sexta-feira, 31 de agosto de 2018


                       ESCOMBROS 






quando não houver mais nada à fazer
quando não houver mais nada à dizer
e tudo for escombros, desespero
quando não houver mais refúgio, aconchego
quando tudo for sepulcro, solidão 
quando tudo for deserto, silêncio 
e não houver consolo, ninguém para compartilhar 
e nada mais importar 
quem sabe hás de lembrar e lamentar
ter desistido de lutar
pelo amor negligenciado  
imenso e partido.




FIM DE TARDE GLORIOSO NA ORLA SANTISTA




quarta-feira, 29 de agosto de 2018

               

                    RUMINAÇÕES   


Depois de uma certa idade, tudo vai se tornando difícil, com o peso
de viver nos reduzindo a uma caricatura do que um dia fomos.
Definhamos física e mentalmente, perdemos a capacidade de amar, de acreditar, de confiar, e às vezes a própria fé, sendo esta, no entanto, a derradeira tábua da salvação a qual a maioria se agarra. 

Conscientes da proximidade da morte, direcionamos nossos pensamentos à ilusão de que outra vida nos espera, e que precisamos fazer jus a ela. De fato, não custa nada preservar essa crença, mesmo possivelmente infundada, pois mal não faz e vá que o paraíso realmente exista. Onde nossos entes queridos nos esperam e Jesus em pessoa nos recepcionará.

É essa reconfortante crença e expectativa que o cristianismo nos induz à acreditar, muito mais como um bálsamo ou lenitivo para os males e tormentos do espirito, do que eficaz na vida prática. Cremos em razão da consciência de nossas limitações e fraquezas, na ilusão de que assim encontraremos forças para enfrentar as agruras da vida, relevando ou mesmo ignorando o fato de que, no fundo, trata-se apenas do velho e hábito da esperança. Que embora salutar, não é garantia de nada. Posto que o tal poder do pensamento positivo é uma das maiores lorotas que o pessoal da autoajuda nos impinge. 

Pensar positivo não resolve nada. A fé não remove montanhas porra nenhuma. Estamos por conta própria. Por conta das crenças e atitudes que tomamos ao longo da vida. Pensar positivo sem arregaçar as mangas não refresca. Querer que as coisas mudem, que 
a vida melhore, sem trabalhar para isso, explica porque tanta gente vive dando murros em pontas de faca ser conseguir nada.

E aí chegamos ao ponto em que não temos mais ânimo, saúde, e tempo para dar um sentido à vida de modo a verdadeiramente usufruir os tais benefícios da longevidade, vivência, experiência, sabedoria. Coisas que, sejamos francos, bem poucos conseguem administrar e colocar em prática à contento. Pois o que mais se vê são velhos amargurados, revoltados, entrevados e entregues a ruminações que transformam o fim da vida num suplício dos diabos. Para eles e quem com eles convivem.

Que Deus me conceda a graça de não ser um estorvo para ninguém. 


segunda-feira, 27 de agosto de 2018


MAIS INSANO, IMPOSSÍVEL





Nada é como a gente quer.
Nada é como pensamos.
Pensar é um engano.
Só os sonhos não enganam,
enquanto sonhos.

Tudo é efêmero, frágil.
Mesmo o amor só é sincero temporariamente.
Deus quando fez o mundo
esqueceu do principal.
Preferiu descansar no sétimo dia.
Preferiu que o louvassem ao invés 
de nos ensinar como se ama.

Daí que, amamos sim, mas não para sempre.
Não incondicionalmente.
Não o bastante.
Apenas o suficiente para manter as aparências.
Para procriar.
Ao cabo do quê transferimos nosso amor 
para nossas crias.
Ensinando a mesma forma errada de amar.

Amor que ao deixar de existir
em indiferença e aversão se transforma.
Isto quando não em ódio inversamente proporcional
ao amor outrora sentido.
Mais insano, impossível. 



 
                                                     TUDO DE BOM...






a ingratidão é a cova rasa em que os sentimentos apodrecem.



            à pedido

Lembra quando me pediste
para que te cantasse 
em versos ?
Pois faço-o agora,
mas não como
gostarias,
sendo eu,
pleno
inteiro
intenso
inquieto
e tu,
oca
acre
ordinária
rampeira
vade retro
minha cara !






