segunda-feira, 27 de setembro de 2021




Nada existe nada

fora do mercado de consumo.

Ou somos 

consumidores ou insumos.


 




Nada é por acaso.

Nem o acaso.

Cada caso é um caso.

Se tudo der certo

eu nunca mais caso.



                    O homenzarrão desfila

                    com seu minúsculo cachorro.

             A moça magricela se deixa arrastar

             pelo cão tamanho de um cavalo.

             O ser humano às vezes é patético.


Quando nasci, Deus disse :

este vai precisar 

de um anjo da guarda daqueles !


             Entre o dente e o palito

             estabeleceu-se um conflito.

             Nada bonito.







                     



             



quarta-feira, 22 de setembro de 2021




                         as razões do tarado






Sua presença, diria, avassaladora,

despertou em mim, a um só tempo,

os melhores e os piores instintos.

Quando entrou no elevador,

recém saída do banho - via-se pelos cabelos 

cacheados ainda molhados,

o bico dos seios quase furando a blusinha tipo

tomara-que-caia, 

bermuda e sandália daquelas de usar em casa,

o cheiro de sabonete de endoidecer,

e em que pese meu visível alvoroço,

meu coração disparar, 

e ela

sequer me olhar, 

reparar na minha presença,

mesmo sendo só eu e ela no maldito cubículo,

no qual não tirou os olhos do celular, 

foi aí 

que entendi 

as razões do tarado. 

 






  



                    invernada





Nossas batalhas hoje são outras.

Nos despojos do tempo, as antigas conquistas e reveses

já não contam.

Nada ficou que se sustente, 

apenas o gosto amargo das perdas,

que a tudo se sobrepõem. 

Quando já não há pelo que lutar. 





domingo, 19 de setembro de 2021



                           largado às traças





O que a vida se torna depois de rarefeita, 

inexoravelmente desfeita, quiça refeita,

quem sabe infecta, 

oscilando entre o desesperador 

e o banal, 

só pagando para ver.


O tormento é certo,  

se temporário ou permanente, 

cabe a cada um escolher.

Não me arvoro nem tenho estofo 

para dar conselho.


Quando muito, sugiro dar graças

por livrar-se das trapaças,

por a fé não ter se tornado fraca,

ainda que largado às traças ( e à insones baratas ), 

"esses humildes comparsas

das ruínas e desgraças", (como diria L.A.Cassas).







Não lamente que não lembrem de você.

Pior seria se quisessem se livrar de você.


 




Quanto mais estreitos os horizontes

menores os dilemas existenciais. 


 




                         dores





Os dias desaparecem na brancura.

Tudo indica que meus ossos derreterão

antes de meu coração.

Sonho que lobos voltam seus olhos glaciais

para mim.

Sinto que serei devorado, e a dor da carne dilacerada

fará parecer ridículas

todas as dores que já houvera experimentado.


 

sábado, 18 de setembro de 2021




Não há poesia nem alegria

com a prateleira  ( e a barriga ) vazia.


 

                                           

                                           nunca é tarde para sofrer





Qualquer situação requer uma solução.

Elucubração mental.

Ora, tudo começa pelo kick-off, fazer o primeiro

movimento.

Nada mais desgastante que a hesitação.

Como dizem os gurus da autoajuda, sem correr riscos 

nada se consegue.

Fatalidade é ser absolutamente honesto.

Dentes trincados, deuses intrincados, estão por toda parte.

Almas de silicone, sexo precificado, grana fácil.

O sono dos injustos sonha acordado.

Quem nunca deu um "escapulida" que atire 

a primeira pedra. 

Anjos exaustos nos deixam à revelia.

A precária existência é de espelhos e labirintos borgeanos.

Mas sobrevivemos, em meio a inquietude sofreada.

Hoje, o riso, o folguedo.

Amanhã, o câncer.

Não há tempo à perder. 

Nunca é tarde para sofrer. 

  

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

                             

                              amor morno





Amor morno,

requenta no forno.

Sem tesão, faça-se o favor

de assar a solução.




 




Eis o magnificat :

a Deus o que é de Deus

e ao homem o álibi perfeito.



 




No fundo, convenhamos, 

família só serve 

para encher o saco,

tirar retrato

e fazer barraco.






quarta-feira, 15 de setembro de 2021


                       a coisificação das coisas




Tudo se insere na coisificação das coisas.


            Nada mais vivo que a morte, que ninguém pode matar.


Feitos um para o outro, até que a vida os separe. 


               As palavras estão gastas.

               Os esforços, tardos.

               Urge que se reforme o mundo.

               Começando pelas leis divinas

               Que rebaixa os humildes 

               E exalta os poderosos.



                            








               


 



                       a lógica da sarjeta





Vivemos sob a lógica da sarjeta.

Sob a égide do mundo digital.

De valores vagando ao léu.

Algozes e vítimas de desejos deletérios.

Como ratos que devoram as própria entranhas.


A sensação simultânea de céu e abismo

nos consome.

Máscaras anêmicas escondem os medos

que entretecem a insípida vida.

Miragens consentidas enxugam o suor dos muros.

