terça-feira, 30 de abril de 2019




                   amor fraticida


Deixar de pensar
Deixar de sentir
Deixar de penar
Para voltar à vida

Esquecer o passado
Esquecer o logro 
Esquecer o malogro
Para voltar à vida

Ao amor renunciar
Do amor se curar
Para voltar à vida.

Amor fraticida
Que mata o amor
Para voltar à vida ?







                               o fim dos tempos





                                1.

Perigo, entre tantos perigos, o real e o virtual
se entrecruzam em alentada elegia em meio  
aos restos e retalhos do mundo moderno.
De sofisticadas máquinas e aparatos, 
porém de sentimentos confusos,
sentidos embotados.
Em que todos se conhecem e se desconhecem.
Estranhos, entre segredos devassados, valores mutilados.
O certo é errado, o errado é certo. 
Ante crenças disseminadas, ofidicamente inoculadas
por vis mentores, canalhas beatificados, cabras da peste,
bestas empanzinadas.
O juízo final a cada dia, no noticiário da noite.
O Criador à mercê da criatura.

                                 2.

O mundo imperfeito soçobra em bytes e gigas.
Os bons em minoria, passando por idiotas.
Ilhados, sitiados, na secura dos sentimentos.
Dos poderes apodrecidos.
Crenças aviltadas, nos prazeres materiais, luxúria, 
prevaricação on line, nos tribunais populares e oficiais.
O Diabo nunca foi tão poderoso.
À tira-colo, a um deslizar dos dedos,
o inferno à la carte.

                                       3.

Gente proliferando feito baratas,
incapazes de pensar, em manadas virtuais se transformam.
A droga da vida imersa nas drogas.
Ah, sim, Deus a tudo perdoa.
Desde que não esqueçam do dízimo.
Que pode ser pago no débito ou no boleto.
A indústria da autoajuda de vento em popa.
Atacando em todas as frentes. Até filósofos engajados
na doce vida de enganar os outros. 
Trouxas é o que não faltam.
Mais fácil do que roubar doce de criança.
O ridículo, a vergonha, banidos do dicionário.

                          4. 
                 
Difícil dizer o que é normal
num mundo em que tudo é normal. 
Que o pecado desconhece, do pecado escarnece.
Mundo decrépito, ancião de 4,5 bilhões de anos,
lapso de tempo na cronologia espacial,
em que ainda se questiona se Deus existe ou não.
Quero acreditar que sim, mas tudo indica que não.
Por via das dúvidas, rezo feito um condenado.
Nada tenho a perder, perdido como já estou,
em meio a esbórnia reinante.
Que o descerrar das cortinas 
não seja o do fim dos tempos. 
 
 


segunda-feira, 29 de abril de 2019

                      

                legistas


Longas, tortuosas, ininteligíveis linhas,
Vêm à guiza de dissecar o mundo,
O teor indecifrável dos sentimentos.
"Rodopiando em torno do silente Verbo".

Almas sofridas, mentes angustiadas, 
Entre sonhos e sombras passeiam 
Libações e versos de antanho. 
Das palavras perdidas, das palavras desgastadas,
Inauditas e inexpressas,
Pedaços da alma arremessados para (e contra ) o mundo.
A humanidade, o universo, amor, a vida
Como pano de fundo.

Abre-se a tenebrosa porta do imponderável.
Das trevas, dos mistérios da existência se ocupam.
Alheios à divina essência, no seio maternal do erro estiolados.
Condenados à dor de já não poder crer.
A (re)descobrir que nada vale a pena.
E ainda assim perseverar, recalcitrar, não obstante
A transcendência de tudo.
Aos falhos pensamentos e sistemas que nos guiam.

Flutuando entre o nascimento e a morte,
Entre o horror e os sonhos deambulando,
Eles,  mais do que todos,
Filósofos, poetas, pensadores, 
Legistas letrados de um mundo enfermo.



domingo, 28 de abril de 2019




Há pessoas que saem da sua vida e você nem nota. Outras saem e você dá graças a Deus. Poucas, pouquíssimas, são insubstituíveis.





sábado, 27 de abril de 2019

sexta-feira, 26 de abril de 2019


                                   ENGODO






Quando se gosta, quando se ama,
a gente releva tudo. 
Os defeitos, as mentiras. 
Para tudo há desculpas, atenuantes.

