sábado, 26 de agosto de 2017



 
                      concordia discors


                               

Se aventurar por mares nunca dantes navegados,
neles naufragar e se reinventar 
a cada tempestade.

Desbravar caminhos desconhecidos e traiçoeiros 
e ao cabo neles, refazer e repensar 
os malogros da jornada.

Alçar voos por horizontes feéricos e plangentes,
onde sonho e realidade 
enfim se harmonizem.

Mergulhar fundo na concordia-discors
da alma peregrina, 
e converter-se a beleza obliterada da vida. 

Garimpar a verdade na pedra bruta,
ainda que as mãos sangrem, o chão se abra,
e a desilusão sobrevenha.

Desbravar a morte seca, cavalgando montes e
rios, até galgar o Todo 
em que tudo se completa.

Pedir, implorar, e não ser atendido 
por deuses sanguinários.
Encarar todo dia a mesma jornada, comer o 
mesmo pó, o pão que o diabo amassou.

Pecar sem culpa, sofrer em vão,
quem é o mais infame ?
O pecador ou quem atira a primeira pedra?

Pior é ver a vida passar em cancerosas cosmogonias.
Ver o mundo soçobrar, a miséria recorrente
dos grotões do terceiro mundo, 
enquanto uma minoria privilegiada 
afronta o mundo com sua riqueza.

Desumana e desigual, assim caminha a humanidade.
A insanidade grassa, o juízo final começa nos lindes
da eucaristia.
Posto que a fé que remove montanhas é a mesma
que revolve as entranhas.
Mundo louco em que em nome de Jesus Cristo ou Maomé,
as maiores atrocidades se praticam.

Em que justiça não há, igualdade muito menos.
Em que a esperteza vale mais que o trabalho.
Em que as leis protegem quem rouba e trapaceia.
Em que sempre há algum juiz escroto
para livrar a cara da bandidagem.
A esperar o tempo em que as profecias 
se cumpram. 













 





  











quarta-feira, 16 de agosto de 2017



                    
                      COM O DIABO NO CORPO 




Vendo os rumos cabalísticos que marcam indelevelmente a carreira de Neymar, inevitável não pensar sobre o que o torna tão diferenciado e especial. Se é fruto da fórmula tradicional - a somatória de trabalho, dedicação, biotipo e uma boa dose de genialidade, ou de algum tipo de predestinação ou algo ainda mais esotérico. Aliás, pela desenvoltura que mostrou logo de cara no clube francês, como se estivesse jogando uma pelada qualquer, a hipótese de tratar-se de um extraterrestre também não pode ser descartada.   

A mim, particularmente, o que mais assombra não é a fama, a idolatria e a veneração quase sacrílega que desperta. Tampouco as cifras estratosféricas que envolveram sua transferência do Barcelona para o PSG, de resto consequências naturais dessa fulgurante trajetória e sua unção como estrela de primeira grandeza no universo futebolístico e das celebridades. 
  
O que mais me chama a atenção e intriga, por fugir à regra e ao lugar comum, é exatamente a fluidez e a naturalidade com que as coisas que vão acontecendo e sedimento sua edílica carreira. É o corpo e a cabeça aparentemente blindados para superar os desafios a que se propõe e se põe na linha de frente. Como se ele ou seu controvertido e onipresente pai, tutor e mentor, tivessem algum tipo de pacto semelhante ao do doutor Fausto, da soberba obra de Goethe, que vendeu a alma ao diabo para obter tudo o que sonhava em vida. Sabe como é, no creo en brujas, pero que las hay, las hay...

De certa forma, Neymar tinha tudo para quebrar a cara precocemente, como tantas e tantas promessas engolfadas pelas armadilhas da ascensão súbita, dinheiro à rodo, mordomias, baladas, etc,etc. Afinal, de família paupérrima, bastou despontar nas categorias de base do Santos para cair nas garras dos abutres que proliferam nos bastidores do futebol, oportunistas transvestidos de empresários que arrancam procurações extorsivas em troca de merrecas à título de ajuda de custo. 

