terça-feira, 26 de fevereiro de 2019



                   O COFRE



         



De me enganar cansei, os grandes planos abortei
Nada do que planejei se concretizou
Nada do que sempre acreditei restou
Certezas nenhuma, só sei que nada sei.

Do que fiz na vida, pouco ou quase nada ficou
Tudo de bom se perdeu, se dispersou.
Tantas coisas relegadas ao sótão da memória 
Invioláveis despojos de uma jornada inglória.

Caixas e mais caixas de guardados 
Já sem serventia, testemunhas de tempos idos.
De momentos inesquecíveis, de entes queridos
Que serão para sempre lembrados.

Eis o mote. O norte a ser seguido.
Honrar o nome, o legado da família. 
Inspirar-se no passado bem vivido
Não deixar o barco à revelia.

Uma parte de mim ainda sofre,
O calvário talvez nunca tenha fim.
Ainda haverá um tempo para mim ? 
De achar a chave do cofre ?

Onde jaz não o que perdi, mas o que achei.
Não o que me fez sofrer, mas o que ganhei.
Não aquilo que quis ser, mas aquilo que sou.
Alguém melhor do que fui, que não desertou.








domingo, 24 de fevereiro de 2019



         o túmulo do amor






Grandes questões, dúvidas e mais dúvidas
nos afligem. 
Dilemas existenciais, uma infinidade de perguntas
sem respostas,
a escancarar nossa imensa ignorância.
Sobre tudo.
Mesmo sobre as coisas mais básicas.

A alegria, a felicidade, do que são feitos ?
Estado de espírito, como se diz ?
Efêmeras, longiperto bailam, zombeteiras. 
Dispersas em momentos prazerosos.
Lapsos de tempo na crueza da vida.
A paz, a consciência tranquila como pré-requisitos ?
Nem tanto, nem tanto. 
Descomplicar quase sempre é suficiente.
Apenas e simplesmente, relaxar.
Amar. 
Namorar. 
Viajar.
Ler.
Pescar.
Eventualmente pecar...
Há quem diga que o melhor da vida
ou é pecado ou faz mal.

Seja como for,
em tudo ou nada, muito ou pouco, 
a escolha é nossa. 
Nem por isso fácil, 
Atrelada ao pandemônio dos sentimentos . 
Incerta, instável, a felicidade vai e volta. 
Às vezes vai e não volta. 
Planta delicada, há que cuidar, regar,  
ainda assim às vezes nem brota.
Morre antes de nascer.
Posto que a alegria está dentro de nós.
Mora no coração.
O endurecido, ressequido coração,
incapaz de perdoar, de se perdoar.
Que quando à alegria e felicidade se fecha,
Num túmulo do amor se transforma.







sábado, 23 de fevereiro de 2019


             

                  prisioneiros






Não cantarei hoje as dores passadas.
Arranquei-as da alma pela raiz.
Despojado de expectativas e julgamentos, 
é como se eu sempre soubesse
da oclusão das graças alcançadas. 
Da renúncia de quando se está descrente de tudo,
emerge a nova realidade.
Imerso no desumano desterro, 
para além do amor tangenciado,
no espinho e na penitência reencontrado.

Do princípio de tudo a alma jamais se aparta. 
Das origens, da família, barro do qual fomos feitos.
Do tempo que neutro fluiu, a noção de ter tido 
uma vida boa.
Quando resumida a ser filho.

Filhos... Anjos roubados do céu, pelos quais, 
querendo ou não, seremos sempre responsáveis.
Pecado maior não há que negligenciá-los.
Sempre à purgar a pena de trazê-los ao mundo. 
Fadados a seguir o mesmo pecaminoso caminho.   
Transmutando-se, investindo contra a sombra,
desaprendido de ser o que era.

Feridos no amor e no labor,  um a um os sonhos 
saem de nós.
Na afeição cega e na desordem dos sentimentos, 
de novo prisioneiros.
Sonhar, ai de mim, a restituição do amor perdido
num mundo novo em que a manhã tarda.

A mesa está posta. Os convivas ausentes. 
Todos se foram.
O filho que não fiz, que rosto teria ?
O filho que não conheço, que rosto tem ?
Ah, quanta culpa à expiar, quanto remorso 
a envenenar a vida.
O dia perdoa, a noite condena.
Fingir que está tudo bem, eis a realidade possível.
Desabando sem gritar, arrastando os despojos
para fora do tempo.
Descobrir-se, enfim, em meio 
a vacuidade de tudo.




