domingo, 29 de outubro de 2017


         ANIMAL NOTURNO


para meu filho Allan



Uma angústia contumaz me encarquilha a alma
Habita em mim silenciosa e sorrateira
Como um animal noturno
Deambulando no labirinto soturno 
Do subconsciente e da imaginação
Sequaz e tenaz
Não mostra a cara
Não mostra as garras
Não crava os dentes 
Ainda assim pertinaz e feroz
Fera e algoz
Fere sem sangrar
Mutila sem matar
Sentimentos que teimam em aflorar

A angústia que me consome tem nome
Foi o nome que te dei !
Cria que se fez homem
A quem tudo que sei e não sei, ensinei
Que amei, amo, e sempre amarei
Mesmo a recíproca não sendo verdadeira
Mesmo talvez não sendo sangue do meu sangue
Filho de quem serás ?
Pai de quem serei ?

Castigo pressupõe culpa
Indiferença supõe desapego, desamor
Não sei o que fiz, não sei que mal te fiz
Talvez morra sem saber
Talvez melhor não saber
Deixar como está
Eu e minha angústia que aprendi a domesticar
Animalzinho noturno
Companheiro de noites insones
De sonhos em que somos íntimos e parceiros
Como antigamente.
Quando ainda eras meu filho
Quando eu ainda era teu pai...

  



sexta-feira, 27 de outubro de 2017


                 

                 MEA CULPA É PARA OS FRACOS




Ah, o ser humano...Sempre tão cheio de dedos e pródigo em apontar os defeitos alheios, e tão condescendente consigo próprio. Ainda mais nesses tempos em que tribunais do santo ofício emergem aos borbotões das catacumbas da Internet, para promover verdadeiros linchamentos públicos, eivados de hipocrisia e falso moralismo.
Ora, quem não erra ? Quem não nunca pisou feio na bola, não traiu, prevaricou, não fez besteira, não assediou, ainda que disfarçadamente, e que por sorte ninguém viu. Porque isso faz toda a diferença : não vir à público. O governo petista e seus comensais passaram mais de uma década metendo as mãos no erário público, pintaram e bordaram em todos os sentidos, e enquanto não foram desmascarados, surfavam em índices de popularidade inéditos no país. Até  que a coisa desmoronou, e a máscara caiu, expondo a face hedionda de uma roubalheira que virtualmente quebrou o país.
Obviamente, a exposição pública desse festival de delitos e ilicitudes - que a cada dia tem mais desdobramentos -, tem sido o principal combustível da fúria opinativa e raivosa que se vê nas redes sociais, na esteira da polarização política que se mantém no país não obstante a debacle petista. Uma ira que vai deixando marcas indeléveis na sociedade, na medida em que a tônica do sectarismo e da radicalização se alastram para qualquer assunto que envolva a moralidade e a indignação pública. Ou seja, na mesma toada beligerante das discussões  político-partidárias. 

Não é à toa que volta e meia casos isolados acabem desencadeando as reações mais extremadas, em que alguns pagam o pato ou servem de bode-expiatório para manifestações frequentemente desproporcionais à gravidade dos fatos. Mormente quando dão vazão ao falso moralismo e hipocrisia entranhados na sociedade, e destilados na caixa de Pandora das redes sociais com requintes de crueldade e sadismo. 
Virtuais caças às bruxas e tribunais inquisitórios a cuja sanha qualquer um está sujeito, ser apanhado, pois invariavelmente baseados em aparências, circunstâncias, em detalhes como a cor da pele, orientação sexual, preferências religiosas, político-partidárias, clubísticas e até manifestações de cunho (pseudo) artístico. No fundo, mal-ajambrados pretextos para surtos de preconceitos e xenofobia que recrudescem na contramão de avanços tecnológicos que poderiam alavancar uma era de ouro para a humanidade.