Depois que o amor acaba,
até as verdades soam como mentiras.
A sinceridade ofende.
As qualidades, desaparecem. 
E a realidade nua e crua nos inunda,
nos devolve à vida imunda,
da qual o engodo do amor 
havia nos resgatado.


quinta-feira, 25 de abril de 2019




                               PARAÍSO


Tarde, se descobre que o quintal 
em que a gente brincava, 
era o melhor lugar do mundo.
Que tudo de que precisávamos na vida 
para ser feliz,
estava ali.
Que todas as outras coisas não se equiparam,
não são como aquelas que estacionaram na memória,
simples, perfeitas. Esquecidas de tudo.
O pomar para apanhar fruta no pé.
Os arroios para tomar banho e pescar lambarís. 
Jogar bola até escurecer, caçar sapos, correr à noite atrás
dos vagalumes.

Desconfio que o quintal da casa da minha avó 
em Agudo
era um pedaço do paraíso.
Onde o céu era sempre azul.
E tudo era sempre divertido, até quando capinava com ela.
Eu não parava de tagarelar, e ela se ria alto
das besteiras que eu falava, em alemão.
Como uma vez, quando ela disse para eu falar menos
para não me cansar, e respondi 
"ach, mutter, du ist beinahe kaputt". 
Passagem, como tantas outras, 
que eu adorava ouvi-la contar, 
nos anos que se seguiram,
quando voltava lá, 
cada vez mais distante do meu pequeno paraíso.

Ah, que saudade da minha gross-mutter querida,
que com certeza há de estar no verdadeiro Paraíso, 
cuidando das hortas de Nosso Senhor.




A ÚLTIMA FOTO QUE TENHO DELA





                  


Dar um tempo.
Parar para pensar.
Passar as coisas à limpo.
Fechar para balanço.
Eis o que a vida às vezes requer.




quarta-feira, 24 de abril de 2019



                                MALUCO, NÃO






Em síntese, gosto de você 
mas gosto mais de mim.
Da síndrome de Borderline 
estou me tratando.
Bom saber, não sou uma aberração.
Apenas um pouco desajustado.
Fiquei aliviado em saber.
Não me chame mais de maluco, tá bom ?





                   
                           colheita







Sábio é aquele que consegue 
guardar as coisas para si. 
Dar tempo ao tempo. 
Esperar a poeira baixar. 
Para depois fazer o que deve ser feito.
Algo que nunca consegui.
Impulsivo, estouvado, 
cagadas e desafetos colecionei.
Perdi a razão mesmo quando tinha.
Colho o que plantei.
                        

                      obsoletos



Obsoletos, ao longe se divisa.
Prostrados, amargurados, 
Carregam o peso do mundo. 
O próprio fardo.
Dever, senso de responsabilidade.   
Da vida nada mais almejam. 
Nada além das pequenas compensações,
Um remanso ao final da tarde, 
Jogar conversa fora com os poucos amigos.  

Já amaram, sonharam, tiveram posses, 
No entanto, tudo perderam, desperdiçaram.
Fracassaram onde não podiam. 
Viram o flagelo chegar e se aquietaram.
Viram as marchas fúnebres 
E aos sortilégios e fraquezas mundanas sucumbiram. 
E aos poucos, ou de repente, tudo se foi. 
No decorrer de sua vigília de proscritos
Envelheceram, imprestáveis se tornaram.
Um peso para a família, um peso para a Previdência Social. 
Em esquemas consuetudinários vivendo,
O maganão santo se torna.

"O homem é reconhecido por suas ações", 
É o que se diz, porém, com ressalvas.
Quando as palavras valem mais que as ações, 
Os embustes e logros passam batido.
Qual a coisa que, bem urdida, não mente ?
Homens de ação, meros figurantes, 
Inocentes úteis que povoam a terra.  
Homens obsoletos, 
Incompreendidos, 
Desvalorizados em sua modorrenta serventia, 
Vivem a vida dos outros
.