   

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019



pare, reflita, pondere

pare
      reflita
               pondere
               
               pondere
       reflita
pare

pare, reflita, pondere.

você pode
você quer
você precisa

por que não faz ?





                                  
                            procura-se





procuro alguém que me faça feliz
que me faça sorrir
que goste de sexo
e demore nas preliminares.

procuro alguém que me inspire
que goste da minha companhia
respeite meus gostos
entenda minhas manias.

procuro alguém que seja companheira
se interesse pelo que faço
que me incentive
e seja paciente com meus defeitos.

procuro alguém que me faça bem
que me faça ser melhor
sem forçar a barra
vendo sempre o lado bom das coisas.

procuro alguém que talvez não exista
que talvez só exista na minha cabeça
alguém que me faça feliz
alguém que eu já tive... 


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

                                                                                       
                                 por conta própria

                    





Não estranhe se ninguém se importa
com aquilo que te importa.
Se ninguém tem as respostas,
sequer te nota.
Acostume-se com o descaso de pessoas.
É assim quando se está por conta própria.
A própria sorte largado, precocemente emancipado.

Trate de ir à luta, desbravar o próprio caminho.
O quanto antes, melhor.
Nada melhor do que não depender de ninguém.
Não ter que dar satisfações, seguir ordens.
Por mais utópico que seja. 
Perceber o quanto antes que ninguém é confiável.
Que amar é bom, mas sem perder a cabeça.
Sem entregar-se a paixões inconsequentes.
Que só problemas e arrependimentos trazem.
                     

Você sabe, nada é para sempre. 
É preciso preparar o espírito para os dias difíceis. 
Para as infalíveis decepções. 
Estar ciente de que do homem pode-se esperar tudo.
De bom e de ruim.
Mais de ruim do que de bom.
Ninguém é santo, a diferença é que alguns 
disfarçam melhor. 
Lobos em pele de cordeiro, sob um manto de integridade 
e um bom discurso,


É sempre um choque descobrir que acima de tudo, 
as questões materiais sempre prevalecem.
Que o seu valor, o seu conceito, estão diretamente relacionado
ao que pode proporcionar.
E que até o amor vira um poço de ressentimentos.
Tenha em mente que bons propósitos nem sempre bastam.
A vida requer uma mão estendida
e a outra de punho cerrado.




              















                 sobre amor e amizade




Quem tem muitos amigos, não tem nenhum. 

          Nenhuma amizade resiste a um pedido 
          de empréstimo. Atendido ou não.

Não há pior inimigo do que uma ex-mulher ressentida.

          A amizade verdadeira só se conhece 
          na dificuldade. Quando sobra alguma.

O amor verdadeiro só se conhece na dificuldade. Quando resiste.

           Amigos, amigos, negócios repartem.


Os amigos verdadeiros são como antigos amores, 
parecem melhores com o tempo.


         O amor só é grande no começo. Depois vira 
         uma luta inglória para salvar as aparências.


Amor e amizade sinceras são como cactos. Belos e únicos, 
apesar dos espinhos. 










segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019







Quer saber quem realmente gosta de você ? Comece a dizer não.




                      
                                                            rédeas curtas



Pensava que não viveria o suficiente para ver meu país sair do marasmo.
Das mãos de políticos corruptos, à mercê de magistrados despreparados e inescrupulosos.
Sob o jugo de gurus de araque, formadores de opinião venais, ídolos de merda. 
Um país condenado a padecer de males crônicos, oriundos de um sistema político corrompido e viciado.
De uma ditadura midiática pautada por veículos de informação 
comprometidos apenas com os próprios interesses.
De empulhações e imposições de toda espécie, desde o achaque fiscal às discrepâncias que agridem e sangram o cidadão de bem,
obrigado a bancar a casta de parasitas que toma conta dos três poderes.
O único país do planeta em que as classes política e de magistrados, que em tese deveriam ser guardiões da moralidade e decência, gozam de benefícios e mordomias moralmente indecorosas e injustificáveis. 
Que, não bastasse legislarem em causa própria, roubam e prevaricam em todos os níveis e setores. 
Desde garfar parte dos proventos de seus inúmeros subordinados, à infindável tunga em forma de comissões, propinas, desvios, fraudes, e tudo que é delito associados a uma classe política que chegou ao auge da podridão sob o regime lulo-petista.
E cujo finado regime ( Deus seja louvado ! ), ainda há quem enalteça e defenda.  