às vezes, insistir
dói mais do que desistir.


domingo, 26 de agosto de 2018




Não é a pedrada em si que dói, 
mas o fato de que a mão que hoje me apedreja, 
é a mesma que ontem me afagava.







sábado, 25 de agosto de 2018


                   simples e complicado






Cortar na própria carne, quem consegue ? 
Quem é capaz de assumir, aceitar, fazer o certo
mesmo às custas de dor e sofrimento ?

Quem é capaz de renunciar, por princípios, 
por um bem maior ?
Abdicar do prazer, ao conforto do momento.
Sobrepor-se à convicção do que é certo.
Pensar grande, ser digno.
Quem é capaz ? Posto que nada dura.
E em durando, talvez nem valha a pena.

Nesse mundo confuso, a única certeza 
é o bem que não temos.
Quando não precisamos fingir o que não somos.
Pois é assim que as coisas são no toma-lá-dá-cá 
escrachado da vida. 
Em que, como sabiamente disse um certo anjo 
pornográfico,
dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.


Sigo minha vida sem rumo do mesmo jeito de sempre.
Entre verdades, mentiras, certezas e incertezas.
Quero pouco, para ter tudo.
Colher a rosa antes que murche.
Viver o pouco que me resta transpondo 
os males irreparáveis.
Deixar que as coisas fluam, e o tempo enxugue 
as lágrimas da minha inútil solicitude. 

Cortar na própria carne... Por quê ? Para quê ?
Se ninguém entende, dá valor ?
Não obstante, quero ser sempre o que sou
Capaz de cortar na própria carne...

Sou o que sou, e é o que me basta.
Aquele que se doa incondicionalmente.
Aquele que sente tudo de todas as maneiras.
Que não se cala diante de sacanagens e injustiças.
E que de tanto ir ao fundo de existir,
fez-me velho antes do tempo...

O que é feito dos propósitos perdidos
e dos sonhos impossíveis, 
com que minha alma ainda sonha, 
distante e distraída ?
Que vida, essa !
Tanta fúria, tanta falsidade !
A carne rasgada, o coração dilacerado, quem se importa ?
Perco-me de mim ao ver que não pertenço a isso.
Ao status quo reinante.

Ah, como posso pensar, sonhar com coisas
que só existem em minha imaginação ?
Na sinceridade e lealdade das pessoas.
Sentimentos humanos tão simples e tão complicados.
Como simples e complicado é o amor,
Como simples e complicado é viver... 









                                 VIDA






Como sempre, a aurora irrompe de mansinho, 
bela e redentora como a Virgem Maria. 
Vem livrar-me do desassossego que me consome 
em noites insones,
em que cumpro meu purgatório em vida

Manhã que, no entanto,
nada de especial traz, além do trinar teimoso dos pássaros. 
Dos ruídos da cidade grande,
que desperta aos poucos, conquanto nunca durma,
febril e enferma como a vida.
Vida que é sempre a mesma,
fuga suave em que o destino se cumpre,
sob a tutela de deuses desconhecidos e cruéis.

Manhã, provê hoje o que sou merecedor.
Indiferente a tudo, ao que sinto e não sinto,
desperta em mim quem eu sou.
Antepondo-se ao que me foi sonegado.
Ao que a vida dá e tira.




                                   

sexta-feira, 24 de agosto de 2018


 
                       
           NADA MAIS, NADA MENOS



                   

nada acontece por acaso, ao acaso
tudo é sutilmente orquestrado
nascer, crescer, reproduzir e morrer
no ciclo natural das coisas
em que tudo se encere

nem uma folha seca cai da árvore
sem um propósito
esgotada sua missão, o papel que lhe é destinado
no conjunto da obra no qual somos todos
miseráveis e insignificantes
pois a vida segue sem se importar
com o que somos e o que possa nos acontecer
nada representamos, sequer o entendimento 
e a percepção dos mistérios do mundo nos é permitido
como meras partículas de energia e pó de que somos feitos 

meus irmãos, minhas irmãs, meus amados  
não julguem ninguém pelas aparências
não façam mau juízo de ninguém 
sem conhecimento de causa
não deixem que o ressentimento e a raiva ofusquem
a razão e o discernimento
posto que as aparências enganam
as palavras traem
ninguém sabe de fato
o que no outro vai por dentro
de que barro é o tijolo de que é feito

o que nos reserva o destino é o destino que fazemos
em opções e decisões que repercutem
pela vida afora
e pelos quais temos que responder 
arcar com as consequências
não culpar ninguém por nossos erros
não transferir responsabilidades
pois colhemos o que plantamos
nada mais, nada menos

