus pais, a qualquer tempo, tivessem me privado de carinho e atenção, longe disso. Na verdade, as circunstâncias, as privações e a dureza da vida naqueles tempos foi o que os levou a me deixar sob a guarda de minha avó por uns tempos. Assim como não os culpo por terem me despachado novamente à Agudo, entre meus 6 e 7 anos, já então para cursar o primeiro ano primário no internato e colégio Dom Pedro II. Já morando em Cachoeira do Sul, num chalé cedido pelo meu avô Alvino Fritz, depois de perderem tudo na lavoura, e com meu pai passando a maior parte do tempo viajando, como vendedor, minha mãe simplesmente não aguentou o verdadeiro capetinha que eu era. O que eu e meu primo Itamir, o Chico, aprontamos no engenho do meu avô, daria um livro !

                             TELHADO DE ZINCO

Entre minhas lembranças mais vívidas, no entanto, a mais forte é da primeira das duas enchente consecutivas do rio Jacuí, entre 1952 e 53, que invadiu nosso casebre e todo o arrozal que estava prestes a ser colhido, levando tudo de roldão. Desastre que assistimos do galpão em que ficava o maquinário, estrategicamente construído na parte mais alta das terras, e onde permanecemos ilhados por duas semanas até que a água baixasse. Ainda recordo do barulho intermitente da chuva no telhado de zinco, do piado das corujas que me tiravam o sono, mas só bem mais tarde pude avaliar a amargura e desespero que meus pais devem ter sentido por ver tudo ir literalmente por água abaixo. Sentimentos que são um triste privilégio da idade adulta.

Tanto é que em nenhum momento, que eu me lembre, sofri ou passei por qualquer trauma em consequência daqueles infortúnios, muito pelo contrário. Com meu pai trabalhando de sol à sol para recuperar o atraso, e minha mãe às voltas com mais um bebê, minha irmão Ivania, pude desfrutar de uma liberdade simplesmente impensável nos dias de hoje. Um piazito de 3 anos que perambulava o dia todo pelo matagal, pelo arrozal, nadava e pescava no traiçoeiro Jacuí que teimava em nos arruinar, e que afora o chiado mau-agourento das corujas de nosso galpão, nada temia, nada receava. A ponto de certa vez ser flagrado por minha mãe brincando com uma cobra, cuja incidência era comum num lugar infestado de jararacas, cascavéis, e da venenosíssima a urutu-cruzeiro. 
Se dessa temerária travessura não me recordo, por outro lado lembro perfeitamente de certa vez em que um operário foi picado por uma urutu-cruzeiro em meio ao arrozal, a qual meu pai, num pulo, decepou a cabeça num golpe de facão. Recordo que o corpo roliço e grosso ficou ali se contorcendo pra lá e pra cá, sem que ninguém descobrisse onde a cabeça dela fora parar - só mais tarde um outro empregado achou-a no topo do próprio chapéu, imagine o susto. 
Mas o que mais me impressionou : há quilômetros de médico, farmácia ou pronto-socorro qualquer, o sujeito não pensou duas vezes, num golpe certeiro cortou o próprio dedão com o afiadíssimo facão. Urrando de dor, foi levado a nossa casa, onde enrolaram seu pé num pano embebido de óleo diesel de um dos tratores, e dias depois o negro boa praça Batista, homem de confiança de meu pai, lembro bem, já estava na ativa outra vez.

Virando esse capítulo inicial de minha vida, me sinto impelido a pular logo para o epílogo desse breve relato auto-biográfico, no fundo um pretexto para honrar à memória de meus pais. Para que todos que tiveram a paciência de me acompanhar até aqui, saibam o quanto eles amaram e foram amados, e tomem ciência de uma ínfima parte do que fizeram e representaram para nós, filhos e netos. Seja enquanto provedores, como quando já doentes e decrépitos, quando coube a nós, ainda que em meio aos maiores sacrifícios, mormente por parte de minhas irmãs, que os acolheram e cuidaram até o fim, retribuir o muito que nos deram. 