    

terça-feira, 23 de abril de 2019

Id

                                 


                             vago de acalanto






Certamente não haverá nada de perfeito
a ser lembrado.
Nada que não seja dispensável, depois de exaurido. 
Porque já não te amo.
Porque já não me amas.
Um caminho deserto entre duas tumbas
é tudo que restou.
Exânime, vago de acalanto, o coração já nada espera.
Aquela que parte, aviltada.
Aquela que chega, corrompida.

Deusa intemerata, 
um brinde à sua formosura.
Descrente de tudo, 
de ti me embriaguei.
E depois te vomitei.





segunda-feira, 22 de abril de 2019




                            





Aconteceu. Eis que o azul se tornou negro
debaixo de nossos olhos, de improviso,
sem que percebêssemos.
É o fim. E o fim é fulmíneo.
Adeus, adeus. Não era nada de especial,
não era um dia extraordinário, não era sequer
especialmente luminoso
ou especialmente escuro.
Nem muito bom, nem muito ruim;
não era um dia histórico, nem um dia
para se recordar.
Era um dia como qualquer outro,
nem triste, nem alegre;nem bonito, nem feio.
Quase um dia inútil.
Mas não havemos de vê-lo nunca mais.
Como qualquer outro dia memorável ou não.

* Adaptado do ensaio "Entre a mentira e a ironia", 
de Umberto Eco (1932-2016).






Se falsidade fosse uma doença mortal,
o planeta estaria salvo.








às vezes a melhor estratégia é se fazer de morto (ou de cego)



domingo, 21 de abril de 2019







               O PARDALZINHO



Havia um pardalzinho na minha antiga casa,
que meu filho achou na sarjeta.
Recém-nascido, desmilinguido, 
foi um milagre ter sobrevivido.

Ficava na área de serviço,
não tivemos coragem de colocá-lo numa gaiola,
em que só ficava para dormir.
Era meu companheirinho de todas as horas.
Me fazia companhia no café da manhã, logo cedo.
Quando eu estava na sala, lá vinha ele,
pousava no meu ombro, ou no joelho.
Às vezes bicava meu dedão do pé, para chamar
a atenção.

Que saudades dele !
Às vezes penso que aquele pardalzinho
era quem mais me amava 
na minha antiga casa.





sábado, 20 de abril de 2019



                   BORDOADAS




Crente ou incrédulo, somos sempre ludibriados.
Pelas crenças que nos enganam e traem.
Desenganados no amor, desiludidos com as pessoas.

Esvoaçantes, os anjos da infância nos abandonam 
à própria sorte.
À sorrelfa, à socapa, nas encolhas
da vida tangenciada,
à revelia do tempo perdido, dos passos tortos,
é bordoada de todo lado.

Na vida que se rompeu,
distante da antiga casa,
entregue às dúvidas que corroem a existência,
sempre a espera do que não virá. 
O antigo amor, um novo amor, a redenção.
O perdão de quem não consegue se perdoar.








                     coração bandido



Maneira simples e infalível de blindar a vida :
não criar expectativas.
As pessoas são como são. 
Não mudam.
E quando mudam, 
salvo raríssimas exceções, 
mudam para pior.
Um coração bandido 
sempre será traiçoeiro.





sexta-feira, 19 de abril de 2019






quem de mim não discorda, nada me acrescenta.
(anônimo)



a vida é a confluência do saber e a ignorância.



Se soubéssemos o quanto os desafios são maiores que nossas forças,
nem sairíamos de casa. 




Moram dentro de nós sonhos
que morrem
quando acordamos. 


vivo me atrapalhando no script,
nunca sei quando é para entrar ou sair de cena.  
                    

           me engana que eu gosto


Ah, como nos enganamos
quando supomos conhecer as pessoas.
Mesmo as mais próximas.
Pois ninguém é o que aparenta.