Estratégia invariavelmente infalível, e no caso do garoto Neymar, com o agravante de a própria diretoria santista, na figura de seu presidente e mecenas Marcelo Teixeira, ter praticamente doado 40% de seus direitos federativos ao manjado DIS, grupo que se esmerou em amealhar verdadeiras fortunas às custas do miserê que campeia no futebol brasileiro, agravado pela infame Lei Pelé. Das duas, uma : ou Teixeira obtusamente não botava fé na joia que despontava, ou cometeu um crime de lesa-clube imperdoável e pra lá de suspeito.

O fato é que não demorou para que um cenário preocupante se desenhasse para a diretoria que o sucedeu : a perspectiva de o clube ficar na mão em sua inevitável saída. Ainda mais com a entrada em cena de um personagem chave que não só se contrapôs, como subverteu a ordem vigente, em que o clube e agentes tem a palavra final. Um interlocutor e representante ainda mais esperto e - como logo se veria - incomparavelmente mais ladino que a tradicional cafetinagem do ramo  : Neymar pai. 
Sim, pois tão rápida quanto a ascensão do filho, lançado no time principal aos 16 anos, foi o seu impressionante aprendizado dos macetes e jogadas inerentes ao promíscuo mundo futebolístico. 
Cujo cartão de visitas foi a farsesca e fraudulenta negociação que levou Neymar ao Barcelona, acertada às vésperas da decisão do título mundial em Tóquio, em que o time catalão enfiou 4 a 0 no Peixe. Com 40 milhões de euros no banco adiantados na transação, não estranha que Neymar passeasse em campo, obviamente sugestionado e deslumbrado com seus novos e futuros companheiros. Mancha que jamais será perdoada e apagada em seu currículo no clube que lhe abriu as portas para a fama e fortuna.

Ficava claro então o quanto se havia subestimado a astúcia do pai que fingia ser bonzinho e correto com o Santos e a DIS, ao mesmo tempo em que articulava uma controvertida rasteira em ambos, que ainda hoje é discutido na justiça. Tanto aqui como na Espanha, onde o Barça já foi punido com multa milionária e pena de prisão para o então presidente, o notório Sandro Rosell, ex-representante da Nike e comparsa do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nas mutretas fartamente divulgadas pela mídia. Pendenga que por aqui, ainda promete se alongar em meio aos meandros de nossa compassiva justiça.

De qualquer forma, nada que impedisse a carreira do craque de seguir de vento em popa. E ponha vento nisso, graças a sua imediata adaptação no estelar elenco blue-grana e a consagração do trio MSN como artífice da conquista da Champions em 2015. Prestígio que não foi arranhado com a campanha apagada na temporada seguinte, em que o grande rival Real Madrid e a estrela de Cristiano Ronaldo brilharam intensamente, ainda que o grande feito das últimas décadas coubesse a Neymar e companhia, com a incrível goleada de 6 a 1 sobre o PSG.

Na qual teve atuação tão decisiva que fez com que os xeques catarianos, donos do humilhado clube francês, desfechassem uma verdadeira operação de guerra para tirá-lo do Barça, com contatos em várias frentes no sentido de quebrar resistências que pareciam intransponíveis. Aparentemente, mais por parte do clube catalão, que esnobou até o último momento um checão de 220 milhões de euros que quase teve que ser depositado em juízo, já que Neymar e seu estafe, preferiam esconder que já vinham negociavam com emissários franceses há semanas. 
Daí, por sinal, o desgaste que ele acabou sofrendo junto ao clube e sua torcida, inconformados pelo que ganhou contornos de uma verdadeira traição.


Transação que acabou se consumando, após semanas de marchas e contramarchas, envolvendo cifras que não só inflacionaram absurdamente o mercado futebolístico, como colocaram na berlinda as normas do fair play financeiro da FIFA, que estabelece que um clube não pode comprometer mais do que 1/3 de seu faturamento bruto em contratações,. Normas nas quais o Barcelona confiava para mante-lo, ao prorrogar seu contrato até 2021 no final do ano passado, com uma multa de 220 milhões de euros que os catalães acreditavam ser impagável para qualquer clube.
Qualquer clube menos para o biliardário fundo controlador do PSG, para quem a montanha de dinheiro paga por Neymar não tardará a se reverter em lucro, conforme projeções de retorno financeiro baseadas na própria apoteótica recepção com que foi recebido em Paris, com direito a Torre Eiffel enfeitada de verde e amarelo e tudo mais. Recepção e expectativa que longe de intimidar, inibir ou assustar, ele tratou de justificar plenamente logo na estréia, ao assumir sem qualquer embaraço o protagonismo num time recheado de nomes famosos, que ao menos a princípio parece estar pronto a gravitar em torno do craque brasileiro. Até quando, só Deus sabe. Ou até onde o fantasioso acordo com o chifrudo permitir.