Pensei que não teria o prazer de ver esse cenário mudar, ainda que sob forte resistência por parte da vasta legião de predadores da pátria, e só espero que o governo bolsonarista aguente o tranco, e não se desvie da rota traçada. Pois apoio de seus eleitores não lhe faltará. 
Apoio e participação, como se vê na reação cada vez mais forte que ganha corpo nas redes sociais, contra todos os setores que encarnam o que já foi adequadamente definido como cleptocracia brasileira. Dos remanescentes do famigerado lulo-petismo às ratazanas que se mantém aferradas a seus postos e respectivos privilégios.
Situação que começou a se reverter a partir da renovação de quase 2/3 do Congresso nas últimas eleições, quem diria. E, sobretudo, pela aclamação de um homem que personifica o incontido desejo de mudança acalentado pela parte sadia de nossa sociedade. Felizmente, ainda majoritária. Felizmente, ainda ativa e disposta a dar respaldo a essa tão aguardada guinada.

Fora, Globo-lixo ! Fora banda podre do STF ! Prisão para os gatunos com foro privilegiado ! Renan, Dilma,Temer, o dia de ajuste de contas há de chegar ! E quer saber ? Salve a volta dos militares ! Danem-se as aparências, o politicamente correto. Não ganhamos nada querendo ser o que não somos. Rédeas curtas é o que o país precisa. Leis adequadas. Gente íntegra e bem-intencionada no poder, só para variar. Sem precisar prender e arrebentar, que isso são águas passadas. Usar farda  não é desdouro, muito pelo contrário, além do inegável preparo, os militares são muito mais confiáveis em termos de honestidade. 
Que é justamente o que o país mais precisa.





            


              PEQUENOS E INSIGNIFICANTES



Tão pequenos, insignificantes, num mundo tão grande 
e complexo.
Em que as coisas acontecem à nossa revelia,
orquestradas por mentes insanamente privilegiadas.
Sempre a sensação de antevéspera de algo ruim. 
Sempre uma certa inquietude, a vaga agonia de ver 
o tempo passar e nada se modificar.  
Mudanças acontecem, é claro, mas raramente para melhor. 
Com raras exceções, o pão sempre cai 
com a manteiga para baixo.
Ces't la Vie, diriam os chineses...

Pequenos e insignificantes são os nossos anseios.
Pequenos e insignificantes obreiros da eterna servidão humana,
à cumprir sua sina, ciclicamente, para que uma minoria de
privilegiados se beneficiem.
Nativos e cativos de um país em que tudo é vilipendiado 
                 precocemente conspurcado.
Quando não pela violência física e moral,
por maus hábitos incutidos na população carente de tudo,
               sobretudo, educação.
    
Pequenos e insignificantes no conjunto da obra, 
no contexto marginalizados, 
meras peças de uma engrenagem injusta e corroída,
à mercê de donos do poder inescrupulosos e gananciosos,
capazes de tudo sem qualquer remorso.  
Governantes e políticos desonestos, useiros e vezeiros
em dilapidar os cofres públicos, 
sonegando condições melhores de vida à população, 
               tirando comida da boca dos pobres.

Urge que isso tenha fim. 
Que as leis sejam endurecidas. Para serem temidas. 
Sem os subterfúgios jurídicos que incentivam a criminalidade. 
Esgotou-se o tempo do proselitismo barato do discurso 
pseudo-socialista que arrasou o país.
Ou não ? 
Ou continuaremos sendo pequenos e insignificantes
por opção ?




  

    






domingo, 17 de fevereiro de 2019


                          

                        no que eu acredito 








Eu não acredito no destino, mas acredito no acaso.
Para tudo há explicação, apenas foge a nosso entendimento.

Eu não acredito na justiça, mas acredito nas leis da natureza.
Tudo que vêm do homem é duvidoso.

Eu não acredito na virtude, mas acredito no instinto.
Tudo é circunstancial, a mesma pessoa pode ser boa e má.