Só o tempo traz as revelações, as respostas,
a verdadeira faceta. 
Quase sempre deformadas, irremediavelmente
corrompidas. 
Na medida que tudo denigrem, enxovalham,
às vezes uma vida inteira...

Que ninguém se iluda :
fingir, dissimular, 
é o que salva as aparências.
Mantém as coisas de pé.
Me engana que eu gosto, 
o lema reinante.









às vezes, tentar consertar só piora as coisas.
Simplesmente porque há coisas que não tem conserto.



quinta-feira, 18 de abril de 2019



                         amor e perdão





Enferma e dilacerada, 
em meio a paixões, vícios e atrocidades 
a humanidade rasteja.
Num mundo no qual o mal impera,
em que a ignorância e a mentira tudo conspurcam,
paradoxalmente,
manter a fé 
e a crença de que o Bem triunfa,
e a Justiça no fim prevalece,
é o que nos impele
e impede de capitular frente  às inúmeras adversidades
que à vida se interpõe.

Entre angústias, dores, revolta, lágrimas, 
ainda assim
somos gratos ao Deus onipotente e onisciente,
que dizem misericordioso e justo.
Misericordioso e justo.
Misericordioso e justo.

Misericordioso e justo ?
"Pai, onde estás que não respondes ?", teria o próprio
Filho de Deus exclamado, pregado à cruz,
em seu martírio derradeiro.
Um DEUS surdo, cruel,
ou infinitamente misericordioso,
a ponto de sacrificar o próprio filho para
salvar a humanidade ?
Que AMOR é esse, afinal ?

De bom grado sacrificamos a vida pelos filhos, 
mas Deus sacrificou
a vida do filho para a nossa salvação. 
Algo de difícil aceitação, que foge à compreensão,
a não ser como um simulacro da vida em si,
feita de dor, sacrifício, renúncia.
Ou talvez para enfatizar 
que o verdadeiro AMOR vai além disso.
Que só o PERDÃO  redime e o eterniza.













   

terça-feira, 16 de abril de 2019




                     TEMPO SEM VOLTA








O silêncio contém 
o peso de todas as palavras.
Das coisas não ditas.
Escamoteadas ao longo do tempo.
Até o dia em que emergem,
escancarando a realidade obnubilada.

Invariavelmente, tarde demais
para consertar aquilo que,
silenciosamente,
se perdeu nas coisas não ditas 
em tempo hábil. 

Não obstante, lembro de cada detalhe, cada nuance
da vida pregressa. 
Pacata, sim, mas longe de monótona.
Ao menos não para mim.
Posto que dela nunca me cansei. 


Sim, o tempo passou.
Relembro e espero.
Inútil espera de um
tempo sem volta.
















segunda-feira, 15 de abril de 2019







                   


Nada é realmente nosso.
Tudo nos é dado, e tirado.
O máximo que podemos fazer
é cuidar,
zelar para conservar aquilo que
conquistamos.
E rezar para que não caíamos em tentação.
... Pois Teu é o reino,
o poder,
e a glória para sempre.
Amém.

sábado, 13 de abril de 2019




                                      COQUETEL 

   


Uma pitada de ternura, 
doses de loucura, 
porções generosas de emoção,
paixão à vontade. 
Misture tudo e pronto,
o coquetel do amor está no ponto. 
Mas cuida para não se embriagar.
A ressaca é grande !


                          imbróglio               

não sei se as coisas são o que são 
porque são o que são
ou porque deixaram de ser
o que não são.

se as coisas não são o que são, 
deixam de ser o que são ou não ?   


e se são o que são, sendo o que não são,
o que são, afinal ?

sendo o que são, ou não,
deixam de ser, sendo ?