Já velhinho, com minha irmã Ingrid
Ele, meu amado e respeitado pai, que todos chamavam simplesmente de Berger, falecido há oito anos. Ela, dona Dalila, ou Lila para os íntimos, minha enérgica e geniosa mãe, falecida no último dia 08/02/2017. Um casal oriundo das numerosas famílias Berger e Fritz, espalhadas pelo interior do Rio Grande do Sul, que ficou junto 65 anos, teve três filhos, oito netos, e uma história de vida digna e honrada que, resumida e modestamente, tento aqui resgatar. E que, mais do que uma simples homenagem póstuma, tem a pretensão de manter vivo o legado que deixaram. 

                           SONHOS DE VERÃO

Um legado de amor, dedicação e superação, que mesmo em meio a dificuldades e sofrimento, tem aqui meu testemunho de que não foi em vão. De que não cairá no esquecimento. Da mesma forma que jamais esqueci dos encontros fraternais das férias de fim de ano, quando já morávamos em Curitiba, durante quase toda a década de 60, em Agudo. À época, pouco mais que um simples povoado, cercado de morros ( o maior deles, que deu nome a simpática cidade em que se transformou ) em que a família toda se reunia para um mês inteiro de confraternização e divertimento, entremeado de histórias e causos contadas em meio a comida farta e gargalhadas, com direito a piadas contadas em alemão e concurso de peidos - ganhava o mais estrondoso e o mais fedido. 

Tudo na maior harmonia e camaradagem, entre um chimarrão e outro, que aprendi a curtir desde cedo, e a cervejinha gelada que também passei a apreciar, só que mais tarde. 
Em suma, verdadeiros sonhos de verão que eu, em meu íntimo, já pressentia serem únicos  e especiais, daí o choro convulsivo que me acometia, e que a todos contagiava, a cada despedida. Momentos maravilhosos que valeram por uma vida, e cujas lembranças nem o tempo implacável pode apagar.


                                     MEMORIAL

A TODOS QUE DE UMA FORMA OU DE OUTRA, FIZERAM PARTE DESSA HISTÓRIA,
MINHA ETERNA GRATIDÃO.
AS FILHAS E MANAS QUE TANTO SE DOARAM
Primo  Itamir, um verdadeiro filho e irmão.
IVANIA, IRMÃ E FILHA MARAVILHOSA
DANIELI,  NETA CRIADA COMO FILHA

TIA NELDA, IRMÃ SEMPRE PRESENTE
Turma de alunos e internos do Colégio Dom Pedro II de 1957, com o professor Willy Roos e esposa ao alto.  Sou um desses alemãzinhos, nessa incrível foto  publicado pelo  historiador William Werlang, em seu blog. 
Chimarrão amigo, evocando lembranças












  
                    






    










sábado, 22 de abril de 2017


           POR UM FUTEBOL MAIS LIMPO



Ou muito me engano ou a tolerância com os erros de arbitragem está prestes a findar. Aquilo que sempre foi considerado pela própria FIFA como um ingrediente a mais para manter acessa a paixão pelo futebol, parece cada vez mais difícil de ser olimpicamente digerido, em razão da recorrência com que falhas grotescas de arbitragem interferem nos resultados. Falhas tão graves que se não propriamente deliberadas, algo sempre difícil de comprovar, claramente induzidas quando, por exemplo, escala-se árbitros sem o devido preparo para suportar as pressões dos grandes jogos. 
Como o soprador de apito inglês que ferrou com o Bayern de Munique na derrota de 4 a 2 para o Real Madrid, na última terça-feira (18/4), e a própria atuação marota do alemão que ajudou a segurar o Barcelona no empate de 0 a 0 com a Juventus. Que entrou sugestionado a não dar qualquer colher de chá ao time catalão, em represália a força recebida na histórica goleada de 6 a 1 contra o PSG, criticada por meio mundo. Assim imbuído, não só várias faltas nas cercanias da área italiana passaram em branco, como um claro pisão de Daniel Alves em Neymar na meia-lua italiana, e um indiscutível pênalti em toque do lateral brasileiro Alex Sandro, também foram solenemente ignorados pelo juizão. 