Eu não acredito na sorte, mas acredito na força do pensamento.
Desde que se ponha mãos à obra.

Eu não acredito em promessas, mas acredito em boas intenções.
Embora o inferno esteja cheio delas.

Eu não acredito em verdades absolutas, mas acredito em mentiras sinceras. 
Não se vive sem crenças, mesmo enganosas.

Eu não acredito em Deus, mas acredito na fé.
O que vem a dar na mesma.

Eu não acredito no amor, mas acredito na amizade.
Posto que o amor acaba, e a amizade verdadeira não.

Eu não acredito em regeneração, mas acredito em compensação.
Ninguém muda, se regenera, mas o esforço é sempre louvável.

Eu não acredito em reencarnação, mas acredito em abduzão.
Se eu não tivesse visto, não acreditava.

Enfim, no creo en brujas, pero que las hay, las hay





sábado, 16 de fevereiro de 2019




Cresci ouvindo dizer que mulher não gosta de homem que corre atrás, que se humilha, e passei a vida sem me dar conta do mal que me fez represar os sentimentos. A ponto de não conseguir pronunciar as três palavrinhas mágicas : eu te amo. 










   
                   


                           A MENTIRA



                       

O mentiroso pensa que é esperto, mas no fundo não passa de um pobre diabo que vive de enganar os outros. E a si próprio.


A mentira é o salvo-conduto do diabo, e o passaporte para o inferno.


Mentiras piedosas, tudo bem. Mentiras inofensivas, vá lá, ninguém é perfeito. Mas não vá se habituando, pois quanto mais mente, mais vai se enredando. Perdendo a credibilidade. Até o dia em que mesmo falando a verdade, não vão acreditar.


Não tem jeito, todos mentem. A diferença entre o mentiroso eventual e o inveterado é que o primeiro está mais sujeito a se dar mal. Pela falta de prática.


É claro, há mentiras e mentiras. E há as mentiras sinceras, nas quais o próprio mentiroso acredita.



Mentir não pode, é feio. Omitir pode. Mas não é a mesma coisa ?  


Não há nada que o ser humano faça com mais desenvoltura do que mentir. Quem discorda não passa de um grande mentiroso.


O grande segredo de um relacionamento bem sucedido não é a honestidade, o respeito, nem mesmo a fidelidade. É saber mentir, omitir, fingir, matéria-prima da arte da dissimulação. Nenhum relacionamento aguenta doses maciças de sinceridade.


É muito difícil alguém ser bem-sucedido e ao mesmo tempo, confiável. 


A mentira é um tributo que a hipocrisia paga ao mau-caratismo.




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019




                         o pior dos homens





ouvi-a atentamente
dissertar sobre como se sentia
suas razões, suas mágoas
coisas terríveis, terríveis
falava com eloquência
com detalhes constrangedores
sobre um crápula, com toda certeza
além de ladino, mesquinho
a negar-lhe proventos à altura
de sua decepção
de seu sacrífico
sua dedicação
de mulher honesta
dedicada
ao passo que ele...
fingia ir trabalhar
para sair com prostitutas.
ouvia-a estupefato, a narrar
as patifarias
daquele sujeito que tivera como
o amor de sua vida
como pôde enganar-se
daquela maneira ?
como pôde enganá-la de maneira
tão sórdida ?
por tantos anos
sim, por todos aqueles anos
em que pensava ser feliz
jurava que era feliz
e de repente, do nada
sem que tivesse feito nada de errado
viu a verdadeira face daquele homem
um pervertido
sim, um velho pervertido.
como viera à descobrir recentemente.
ouvia-a, estarrecido
compungido
convencido de que ali estava
uma mulher de brio
vítima de um indivíduo inescrupuloso
e frio
digo de asco
como não se solidarizar ?
tão convincente
quase me convenço
de que sou isso mesmo
o pior dos homens
marido relapso, pai ausente
farsante
caloteiro
mentiroso
psicopata
pior que o pior dos bandidos
estuprador
pedófilo
e tudo o mais
que uma ex-mulher ressentida
é capaz de engendrar.



P.S.  Impressões colhidas ao longo de uma audiência de conciliação.