Só que não. Ao invés de agregar, incrementar, promover os laços e valores fraternais, a era cibernética tem servido muito mais para o inverso, ou seja, disseminar desavenças, controvérsias e irrelevâncias.  
A rigor, nada muito distante do cenário que inspirou Fernando Pessoa, há mais de um século, a questionar a falsa moralidade e hipocrisia reinante, com seu célebre Poema em Linha Reta. Pois tal qual o poeta, só conheço príncipes na vida, ninguém que confesse uma infâmia, um enxovalho. 
Positivamente, mea culpa é para os fracos. 




quinta-feira, 26 de outubro de 2017


                         EU, POR EU MESMO






Nem bom, nem mau
Nem tímido, nem cara de pau

Nem macambúzio, nem espaventoso
Nem manhoso, nem espaçoso.

Nem forte, nem frouxo
Nem ancho, nem trouxo 

Nem melhor, nem pior
Nem vil, nem varonil

Nem eloquente, nem calado
Nem liberal, nem libidinoso

Nem filantropo, nem misantropo
Nem bacana, nem sacana

Nem bonito, nem feio
Nem crente, nem incréu

Nem fraco, nem machão
Nem herói, nem vilão

Nem herege, nem santo 
Nem Fausto, nem Mefisto 

Nem gato, nem rato
Nem esperto, nem gaiato

Nem pilhado, nem malemolente
Nem irado, nem benevolente

Nem agradável, nem circunspecto
Nem afável, nem chato.

Nem piano, nem violão
Nem de terno, nem de calção 

Nem de chapéu, nem de turbante
Nem infame, nem infante

Nem a pé, nem de trem
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

Nem pau, nem pedra 
Nem isto, nem aquilo

Sem rodeios nem atropelos
Sem salamaleques nem rapapés

Sem disfarces, nem bonifrates
Eis-me aqui, poeta de araque.















quinta-feira, 19 de outubro de 2017



CHEQUE ESPECIAL





Enquanto o sol se retira silencioso
E a dama da noite entra em cena 
Espargindo seu brilho de prata
Sobre os mares e as pradarias
Sob o manto inefável das estrelas
Eu, cansado mas ao mesmo tempo extasiado
Ante tamanha beleza
Ciente de minha insignificância
Me sinto um privilegiado por poder apreciar
O espetáculo soberbo e gratuito
Com que a natureza nos brinda
A cada santo dia
Em diversas versões e paisagens

Que maravilha é a vida !
O quão afortunados somos por poder
Usufruir de tantas dádivas
As quais, no entanto
Do alto de nossa estupidez e insensatez
Mal nos damos conta
E como se não bastasse
Negligenciamos e maltratamos
A ponto de por o próprio futuro do planeta em risco
Para tudo há um limite
Um preço a pagar
O cheque especial da humanidade já estourou faz tempo.












  