Elocubrações à parte, louve-se, isto sim, a extensa lista de atributos que alicerçaram e alicerçam a extraordinária carreira do craque nascido e criado num dos bairros mais carentes de Praia Grande. Atributos como força de vontade, disciplina e, sobretudo, obediência cega e incondicional às orientações do pai, que acumula as funções de administrador sagaz e conselheiro implacável com igual eficiência. 
Daí a explicação racional para a evolução gradual e consistente que vem mostrando ao longo da carreira. E que se mantém incólume a par do seu sabido e assumido gosto por noitadas e festas em que costuma ser convidado de honra e o troféu mais cobiçado pela mulherada. Curtições em que, ao contrário da grande maioria, bebedeiras e drogas são veementemente proibidas, tanto por convicção como por imposição do severo pai.

Obediência que ele matreiramente diz ter contrariado apenas duas vezes - a última delas, ao optar pela transferência para o PSG, seduzido por um nababesco projeto que tem na conquista da Champions Liegue e no título de melhor do mundo, assumidas obsessões para ambos.  
O que no fim  das contas não é o primeiro nem o último grande desafio que tem pela frente, em sua trajetória pontilhada de conquistas e raras decepções. Nada que a essa altura pareça demasiado para o magrelo abusado e cheio de personalidade, que desde o início de carreira entremeava seu enorme talento nos gramados com polêmicas e factoides fartamente explorados na mídia e redes sociais.    

E que se firmou como uma autêntica máquina de jogar e fazer dinheiro, que ao contrário de qualquer outro jogador, raramente se machuca, não sente as pernas fraquejarem, não pipoca, nem consta que algum dia tenha ficado gripado, com diarreia, febre, ou mesmo sofrido de uma reles urticária. Ou seja, uma fortaleza em todos os sentidos, que desafia o entendimento e a lógica natural do jogo de bola e da vida.  

E como se isso não bastasse,  fonte inesgotável de recursos oriundos da exploração de seu nome e imagem, nos quais figura como um fenômeno midiático com milhões de seguidores em veículos como o Twitter e Instagram, onde cada postagem de fotos com marcas famosas representam mais alguns milhões a fortuna que o coloca entre os atletas mais bem pagos do planeta.

Enfim, um monstro que diferentemente da conotação pejorativa que lhe foi imputada pelo técnico Renê Simões (onde andará ?) logo no início de carreira, ao vê-lo se rebelar acintosamente contra uma ordem de seu treinador no Santos, Dorival Júnior, num jogo contra o Atlético-GO na Vila, parece se alimentar de conquistas e se agigantar nos desafios. 
Se na condição de queridinho dos deuses ou mancomunado com o diabo, não faz diferença no mundo laico do futebol. E muito menos na frívola era do espetáculo.  








  

domingo, 13 de agosto de 2017




            A REVOLUÇÃO PÓS-ORWELLIANA




(Publicado no site Observatório da Imprensa em 20/08/2013)

Na hipótese bastante plausível de que os animais sejam inteligentes, e que possam até comunicar-se entre si, creio que não seria nenhum despautério imaginar que também tenham certas reações comportamentais típicas dos humanos, entre as quais preocupações existenciais. Este, por sinal, foi o mote de um de meus livros favoritos, A Revolução dos Bichos, do guru George Orwell, cujo enredo, como todos sabem, consiste numa sátira ao regime  comunista da antiga União Soviética, que seduzia vários intelectuais da época. O que me leva a pensar como reagiriam os bichos diante da pândega que reina hoje em dia, e da virtual confirmação, com quase três décadas de atraso, da teoria do filósofo Francis Fukuyama, sobre o fim da história formal.

Fico imaginando o que Orwell diria sobre nossos tempos, de como a modernidade e seus valores prostituídos condicionam a vida das pessoas, e principalmente, que conotação daria a sua fábula nos dias de hoje. Em já não estando o autor disponível, e com a devida vênia, resolvi dar minha despretensiosa versão a respeito.

