sexta-feira, 30 de novembro de 2018

               
     
                       

                     cão vadio


Quando as palavras já não surtem efeito.
Quando a mágica já não encanta.
Quando a encenação já não convence.
Quando as lembranças já não importam.
Quando os sentimentos se deterioram inexoravelmente,
e o antigo afeto e respeito
se transformam em mágoa e ressentimento.
Quando o peso do arrependimento torna o presente insuportável,
e o futuro nada inspira, sob o estigma das crenças abortadas. 
Quando a sensação de que tudo que foi vivido
não passou de um grande engano.
De uma farsa estupidamente protelada.
Quando tudo vem à tona, e a verdade finalmente
se delineia, nua e crua,
saibamos, sábios incautos, 
bendizer o que enfim se mostrou às claras.
A realidade despida de disfarces e subterfúgios.
A vida como ela é.
De relações corroídas, elos desfeitos.
O barco à deriva, o palhaço sem graça.
O cão vadio à procura de outro dono...




  




                        ode à mentira


  


(para I.M.)


Tudo bem, todos mentem.
Compulsivamente ou não.
Socialmente ou para si próprio.
Não há escapatória.
Mentir ou omitir.
Enganar ou manter as aparências.
Tanto faz, tudo bem.
Mentir é preciso,
viver não é preciso.

Vêm, inúteis apelos,
solicitar em nós forças e condições 
que não temos.
Eis, então, a regra de ouro :
buscar soluções, saídas honrosas.
As quais, quando não possíveis,
reféns da mentira nos tornam.
Enredo no qual ninguém sabe quem é quem.
Mente-se para enganar os outros
Mente-se para si próprio. 
Para suprir o que não se possui. 
O que nos falta.
Seja em caráter ou bens materiais.

Não há limites para o mentiroso inveterado.
De tanto viver enganando os outros,
não sabe viver de outra maneira.
Na conversa, nas atitudes, na própria cama.
Falseia os sentimentos, distorce a realidade 
em proveito próprio
Não perde o rebolado nem quando se
enreda nas próprias mentiras.
Não dá o braço à torcer.
Não sente vergonha.
De tanto viver a sombra da mentira,
a luz da verdade o cega e desnorteia.

Não obstante, nem por isso
deixam de ser simpáticos carismáticos.
Mentirosos de carteirinha tendem a ser
mais apreciados e amados que as pessoas normais.
Porque no fundo, a gente pede para ser enganado.
Às vezes por conveniência, as vezes por interesse.
Mas, quase sempre,
porque a mentira dói menos que a verdade. 

















  

quarta-feira, 28 de novembro de 2018




SÓ A MORTE É FIEL
           


Tudo é mágico,
até virar rotina.
Mas mesmo ao trágico 
a gente se acostuma.
No perde e ganha da vida, 
tudo é circunstancial.
nada é definitivo.
Só a morte é fiel.

Adaptar-se ou renunciar 
é o que nos resta.
Quando resta.
















    

terça-feira, 27 de novembro de 2018


                              a outra face




Uma história pode ser contada de várias maneiras.
Cada um tem sua visão, sua versão dos fatos.
Saber quem fala a verdade, eis o grande dilema.


A verdade tem várias faces.
E a versão que prevalece nem sempre é a verdadeira.
Depende de quem conta, das circunstâncias, 
da plateia.

Ninguém escapa de uma boa conversa.
A lábia é a maior das aptidões humanas.
Todos mentem.
Todos fingem.
Sem o quê, a convivência seria inviável.


Há que saber quais os limites.
Veneno, em pequenos doses, não faz mal,
e até fortalece.

Mentirosos e hipócritas estão por toda a parte.
É a espécie dominante.
Não obstante, não é fácil identificá-los.
São lobos em pele de cordeiro.
Posam de corretos, bonzinhos, íntegros,
mas quando menos se espera,
dão o bote, mostram as garras.

O antídoto ? 
Aprender com eles.
Dar o troco na mesma moeda.
O velho e bom olho por olho, dente por dente.
Esse papo de dar a outra face soa bonitinho
mas positivamente não funciona.








segunda-feira, 26 de novembro de 2018

                        
                       ADEUS


Do nada, por nada,
Ver-se preterido. 
Ver tudo ruir, sem entender,
Sem nada poder fazer.