terça-feira, 17 de outubro de 2017


                                             AFINIDADES






- Quanto tempo cara, tudo bem  ? E a família ?
- Tudo certo, graças a Deus. E você, também anda sumido...
-  Pois é, sabe como é a vida , sempre empurrando a gente pra lá e pra cá.
- Mas dando para levar, tá bom, né ?...
- É isso mesmo.
- E então, ainda continua escrevendo ?
- Só alguns pitacos, de vez em quando, para não perder o hábito. Mas profissionalmente, parei.
- Que pena, gostava de ler o que você escrevia. 
- Um dos meus poucos leitores ...(risos)
- Você parou cedo. Quantos anos faz que largou o jornalismo ?
- Mais de 30... E antes que me pergunte, não me arrependo. Se tivesse continuado, estaria hoje aposentado com um salário de fome e dependendo de bicos para sobreviver.
- Afff...
- Volta e meia encontro algum ex-colega, ou fico sabendo de jornalistas de nome na pior, e sinceramente, dou graças a Deus de ter chutado o pau da barraca lá trás.
- Tô sabendo... Te puxaram o tapete, não foi ?
- Pois é... Prova cabal de que há males que vem pra bem.
- Mas era uma coisa que você gostava, né ?
- Gostava e continuo gostando, tanto que voltei a escrever para o jornal quase 20 anos depois, até levar outra rasteira. Mas, enfim, são coisas do passado que prefiro deixar pra lá. 
Meu lance agora é um blog, onde escrevo sobre tudo, sem maiores pretensões.
- Vou ler, vou ler...
- Vou ficar honrado. 
- De futebol também ?
- Olha, quer saber ? É sobre o que menos escrevo. Sinto como se já tivesse esgotado o assunto.
- É aquela mesmice de sempre, né ?
- Exato. O enredo não muda, pode reparar.
- O próprio povão já não está tão ligado em futebol.
- É verdade. Nos últimos anos, a política roubou o cenário. 
- Pena que sem muito proveito, né ? Muita informação para uma população de ignorantes e analfabetos funcionais assimilarem.
- KKKKK...Pode crer.
- No frigir dos ovos, a barriga continua falando mais alto.
- De fato, é incrível como nem com toda essa roubalheira e as evidências da participação do Lula a ficha desse pessoal caiu.
- O pior é que caiu, e preferem continuar acreditando no crápula.
- Pois é, chega a ser desanimador. É como malhar em ferro frio. E não é por falta de informação. Ao contrário, acho que o problema agora é o excesso de informação.  

- Acho que a coisa é mais complexa. Com a internet, hoje em dia todo mundo tem opinião. Todos se sentem em condições de opinar mesmo sobre aquilo que nada entendem. Ou seja, quase tudo, né ? ...(risos) Ou seja, abriram a caixa de Pandora.
- Exatamente. O que a gente vê de abobrinhas no facebook é uma grandeza.
- Nem fale. Tanto é que tem cada vez mais gente deixando de frequentar, excluindo o perfil. Estão sacando que essas discussões não acrescentam nada. O face, em particular, está virando um reduto de publicações mentirosas, baixarias, exatamente como escreveu o Umberto Eco : o paraíso dos idiotas. 
- Também estou reduzindo meus acessos. E evitando aceitar solicitações de amizades de gente que só posta merda.
- É o que mais tem. Por isso nunca passei de um número reduzido de amigos, familiares e um pessoal com quem de alguma forma me identifico. Se bem que nesse meio tempo acabei me deparando com um bocado de malas sem alça, que tratei de bloquear. 
- Se for peneirar, sobra pouca gente... (risos)
- Pois é, sem falar nos que acabam mostrando sua verdadeira índole, principalmente quando se trata de política. De defender ideias liberais e pseudo-vanguardistas, calcadas em velhos clichês típicos da famigerada doutrinação político-ideológica. 
-  É uma gentalha. Discutir com esse pessoal do PT é perda de tempo. 
-  O pior é ver gente que eu conheço de longa data e respeitava pelo currículo, saindo em defesa de um crápula como o Lula e seu partido de ladrões. Por mais que eu tente, não consigo dissociar o antigo amigo do militante abduzido, não me conformo que gente que eu tinha como esclarecida e preparada compactue com essa sujeira toda.
- É, meu chapa, essa raça de petistas e comunistas está infiltrada em toda parte. Até antigos ídolos populares
aderiram ao proselitismo barato do "mais honesto".