Tudo começa no galinheiro de uma recôndita fazenda, por volta das cinco da matina. Os primeiros raios de sol apontam no horizonte. Uma bela manhã se prenuncia. Uma leve bruma se espalha pelo campo. O ar é fresco e límpido. Ouvem-se os primeiros ruídos matinais. Os primeiros ruídos matinais ? Êpa ! Algo está fora do script. E o tradicional toque de despertar do galo, que costuma saudar o dia antes mesmo do sol raiar, e que até agora, neca de pitibiriba ? Terá perdido a hora ? Estará doente ? Ou coisa pior, partido desta para melhor ?

"Quase não dormi essa noite", respondeu o galo nefelibata à velha e fiel companheira, a galinha mais poedeira do pedaço, antes mesmo de ser questionado a respeito de seu inusitado silêncio. "Mas o que houve ? Teve algum pesadelo ?"
"Antes fosse. Pensamentos sombrios me vieram à cabeça, desses que nos assaltam de madrugada e fazem tudo parecer pior do que é, sabe ?"
"Sei."
"Pois é, comecei a pensar nas coisas que que estão acontecendo, na rapidez com que tudo está mudando, e cheguei a conclusão de que estou, estou..."
"Estou ?...Desembucha logo."
"Sei lá, acho que estou...obsoleto", disse por fim o galo, meio constrangido por se flagrar incomodado em proferir a palavra velho.
"Obsoleto ? Como assim, obsoleto ?, insistiu a galinha, sem atinar direito com o significado da palavra, mas sentindo que era algo sério, para deixar o galho velho tão acabrunhado. 
"Obsoleto, enferrujado,démodé, sacou", retrucou, algo irritado com a falta de perspicácia da interlocutora. Lerdeza, por sinal, típica da espécie, como já se sabia por Orwell.

Nisso, outros bichos foram se achegando. O pato vinha cantando alegremente, balançou o rabo e grasnou algo assim como "não esquenta, amigão. Isso passa". O cachorro aduziu, balançando o rabo. "Tá osso duro pra todo mundo, chefia."
"Mas tem nichos de mercado...", interveio o porco, para surpresa do galo. "Nichos de mercado? De onde você tirou isso, porquinho ?".
"Li na coluna da Miriam Leitão."
"Ah, sei. E o que mais ela disse ?".
"Disse que a especialização é imprescindível, que o caminho das pedras hoje em dia é se aprimorar no que faz."
"Não sei, não, porquinho. Esses entendidos costumam errar pra caramba, pois a teoria na prática é outra. Ser bom em seu ofício às vezes não basta, se a conjuntura não ajuda. Veja o meu caso, sou um galo de boa cepa, cumpridor de seus deveres, mas que adianta se minha função perdeu o sentido ? Se há opções mais baratas ?Hoje em dia é cada vez mais raro ouvir um galo cantando logo cedinho, e quando isso acontece há o risco de um espírito de porco...ops, desculpe, algum zé mané querer botar a gente numa panela. Isso é broxante. Melhor ficar quietinho, se fingir de morto."

"Sábias palavras, seu galo", consolou a coruja. "Vão-se os anéis mas ficam os dedos.Muitas coisas inimagináveis estão se tornando obsoletos, seu galo. A própria imprensa, quem diria. Logo os jornais desaparecerão, dando lugar a edições online, o que será uma pena pois o jornalismo impresso vai fazer falta. O que se ganha em rapidez e agilidade no jornalismo eletrônico, perde-se no esmero e na atemporalidade que caracterizam o jornalismo escrito." E esnobou : "verba volant, scripta manent" - a palavra voa, a escrita fica.

"Vixe, é por causa disso que aqueles jornalões que se empilhavam nas bancas estão cada vez mais magrinhos, raquíticos ? Com o quê vão forrar minha gaiola e a dos passarinhos ? Será que ninguém pensa nisso ?", protestou o papagaio, até então estranhamente quieto.
"Não fala bobagem, louro, que essa imprensa vendida e marrom não faz falta. Já vai tarde," fuzilou o rato, animando-se a sair da toca. "A imprensa só serve para atacar os coitados dos políticos, vê escândalos em toda parte só para fazer barulho, chamar a atenção. Se fosse verdade, estava todo mundo preso, pois não é tudo ladrão, hein. hein ?", completou, cofiando os bigodes. 
"Alto lá, ratazana ! Você não tem autoridade moral para falar uma coisa dessas", encrespou o gato, já pensando em unir o útil ao agradável, ou seja, papar o rato e ao mesmo tempo posar de politicamente correto.
"Calma aí, pessoal. Convém não esquecer que mesmo aqui no celeiro, estamos numa democracia, e todos tem direito de opinar. Quem quiser tumultuar que vá fazer parte dos black ploc, protestar em Brasília ou na frente da casa do Temer.  Nós, bichos, temos que ser civilizados, não podemos nos deixar influenciar pelos maus exemplos dos humanos. Posso estar obsoleto, fora de moda, enferrujado, mas, anotem aí : aconteça o que acontecer, nós os galos, temos uma imagem a zelar."