Partir com o coração partido.
Na bagagem, dor, saudade, remorso
Tantas coisas bonitas vividas.
Terá sido tudo em vão ?

A dor de quem parte,
A dor de quem fica.
Adeus em que ninguém ganha.
Tragédia para quem parte e quem fica.

Triste epilogo de um amor que se desfez, 
No desconsolo de quem viu-se obrigado a partir,
Na insensatez de quem abriu mão de tudo.
Por razões que a própria razão desconhece.




quinta-feira, 15 de novembro de 2018
















 


               
                 às portas do inferno







Imagine uma cena de horror explícito. De rivalizar com qualquer coisa do gênero que o cinema tenha produzido. Pois é. E não se trata de nada isolado, raro, casos semelhantes vem se tornando rotineiros em várias partes do mundo. Notadamente naquelas de pobreza e baixa escolaridade.
O que me refiro aconteceu recentemente num lugarejo mexicano com cerca de 15 mil habitantes, mas cuja pobreza, como sói acontecer, não impede a maioria de possuir o indefectível celular ou smarthphone. É assim na Índia, na Guatemala, na Libéria, em Madagascar, enfim, são raros os cantos da terra que a onipresente internet não alcance. Com seus prós e contras. Aparentemente mais contras do que prós.
Como nesse dantesco episódio no conturbado solo mexicano, em que um tio e seu sobrinho foram visitar parentes, e ao se dirigirem a pé pela rua principal do local, começaram a ser hostilizados pelas pessoas.  Do nada. Assustados, entraram numa farmácia, enquanto na rua o aglomerado aumentava, com alguns mais exaltados gritando que se tratava de dois sequestrados de crianças, integrantes de uma quadrilha de traficantes de orgãos, uma modalidade de crime bastante comum no México. O alerta havia sido dado por alguém via watts ap, e compartilhado instantaneamente entre a população. 

Uma viatura da polícia surgiu para levar os dois forasteiros à delegacia para averiguações, o que no entanto não acalmou a turba, que cercou e ateou fogo ao local, obrigando os policiais e os detidos a saírem. Foi quando consumou-se o horror dos horrores, com os dois sendo espancados e depois queimados, provavelmente já mortos, pela multidão transtornada,  barbárie filmada por muitos e que rapidamente se espalhou pelo mundo afora.

Os corpos dos dois infelizes ainda fumegavam na praça quando já começavam a circular desmentidos sobre a tal denúncia, confirmada com a chegada de parentes das vítimas, incrédulos e desesperados com aquele cenário dantesco. Originado, soube-se depois, pelas postagens de um único indivíduo, cujo tom raivoso e candente contagiou praticamente toda a população do vilarejo. Que nunca mais será o mesmo.

Como o mundo nunca mais será o mesmo, com os instintos malignos da humanidade catapultados pela satânica Internet. Ou há alguma dúvida de que as portas do inferno nunca estiveram tão escancaradas ? 




quarta-feira, 14 de novembro de 2018










há os que se acomodam na vida e culpam os outros por suas frustrações e fracassos; 
e há os que não abrem mão de seus sonhos e objetivos pessoais.

há os que se fecham para o mundo e não evoluem; 
e há os que inspiram e dão o exemplo.

há os que erram e persistem nos erros;
e há os assumem e dão a volta por cima. 

há os que sofrem calados e superam;
e há os que não perdoam e murcham por dentro...


segunda-feira, 12 de novembro de 2018


                
                              o jogo





jogar o jogo. 
jogue o jogo.
é como deve ser.
não é você que faz as regras.
cabe apenas adequar-se.
amoldar-se.
entender como se joga.
como funciona, como se faz.
não queira bancar o bonzinho.
não pense que vão aliviar para o seu lado.
o jogo é pesado.
vale tudo.
há de tudo.
compete a você optar
para que lado quer jogar.
fique atento, fique esperto
mas é bom saber que o melhor 
nem sempre vence.
que o árbitro não é confiável 
e a torcida volúvel
não se empolgue com os aplausos
não desanime com as vaias
faça o seu jogo.
faça a sua parte.
aprenda a ganhar e perder.
é como se joga o jogo da vida
*"nem sempre ganhando, 
nem sempre perdendo
mas aprendendo a jogar..." (*Guilherme Arantes)