- Verdade. Se continuassem sendo de esquerda, tudo bem, mas petistas ? Lulistas ? Que tipo de valores norteia essa gente ? 
- Os valores da sarjeta, ora... (risos)
- Falando em valores de sarjeta, a turminha do politicamente correto também não fica atrás em matéria de hipocrisia e desfaçatez. Fulaninhos que soltam o verbo em prol da obediência cega à Constituição, aos princípios democráticos, ignorando que essa porra foi elaborada, manipulada e deformada pela classe política com o objetivo maior de auto-preservação. Cuja joia da coroa é o foro privilegiado. Um troço tão mal-ajambrado que os próprios urubus da Suprema Corte vivem às turras e dando interpretações diferentes as coisas. É um tal de um acha isso e o outro aquilo, um prende e o outro solta, que o tal STF virou uma casa da mãe joana.  
-  Uma putaria. E não vão sossegar antes de acabar com a Lava-Jato e livrar a cara dos bandidos que estão presos e os ameaçados de ser. E o passo decisivo para isso é a ameaça de rever a decisão inicial a favor da prisão de réus condenados em segundo instância. Se isso cair, todo o trabalho da Lava-Jato vai para o saco.
- Era só o que faltava. Aí, só mesmo apelando para as Forças Armadas.
- E tu acha que eles estão a fim ? Que a sociedade vai aderir, como em 64 ?
- Sei lá. Com certeza, haveria resistência da horda petista, dos sindicatos e movimentos subsidiados pelo partido. Mas dependendo dos termos, acho que a maioria apoiaria. Uma intervenção branca nos três poderes em Brasília, com o fechamento do Congresso e a prisão dos vagabundos protegidos pelo tal foro privilegiado. 
- É, mas a imprensa ia cair matando. Ia ser contra, com certeza. Esquerda e direita estariam irmanados, por pura conveniência e instinto de preservação, pois ambos são dependentes e se beneficiam do sistema, por mais corrupto que seja.
- Pois é, que o digam as publicações e paus mandados que se foderam com o corte das gordas verbas publicitárias governamentais da era petista. Se queimaram, nem emprego conseguem mais.
- Bem feito. Quem manda trair os valores basilares da profissão. Integridade, ética, isenção. Ou será que eu aprendi errado quando escolhi o jornalismo como profissão ?
- Errado nada, imagina. A profissão é que se aviltou, como tantas outras. Bons e maus profissionais sempre existiram, o problema é que a coisa descambou de tal maneira com a mentalidade delituosa entronizada pelo petismo que ficou difícil separar o joio do trigo. 
- Difícil mesmo. Nem a imprensa tradicional escapa, ora puxa para um lado, ora para outro. Tinha deixado de ler a Veja, e agora risquei também a Folha e o Estadão. Mesmo porque a Internet já é um prato cheio.
- Se é... 
- Enfim, amigão, tá russo. 
- Se ! Complicado demais.
- E vai piorar !
- Será ? Você acha mesmo ?
- Claro. Afinal, nada é tão ruim que não possa piorar um pouco mais...
- Kkkkk...
É a lei de Murfhy... 
- Oremos... 

Criar personagens fictícios para expressar ideias e opiniões é um recurso extremo no jornalismo, mais especificamente, no gênero de crônicas, em que há mais liberdade e liberalidade de forma e estilo. O resultado costuma ser interessante, na medida que amplia o campo de raciocínio e percepção para além do formato tradicional. O que espero ter conseguido.

  

sexta-feira, 13 de outubro de 2017




                           a autofagia do tempo






Ninguém nos ensina a lidar com o intangível.
A harmonizar a via passada e a presente.
Conciliar o que fomos e o que somos, no afã de mudar.
Se para melhor ou pior, é que o bicho pega.
Por implicar em conviver com estragos causados 
por decisões impensadas ou precipitadas.
Mormente na chamada flor da idade.
Quando a falta de discernimento costuma sair caro.

Ninguém nos ensina a lidar com a cota
de perdas e sofrimentos causados 
por equívocos e opções infelizes. 
Que mudam e desgraçam a vida para sempre.
Que tristeza ver tantas coisas que tínhamos 
como certas e justas, reduzidas a desatinos, decepções. 
Abortadas no interstício da vida desejada.
Devoradas pela autofagia do tempo.