Dito isso, o celeiro ficou em polvorosa, a bicharada entrou em transe, e até a possibilidade de o galo desbancar o leão como símbolo do reino animal foi cogitada. Ainda mais depois do sarro que um certo macaco abusado tirou do rei das selvas, e cuja história e respectivas imagens, como não poderia deixar de ser, estão bombando nas redes sociais e You Tube. Para quem ainda não viu, passo a resumir :
Acostumado a brincar e zoar com todo mundo no zoológico, o macaco peralta foi desafiado a - digamos assim - chutar o traseiro do leão, para provar sua coragem. Aposta feita, o macaquinho esperou o tradicional cochilo do leão para cumprir seu intento. O que foi feito em meio a maior algazarra de toda bichara, atraída pelo insólito desafio.
O que se viu a seguir foi um corre-corre dos diabos, que rapidamente extrapolou os muros do zoológico e adentrou pelas vielas dos bairros adjacentes, com o leão doido para vingar a honra ferida. Corre pra lá, corre pra cá, e eis que o macaco se viu encurralado num beco sem saída. 
Com o leão nos calcanhares, enfiou a cara num jornal que achou no chão, e esperou pelo pior.
"Ei, neguinho. Por acaso viu um macaco entrando nesse beco ?," vociferou o leão, babando de raiva. Ao que o macaco folgado não resistiu e respondeu : "Por acaso é aquele macaco que chutou a bunda do leão ?"
"Caraca !! Não brinca que já saiu aí no jornal !? Tô ferrado ! A imprensa é foda !

Moral da história : quem muito encuca, vira motivo de galhofa ou funde a cuca.      





  



quinta-feira, 10 de agosto de 2017


                  AMOR À TODA PROVA

(Para minha irmã, Ingrid Berger)


Há momentos cruciais na vida em que repentinamente, tudo se torna insignificante, secundário, em que até mesmo as coisas triviais deixam de importar. Em que nos sentimos amargurados, impotentes, completamente à mercê da sorte ou seja lá o que norteia nossos passos nessa trôpega existência

É quando nos vemos num leito de hospital, acometidos por uma dessas enfermidades ou acidentes repentinos e inesperados, e tudo passa a girar em função do mais básico e primitivo instinto humano : a luta pela sobrevivência.

É quando nos damos conta da fragilidade de tudo que nos cerca, do tempo que desperdiçamos com problemas superestimados, com coisas e preocupações tolas, bestas, sem sentido. E sobretudo, da burrice de deixar que pequenas mesquinharias, preconceito, orgulho e outras bobagens se sobreponham à razão. Ao bom senso. Ao coração. Aos ditames do coração.

Porque a grande verdade que se revela nos momentos críticos, determinantes, é que, no fim das contas, o que realmente importa e se eleva acima de tudo, é o que emana do coração. É o que o coração inspira e nos diz. E não há nenhum outro lugar em que isso fica mais externado e explícito que um leito de hospital. No quarto de um enfermo. 

Locais onde se trava a luta mais ferrenha e desesperada de todas, despida de qualquer glamour e encantos : a luta pela vida. Mas em que a grandeza do ser humano se manifesta em sua plenitude, em forma de solidariedade, apoio, amparo moral, emocional e físico. Grandeza que transcende o âmbito do próprio amor romântico, pois inspirada em sentimentos cada vez mais raros nos dias de hoje : empatia e compaixão.