 






















intermitente, a chuva    
                     eloquente, o silêncio
                     único, o amor
                     unívoca, a dor
mágico, o fervor
                     trágica, a fé
                                    excruciante, a vida



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019



                               
                                 
                 VINGANÇA


O maior desaforo que se pode fazer a um desafeto, é ser feliz.

A melhor forma de esquecer um ex-amor é não baixar a cabeça, não se sentir humilhado nem diminuído por ter sido descartado. Tudo tem sua data de validade.

Tenha em mente que se as coisas não são perfeitas, ao menos podem ser mais honestas e  transparentes.

E sobretudo, que é melhor ficar sozinho do que ser usado, viver uma farsa, não ser respeitado.

Por mais doída que seja uma separação, quando o respeito, o afeto e a cumplicidade acabam, qualquer coisa é melhor do que viver de aparências.




  




domingo, 10 de fevereiro de 2019


 





 
 









                     


              NO DIA DE SÃO NUNCA


Há que acreditar
Há que confiar
Há que ter fé
Há que perseverar
Mas como, meu Deus ?
Se nada acontece
Notícias boas não chegam
O dinheiro não entra
É só rasteira e bola nas costas
Puta que o pariu !
Não há cu que aguente
Só mesmo sendo crente
E olhe lá
Porque um dia a ficha cai
Ninguém é otário para sempre

Ó, Pai, se todo conhecimento nos aproxima
da ignorância
de que vale a vida que perdemos com a sabedoria ?
À espera do que nunca chega, sem pensar 
na colheita, apenas semear, semear, 
até que as boas obras enfim prevalecem. 
No dia de São Nunca ?







                    


                            desajustados




Ingrid é o nome dela.
O mesmo nome da minha irmãzinha querida
que Deus levou.
Veio quando eu mais precisava.
Foi e voltou várias vezes.
Sei muito bem o que ela quer de mim.
Sei muito bem o que quero dela.
Mas nunca é suficiente. Para ambos.
Ela sempre querendo mais e mais.
Eu sempre querendo mais e mais.
Muito louca, ela.
Muito doido, eu.
Formamos um belo par de desajustados.
Sem nenhum futuro, é claro.
Ela querendo mais do que eu posso dar.
Eu querendo mais do que ela pode dar.
E assim vamos, aos trancos e barrancos,
cada dia uma incógnita.
Ela com suas intermináveis contas para pagar.
Eu com minha brutal carência para lidar.
Dois casos perdidos, do amor desiludidos,
em busca de alívio.
Como o sopro do vento na relva seca.












 








              

                 lágrimas de crocodilo

              

O povo geme, chora lágrimas de chumbo,
vertidas na falta de tudo :  infraestrutura sucateada, 
segurança, saúde, educação em segundo plano. 
Entram governantes, saem governantes, 
                  e o marasmo continua. 
As carências são muitas, o dinheiro nunca chega.
Some nos ralos da incompetência, da roubalheira endêmica.
Não era este o país do futuro ?
O povo sofre em tragédias que se repetem,
assassinatos, balas perdidas, no flagelo das drogas, 
no terror instalado no formigueiro humano 
                  dos morros e favelas.
Emblemática Cidade Maravilhosa, dizimada por Cabral e sua gangue.
Que apodreçam na cadeia !
Não diziam que Deus é brasileiro ?
Por que então tantas tragédias ? Mata-se aqui mais do que 
em todas as guerras do mundo.
Morre-se de tudo que é jeito, quantas mais
Marianas e Brumadinhos teremos ?
Quantos meninos com seus sonhos incinerados em arapucas
como essa do Ninho do Urubu flamenguista ? 
Não há fé que aguente tanta desgraça. 
Todavia, é preciso seguir em frente como se nada 
tivesse acontecido.
Indignação, indignação, de que adianta ?
Desabafar nas redes sociais, chorar lágrimas de crocodilo,
e estamos conversados. 
Tudo na conta de Deus, nas costas de outrem, 
na omissão e alienação inocentados, 
enquanto a esperança afunda no lixo e na merda.
Deus deserdou a humanidade ou foi pela
humanidade abandonado ? 






sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019


                                 breve enleio







A juventude que me foi tão grata,
de sóis ardentes trespassada,
agora que os lenitivos se tornam necessários,
                           parece-me ainda mais distante e mágica.

