segunda-feira, 28 de novembro de 2022



                      do que eu não gosto






Não gosto de ser um peixe cego no jardim do oceano.

Não gosto de macegas que abrigam serpentes

num mundo injusto e cruel. 

Não gosto de me arrepender de meus acertos, e sobretudo,

dos enganos.

Não gosto de acordar sem enxames articulando-se no arame

farpado dos dias. 

Não gosto do rumo que minha vida tomou, marchetada

de arrimos e de casta masturbação.

Não gosto de promessas impregnadas de doçura e mentiras.

Não gosto de flor sem perfume, sexo sem beijo, do que finda

mas não acaba.

Não gosto de ser como sou, emotivo, sentimental, impulsivo,

idiota, tolo,

ingênuo, babaca, carente.

E sobretudo, humano.

Porque ninguém liga.

Ninguém reconhece.

Ninguém entende meu esforço 

para tornar lírica uma existência de merda.






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