segunda-feira, 28 de novembro de 2022



                      do que eu não gosto






Não gosto de ser como um peixe cego no jardim do oceano.

Não gosto de macegas que abrigam serpentes

num mundo injusto e cruel. 

Não gosto de me arrepender de meus enganos, e sobretudo,

dos acertos.

Não gosto de acordar sem bemtivis articulando-se no arame

farpado dos dias. 

Não gosto do rumo que minha vida tomou, marchetada

de arrimos e casta masturbação.

Não gosto de promessas impregnadas de doçura e mentira.

Não gosto de flor sem perfume, sexo sem beijo, do que finda

sem ter valido a pena.

Não gosto de ser como sou, emotivo, sentimental, impulsivo,

idiota, tolo,

ingênuo, babaca, carente.

E sobretudo, humano.

Porque ninguém liga.

Ninguém reconhece.

Ninguém entende meu esforço 

para tornar lírica uma existência de merda.






segunda-feira, 21 de novembro de 2022




Às vezes se fingir de burro é a maneira

mais inteligente de manter uma relação.


               Treine a mente para não ser

               refém dos sentimentos.


Nunca deixe que os fatos atrapalhem a verdade.







 

               



sábado, 19 de novembro de 2022




                 drama vulgar





O novos tempos são maleáveis.

Uma vez banalizado o inesperado, apenas especulamos

sobre as demandas suspensas no tempo.

O único diálogo possível é o da presunção.

Gerações se debatem em conflitos de mútuos preconceitos.

Sem nostalgias e mistificações, não há conduta 

apropriada para evitar o contínuo desastre. 

O amor é um mosaico de belezas aviltadas, banhadas 

de estranheza e desencanto. 

Tudo tem tem seu preço.

Ver e não ver é o insumo vital.

Ver e não ver o que agride, o que destrói.

Ver e contemporizar.

Ver e seguir em frente.

Num tempo em que quase tudo 

é drama vulgar.



 

  



                       nada a perder



 

Alguém sensato diria, afaste-se, fuja,

mas eu primo por não ser sensato,

logo, eis-me outra vez de volta a fruições

sem futuro.

 

O ritual que é prêmio e consolação

tem o gosto de angústias

e histórias inacabadas.

Nada tenho a perder

que já não tenha perdido. 



sexta-feira, 18 de novembro de 2022



                              almas carnívoras




 

É fácil amar o belo.

É natural se entregar aos arroubos da paixão.

Tudo é perfeito, enquanto não se vê os defeitos.

Não há encanto que não se desfaz com o tempo.

Não obstante o amor poder transmutar-se em mil formas,

cultivar os hábitos mais persuasivos,

insinuar-se em nossas artérias com sutis ou poderosos

argumentos.

Persuadir-nos com garras de veludo, rebites nos seios,

vagueando entre limo e frestas.

Ei-lo, pois, em sua plenitude. 

Devasso, perverso. Não dispensa tapa na cara,

sonhando o mesmo sonho que habita almas carnívoras.

Beijando outras bocas, desejando

outros corpos.

Do amor exigindo mais do que pode dar.

No flagelo se revelando.

O amor verdadeiro só se conhece quando acaba.








 

sábado, 12 de novembro de 2022



                              há que dar valor



É especial

essa musa improvável e sacana

que pintou na parada,

quando eu já não esperava mais nada,

além da tradicional troca de facadas.


Não faz juras nem promessas, me chama 

de "amor" 

como se fora um ficante qualquer.

Não é decente, sequer honesta.

Mas ao contrário das outras, 

ao menos esta 

eu sei que não presta. 









                                tango ensaiado





Creia, não há nada confiável.

Nada que não possa se corromper.

Não há crença que com o tempo não desmorone.

Menos mal que não há farsa que não venha à tona.

E a tudo sobrevivemos.

Mais fortes, menos crédulos, ou mais ou menos isso.

Sempre é possível tirar algum proveito.

Tornar o enredo suportável.

Como um tango ensaiado.






 



 




                         o disfarce perfeito





A gente pode ser muitas coisas quando quer, 

quando precisa.

Fingir que ama, que gosta, que goza,

quando é conveniente. Por necessidade.


No fundo, ninguém sabe quem é quem.

A convivência é o disfarce perfeito.

Na qual fingimos ser 

o que não somos.


 





Fico pensando no que estarás fazendo, longe de mim.

E é aí que o diabo entra em cena...


 



                   mein kampf


Não fiz tudo o que gostaria de ter feito,

mas fiz com que tudo que vivi

valesse a pena.