  



                        À LUZ DA RAZÃO








À luz da razão, nada mais espero da vida.
Nada mais de especial almejo.
Apenas forças e saúde para seguir em frente. 
Fazer o que gosto, continuar na labuta.
E se não for pedir muito,
um resquício de reconhecimento e gratidão.
Ainda em vida.
Posto que depois que tudo acaba,
tudo acaba.
Nada  mais importa.
Lembranças, remorsos, saudades, são para os que ficam.
Não remediam nem compensam o que em vida foi sonegado.
O que não foi dito.
O abraço que não foi dado.
Não redime o amor sufocado pelo egoísmo.
O afeto que se ausentou quando mais necessário.

Quando chegar minha hora,
não quero o remorso tardio de quem 
me matou por dentro.
De quem me excluiu em vida,
por razões que a própria razão desconhece.







sábado, 7 de outubro de 2017




A NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL





É notório que há sentimentos e valores morais que estão caindo em desuso, em detrimentos de outros, em franca ascensão. A má notícia é que essa troca está longe de ser benéfica ou vantajosa para a humanidade, contrariando ou no mínimo colocando em xeque o ciclo evolutivo natural, com a dicotomia entre conciliar o desenvolvimento tecnológico e o comportamental. 

Atributos como integridade, honestidade, ética, senso de justiça, sinceridade,  e demais virtudes que compõem os padrões comportamentais individuais e coletivos, virtuais marcos demarcatórios da civilização ocidental, e cujos fundamentos remontam a 5 ou 6 séculos A.C., a Grécia de Platão, Sócrates, Aristóteles e outros menos votados, entraram em súbito e preocupante declínio, desprestígio.  

Basta observar em volta para constatar que vivemos um desses períodos de grande mutação no ranking dos valores e sentimentos. Talvez um esboço de passagem da era pós-moderna à tecnotrônica, formulada por um certo Zbigniew Brzezinski (guardem esse nome trava-língua), cientista político e geopolítico recentemente falecido (1928/maio de 2017), que serviu como conselheiro de Segurança Nacional dos EUA no governo de Jimmy Carter, entre 1977 à 1981, e se notabilizou pelas proféticas teorias de controle da sociedade através de aparatos tecnológicos.

Sem a fama e a respeitabilidade de outros gurus futuristas como Orwell, McLuham e Huxley, as previsões do ultra-nacionalista Zbigniew, expostas em seu livro Between Two Ages : America`s Role In The Technotronic Era (Entre Duas Idades : O Papel da América na Era Tecnotrônica)  são ainda mais impressionantes por remontarem a 40 anos atrás, quando nem se sonhava em internet, celulares, smartphones e mídias sociais. Articulador de planos para uma nova ordem mundial, ele enfatizava o uso da informação massiva como instrumento de controle social e hegemônico, cenário perfeitamente delineado hoje em dia pelo virtual controle da sociedade pelo Estado através dos aparatos tecnológicos. 

Mas as incursões futuristas do controvertido Z.B. vão bem mais longe, ao antever o próprio desdobramento da guerra fria no ambiente cibernético, de controle e manipulação da informação. Tal qual se viu na já comprovada influência de hackers russos nas eleições norte-americanas, e no próprio uso abusivo das mídias digitais como arma intimidatória por bufões como o presidente norte-americano Trump.

Vislumbrando já então a impossibilidade de vencer os inimigos no campo militar, algo inviável na era nuclear, por implicar em destruição mútua, ele antecipava na década de 70 a necessidade do controle social e político por parte do Estado, a ponto de estabelecer um domínio sobre o indivíduo, pelo acesso a todo tipo de informações pessoais.Algo já perfeitamente perceptível no contexto da chamada blogosfera, em que praticamente toda a população mundial está inserida, cooptada pelos grandes irmãos, Google e Facebook. 

Subestimado à época por prescrever teses que configurariam uma espécie de ditadura tecnológica, ou tecnotrônica, para usar o termo de sua paternidade, Z.B. acabou sendo demonizado ao incluir a manipulação genética como recurso extremo do Estado para o controle do individuo. O que acabou lhe valendo a ira de setores mais conservadores, como a maçonaria e o próprio clero, avessos às motivações segregacionistas e radicais da tal nova ordem mundial com o timbre do antigo movimento conhecido como illuminati.