  


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

                                 HISTÓRIAS





Ouço histórias em toda parte.
Todos tem histórias para contar.
Problemas, dramas, confidências...
Nas ruas, nos botequins,
na fila do banco, nas redes sociais.
Que transformaram o mundo 
num grande confessionário,
em que a penitência é ouvir as mazelas alheias

Ouço histórias em toda parte. 
De todos os tipos.
Ninguém se peja de nada.
Soltam o verbo, abrem o coração, choram as mágoas.
Basta que alguém se disponha a escutar.
Ainda que ninguém na verdade escute.
Todos imersos e voltados para o próprio umbigo.
Todos carentes, perdidos, desesperados
por um ombro amigo.
Alguém para desabafar.
Falar das insatisfações que se avolumam.
Das agruras dos relacionamentos.
Das atribulações no trabalho.
Das contas que nunca acabam.
Das aspirações, dos sonhos sempre adiados...

Todos temos histórias para contar.
Fardos que carregamos e ansiamos
ter com quem compartilhar.
Ainda que quase sempre para ouvidos moucos.
Pois ninguém está interessado em ouvir.
Ouvem por ouvir, dão de ombro.
Entra por um ouvido e sai por outro...
O que era mesmo o que você estava dizendo ?

Há um senhorzinho no prédio onde moro que fala 
pelos cotovelos.
A voz tonitruante contrasta com a magreza de um junco.
Contou-me, todo ancho, ter 86 anos.
E que viuvou recentemente, depois de 60 anos de casamento.
Era para estar baqueado, depois de ver a mulher morrer
à sua frente, num ataque fulminante do coração, 
em pleno almoço dominical. 
"Não deu para fazer nada", lamenta, resignado mas altivo, 
enquanto espera na fila da padaria. 
Ter uma plateia para ouvi-lo, ainda que por um instante,
é tudo que ele precisa.
Uma plateia, por menor que seja,
que lhe dedique um mínimo de atenção.
Animado, seu João, que é como se chama, 
puxa assunto com um e outro. 
E quando não há mais ninguém,
sobra para os funcionários da padaria.
Que pacientemente ouvem as histórias de sempre.
Das quais sempre se riem, respeitosos, por reconhecer
o valor daquele velho que se recusa a esmorecer.
A entregar os pontos.
Como acontece com a grande maioria das pessoas.
Mesmo jovens que se cansam de viver.

Que figura, o sr João, com sua disposição invejável
e voz de barítono.
Que gosta de entoar arias e boleros
como já não se fazem mais nesse mundo banalizado.
Um mundo de histórias tristes, de lamentações 
e desgraças.
Uma pior que a outra.
Dramas pessoais, existenciais, 
privaçõesdecepções amorosas.

Histórias corriqueiras de vida que um enfarte, 
um câncer sorrateiro,
ou qualquer outra dessas fatalidades corriqueiras, 
transformam em ninharia.
Seu João que o diga...









segunda-feira, 20 de agosto de 2018

               
                   
                            
                               A RAÇA DOMINANTE


Quer magoar alguém ? Diga a verdade
Quer ser respeitado, amado ? Minta, finja, falseie
As pessoas não aguentam a verdade
Preferem se enganar, ser enganadas
É a raça dominante
O estereotipo dos desenganados
Que como bem disse o poeta
Preferem ser admirados pelo que não são
A serem ignorados pelo que são.