Se no caso do Braça a arbitragem ficou em segundo plano, reconhecida a justiça da classificação da Juve, sacramentada nos 3 a 0 de Turim, já a eliminação do Bayern foi o chamado caso de polícia. Mais até que o sempre lembrado gol fantasma com que a Inglaterra eliminou a Alemanha na copa de 1966, pois nesse de agora, além da expulsão absurda de Vidal, dois dos três gols de Cristiano Ronaldo foram marcados em impedimento.
Algo inaceitável em qualquer jogo, convenhamos, e mais ainda em jogos de primeira grandeza, vistos pelo mundo inteiro, e que por isso mesmo, tornam o uso de recursos eletrônicos um medida inadiável, não só para garantir o brilho dos espetáculos, como a lisura das competições. O mundo está cansado de trapaças e trapaceiros, e o futebol, como espelho da sociedade, também clama por uma mudança de atitude e mentalidade. 
O que passa pela conscientização e colaboração nesse sentido de todos os personagens desse grande teatro. Começando por aplaudir e incentivar exemplos como o do zagueiro são-paulino Rodrigo Caio, que alertou o árbitro sobre o cartão amarelo equivocado que havia dado ao corintiano Jô. Gesto paradoxalmente criticado por muitos, e que valeu até censuras internas ao atleta, em função da força da velha cultura da malandragem entranhada não só no futebol, como na sociedade em geral. Cabe a estes adeptos da famigerada lei de Gerson considerar que o próprio aperfeiçoamento das arbitragens depende de uma mudança de atitude dos atletas, pois só assim teremos um futebol mais limpo e digno da importância que desfruta no contexto social e em nossas vidas. 


CONTRA O VENTO E A MARÉ  





É no mínimo intrigante, para não dizer emblemática, a postura de ex-coleguinhas de jornalismo. Ao longo do ano e meio em que comecei a interagir nas redes sociais, e sendo do ramo das letras boa parte de meus amigos virtuais, pude observar três grupos de comportamentos bem distintos, que destrincho abaixo. Mas, atenção :  sem intenção de desabonar ninguém, já vou avisando de antemão, pois ô raça de casquinhas de ferida...
Há os que não se manifestam criticamente sobre questões relacionadas à antiga profissão, e portanto, não se posicionam nem curtem as opiniões à respeito; os que, embora do ramo e ainda na ativa, se entretém a postar amenidades e fotos fofinhas de crianças e bichinhos de estimação; e a exígua porém divertida turminha do barulho, ou seja, petistas ou jihadistas empedernidos que encaram as opiniões divergentes como se fossem ofensas pessoais. Divertida porque me divirto ao pensar nos fujões que me bloqueiam e fogem da raia com o rabo entre as pernas.
Vai daí que por um motivo ou outro, meu já reduzido contingente de ex-colegas e companheiros da antiga profissão está sempre sofrendo defecções. Volta e meia sinto falta de alguém na lista, obviamente por ter sido bloqueado, o que sempre me deixa encucado sobre o que terei escrito assim de tão terrível para ferir a couraça que o bom jornalista adquire no decurso da profissão. 
Uma couraça, para minha surpresa, nem sempre permeável ao contraditório, que é a essência da profissão, e tão pouco receptiva ao debate de ideias. Ora, jornalista que não for capaz de conviver com posições contrárias e respeitá-las, desde que civilizadas, francamente, para mim só pode fazer do clube de impostores e charlatães que infestam a imprensa, no ensejo do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Pode ser tudo, menos se apresentar como jornalista de verdade.