                              
                             

                   A CURA

o óbvio. 
porque é tão difícil enxergar o óbvio ?
mesmo o óbvio ululante.
aquilo que salta aos olhos de qualquer imbecil ?
aquilo que está debaixo do seu, do meu nariz
e não enxergamos.
o ridículo a que nos expomos.
as mancadas que cometemos,
quando se é carta fora do baralho.
quando fazemos papel de idiota,
infantil, ingênuo.
tão óbvio, e não vemos.

porque é tão difícil cair na real ?
ver que seu grande amor já era.
que nem tão grande era,
como o tempo revela.
ver que tudo é circunstancial,
que a paixão acaba.
quando não há mais interesse,
alguém sempre sobra.
porque reluta em aceitar 
que ela não te quer mais ?
que pisou na bola,
e não adianta negar.
a quem quer enganar ?

por que é tão difícil admitir 
que tudo é condicional ?
que o que se tem e se recebe,
depende do que oferecer em troca.
que o seu velho amor era uma farsa 
e o novo amor no fundo não é diferente.
um dissimulado, o outro esculachado,
posto que ninguém ao outro conhece.
   
arre ! basta de humilhação e sofrência. 
há que se dar o devido valor.
esquecer quem não fez jus, 
não soube valorizar 
o que com tanto sacrifício se construiu
o seu querer, sem razão de ser.

e em sendo certo outros enganos,
bem-vindo seja o novo querer,
o coração que se vire.
que a dor do amor que se foi,
com um novo amor se cura.
















domingo, 11 de novembro de 2018


                
          sempre há um preço à pagar


 


Não há lhaneza e candura na vida real
A beleza, o amor e a poesia estão em todo lugar
Mas a torpeza impera, honradez é exceção à regra.

No jogo jogado, não há boa fé, inocência.
Bate-se da medalhinha para cima.
Batem sua carteira ao menor descuido
Lorotas, armações, o vale-tudo é generalizado.

Exagero ? Pois eu não conhece ninguém
que já não tenha sido enganado, logrado, passado 
para trás
No trabalho, no amor, no trato com as pessoas.
É a lei da vida, tentar levar vantagem em tudo.
Otários é que não faltam.
Gente que ainda conserva resquícios de humanidade.
Presa fácil, espécie em extinção...

Vislumbro um mundo em que todos serão espertos.
E não vai demorar muito.
O aprendizado hoje começa mais cedo,
Tendo smarthphones, computadores, yourtubers, e gurus 
de toda ordem à palma da mão.
Desde a mais tenra idade.
Nossos filhos saberão muito mais do que nós.
Muitos já sabem. Coisas que nem imaginamos.

Obviamente, tudo muito ralo e superficial.
Craques em tecnologia, pernas de pau no restante.
Educação, cultura, caráter, estão no banco de reservas
da era digital.
Não há atalhos para amealhar o verdadeiro conhecimento
Assimilar os valores clássicos, 
que os gregos nos legaram.
Aquelas tolices que as novas gerações desconhecem e desdenham.
Tolices que embasam o verdadeiro conhecimento.
Que nos permite respeitar, ver e valorizar o que de bom 
a vida nos dá.      
Ter olhos para ver e coração para sentir
Aptos a amainar a dura realidade
Capazes de viver com dignidade
Sem passar por cima de ninguém, sem enganação
Posto que a justa lei máxima da natureza,
que premia e protege os bons,
no fim prevalece, a tudo se sobrepõe.

Podem acreditar, meus caros,
não há um filho da puta 
que consiga ser feliz pisando e fodendo os outros.
Sempre a um preço à pagar.





  


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

                

                    quem ama,  se engana




   
Não se amofine, não se apresse,
desesperar não carece.
O tempo se encarrega de tudo. 
De desvendar as coisas e trazer respostas
Curar a feridas, apascentar a alma. 
Dosar tudo de bom ou ruim 
que acontece em nossas vidas. 