Exagerado ou não, o fato é que a mentalidade reinante não está muito distante do mundo sombrio previsto por Z.B., com a crescente dependência da parafernália tecnológica e suas consequências nocivas, como a massificação de costumes, a disseminação de conteúdo duvidoso e o controle total do Estado sobre o indivíduo. 
Preocupa, sobretudo, a propagação de desvios comportamentais que acabam servindo de estímulos para mentes degeneradas, cuja escalada de atrocidades em voga parece fazer parte de alguma competição do mal.

Um estado crítico de coisas sem dúvida associado ao tal intercambiamento de valores morais oriundos da ditadura tecnológica e digital preconizada por Zbigniew. Cujos sintomas de certa forma explicam a onda conservacionista e nacionalista que cresce no planeta como autodefesa contra os efeitos deletérios da nova ordem mundial. Que ao invés de ajudar a resolver os problemas do planeta, mais os agravam, de modo a colocar em dúvidas o próprio futuro da humanidade. Seja por sua inarredável vocação beligerante ou pelo descaso com o próprio habitat, cujas sinais de saturação saltam aos olhos. 

Seja como for, a impressão é que nunca estivemos tão à deriva, tão teúdos e manteúdos de recursos tecnológicos cujos efeitos colaterais nos reduzem a condição de meros usuários ou serviçais do sistema. Ou pior ainda : lacaios de movimentos e lideranças messiânicas que se beneficiam da ignorância e doutrinação ideológica para subverter o próprio conceito de justiça. 
     
"A história da humanidade é um processo contínuo de transformações de valores. É evidente que o tempo que vivemos se caracteriza pelo desaparecimento de valores tradicionais, sem que apareçam, de uma forma clara, valores novos capazes se substitui-los." (José Saramago)   



       



   




sexta-feira, 6 de outubro de 2017

                MALUCOS DE PLANTÃO






A loucura do mundo é contagiosa. E o pior é que não há antídotos confiáveis, capazes de por freio e limites à insanidade que grassa. Degenerados de toda espécie, que matam à sangue frio, que roubam, ejaculam em ônibus,  ladrões transvestidos de políticos, pseudo-vanguardistas que confundem pornografia com arte, 
pedófilos de batina, malucos investidos de chefe de estado, ditadores, eis o basfond que deita e rola hoje em dia.

Leis, religião, princípios, nada mais parece funcionar e inibir a esbórnia reinante. Em todos os cantos, a qualquer momento, toda a sorte de ignomínias se repetem como se fora uma praga incontrolável. A ponto de o anormal parecer cada vez mais normal. E vice-versa. Pois quem ainda prima pela ordem e moralidade, anda na lei e clama por justiça, ou faz papel de bobo ou é tachado de reacionário, coxinha, elitista, e por aí afora. 

Nessa toada, ódio e desavenças se disseminam sob os pretextos idiotas de sempre. Preconceitos, xenofobia, homofobia, camuflados pelas eternas tretas políticas e étnico-religiosas que tem desgraçado o planeta desde prismas eras. Imbecilidades que não conhecem limites nem se rendem ao lugar comum das normas e convenções, e muito menos de civilidade. 

Entre os quais, o presidente da nação mais poderosa do planeta, que fala e age - menos mal que mais o primeiro do que o segundo -  como se sofresse de graves distúrbios mentais e paranoicos, tal a propensão a criar confusão e colecionar diatribes. Devidamente secundado por outros porra-loucas como o ditador norte-coreano e o enigmático Putim, que não engana ninguém com seu sorrisinho de Monalisa. 

