sábado, 7 de outubro de 2017




A NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL





É notório que há sentimentos e valores morais que estão caindo em desuso, em detrimentos de outros, em franca ascensão. A má notícia é que essa troca está longe de ser benéfica ou vantajosa para a humanidade, contrariando ou no mínimo colocando em xeque o ciclo evolutivo natural, com a dicotomia entre conciliar o desenvolvimento tecnológico e o comportamental. 

Atributos como integridade, honestidade, ética, senso de justiça, sinceridade,  e demais virtudes que compõem os padrões comportamentais individuais e coletivos, virtuais marcos demarcatórios da civilização ocidental, e cujos fundamentos remontam a 5 ou 6 séculos A.C., a Grécia de Platão, Sócrates, Aristóteles e outros menos votados, entraram em súbito e preocupante declínio, desprestígio.  

Basta observar em volta para constatar que vivemos um desses períodos de grande mutação no ranking dos valores e sentimentos. Talvez um esboço de passagem da era pós-moderna à tecnotrônica, formulada por um certo Zbigniew Brzezinski (guardem esse nome trava-língua), cientista político e geopolítico recentemente falecido (1928/maio de 2017), que serviu como conselheiro de Segurança Nacional dos EUA no governo de Jimmy Carter, entre 1977 à 1981, e se notabilizou pelas proféticas teorias de controle da sociedade através de aparatos tecnológicos.

Sem a fama e a respeitabilidade de outros gurus futuristas como Orwell, McLuham e Huxley, as previsões do ultra-nacionalista Zbigniew, expostas em seu livro Between Two Ages : America`s Role In The Technotronic Era (Entre Duas Idades : O Papel da América na Era Tecnotrônica)  são ainda mais impressionantes por remontarem a 40 anos atrás, quando nem se sonhava em internet, celulares, smartphones e mídias sociais. Articulador de planos para uma nova ordem mundial, ele enfatizava o uso da informação massiva como instrumento de controle social e hegemônico, cenário perfeitamente delineado hoje em dia pelo virtual controle da sociedade pelo Estado através dos aparatos tecnológicos. 

Mas as incursões futuristas do controvertido Z.B. vão bem mais longe, ao antever o próprio desdobramento da guerra fria no ambiente cibernético, de controle e manipulação da informação. Tal qual se viu na já comprovada influência de hackers russos nas eleições norte-americanas, e no próprio uso abusivo das mídias digitais como arma intimidatória por bufões como o presidente norte-americano Trump.

Vislumbrando já então a impossibilidade de vencer os inimigos no campo militar, algo inviável na era nuclear, por implicar em destruição mútua, ele antecipava na década de 70 a necessidade do controle social e político por parte do Estado, a ponto de estabelecer um domínio sobre o indivíduo, pelo acesso a todo tipo de informações pessoais.Algo já perfeitamente perceptível no contexto da chamada blogosfera, em que praticamente toda a população mundial está inserida, cooptada pelos grandes irmãos, Google e Facebook. 

Subestimado à época por prescrever teses que configurariam uma espécie de ditadura tecnológica, ou tecnotrônica, para usar o termo de sua paternidade, Z.B. acabou sendo demonizado ao incluir a manipulação genética como recurso extremo do Estado para o controle do individuo. O que acabou lhe valendo a ira de setores mais conservadores, como a maçonaria e o próprio clero, avessos às motivações segregacionistas e radicais da tal nova ordem mundial com o timbre do antigo movimento conhecido como illuminati.

Exagerado ou não, o fato é que a mentalidade reinante não está muito distante do mundo sombrio previsto por Z.B., com a crescente dependência da parafernália tecnológica e suas consequências nocivas, como a massificação de costumes, a disseminação de conteúdo duvidoso e o controle total do Estado sobre o indivíduo. 
Preocupa, sobretudo, a propagação de desvios comportamentais que acabam servindo de estímulos para mentes degeneradas, cuja escalada de atrocidades em voga parece fazer parte de alguma competição do mal.

Um estado crítico de coisas sem dúvida associado ao tal intercambiamento de valores morais oriundos da ditadura tecnológica e digital preconizada por Zbigniew. Cujos sintomas de certa forma explicam a onda conservacionista e nacionalista que cresce no planeta como autodefesa contra os efeitos deletérios da nova ordem mundial. Que ao invés de ajudar a resolver os problemas do planeta, mais os agravam, de modo a colocar em dúvidas o próprio futuro da humanidade. Seja por sua inarredável vocação beligerante ou pelo descaso com o próprio habitat, cujas sinais de saturação saltam aos olhos. 

Seja como for, a impressão é que nunca estivemos tão à deriva, tão teúdos e manteúdos de recursos tecnológicos cujos efeitos colaterais nos reduzem a condição de meros usuários ou serviçais do sistema. Ou pior ainda : lacaios de movimentos e lideranças messiânicas que se beneficiam da ignorância e doutrinação ideológica para subverter o próprio conceito de justiça. 
     
"A história da humanidade é um processo contínuo de transformações de valores. É evidente que o tempo que vivemos se caracteriza pelo desaparecimento de valores tradicionais, sem que apareçam, de uma forma clara, valores novos capazes se substitui-los." (José Saramago)   



       



   




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