Há sempre surpresas, revelações,
quando menos se espera.
Situações, intrigas, questões mal-resolvidas vem à baila.
A verdade tarda mas não falha.
Um dia a máscara cai e as pessoas se revelam. 
Revelam aquilo que está na nossa cara e não víamos.
Ou quando o acaso mexe os pauzinhos.
Ninguém engana os outros o tempo todo.
Há um prazo para tudo. 
Pode ser 18 anos ou alguns meses.
Uma vida ou breve momentos.
Quem diz que ama é a mesma pessoa
que mente e te engana.
Para manter as aparências, quando é conveniente.
Que te sacaneia, quando deixa de gostar.
Nem parece a mesma pessoa.
De repente mostra a verdadeira face.
Não há como saber.
Quem ama, se engana.
E como !

















quinta-feira, 8 de novembro de 2018



                     SEMANCOL

...quando se chega ao extremo de pedir perdão sem ter culpa, de pedir desculpas por algo que não fez, e ainda assim não ser perdoado nem desculpado, é hora de se mancar e tirar o time de campo, pois é óbvio que estão cagando e andando para você.
















Da série, minha vida virou uma piada

Tem um catador de papelão, um desses tantos carrinheiros que faz dessa insalubre atividade um meio de vida, que há mais de 10 anos reside debaixo de uma das marquises de minha firma, aqui na Ponta da Praia. Como a loja é de esquina, aproveitou uma das extremidades onde quase não passa ninguém, e instalou um velho sofá, onde passa as noites, coberto por uma espécie de lona de plástico. A prefeitura já tentou removê-lo várias vezes, chegaram a levar um outro sofá e apetrechos que ali guardava, mas ele bravamente resiste, dizendo gostar dali e que ali pretende ficar, enquanto eu permitir.
Ora, por mim tudo bem, ele jamais me incomodou, não é de fazer sujeira, e não deixa de ser uma espécie de vigia atento a tudo que rola num pedaço sabidamente da pesada. Sem falar no inacreditável bom astral do sujeito, que tem sempre algum comentário ou algo engraçado na ponta da língua. 
Como outro dia, quando se aproximou tão logo desci do carro, e logo vi que queria puxar conversa, ou talvez pedir um trocado, como às vezes faz. Mas não. 
"Tudo bem com o senhor, patrão ? 
"Está, sim, Messias (o nome dele), e com você ? "
"Tudo sob controle, como sempre. O senhor sabe que comigo não tem tempo ruim", aduziu, emendando :
"Desculpe falar, mas tenho notado de uns tempos pra cá que o senhor está diferente. A cara amarrada, parece triste... Desculpe me meter, posso estar falando bobagem, mas não deixa a peteca cair, não. O senhor é do bem, logo as coisas melhoram..."
Agradeci, meio sem jeito, e não pude deixar de me admirar diante do exemplo de galhardia e sabedoria inata daquele zé ninguém, provavelmente mais feliz do que eu, com minha vidinha de burguês, mas cheio de merda na cabeça. 




da série, minha vida virou uma piada

Passei toda minha vida no convívio familiar, até os 27 anos vivendo com meus pais, depois em dois casamentos desfeitos - o segundo recentemente terminado. Com meus pais e minha irmã mais nova falecidos, dois filhos adultos e meu caçula vivendo com a mãe, eis que pela primeira vez na vida, me vejo só. Velho e absolutamente só. 
A vida é injusta e cruel. Lembrei de um velho amigo, Maneco Pé-Leve, que também se viu assim, sem família, e cujo maior medo, confessou-me certa vez, aos prantos, em meio a uma bebedeira, era ninguém reclamar seu corpo e ser enterrado como indigente. "Promete pra mim, cara, não deixa isso acontecer. Me promete, cara, me promete ...",  repetia, soluçando como uma criança. Prometi, é claro, até mesmo para dar um fim àquele repentino melodrama em pleno bar lotado. 
Pouco tempo depois ele voltou para Itajaí, sua cidade de origem, e nunca mais o vi. Espero que ainda esteja vivo, mas se já tiver partido desta para melhor, que alguma alma caridosa tenha cumprido por mim a tal promessa.
Quanto a mim, pouco se me dá se acabar enterrado como indigente. Morrer não me assusta, e o que vier à acontecer com minha carcaça, pouco importa.  Aliás, simpatizo muito com a iniciativa da minha mãe, que após um final de vida sofrido e difícil para todos, dispensou o próprio velório. ''Não quero ninguém chorando em cima do meu caixão", sentenciou.
Minha velha não era fácil. Oxalá esteja em paz.
      

quarta-feira, 7 de novembro de 2018


 






 









   







da série, minha vida virou uma piada





A pessoa te enrola, mente, finge ser o que não é,
mas mesmo assim sinto falta dela.