domingo, 19 de agosto de 2018


HUMANO



                       
O que somos no íntimo ninguém sabe
O que fazemos entre quatro paredes
é melhor que ninguém saiba
Todos tem segredos, medos, desejos inconfessáveis
E no entanto, nos arvoramos em julgar os outros
como se fossemos a palmatória do mundo
Quanta hipocrisia ! Quanta falsidade no bojo de tudo
Quanta incoerência naqueles que se insurgem 
e agem como se estivessem isentos de culpas e pecados
quiçá ainda piores daqueles que condenam

O que somos no íntimo só nós sabemos
E às vezes, desgraçadamente, nem nós sabemos
Cegos pela arrogância e vaidade
Escravo das convenções e aparências
Um mundo nos separa. 
Muros, desejos
Infâmias
Lágrimas de sangue
Pensamentos torpes
Hipocrisia
Somos podres por dentro
Pobres de espírito, e nem nos damos conta
Ter consciência disso nos faz melhor
Eventualmente nos redime
Sem precisar de perdão
Não precisamos do perdão de ninguém
Só de nós mesmos
Pois só nós sabemos de nós
De nossas motivações e fraquezas
Foda-se os falsos moralistas
Os donos da verdade
O que me sufoca é o que me liberta
O que eu tenho de melhor
É o que eu tenho de pior
Pois são minhas fraquezas que me tornam humano
É o que me permite seguir em frente
Acreditar, confiar, e amar, amar de novo
Mesmo quebrando a cara
Quantas vezes for preciso

Não, não busco a perfeição fingida
Não quero a afeição dissimulada
Prefiro o buraco no peito
O choro do arrependimento
A ilusão de poder ser feliz
Sendo unicamente o que eu sou
Como sou
Fraco, instável, inseguro
Humano...
   



   






os desmandos de viver



                      


Num dia a gente pensa que é feliz, que está tudo bem
e que há que ser grato por tudo.
No outro, vê que não é nada disso, que é tudo ilusório
e a vida é a merda de sempre.

Num dia a gente se sente animado e esperançoso,
feliz como pinto no lixo, 
com as migalhas que a vida proporciona.
No outro, cai na real e vê que tudo é frágil e precário,
e que o fiel da balança 
tem uma mórbida propensão ao malogro.

Num dia a gente se sente alegre e em paz,
com a alma leve diante do brilho radiante do sol.
No outro, as rotineiras decepções e rasteiras 
botam as coisas em seus devidos lugares.

Num dia a gente se sente forte e abençoado 
por ter pelo que lutar,
um amor verdadeiro, filhos queridos.
O ganha-pão que dá para o gasto.
No outro, o castelo de areia desmorona,
e as armadilhas do cotidiano escancaram 
a face perversa e dolorosa 
das relações dilapidadas pelo tempo.

Num dia a ilusão de que, apesar de tudo,
os sacrifícios, renúncias e provações valeram a pena.
Que o mais importante é estar com a consciência tranquila
por ter feito o que achava justo e correto.
No outro, a amarga constatação de que nada satisfaz
as expectativas e exigências de pessoas
que só te dão valor pelo que pode proporcionar.

Ninguém dá conta dos desmandos de viver.










sábado, 18 de agosto de 2018

                        A propósito de tudo


A propósito da vida que tivemos
De tudo que vivemos e não satisfez
De tudo que podíamos ter feito e não fizemos
Eu mais do que tu, tu menos do que devia
Tu cansada, eu saturado
Ambos resignados como gado rumo ao matadouro

A propósito de tudo, vagamos à esmo
Chegamos a lugar nenhum : o passado já não conta
Foi-se o que não imaginamos que se fosse
Por quê, culpa de quem, já não importa
Acabou, simplesmente
A propósito do enredo de sempre
A propósito, de propósito, sem propósito
Burlamos os próprios sentimentos
De não termos um propósito maior
Despojados de uma vida que valha a pena
Como um barco à deriva, adernamos
Sem terra à vista, naufragamos.