Com o planeta à mercê quando não de lunáticos francamente beligerantes, de refinados charlatães e trambiqueiros, especialmente ativos em nosso país, não é à toa que insanidades e tramoias de toda espécie se propaguem aos borbotões. Afinal, malucos inspiram malucos. Transgressões levam à transgressões. E os bons pagando pelos maus, como nessas recorrentes tragédias no país mais poderoso e desenvolvido do mundo, mas que não obstante sua riqueza se tornou refém da própria fria e calculista lógica capitalista. Que tem no comércio de armas uma de suas fontes mais lucrativas. 

Reverter esse quadro é o desafio que se impõem, e a meta inalcançável proposta e reiterada a cada nova tragédia. Inalcançável sim, posto que intrinsecamente associada a realidade de um planeta cingido pela desigualdade, discriminação e injustiça. Ou seja, um planeta sem conserto, em que só nos cabe fazer nossa parte e torcer para não tropeçar em algum maluco de plantão. Não estar no lugar errado, na hora errada.     




quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Quando O Amor Acontece - João Bosco





                     PEGAR OU LARGAR







O mundo seria perfeito se pudéssemos viver sempre numa boa, curtir as coisas que valem a pena, sem culpas e ressentimentos. Usufruir do dinheiro e da fama, ou simplesmente daqueles momentos mágicos que gostaríamos que nunca acabassem. Mas como a vida está longe de ser sequer amistosa, nem a opulência e a fartura são garantia de felicidade. 

Evidentemente, dispor de recursos e dotes é uma baita mão na roda, sejam eles materiais, artísticos, intelectuais. Mas nada é duradouro, permanente. Quando não é a cabeça, é alguma doença, um acidente, e a vida vira do avesso.  Pois nada é para sempre.

Primeiro, porque basicamente a vida é um jogo de perde e ganha, um campeonato de pontos corridos à Brasileirão. Em que ora se briga pela ponta, ora se está caindo pelas tabelas. 
Segundo, porque não fomos programados para sermos felizes. Felicidade é um estado de espírito, contingência. Pode mudar ao sabor do vento e da maré. 

O indivíduo normal está sempre se equilibrando na corda bamba da existência. Administrando as coisas na moral ou no tranco. Quase sempre no tranco. Fazendo concessões, fazendo o que não gosta, engolindo sapos e desaforos, em meio a um mundo de contas e obrigações. Um monte de gente cobrando e sugando, e ninguém para reconhecer, agradecer, te dar o devido valor.

Pois assim é a vida. Sacana, traiçoeira, cobra caro, caríssimo por qualquer coisa que se venha obter. Mesmo para aqueles que parecem aquinhoados pela sorte, eleitos pelos deuses, a barra às vezes pesa e as coisas desandam, pois o luxo e a luxúria andam de mãos dadas.

A vida dá com uma mão e tira com a outra. O que ela nos dá não tem preço. Mas o que nos tira, idem. Negociar com ela é tudo que nos resta. Uma negociação difícil, no mais das vezes ingrata e injusta, em condições geralmente adversas, mas é pegar ou largar. É ir à luta ou ficar na tocaia. 





quarta-feira, 4 de outubro de 2017



                                        SIMULACROS





O que fazer quando não há mais nada a fazer ?
Nada que dê jeito, que conserte  
o que não tem conserto, o que não tem remédio ?

O que dizer quando as palavras já não surtem efeito,
quando não convencem e sequer contemporizam,
tão rotas e esfarrapadas que nem juras adiantam ?

O que dizer quando não há mais nada a dizer,
que soe minimamente convincente,
findos todos os argumentos razoavelmente críveis,
que sequer mereçam o benefício da dúvida ?

O que esperar quando não há nada mais
a esperar, que valha a pena esperar,
esgotadas todas as tentativas,
queimados todos os cartuchos ?

Nada, é a resposta para tudo.
Nada fazer, nada dizer, nada esperar.
Nada além de dar um tempo para o coração 
se refazer 
dos velhos simulacros do estoicismo.






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