Por mais que o jornalismo tenha virado uma espécie de casa da mãe joana, franqueado e exposto à toda sorte de tipos e aberrações - como o tal blogueiro petista que, de tanta bravataria e provocações baratas, acabou conseguindo seus momentos de fama ao ser enquadrado pelo juiz Sérgio Moro -, o fato é que há distinções indeléveis entre o papel institucional da profissão para o labor meramente conceitual e ocasional. Ou seja, entre quem exerce profissionalmente a atividade e os paraquedistas de todos os setores infiltrados no meio.
O primeiro, devidamente formado e preparado para exercer o ofício em sua plenitude, e como tal, no papel de incansável operário à serviço da verdade e da elucidação dos fatos. Ou seja, sempre contra o vento e à maré. 
O segundo, um mero intérprete de fatos e formulador de opiniões, baseado em material geralmente de segunda mão,  e manipulado conforme as conveniências de momento. Ou seja, sempre a favor do vento.
Sacaram a diferença ? Já se acharam nesse mar revolto ?



quinta-feira, 20 de abril de 2017










                                 REQUIESCAT IN PACE








Estou afastado há um bom tempo das lides jornalísticas, mas não é preciso estar na ativa para perceber que a mentalidade reinante da turma não acompanhou a vertiginosa expansão dos meios de comunicação. Que os mesmos vícios e práticas se mantém incólumes e de certa forma, até mais cavilosos que antigamente. Seja no sentido do trabalho sujo propriamente dito, à arrogância e o falso moralismo que emanam de suas manifestações, notadamente as de cunho político em defesa do infame regime petista.
Não é nenhum segredo no meio a cooptação de certa ala de nossa imprensa pelo governo petista, mediante patrocínios e subvenções agora devidamente detalhados nas delações premiadas dos mantenedores do escabroso esquema de corrupção que irrigou as contas do partido e de seus aliados em geral. Sem falar no bloco dos sabujos eventualmente desgarrados da matilha, mas que mesmo desalojados do mercado de trabalho em função da militância espúria, continuam a uivar como se alguém fora da abduzida horda esquerdopata, ainda os velassem a sério.  
Os tempos são outros, é claro, o mercado de trabalho encolheu e o jornalismo tradicional parece de fato com os dias contados. Caminhando a passos largos para o modelo digital, mais especificamente, para publicações e blogs de cunho pessoal. O que não deixa de ser positivo na medida em que não só democratiza como abre um quase ilimitado leque de opções ao leitor. Basta lembrar que os principais nomes de nosso jornalismo estão disponíveis à toque de caixa hoje em dia na internet, com a vantagem de se saber de antemão o viés de cada um.
Digo vantagem porque penso ser melhor assim às claras do que ficar escondendo o jogo, como alguns ainda fazem, na vã tentativa de aparentar isenção e equidistância em linhas editorias claramente pautadas - ao menos no que tange à grande imprensa - pelos velhos e manjados interesses patronais e mercantilistas. Nesse aspecto, ninguém mais engana ninguém, pois mesmo as camadas mais humildes da população não se deixam mais sugestionar pelo histérico bate bumbo midiático. 
Para o bem e para o mal. Para o contra e o à favor. Pois se há algo definitivamente comprovado nesse capítulo negro de nossa história, é que para certa parcela da população nem toda roubalheira explícita promovida sob a égide do lulo-petismo é capaz de fazer o seu eleitorado cativo mudar de opinião. "Ele pode ter roubado, mas fez muito pelos pobres, enquanto os outros roubam do mesmo jeito e não fazem nada pela gente", ouvi ainda outro dia de uma senhorinha de sotaque nordestino, numa fila de supermercado, intrometendo-se na conversa de outros que praguejavam contra Lula, Dilma e cia.
Mas voltando ao tema inicial, todos sabem que a grande imprensa representa os interesses das elites e do capitalismo, assim como há uma certa ala alternativa adepta da arcaica e anacrônica cartilha socialista, desmoralizada aqui como alhures pelos mesmos motivos : demagogia barata e corrupção feroz. Que o diga o que moribundo regime chavista fez com a Venezuela. Daí a perda gradativa do antigo protagonismo e a consequente descrença em torno da imprensa formal, cujo papel vai senso tomado pelo ativismo das redes sociais.
Um panorama talvez só reversível - os nostálgicos que me perdoem - mediante a adesão às mídias digitais, em detrimento do jornalismo impresso, por sinal, já em claro estágio terminal. Requiescat in pace, pois.

domingo, 16 de abril de 2017



                      DECÁLOGO DA VIDA





Nunca subestime a ignorância e a má fé humana. 