INTERMEZZO







Cai a tarde, e tudo se faz tarde
O amor que se teve
A paz que se perdeu
A vida que se tinha

Tudo se foi, tudo perdido
Como uma paisagem que passa
Além do horizonte
Ao cair da tarde
No intermezzo da vida... 
   

segunda-feira, 13 de agosto de 2018



                   OS DONOS DA RAZÃO


Os chineses vem dizendo desde os alvores da civilização que tudo na vida gravita em torno da dualidade das coisas, o que no taoismo é chamado de yin e yian. Grosso modo, o bem e o mal, o certo e o errado, o preto e o branco, e por aí afora. Já eu, do alto de minha sabedoria de araque, penso que vivemos sob a égide de dois tipos de posicionamentos cruciais que norteiam as relações nesses tempos liquefeitos : a dos que acham e dos que tem certeza.
Difícil dizer com qual é mais difícil lidar, sendo ambos calcados na arrogância de um conhecimento ralo e empírico de mecanismos comportamentais de resto já fartamente esmiuçados e detalhados ao longo do tempo por autoridades no assunto. 
Eu acho que...
Eu tenho certeza que...
Expressões que tenho ouvido não só com enfase e convicção, como sofrido seus efeitos, na guinada que minha vida sofreu nos últimos meses. Basicamente, por não ter sabido - e tampouco me disposto - a entender e me enquadrar nesse mundinho limitado dos que acham ou tem certeza de tudo, mas no fundo, não sabem porra nenhuma.
Os tais donos da razão que no fundo enganam a si próprios. 



A beleza nossa de cada dia...






sábado, 11 de agosto de 2018


Como diz um amigo meu, quando bebo eu fico um porre...


...ah, a inocência das crianças. Perguntei a meu pequeno como a mamãe estava, passados quatro meses de nossa separação, e ele me disse para eu ficar tranquilo. Que ela estava bem. E que, quando fica triste, ela reza e passa...
Quisera ser tão simples pra mim também.



sexta-feira, 10 de agosto de 2018

                    
             TORTO POR LINHAS CERTAS


                                                                   

A VERDADE gosta de disfarce. Está quase sempre enrustida. Tanto que às vezes está escancarada na nossa cara e não vemos. Ou preferimos não ver. Mas um belo dia ela aparece, avassaladora, e ficamos pasmos, chocados por não termos percebido aquilo tão óbvio, obliterado pelo nobre atributo da confiança, da boa fé, e da própria ingenuidade.

O fato é que a VERDADE vive sendo distorcida e manipulada conforme a conveniência de cada um, e quando se trata de tirar proveito, escrúpulos às favas. Daí as várias faces que a VERDADE pode assumir em qualquer contexto, em detrimento da...verdade dos fatos. 

Razão pela qual, os mais hábeis e espertos costumam ter a palavra final, sem necessariamente estarem com a VERDADE. Basta manipular as coisas a seu favor, e contar com a colaboração dos otários com que vivem ou se relacionam, sempre dispostos a acreditar nas versões fantasiosas que semeiam, inclusive assumindo culpas e pecados que não lhes cabe. 

Mas como a vida escreve torto por linhas certas, um dia a VERDADE verdadeira vem à tona, e nos damos conta de que não passamos de marionetes nas mãos de prestidigitadores que chegam ao cúmulo de convencer a si próprios de virtudes que não tem.

São como santos de pés de barro, ocos por dentro, que no fundo mais prejudicam a si próprios do que aos incautos que enganam e enredam.

Porque são obrigados a conviver e arcar com as mentiras que constroem.




quinta-feira, 9 de agosto de 2018


As coisas nunca são como a gente quer. 
 E quando são, custam caro.



                                                             
as coisas nunca são 
como queremos.
até a gente 
deixar de querer





quarta-feira, 8 de agosto de 2018



A diferença entre o trouxa e o idiota
é que enquanto um não sabe que está sendo enganado,
o outro finge não saber.
Mas no fim das contas, ambos são otários. 





terça-feira, 7 de agosto de 2018

                  

FAKE DE MIM MESMO 


Jamais terei a vivência que outros tiveram
Nunca o estofo, a dignidade, 
a grandeza de tantos que fizeram história
Ou de outros que cruzaram meu caminho anonimamente
Nessa vida que escolhi, que me foi dada
Da qual não sei nada de nada
Já sem maiores expectativas
Mas ainda relutando em aceitar as coisas como são
Na tola presunção de algum dia 
possa ser mais do que sou, saber mais do que sei
Do pouco que sei
Para não ficar à margem das coisas
Não me ater as coisas comezinhas da vida
Eis a luta que ainda me impele e motiva
A sair da inércia, alçar novos voos

