sábado, 5 de agosto de 2017


                                               PÃO E CIRCO





Há algo de muito surreal - para não dizer trensloucado - num mundo que se curva e reverencia um simples jogador de futebol como se fora alguma sumidade, divindade ou bem-feitor da humanidade. Digo simples jogador não para desmerecer o craque Neymar, mas pelo ofício em si, cuja importância se atém - ou deveria - a área do entretenimento e, portanto, longe de justificar a verdadeira histeria em torno da bilionária negociação que envolveu sua saída do Barcelona para o PSG.
Histeria generalizada e incrementada pelo massacrante bombardeio midiático que caracteriza esses tempos de comunicação massiva e instantânea, responsável por um culto de ídolos de pés de barro que beira a insanidade. Fenômeno, aliás, corriqueiro em todos os setores do mundinho de faz de conta do showbizz, ensejando a idolatria cega e irracional que alimenta a chamada era do espetáculo, que faz com que um simples futebolista receba honras nunca vistas num país que já foi palco de tantos eventos históricos.

Algo obviamente exagerado e desproporcional ao papel evasivo do futebol no contexto social, em que não obstante a paixão que desperta, no fundo não passa de uma válvula de escape para as vicissitudes da vida real. Ou como definiu Nelson Rodrigues, a coisa mais importante entre as coisas desimportantes da vida. Na prática, a versão moderna da velha política romana do pão e circo para entreter a galera. 
Tudo bem que diversão e lazer são necessários para segurar a barra da vida, e que o talento, assim como a beleza, merecem ser devidamente reconhecidos e exaltados. O que não impede que extravagâncias dessa natureza soem como aberração num mundo em que bilhões sofrem toda sorte de privações. E sobretudo, em que tantas profissões incomparavelmente mais importantes são tão subestimadas e desvalorizadas. 







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