Como quem foi alto demais, súbito a queda vertiginosa,
à exigir uma vã nobreza de meu espírito humilhado.
No ocaso dos sentimentos, se aprofunda o fascinante abismo, 
no qual o amor malsão acena, gracioso e sepulcral. 
Na revelação brutal de cada dia, à míngua de qualquer 
outra razão para viver, traço meu caminho
                      para além da esperança e do desespero. 
Agora que a vida perfeita se perdeu, e a vida sonhada 
se gastou, 
contenta-se o perdido coração com qualquer migalha.  
Como a oferenda que mata a fome do esfaimado.
              








  

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



                razões


Há razões para tudo.
Para tudo há razões.
Que não sejam as razões do coração.
Cujas razões a própria razão desconhece.




                         
                consciente e liberto  




Tenho a alma leve e um buraco no peito.
A paz que tanto ansiava me sufoca.
Nada mais me pesa, a não ser o que perdi : tudo.
Nada mais me oprime, além do que sempre me oprimiu.
Sofri, penei, culpas expiei,
eis-me, enfim, consciente e liberto,
para viver a realidade de um abismo infinito.

Não busco para meu coração pousada.
Não tardarei em mergulhar nas trevas frias,
e nem o tanto que amei me salvará.
Perdi minha alma quando te conheci, mulher,
que toda as culpas me imputa.
Que todos os males me atribui.
Se isto te compraz, que assim seja !
Minha'alma perdida há muito tempo está.
Por mim e por ti, se for para te salvar.

    

                
               DIGA-ME, POR CARIDADE
                        
E a pensar que foi tudo em vão,
tudo ilusão, a enganar o tolo coração.
Que aos poucos tudo se desfez
Um castigo pelo mal que se fez.


E a pensar como foi tudo tão lindo,
tão intenso, ao menos no começo.
Tu, feiticeira que me arrebatou do limbo
Que agora já nem sei se conheço.

Tamanha é a decepção, tamanho é o pesar,
por ver tudo desabar, tudo aviltado.
Como se nada tivesse representado.

Diga-me, por caridade, a razão de tamanha mudança.
Terei sido eu o único culpado ?
Não teríamos ambos trapaceado ?


   



terça-feira, 5 de fevereiro de 2019








                           

                        O ELO PERDIDO


Na falta de sentir, as verdades ocultas,
as certezas extintas, enfim afloram.
Nas fúteis libações e ações irresponsáveis, 
o jugo interminável dos sonhos nunca consumados.     
No conformismo e no desencanto, 
o elo perdido do que foi sem nunca ter sido.
Da vida que deveria ter sido.
De menos impostura, mais verdade.
Mais entrega, menos orgulho. 
Mais plenitude, menos platitude.
Menos promessas, mais atitude.  
Para o enfermo amor resgatar.
Ou deixar voar.
Como uma pluma no dorso da mão.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019



          A vida on line revolucionou o planeta

                 
                Mas ainda prefiro a off.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

                     

             amo alguém que não existe



Amo alguém que não existe.
Não do jeito que um dia existiu.
Alguém que se foi tal como surgiu,
deixando um vazio imenso e triste


Amo alguém que não existe.
Alguém que eu não soube amar.
Que se entregou sem exigir nada em troca,
até se cansar de tanto esperar.

Amo alguém que não existe. 
Alguém em quem confiei cegamente. 
Amor que era magia e sedução,
e que hoje é só mágoa e frustração.   


Amo alguém que não existe.
De quem esperava tudo menos traição.
Que entrou na minha vida como uma benção,
e saiu como uma maldição.






sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019




Aviso aos navegantes :
muito cuidado ao cruzar com essa moça.
É ladra




                             
                           De corações.



                               ingênua crença  






Nada nos salva, nada nos redime,
a não ser a crença ingênua de que Deus tudo perdoa
desde que nos arrependamos.

Mas e daquilo que não nos arrependemos ?
das maldades, safadezas, vilanias, traições
                  que vivemos cometendo ? 
deliberadamente.
recorrentemente.
prazerosamente.

Não, nada nos salva,
nada nos redime,
a não ser a crença ingênua 
de que Deus tudo perdoa...



Postagem em destaque

                               de segunda à segunda A vida se mascara e se revela tão perto e tão longe de tudo.   Andamos à esmo como anima...