quinta-feira, 25 de abril de 2019




                               PARAÍSO


Tarde, se descobre que o quintal 
em que a gente brincava, 
era o melhor lugar do mundo.
Que tudo de que precisávamos na vida 
para ser feliz,
estava ali.
Que todas as outras coisas não se equiparam,
não são como aquelas que estacionaram na memória,
simples, perfeitas. Esquecidas de tudo.
O pomar para apanhar fruta no pé.
Os arroios para tomar banho e pescar lambarís. 
Jogar bola até escurecer, caçar sapos, correr à noite atrás
dos vagalumes.

Desconfio que o quintal da casa da minha avó 
em Agudo
era um pedaço do paraíso.
Onde o céu era sempre azul.
E tudo era sempre divertido, até quando capinava com ela.
Eu não parava de tagarelar, e ela se ria alto
das besteiras que eu falava, em alemão.
Como uma vez, quando ela disse para eu falar menos
para não me cansar, e respondi 
"ach, mutter, du ist beinahe kaputt". 
Passagem, como tantas outras, 
que eu adorava ouvi-la contar, 
nos anos que se seguiram,
quando voltava lá, 
cada vez mais distante do meu pequeno paraíso.

Ah, que saudade da minha gross-mutter querida,
que com certeza há de estar no verdadeiro Paraíso, 
cuidando das hortas de Nosso Senhor.




A ÚLTIMA FOTO QUE TENHO DELA




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