quarta-feira, 29 de agosto de 2018

               

                    RUMINAÇÕES   


Depois de uma certa idade, tudo vai se tornando difícil, com o peso
de viver nos reduzindo a uma caricatura do que um dia fomos.
Definhamos física e mentalmente, perdemos a capacidade de amar, de acreditar, de confiar, e às vezes a própria fé, sendo esta, no entanto, a derradeira tábua da salvação a qual a maioria se agarra. 

Conscientes da proximidade da morte, direcionamos nossos pensamentos à ilusão de que outra vida nos espera, e que precisamos fazer jus a ela. De fato, não custa nada preservar essa crença, mesmo possivelmente infundada, pois mal não faz e vá que o paraíso realmente exista. Onde nossos entes queridos nos esperam e Jesus em pessoa nos recepcionará.

É essa reconfortante crença e expectativa que o cristianismo nos induz à acreditar, muito mais como um bálsamo ou lenitivo para os males e tormentos do espirito, do que eficaz na vida prática. Cremos em razão da consciência de nossas limitações e fraquezas, na ilusão de que assim encontraremos forças para enfrentar as agruras da vida, relevando ou mesmo ignorando o fato de que, no fundo, trata-se apenas do velho e hábito da esperança. Que embora salutar, não é garantia de nada. Posto que o tal poder do pensamento positivo é uma das maiores lorotas que o pessoal da autoajuda nos impinge. 

Pensar positivo não resolve nada. A fé não remove montanhas porra nenhuma. Estamos por conta própria. Por conta das crenças e atitudes que tomamos ao longo da vida. Pensar positivo sem arregaçar as mangas não refresca. Querer que as coisas mudem, que 
a vida melhore, sem trabalhar para isso, explica porque tanta gente vive dando murros em pontas de faca ser conseguir nada.

E aí chegamos ao ponto em que não temos mais ânimo, saúde, e tempo para dar um sentido à vida de modo a verdadeiramente usufruir os tais benefícios da longevidade, vivência, experiência, sabedoria. Coisas que, sejamos francos, bem poucos conseguem administrar e colocar em prática à contento. Pois o que mais se vê são velhos amargurados, revoltados, entrevados e entregues a ruminações que transformam o fim da vida num suplício dos diabos. Para eles e quem com eles convivem.

Que Deus me conceda a graça de não ser um estorvo para ninguém. 


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