Tudo que alguém precisa para ser feliz se baseia em três pilares 
que se complementam : saúde, trabalho e família.  


Dinheiro, posses, fama, qualquer um pode obter. 
Caráter é um luxo para poucos.

A vida é menos complicada para quem... não complica as coisas. 

O mundo só é pequeno para quem... pensa pequeno. 


Aqui se faz, aqui se paga. O inferno é só para os vips. 

Ninguém perde por fazer o bem e ser correto, mas quebra 
a cara quando espera por reconhecimento, gratidão.  

És um homem ou um rato ? Depois que a ciência descobriu que o DNA de ambos é 99% igual, a pergunta passou a ser meio redundante, não é ? 






quinta-feira, 6 de abril de 2017



                                 MENTIR, VERBO INTRANSITIVO






Se a mentira é o veneno das relações, a dúvida é o antídoto.
 

A mentira é um mal necessário, já que a verdade nem todos aguentam. E sequer querem ouvir.


O pior mentiroso é aquele que mente para si mesmo. E com riqueza de detalhes.


Mentira na boca dos outros é imperdoável. Na nossa, um simples mal-entendido. 


Quanto mais mentimos, mais dependentes delas nos tornamos. 
De tal forma que quando diante da verdade, o primeiro impulso é duvidar, questionar, desacreditar. A ponto de não conseguirmos 
mais diferenciar uma coisa da outra, o que é mentira e o que é verdade. Ai prevalece a versão mais cômoda.


Há quem minta com tanta naturalidade, e são tão convincentes, que quando eventualmente falam a verdade, ninguém acredita.


Mentir é o esporte mundial por excelência. Mente-se tanto e a qualquer pretexto que quando alguém tem a ousadia de falar a verdade, é logo desacreditado, insultado e até bloqueado no sanatório geral das redes sociais. Mormente os que ousam contrariar o senso comum, o politicamente correto, pensar fora da caixinha. Daí a pujança inabalável da clã dos impostores, pilantras e meliantes que fazem da enganação e da mentira o seu modus operandi para se dar bem na vida.


A diferença entre o mentiroso eventual e o inveterado é que o primeiro não é levado à sério, e o outro, à sério demais.


Mentir é tão comum e disseminado que deixou de ser pecado, por decurso de prazo. Com o inferno lotado, o diabo não recorreu.


Mentir, todos mentem. Quem garante o contrário, não passa de um grande mentiroso.


É preferível uma mentira piedosa a uma verdade cruel. É ou não é ?


Quando a mentira já não cola, é sinal de que você foi desmascarado. Hora de pensar em delação premiada.


Mentir é feio, como todo mundo sabe. Já omitir pode, mesmo abrangendo coisas bem piores. Em suma, mente-se no varejo, e omite-se no atacado. E estamos conversados.






    

                  

quarta-feira, 5 de abril de 2017

CAVALO DE TROIA

 



Nenhuma muralha é intransponível.
Nenhuma fortaleza, inexpugnável.
Ninguém é de ferro. Nem de vidro. 
À toda prova. 
Nenhum dia é igual ao outro.
Mesmo fazendo sempre as mesmas coisas.
Alguém está sempre partindo.
Alguma coisa está sempre se partindo.
Cuidado com os estilhaços...
Cuidado onde pisa. Em quem pisa.
Ninguém é uma ilha. Nem uma fortaleza.
Quando muito, uma trincheira. 
Um alvo fácil. Um inocente útil. Descartável.
Ninguém é insubstituível. 
Sequer inesquecível.
Pois a fila anda, como se sabe.
Nada resiste ao tempo. Nem os sentimentos,
de primeira ou segunda mão.
Tudo morre e se renova. E vice-versa.
Ninguém é uma rocha. 
Nada é para sempre.
Toda muralha tem seu dia de cavalo de Troia.  






terça-feira, 4 de abril de 2017




                    O RABO DO CACHORRO


O dinheiro é o eixo do mundo e o lucro, o seu patrão.
O que importa se o teu amor te dispensou ?
Se a bolsa subiu, o dólar disparou,
compre um novo amor.