A pessoa te usa, te faz de otário, inverte 
as coisas, mas mesmo assim gosto dela.

A pessoa te sacaneia, trapaceia, se faz 
de vítima, mas mesmo assim queria ela de volta.

Quem é o mais doente ?


terça-feira, 6 de novembro de 2018





 




  






 






                           o cavaleiro e o cavalo




Vencer na vida, ganhar dinheiro, ser feliz,
é o que todos desejam.
De preferência, fazendo o que se gosta.
Sendo útil, correto, digno, como deve ser.
Como deveria ser.
Porque no mais das vezes, 
as coisas tendem à fugir do controle.
À sair do script.
E derrapamos.
E não raro, as coisas deterioram.
Retrocedem.
Quando nos damos conta, a casa caiu.

Se manter no prumo, no rumo certo,
é tarefa hercúlea.
As tentações, apelos de toda espécie, abundam.
Fraquejar passa a ser apenas uma questão de oportunidade, 
de circunstâncias.
Todos tem seu preço.
A maioria se vende por ninharia, por besteira.
Outros relutam bravamente, não se corrompem.
Não se deixam seduzir por ambições materiais.
Mas não escapam das garras tenazes
do orgulho e da vaidade.
Que igualmente deformam e comprometem o caráter.

Somos todos imperfeitos.
Uns mais, outros menos.
Feliz de quem tem consciência disso,
tem noção dos próprios defeitos e limitações.
E não se arvora em ser a palmatória do mundo.
Em julgar e condenar sem o devido conhecimento
de causa e de estofo moral.
E isso vale para todos.
Mesmo para os íntegros.
Mais estudados e dotados intelectualmente.

Se um único conselho tivesse que dar
a um filho meu, como lema de vida,
diria, sem titubear :
jamais se apequene.
Pois quando isso acontece,
o respeito que é bom, vai para o ralo.
De cavaleiro se passa à cavalo. 








sábado, 3 de novembro de 2018


                 PIADA PRONTA


Sinto um profundo e permanente cansaço
O corpo pede descanso mas a mente não deixa
Durmo tarde, acordo cedo
Qualquer ruído me acorda
Levanto para mijar duas ou três vezes
Esta noite dei uma topada no pé da cama 
e vi estrelas
Lá fora, um gato miava
Minha vida virou uma piada 






                 ANACRONISMO AMBULANTE








Moça dos olhos claros (castanho-esverdeados ?),
Sorriso largo,
Uma potranca, esbanjando alto-astral.
Já chegou, chegando.
Sedutora, envolvente,
Dizendo para eu tomar jeito
Senão me dava uns tapas na cara...
Como não se impressionar,
Ainda mais coincidindo de ter 
O mesmo nome da minha irmãzinha 
Que Deus levou.

Moça dos olhos claros, sorriso largo,
Que entrou na minha vida como um furacão.
Com quem eu, desavisado,
Ainda ferido, machucado, 
Não soube lidar.
Bem que eu quis.
Bem que me esforcei.
Mas, como sempre, me dei mal.
Não tive jogo de cintura, malandragem,
Para entrar no jogo do faz de conta dela.
Que afinal de contas,
É o jogo que se joga hoje em dia.

Um jogo de aparências.
De falsos valores.
Que eu nunca soube jogar.
Nunca fui capaz de aceitar.
Daí a frustação de mais uma vez sentir
Que não vou à lugar algum sendo como sou.
Cheio de razões e valores em franco desuso.
Um cara muito legal, muito bacana,
Mas que na prática, só se ferra.
Pois em nada me ajudam.
Sempre bancando o otário.
Sempre à ver navios.

