quinta-feira, 22 de março de 2018



                          HAJA CORAÇÃO !   




Amar, malamar, desamar.
Quem já não passou por isso ?
Quem já não se empolgou, se jogou de cabeça,
caiu de quatro,
para depois quebrar a cara,
sem direito a arrependimento ?
Quem já não fez planos, sentiu-se nas nuvens,
fez e ouviu juras de amor eterno,
para depois de passado o torpor do encantamento,
a chama da paixão,
ver tudo se consumir no fogo lento das desavenças.
Pelo inevitável tédio das relações.

E no entanto, repetimos a dose de bom grado.
Na vã esperança de que as coisas possam
ser diferentes.
Do alto de um aprendizado invariavelmente insuficiente
para conciliar o inconciliável,
remediar o irremediável.

Amar, malamar, desamar.
É o enredo de sempre.
Do frisson ao déjà vu, nada resiste ao tempo.
Por mais que se faça,
por menos que se queira,
os sentimentos se deterioram a medida 
que o conhecimento mútuo de aprofunda.
E em se aprofundando, escancarando as diferenças.

Amantes, filhos, amigos, não há elo 
que não se corrói,
não se esfacele inexoravelmente conforme 
as relações envelhecem, conforme envelhecemos.
Pois assim é a vida. 
Assim são as coisas.
Tudo se renova, se transforma,
e por fim, definha.
Haja coração !



                 ARRECUAR OS ARFES



Faz frio lá fora
Faz ainda mais frio aqui dentro
Sem o seu abraço. Sem o seu calor

Mesmo de corpo presente
Tua ausência me machuca
Nem parece a mesma pessoa
Formal, distante
Mal me dirige a palavra
Prefere o facebook
Passa horas pendurada no indefectível
celular falando com a mãe
ou sabe lá quem.

Tudo bem que as coisas mudam
Que o desgaste das relações é inevitável
Assumo minha parcela de culpa nisso
Sei que também não colaboro
Ao contrário
Tinhoso, fico na minha
E dou o troco na mesma moeda

Rediscutir a relação talvez fosse o caso
"Arrecuar os arfes para evitar a catastre", como diria
o filósofo ludopédico Neném Prancha
Isto se o jogo já não estiver perdido...


(Nov.2015)

sábado, 17 de março de 2018



         RECIPROCIDADE


Ok, vocês venceram. 
Também quero o direito de ser sacana, tratante, 
trapaceiro.
Me unir a pujante classe dos farsantes e hipócritas
que domina o planeta.
Estou farto de labutar sem usufruir, 
sem reconhecimento, dar sem receber.
De remar contra a maré.

Ninguém vê o meu lado.
Que também sou de carne e osso.
Que tenho sentimentos, preocupações.
Carregando e tocando o piano.
Sem ninguém para partilhar, dividir.
Só sabem me criticar, censurar, quando eventualmente 
piso na bola. 

Ah, que vontade de jogar tudo para o alto,
de sumir do mapa. 
Ter o direito de cometer vilanias, infâmias. 
O prazer de retaliar, de revidar,
comer o prato frio da vingança.

Estou de saco cheio de ser bonzinho,
da hipocrisia do politicamente correto.
Estou cansado de ser responsável, crédulo,
consequentemente, de bancar o otário.
Cansei de ser solidário, de fazer o certo, 
e a recíproca não ser verdadeira...




sexta-feira, 16 de março de 2018


 
  
Não se submeter as trapaças da vida.
Não se subordinar a crenças, sentimentos, 
prazeres.
No fundo, 
nada mais que prisões e algemas 
que nos encarceram 
e tolhem - eis o conhecimento
que os deuses
nos sonegam.







terça-feira, 13 de março de 2018




                       CORDEIROS DE DEUS




Cordeiros de Deus que pagais pelos pecados
do mundo,
que por séculos tem o sangue derramado,
lançados aos leões,
dizimados pela espada dos ímpios.
Por fogo, tiros e bombas.
Nas mãos de facínoras de toda espécie,
em nome de causas espúrias.
Sob os mais diversos pretextos.

Cordeiros de Deus que pagais pelos pecados
do mundo,
mansos de espírito, que ao preço de genocídios
holocaustos e execuções em massa, 
herdarão o reino dos céus.
Conforme rezam as escrituras.
Simples e singela promessa calcada na fé.
A mesma fé que mitiga a loteria aleatória 
e cruel da vida.
A crença inabalável na vida eterna.
Onde cordeiros e algozes farão as pazes. 
"Perdoa Pai, que eles não sabem o que fazem"
Não foram as últimas palavras do Divino ?

Perdoar... Como assim ?
E o livre arbítrio ?
Se quem fere, rouba, mata friamente, 
de cabeça pensada, merece ser perdoado,
qual o incentivo de ser bom, justo, correto ?
O mundo civilizado não é melhor
do que nos tempos antigos.
Do olho por olho, dente por dente.
Só mudaram os métodos.
Hoje mata-se com mais sofisticação.
Mas a crueldade e a barbárie é a mesma.
Os cordeiros de Deus que o digam...














Representar
Improvisar
É só o que nos compete
No picadeiro da vida 
Ora sorrindo, ora sufocando a dor
Sem tempo para lamentar, sem tempo para chorar
Que o show tem que continuar. 
  














  

sexta-feira, 9 de março de 2018



Um dia como qualquer outro nunca é como outro qualquer.





                       OBITUÁRIO





Não é mais o caso de pedir perdão.
Tampouco de fazer vistas grossas,
fingir que está tudo bem.
Esperar por compreensão.
Há que enfrentar a realidade nua e crua,
esgotado o diálogo, a paciência,
de tanto que o nosso discurso se desgastou.

Eu não mudo.
Você não muda.
O resto é papo furado.

Também não é o caso de pensar
no que pode ser feito, corrigido.
Posto que já não pode ser remediado o que 
não carece de remédio,
e sim de obituário.


quinta-feira, 1 de março de 2018

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                               de segunda à segunda A vida se mascara e se revela tão perto e tão longe de tudo.   Andamos à esmo como anima...