A retórica dos ventos nos leva além da dor.

Além do entendimento que se quis reter.

Enquanto os dias algemados à memória

esculpem párias e pústulas.



 




É bom ouvir o silêncio.

Nascido da inutilidade de expressar-se.

É por onde começa o entendimento.





 




O amanhecer

é como um renascer

ao revés.


 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

sexta-feira, 10 de setembro de 2021


                                         nada está bem

                             






Todos os caminhos levam à Brasília.

Nossa Versalhes sem Bastilha, 

em que os criminosos é que estão no poder.

Devidamente entrincheirados.

Devidamente escudadas por salvaguardas espúrias

engendradas em causa própria. 


Todos os caminhos levam à Brasília, mas nosso povo

é por demais pacato.

Limita-se a protestar, empunhando bandeiras e entoando

slogans que ecoam em vão.

Enquanto boa parte nem isso faz,

cooptada pelo regime que devastou e sugou

o país por quase 15 anos.

Todos impotentes diante da orgia da numerosa corte

de comensais e magistrados

que gozam de regalias e mordomias que pairam

como um escárnio à Nação estuprada.

Massa (de manobra?) que ainda assim desfila ordeira

e pacífica neste emblemático 7 de setembro de 2021,

atendendo aos apelos de um presidente refém, não só 

da conjuntura maligna que herdou, 

como - e principalmente - dos próprios erros 

E tudo bem, nada acontece.


Mas não,

nada está bem

num país 

que engole tudo passivamente.

Sem lideranças que se respeite,

sem um povo que se imponha.













terça-feira, 7 de setembro de 2021


                         carnificina





A carne de janeiro tem o sabor suicida

das coisas a serem vividas,

porém já perdidas.


A carne de fevereiro tem o sabor da volúpia

dos recomeços de quem vive

brincando com a sorte. E com a morte.


A carne de março tem o sabor do sexo

das meninas violentadas e precocemente 

emancipadas.


A carne de abril tem o sabor da mesmice 

de dias devorados

por máquinas autônomas e customizadas.


A carne de maio tem o sabor das tardes

luminosas que se precipitam no abismo

de cidades conflagradas e fétidas.


A carne de junho tem o sabor 

do tempo sem tempo em que nada sucede

além do engano.


A carne de julho tem o sabor de sóis trenspassados

de áspera luz e primaveris cinzas

das florestas dizimadas pelo homem.


A carne de agosto tem o sabor venenoso 

do ouro que impregna os rios de chumbo.


A carne de setembro tem o sabor das lembranças

que não oferecem nada, além de domingos cruéis

e grandes viagens em estradas vazias.


A carne de outubro tem o sabor ardido das decepções

e dos fracassos, de um tempo que se apagou

mas que continua doendo.


A carne de novembro tem o sabor da vida que não

muda. De um mundo que não quer mudar.

Murchando, apodrecendo como legumes

que ficam sem vender.


A carne de dezembro tem o sabor do mel

que é fel. Do afeto que trai. 

Do abraço que aprisiona.

Do amor que era pouco e se acabou.



segunda-feira, 6 de setembro de 2021




Tudo tem sido tão pouco

Depois de ter sido tanto

Que às vezes até me espanto

De não ter ficado louco.


 




Se for perdoar, que seja de coração.

Se for ponderar, que seja com a razão.

Se for para voltar, que seja para ficar.


  




Pena, nossas verdades 

forjaram diásporas irreversíveis.



 




Por que tanta pressa ?

Tantas preocupações ?

Contente-se com os prazeres

da solidão.

Em descobrir quais são.


 



Caem velhos lemas de vida

como caem os galhos apodrecidos 

de uma árvore. 

Há que podá-los. 




 

domingo, 5 de setembro de 2021



                                  prisioneiro 





 

Precisava reaprender o que nunca aprendi. 

Quisera ter nascido adulto com olhos de criança.

Caminhar entre solidões com o sol no coração.

Escrever versos feitos de sal e angras de ternura.

Revelar-me em cada canto de pássaro prisioneiro.

Ter asas e barbatanas para saciar a sede de liberdade.

Ser a semente que mata a fome de amor e beleza.

Precisava saber o que fazer com o enorme vazio de esperar.

Queria (re)encontrar alguém que fizesse

não me sentir tão só...





 

sábado, 4 de setembro de 2021




                 a bateia do tempo





Chega o tempo de superar

tudo o que se fez ausente.

De enxergar o mundo sem maiores

questionamentos.

Sem por quês, estranhamentos.

Simplesmente, tempo de depurar.

Se debruçar sobre todo momento.

Ainda que não fique senão cascalho

na bateia do tempo.



 




                      na parede da memória






O mundo dá voltas e eu,

folgo em dizer,

já não sinto desejo, nem revolta.


Da vida, tenho sido um

aprendiz relapso.

Mas, enfim, apto 

a seguir em frente,

virar a página.

E com a alma nua

como a lua, 

do antigo amor desamar.


Sem remorso, sem moratória.

Sem nada deixar ou levar.

Quando muito, um simples retrato 

na parede da memória.


 







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