Moça dos olhos claros, do sorriso contagiante,
Sinto tua falta.
Que tal passar uma régua em tudo ?
Tudo bem, finja, minta, me enrole.
Não faz mal.
Vou dar um jeito de lidar com isso.
Aprendi muito com você,
Mas não o bastante.
Preciso aprender a dissimular,
A enrolar, a manipular as pessoas.
A ser gente.
A gente predominante.
Aderir ao padrão dominante.
Deixar de ser babaca.
Cansei de ser um anacronismo ambulante.
Quem melhor que tu para me ensinar ? 








                           BOLA CHEIA




Nos últimos meses me chamaram, pela ordem, 
de farsante
bipolar
ignorante
perturbado...
O que, somado à antigos epítetos com que me distinguiram ao longo da vida, dá para formar um time de futebol, a saber :

                           Pavio curto

Intransigente   Recalcado   Arrogante    Revoltado
              
       Corno             Egoísta                Farsante

Bipolar                 Ignorante                Perturbado

Estou com a bola cheia, como se vê...



   

sexta-feira, 2 de novembro de 2018






o céu é o limite


para quem não tem imaginação


                          tudo tem seu preço

 


Reconstruir, refazer, reconquistar
Nunca é a mesma coisa
Sempre há perdas e danos à considerar
Quase sempre irreparáveis
Sequelas que por mais que se queira
Permanecem, mutilam
Eventualmente nos fortalecem
Mas há que preço, só Deus sabe...

Um grande amor nunca mais será o mesmo
Após deixar de ser grande
Após entrar em colapso, cair em desgraça
Haverá sempre lacunas
Feridas, pontes queimadas
Reconstruir, refazer, reconquistar
É preciso se despojar de tudo, se reinventar 
Mais fácil, nascer de novo...

No entanto, é preciso tentar
Faz parte da natureza 
Renascer das cinzas
Posto que estamos sempre recomeçando
Sempre errando e acertando
Cumpre aprender, da maldição de Sísifo fugir
Não desista, trabalhe, prospere
Se o grande amor acabou
Compre outro
Tudo tem seu preço... 








as coisas mais importantes na vida 
são as que perdemos. 
portanto, 
não espere perdê-las para se dar conta disso.


cá pra nós : 




o mundo seria bem melhor...sem gente

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

          

        O SONO DOS JUSTOS







De dia, a labuta, 
O pé na estrada, o pó na cara
O pão que o diabo amassou para engolir
O pega pra-capar da subsistência
A luta insana e inglória 
Para se manter íntegro
Tendo em troca a falta de reconhecimento
A falta de respeito
Na rua, em casa...

De noite, o cansaço, 
O agridoce lar soçobrando
Sempre os mesmos problemas
A mulher insatisfeita, reclamando de tudo
As crianças brincando consolam
As crianças chorando aborrecem
A vida besta escoando pelo ralo

De dia, o sol na cara, a chuva no lombo
Das desditas desviando, 
Nos escombros se virando
O patrão sempre insatisfeito
O dinheiro sempre insuficiente
A merda da vida grudando nos sapatos

De noite, a volta para a incerta casa
A mulher já não é a mesma
As crianças nem percebem quando chegas
Só o cão amigo te faz festa
As contas atrasadas amontoam
A mulher vendo televisão na sala
Enquanto tentas dormir 
O sono solitário dos justos
Que amanhã tudo recomeça...

   



                                
                           
                            versos


Sim, escrevo versos
Versos prosaicos, despretensiosos
Versos precários (ora, direis ?)
Versos profanos em que me entrego
Versos insanos em que me abro
Me atolo nos meandros da alma
Versos antigos, versos imprecisos
Versos amigos
Neles me remoo
Neles me desdobro
Neles me acho
Versos em que me acabo 
Padeço, sofro as dores do mundo
Em que sangro, revivo
Testemunhos de tudo que vivi
Tudo que guardei
Tudo que tive, e o que pensei que tivera
Amores, dores que o tempo cura

Versos-cicatrizes
Versos-malditos
Versos-singelos
Versos-libelos
Versos-venais
Nos quais sou o que sou
Alguém que foi sem nunca ter sido
Versos, meu reverso...

Postagem em destaque

                               segunda-feira A vida se mascara e se revela tão perto e tão longe de tudo.   Andamos à esmo como animais perd...