                  
           partir em paz, é tudo que me apraz



Talvez eu não viva o suficiente para reaver 
o que perdi, não importa.
Mesmo porque, nada garante que valeria a pena.
Provavelmente, não.
O que passou, passou. Nunca será igual. 
Melhor ficar com as lembranças.
Melhor ainda, esquecer.
Fazer como tu, deletar.
Outra vida erigir.
Diferente, com outras pessoas.
Boas e ruins, convém não se iludir.
Outros enganos virão. 
Nada é perfeito. Nada corresponde a nossos anseios.
Há sempre senões, decepções. 
Nada à altura da eterna insatisfação humana.
Que mesmo àquilo que tem, não dá valor.
Que só quando perde, valoriza o que antes ignorava.
Posto que a convivência nos apequena.
A medida que revela o que somos.
O amor engana. O amor ilude.
Quem ama engana, ilude.
O amor só é grande quando chega ao fundo do poço.
E ainda assim sobrevive.
Ser desprezado, espezinhado, humilhado,
e ainda assim continuar amando.
Amor ou sandice ?

Da loucura do amor padeço, mas já não sofro.
Nem dele preciso. Resignado em apenas sentir.
Não careço de ser feliz.
Não quero esse tipo de felicidade. A dependência de algo
que não controlo.
Não quero ser feliz, pagar o preço. Basta me sentir bem, 
em paz. 
Já fiz o que podia ter feito.
Agora, é relaxar. 
Moeda à mão, para quando o barqueiro chegar.
Partir em paz, é tudo que me apraz.













sexta-feira, 12 de abril de 2019

                        

                            olhai por nós







Vida incognoscível, intransferível, 
a todo momento principia e se extingue.
Aqui brota, ali jaz.
O real em surreal sem mais nem menos
se transforma.
Em parte, condicionada às nossas atitudes;
em outra, às peripécias do destino.

Consciência e inconsciência lado à lado,
o tempo irredimível aponta para um só fim.
Mundo de perpétua solidão, caminhos que 
não percorremos. 
Portas que jamais abriremos.
Tardio reconhecimento, inútil arrependimento.  
Luz e trevas. Trevas e luz.

Condenados ao veredito das perdas irremediáveis,
das razões indecifráveis, 
tragédias sem sentido,
amores desperdiçados.
O futuro, sem futuro, atrelado aos enganos.
O tempo relapso estagnado no tédio, na fadiga.
A vida como era, e que num instante não é mais.
Senhor, olhai por nós,
agora e na hora de nossa morte.









 

quarta-feira, 10 de abril de 2019

                                   
                                  ALGOZ 





Na insana luta do homem contra a Natureza,
a Natureza é o algoz.
Algoz terrível, implacável.
Expele das entranhas terremotos, vulcões, furacões,
Tsunamis.
Fustiga com água, fogo, gelo.

Subjugado, inconsequente,
O ser humano insiste em
Sujar, poluir.
Sem se dar conta que piora ainda mais
As coisas.
Que quem semeia ventos, colhe tempestades.

 




segunda-feira, 8 de abril de 2019

                                                     
                    
                                encheção de linguiça

 



Tudo o que não passa, é farsa.
O que não dura, o tempo desmascara.
Riso, prazer, dor, decepção.
Verdades e mentiras. 
O que é real ou ilusão ?

A realidade é frágil, volátil.
Nada é o que parece.
A única certeza é o pó.
O pó do qual viemos 
e ao qual retornarmos. 
O resto é encheção de linguiça.




Em plena era digital, às vésperas de um ser humano perfeito ser parido por uma impressora D 3, e ainda há quem leve à sério essa papo de direita e esquerda. 
Porra, quando vamos sair das cavernas ideológicas para sermos simplesmente, realistas ?
 


                            LACUNAS




A gente não escolhe a quem amar.
O amor escolhe a gente.
De repente ou aos poucos.
Nas asas da paixão
ou nas lacunas do coração.

O amor é cego, cega.
A gente nem sente
quando começa, quando acaba. 
Assim como acontece, desaparece.









sábado, 6 de abril de 2019



Gosto do silêncio.
O silêncio não mente.
As coisas são como são.
Palavras distorcem, iludem.
Deveríamos ser mudos,
Posto que cegos já somos.
                            

                 mundo f.d.p.