Riqueza espanta a tristeza, atrai a beleza.
Quem tem grana, não sente solidão.
Convivas estarão sempre de prontidão.
Séquito de puxa-sacos te ladearão.
Abrirão portas à sua passagem,
rirão de suas piadas (mesmo as sem graça).
Basta que continues mão aberta, e tua popularidade
estará sempre em alta.
Se feio ou chato, ninguém se importará,
enquanto mantiveres o status e o belo carrão.
Grosso ou cafona ? Pois sim, trata-se de um excêntrico, 
dirão, 
e não faltará quem te ache charmoso e original.
Tédio não existirá em teu dicionário.
Se te faltam talentos e encantos pessoais, não se amofine. 
pois até isso o dinheiro compra. 
Tudo tem seu preço.
O cão, o canil, e o abanar do rabo (anônimo).




set/1996

  


domingo, 2 de abril de 2017



                  O BALACOBACO DO DEUS EX MACHINA 





Afinal, porque escrevo ? Para quê escrevo ? E sobretudo, para quem escrevo, se ao contrário das cartas de antigamente - será que alguém ainda as escreve ? -, nunca se sabe quem são os destinatários no mundo cibernético

. Diferentemente de escrever em publicações convencionais, que tem um público mais ou menos definido, ainda mais quando setorizado, postagens num ambiente infinitamente mais abrangentes e persecutórias como a Internet é o mesmo que andar às cegas.  
Com a vertiginosa expansão dos meios de comunicação, nas asas da blogosfera, inaugurou-se uma nova era na civilização - rica e ao mesmo tempo altamente deletéria -, que excede as próprias profecias dos gurus futuristas, Marshall Mc Luhan e Aldous Huxley.  Ao menos no que se refere à interação e integração global on line, que não só inverteu como subverteu a pirâmide social, ao dar voz - e poder - aos marginalizados e excluídos da sociedade. 

Vocalização anárquica e dispersa, é verdade, mas de qualquer forma, altissonante e contundente o suficiente para tomar o protagonismo da imprensa tradicional como instrumento de persuasão e pressão. Um protagonismo exercido principalmente pelas redes sociais, onde a repercussão instantânea e viral de tudo que é postado representa hoje em dia a verdadeira caixa de ressonância da sociedade. 
Fato que enseja o surgimento de novos paradigmas de comunicação, baseados na hipermídia, cujos fundamentos, elencados na década de 60 pelo filósofo e estudioso canadense Ted Nelson, já previam a conjunção de várias mídias num mundo dominado pelos computadores e por uma parafernália eletrônica cada vez mais sofisticada e massiva. 
Um balacobaco de tal monta, em suma, que me permite estar aqui teclando essas mal-traçadas em escala mundial, é mole ? Se alguém vai ler, é outra questão. Razão pela qual, pensando bem, pouco importa saber porque, para quê e para quem escrevo. Escrevo porque quero, porque gosto e se alguém se der ao trabalho de ler e for de alguma serventia, beleza. Do contrário, vida que segue, cada um por si e o deus ex machina da Internet por todos. 


  




sábado, 1 de abril de 2017


                            SOSSEGA, CORAÇÃO


Meu coração às vezes bate tão forte
que até parece que vai sair pela boca.
Bate tão depressa que até parece estar
apostando corrida contra o tempo.

Calma aí, coraçãozinho valente !
Se aquiete em seu canto de sempre.
Não se precipite, não se apresse.
Não vá me aplicar nenhuma peça.

Ainda que não lhe faltem razões,
tamanho os sobressaltos e atribulações
que vivo arranjando, 
não me deixa na mão.

Sossegue por mais algum tempo.
Aguente o tranco, segure o rojão.
Porque depois terá - teremos ? -
toda a eternidade para descansar.

Março de 2017



 

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