Em minha vida, passei por dois momentos delicados em que tive o conforto de pessoas dessa índole, que estiveram a meu lado quando mais precisei, numa meningite bacteriana que peguei aos 35 anos, e mais recentemente, uma cirurgia de quadril que me deixou fora de combate por alguns meses. Minhas duas ex-mulheres, as quais serei sempre grato por isso. Ambas por isso mesmo suspeitas, pode-se dizer, mas nunca será demais reconhecer e ter viva na memória o quanto foi importante e reconfortante tê-las a meu lado. Para me animar, confortar, me medicar, e até dar banho. Enfim, coisas que quem já passou por isso, sabe bem como são importantes.

Mas nada que se compare ao drama que minha irmã Ingrid vem enfrentando desde outubro do ano passado, quando foi diagnosticada com leucemia mieloide. Uma doença devastadora, como todos sabem, cujo tratamento extremamente agressivo, a base de várias sessões de quimioterapia, não só enfraquece a pessoa como destrói a sua auto-estima, pela perda de cabelo, de peso, e sobretudo, do estado de ânimo. Minha irmã perdeu 23 quilos nesse processo até aqui, não tem forças para nada, mas se recusa a desanimar, a perder a fé. 
Em parte, porque sempre foi obstinada e determinada, para o bem ou para o mal. Ao mesmo tempo guerreira e cabeça-dura. Mas principalmente pelo apoio que tem encontrado no filho Vinicius, que não só assumiu a responsabilidade de administrar a casa e cuidar das duas irmãs especiais, como incutir na mãe toda a força e otimismo de que seu amor é capaz. 
Um amor que não poderia estar sendo submetido a uma prova maior de resiliência e devoção, e que com certeza, tem sido o grande alento e motivação dela para não esmorecer em sua luta pela vida. Luta, por sinal e se Deus quiser, prestes a ser vencida. 

P.S. Contrariando as expectativas e ao próprio prognóstico médico, minha irmã acabou falecendo no dia 27/08 deste ano. Luta pela vida perdida, mas vida imortalizada na memória daqueles que dela jamais esquecerão.     

                 



            

segunda-feira, 7 de agosto de 2017


                       IMBECILIDADES


                  

São aproximadamente 2 bilhões de estrelas no universo, 2 bilhões de células no sangue de uma pessoa, 2 bilhões de neurônios, zilhões de moléculas, átomos, neutrinos, bóssons de higgs no conjunto da obra, e não obstante tamanha manifestação de grandiosidade e complexidade da vida, a espécie humana, que imaginamos estar no topo da cadeia evolutiva, se esmera em cometer desatinos, despautérios e atrocidades.

Um histórico interminável de imbecilidades, que noves fora a idolatria ridícula de ídolos de pés de barro, tem na barbárie recorrente e indiscriminada sua face mais hedionda, hipocritamente escudadas e manipuladas, quando não por diferenças politico-ideológicas, por não menos torpes motivações étnico-religiosas. Aberrações que em nossas eternas e deploráveis republiquetas bananeiras estão geralmente associadas à própria índole permissiva e leniente nativa, responsável pelo retrocesso verificado nas duas últimas décadas no continente, com a ascensão de um esquerdismo retrógrado e populista ao poder, em países que agora chafurdam em crises homéricas.
Excrescência que entre nós, resultou no regime mais corrupto e inescrupuloso de nossa história, felizmente não só escorraçado como criminalizado pela roubalheira promovida pelo petismo e seus comparsas. Entre os quais, ex-aliados talvez ainda mais bandidos e nocivos, os tais usurpadores do poder momentaneamente fora do alcance da lei, mas cujo lugar na história está de qualquer forma garantido ao lado dos gatunos que passaram para trás. 

É claro que a troca daquela grotesca senhora por outro refinado trapaceiro, nunca foi a ideal, mas que diante das opções (ou da falta delas), só a abduzida militância petista se nega a admitir que foi a saída menos ruim, ao menos para evitar desfecho semelhante ao descalabro verificado na Venezuela. Cujo regime de força e tirania, ainda assim, é publicamente apoiado pela cúpula petista.  O que só faz acentuar o grau de obtusidade, facciosidade e, diria até, degeneração partidária e ideológica encarnado pelo lulo-petismo.

Porque, vamos e venhamos : uma coisa é ser iletrado, ignorante; outro é ser intelectualmente desonesto, amoral. E os que defendem o petismo, em que pese todo seu histórico de falcatruas, mostram ser tão inescrupulosos e desprezíveis quanto os tais que roubaram mais do que podiam carregar. Tanto que foram desmascarados e devidamente responsabilizados pela força-tarefa que está lavando a alma do país.  