Aceito as dificuldades da vida sem o altruísmo 
e a generosidade dos limpos de espírito, 
que segundo as profecias,
herdarão o reino dos céus
Assim como jamais serei como aqueles 
que todos olham com respeito e devoção
Que inspiram milhões
Arrebatam multidões
Charlatões de toda espécie
Que se locupletam às custas da boa fé alheia

Não sou nem nunca serei o que não sou
Não sou lobo em pele de cordeiro
Aquele que foi sem nunca ter sido
Pois sempre fui o mesmo
Fake de mim mesmo 
Não serei nunca o que querem que eu seja
O que veem não sou eu
É apenas uma casca, um invólucro qualquer
Para alguns, alguém que não sabe o que quer da vida
Para mim, alguém que simplesmente almeja 
Uma vida menos miserável.














  

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

                
       agora que nada mais me prende a nada





Agora que nada mais me prende a nada,
que nada mais me oprime e tolhe,
quero tudo ao mesmo tempo.
Tudo que deixei de viver, de ter.
Tudo que me era sonegado.
Ao viver uma vida que não era minha.
Que era meramente repartida.
Daí a gangorra em que vivia.
Ora contente e resignado como um animal domesticado.
Ora macambuzio, frustrado por me ver  cada vez 
mais isolado e depreciado.

Agora que nada mais me prende a nada,
que nada mais me constrange e condena,
sinto que acordei para a vida para qual
tinha adormecido.
Para os sonhos que pairavam como sonhos inalcançáveis.
E que por serem sonhos, podem ou não se consumar,
e mal algum me fará.

Agora que nada mais me prende a nada,
não me preocupo qual o destino que aguarda
minha nau sem rumo, meu exército de Brancaleone.
Tudo em mim reflui,
me evadindo de todos os cansaços.
Me apartando dos males e fantasmas do passado,
onde o real e o imaginário enfim se conciliam,
para uma nova e ardente realidade 
em que tudo é fervor e claridade.
  










Há uma sutil diferença entre ser bom ou otário. 
O diabo é que vivo me confundindo.




sexta-feira, 3 de agosto de 2018





espelho, espelho meu





no fundo, 
a origem de todos os problemas 
não é a burrice, 
e sim a boa fé. 
Conheço pessoas ignorantes 
que são extremamente espertas, 
e pessoas inteligentes 
que são incrivelmente ingênuas. 
Acabei de ver uma no espelho...



quinta-feira, 2 de agosto de 2018



                          HOJE E ETERNAMENTE






Benditos aqueles que oram quando orar não adianta.
Que protestam e não são ouvidos.
Que cantam em jornadas sem termo, nas entranhas
de um mundo eivado de sordidez e desespero.
Persignemo-nos ante a saga dos exilados e desterrados,
onde todo amor se extingue,
e os herdeiros do reino da morte imperam.


Lenta e inexorável flui a vida em que o grito
dos renegados ecoa em vão.
Em que nossos irmãos experimentam a amarga 
e áspera agonia dos apátridas.
Dos que foram desalojados da casa paterna,
Rumo ao renascimento ou à morte anunciada.
Resguardados na inútil fé e na expiação de eternos infortúnios.
Não, não serei eu o arauto desse mundo podre,
em que o hoje sangra e o amanhã agoniza.
E tudo se resume a nascer, copular e morrer,
como proclama o príncipe dos poetas, em sua 
árida Waste Land.

Não obstante, um mudo entendimento prevalece. 
Rendendo-se a alegre comunhão dos santos.
Deixando-se levar sem culpas nem pecados.
Moldando-se tal qual argila à mão do artista.
Em que o sangue dos inocentes e mártires 
se misturam para saciar a sede do Demônio.
E o Filho do Homem torna a ser crucificado,
hoje e eternamente.




  

Postagem em destaque

                               de segunda à segunda A vida se mascara e se revela tão perto e tão longe de tudo.   Andamos à esmo como anima...