Ser bom, generoso, solidário, nos enfraquece. 
Quando viramos reféns da falta de escrúpulos dos outros.

Nada que se faz é suficiente. 
Ninguém quer saber das motivações, 
dos sentimentos alheios.

Ninguém é confiável.
Até as crianças são manipuladas, usadas.

Mundo filho da puta, 
que te obriga a ser filho da puta 
para se dar bem
ou se proteger.

quinta-feira, 4 de abril de 2019





                           HERÓIS




Este é um tempo de heróis anônimos.
Heróis sem super-poderes, sem espada, sem cruzada,
apenas úteis. Obedientes e resilientes.  
Levantam antes do raiar do sol,
comem o pão dormido, engolem o café apressado,
de quem não pode chegar atrasado
ao trabalho, no outro lado da cidade.
Trabalho anônimo, faina diária
sem direito a um salário condizente.
Apenas o suficiente
para dar de sustento aos seus.
Labutam de sol a sol
os heróis anônimos do cotidiano.
Operando máquinas, quebrando pedra, 
atendendo os usuários, à serviço de multidões.

De mil ofícios, entre mil artifícios 
vive o herói anônimo.
Desdobrando-se, violentando-se para ser alguém na vida.
Batalhas inglórias, poucos conseguem, 
mas não por falta de esforço.
Paciência é o que não lhes falta.
Boa fé para acreditar nas eternas promessas.
Animo para torcer pelo time do coração,
brincar no carnaval, fantasiado de mulher - hay que ser macho,
pero sin perder la ternura jamás... 

Querem acreditar, querem amar, os heróis anônimos,
mas ninguém reconhece, ninguém dá valor.  
Sem outra outra opção senão dar o sangue, dar o suor,   
para a família sustentar.
A pequena vida tangenciando os objetivos maiores.
A cada obstáculo superado, outro surge, outros surgem, 
no ciclo inexorável das coisas.
Sonha em ser feliz, o herói anônimo, 
mas o mundo não deixa...

segunda-feira, 1 de abril de 2019



                                    wonderful world ? 





Passamos a vida preocupados com a imagem,
com o que pensam de nós.
Em sermos politicamente corretos.
Em defender aquilo que nos parece justo.
Os direitos humanos,
os animais,
a natureza, 
essas coisas.
Tudo de forma a passarmos por pessoas de bem,
íntegras,
cidadãos honestos, cumpridores de seus deveres.
Em tese, tudo e todos, uma maravilha,
tal qual o "What a Wandelful World", imortalizado
na soberba canção do Louis Armstrong.
Ou o "Imagine", do não menos icônico John Lennon.

Na prática, porém, é o oposto.
Um mundo convulsionado, beligerante, 
as pessoas se trucidando.
Pessoas horrorosas no poder. 
Pessoas horrorosas querendo se passar pelo que não são 
na cara da gente.
Hipocrisia imperando. Desigualdade social cada vez maior.
Uma minoria vivendo nababescamente, a grande
maioria vegetando, confinada a guetos, 
campos de concentração, 
periferias em que impera a criminalidade.
Povos submetidos ao sofrimento imposto por ditadores sanguinários,
ao roubo sistêmico e sistemático promovido por governantes e 
agentes públicos que infestam as esferas do poder.

Ora, sejamos realistas.
Wonderful world, em termos. Há que ter ciência de que 
a vida é boa, até deixar de ser.
As pessoas são boas, até deixarem de ser.
Que o mundo é uma beleza, até deixar de ser.
Tudo é de um jeito, até deixar de ser. 
Até se transformar em outra
coisa qualquer, que desconhecemos.
Tudo é óbvio, tudo é claro,
o amor é lindo, até deixar de ser.
Tudo, um dia, deixa de ser do jeito que conhecemos,
ao quê estamos acostumados.
Porque a vida é assim, tudo muda a qualquer hora,
sem aviso prévio.
O que é bom e belo hoje, amanhã deixa de ser.
Fazer o quê ?
Carpe diem, meus queridos, pura e simplesmente.
É tudo o que nos cabe fazer.









   







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