     

sábado, 5 de agosto de 2017


                                               PÃO E CIRCO





Há algo de muito surreal - para não dizer trensloucado - num mundo que se curva e reverencia um simples jogador de futebol como se fora alguma sumidade, divindade ou bem-feitor da humanidade. Digo simples jogador não para desmerecer o craque Neymar, mas pelo ofício em si, cuja importância se atém - ou deveria - a área do entretenimento e, portanto, longe de justificar a verdadeira histeria em torno da bilionária negociação que envolveu sua saída do Barcelona para o PSG.
Histeria generalizada e incrementada pelo massacrante bombardeio midiático que caracteriza esses tempos de comunicação massiva e instantânea, responsável por um culto de ídolos de pés de barro que beira a insanidade. Fenômeno, aliás, corriqueiro em todos os setores do mundinho de faz de conta do showbizz, ensejando a idolatria cega e irracional que alimenta a chamada era do espetáculo, que faz com que um simples futebolista receba honras nunca vistas num país que já foi palco de tantos eventos históricos.

Algo obviamente exagerado e desproporcional ao papel evasivo do futebol no contexto social, em que não obstante a paixão que desperta, no fundo não passa de uma válvula de escape para as vicissitudes da vida real. Ou como definiu Nelson Rodrigues, a coisa mais importante entre as coisas desimportantes da vida. Na prática, a versão moderna da velha política romana do pão e circo para entreter a galera. 
Tudo bem que diversão e lazer são necessários para segurar a barra da vida, e que o talento, assim como a beleza, merecem ser devidamente reconhecidos e exaltados. O que não impede que extravagâncias dessa natureza soem como aberração num mundo em que bilhões sofrem toda sorte de privações. E sobretudo, em que tantas profissões incomparavelmente mais importantes são tão subestimadas e desvalorizadas. 







sexta-feira, 4 de agosto de 2017

                                          ODE A SOLIDÃO






Quando deliberada ou opcional, a solidão não é necessariamente um mal. Ao contrário, às vezes pode ser até benéfica, terapêutica. 

O inconveniente na solidão é sentir-se sozinho mesmo cercado de gente, ignorado, isolado, sem ninguém notar ou se importar. 

Nada mais solitário do que sentir como se estivesse invisível, vagando em meio a rostos desconhecidos, ou pior ainda : ver-se como um estranho no ninho, entre seus entes queridos.

Ser sozinho não é problema, o problema é o isolamento do descaso, da ingratidão. É ser visto como mero coadjuvante, provedor, alguém de quem tudo se cobra, que corresponda as expectativas mais elevadas, sem as devidas contrapartidas.

A solidão pode ser uma benção ou maldição. Pode trazer paz ou desespero. Pode ser cura ou autoflagelação. 

Ser sozinho por gosto ou imposição é o detalhe que faz toda a diferença. Que nos fortalece ou destrói. Pois da mesma maneira que pode-se gostar de estar só, nada pode ser mais deprimente do que sentir-se excluído, rejeitado.

Ser só sem sentir-se abandonado, largado, um fósforo queimado, eis um desses desafios que a vida nos impõe no árduo caminho do autoconhecimento. Da busca de paz de espírito. 
De uma ainda que racionada, felicidade.  



                        OS DEZ ANTI-MANDAMENTOS





1. Ama a ti mesmo acima de todas as coisas, e Deus sempre que a coisa apertar.

2. Não invocarás o nome de Deus em vão, mesmo porque não adianta.

3. Seja um bom cristão, mas reserve o fim de semana 
para lazer sem dor na consciência, pois ninguém é de ferro.

4. Honrarás teus pais, ainda que se transformarem num estorvo.

5. Não matarás, desde que não queiram matá-lo.

6. Não cometerás adultério, mas há atenuantes.

7. Não roubarás mais do que possas carregar ou esconder.

8. Não levantarás falso testemunho, a menos que seja 
por uma boa causa.

9. Não desejarás a mulher do próximo, a não ser que valha muito a pena.

10. Não cobiçarás nem invejarás os bens alheios, mas como 
quem tem o supérfluo tem o alheio, reivindique sua parte.



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