Mesmo as coisas tortas.

Mesmo os passos erradios.

Hoje, mein kampf é para que o perdido

não seja uma mortalha.

Livre do jugo de ser feliz.






              felizes para sempre, só em filme





A convivência embute armadilhas, ciladas, desafios.

Exige muito mais que simples compreensão.

Requer tolerância, paciência, e sobretudo, sabedoria 

para lidar com o inevitável desgaste das relações.


Algo que vai muito além dos atributos do próprio amor,

cuja natureza ambígua aponta justamente para o oposto.

Para a posse, o monopólio, a coerção. 

Traição.


As razões do coração não combinam com racionalidade.

Juntos e felizes para sempre é a maior falácia 

que nos incutem.

Coisa de quem não sabe do que o amor é capaz. 

Quando degenera.



 




 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022




O disfarce é perfeito.

Assim nua, recém saída do banho,

nada além da gloriosa visão do corpo prestes

a entregar-se às minhas mais loucas fantasias,

esqueço de onde vens, 

quem realmente tu és.









 

quinta-feira, 10 de novembro de 2022


                           

                             bom de pica



                        


Alguém ainda escreve cartas de amor ?

Há séculos que não escrevo cartas de amor. Não por serem 

ridículas, como dizia o grande poeta, mas, simplesmente,

por não ter encontrado alguém que me inspirasse.

Um amor de verdade.

Ou, talvez, porque já não se ama mais como antigamente.

Vejo coisas do arco da velha. Melhor até ficar quieto, para não 

me chamarem de misógino ou algo pior. O fato é que 

a mulherada está deitando e rolando nas ondas da era digital.

Diria, tirando o atraso por séculos de opressão.

Nada mais as detém. Sabem muito bem o que querem.

Não aceitam mais serem submissas.

Querem sentir prazer. Fazer o que os homens fazem.

E se possível, tê-los a seus pés.

Estão prontas para a guerra. Baton vermelho, roupas exíguas,

pernas e bundas à mostra. 

Preferem o cartão de crédito à cartas de amor.

Quem pode criticá-las ? 

Os tempos são outros, o próprio amor mudou, ridicularizado 

em hábitos e nas letras infames dos funks que as retratam 

como putas. E tudo bem. 

Romantismo, hoje em dia, é ser bom de pica, como diz 

uma doida que conheci.










                         o desejo do novo



                      



A vida latejante da modernidade me assusta, mas não

me desagrada.

As pessoas, de si mesmo desabitadas, ensinam novos roteiros.

A felicidade deixa de ser um imperativo, contento-me

em compartilhar as mentiras que nos ensinam.

Detrás do inútil gesto de amizade e do amor convertido 

em moeda de troca, permanece em mim 

o desejo do novo.

Sem outro compromisso que não seja o de ser melhor

do que fui.

Para que ninguém, nem mesmo um cão,

estranhe o que me tornei.




  




               sobre mentira e falsidade





O homem se acha esperto, 

mas a mulher quando é safada, 

sai de perto. 


                   Tenha isso sempre em mente :

                   quem mente, é capaz de tudo.


O pior mentiroso é aquele

que mente para si mesmo.

Para disfarçar a vida de merda

que leva.


              Desmascarar o mentiroso não tem graça.

              Legal é fingir que acredita e dar o troco

              na hora certa.


Quanto mais ela mente,

mais apaixonado fico.

Quem é o mais doente ?










domingo, 6 de novembro de 2022



                       quem, nunca, não ?





Quem com chifre fere, com chifre será ferido.


Chifre não se perdoa. Devolve-se.


Mulher, quando não presta, põe chifre até no diabo.


De tão ordinária, botava chifre no próprio amante. 


Quem nunca levou um chifre não perde por esperar. Nem ganha.


Chifre virou algo tão natural que há quem faça questão

de postar nas redes sociais. Com direito a humilhação 

pública.


Um dos benefícios de sair com putas é estar livre

de levar chifre. É só não se apaixonar.


A velha discussão : sair com putas 

é traição ou uma forma de compensação ?




 

sábado, 5 de novembro de 2022




Sou um covarde.

Do amor sempre fugi.

Hoje, já velho, corro atrás 

do longevo

amor primevo.







Essa vontade de partir,

sem ter para onde ir,

para onde me levará ? 





                                   sem censura





Rasgou minha blusa

Me deixou quase nua

Me abusou sem censura

Meu Deus, que loucura

Amo quando ele me come

Como se eu fosse uma puta

Como quem me estupra.



 

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