segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023



               a imagem e semelhança





Meu irmão tem a pele das mais diversas raças.

Meu irmão tem história de osmoses incandescentes e ritos

primitivos.

Meu irmão é íntimo de todos os descaminhos, tem o corpo

inocente e lacerado de todas as desditas.

Meu irmão é animal irracional, vítima e algoz da orbe petrificada.

Meu irmão tem o rosto do martírio e da conflagração. 

Meu irmão tem as mãos calejadas e repletas de ternuras 

amanhecidas.

Meu irmão luta e apascenta. Quebra e se refaz.

Meu irmão é fera e poeta. Carrega a agonia de todos os jugos 

e fomes.

É filho e pai. Covarde e herói.

A imagem e semelhança de quem o fez.






 

domingo, 26 de fevereiro de 2023




                     a causa de viver





Amargos dias se despedem dos numes terrestres.

Rarefeitas as lides, estagnados os passares mundanos,

a revoada dos sonhos deixa para trás a crosta pestilenta

das sagas merencórias.

Meu corpo, primeiro e derradeiro abrigo da alma seccionada,

madura em hortas esquecidas.

Entre a doçura das aragens e a azafama das colheitas, aduba 

a consciência sobranceira.

Aqui é além do que meu penhor de incoerências remonta.

Sobrevivo ao pomar destruído 

perdidamente devotado a causa de viver.

Minha terra macia de ternura

ainda anseia por amor.




 

sábado, 25 de fevereiro de 2023




                  minha vida, em cinco atos 




 

 

                     

Até os dez anos de idade, já tinha vivido tanto, usufruído tanto, 

que a vida já teria valido a pena.


Até os vinte, não foi muito diferente, meus anos dourados, mas

as primeiras mancadas resultaram em consequências irreparáveis.


Até os trinta, fiz de tudo e um pouco mais, e paguei o preço.


Até os quarenta, tentei recuperar o terreno perdido, finalmente

criei um pouco de juízo.


Até os sessenta, tudo parecia caminhando relativamente bem, 

mas daí em diante, menino, nem te conto. 

Até livro rendeu.





 


                                        

                    carapaça luminosa




                                                                             

Estou aqui e não estou.

O que fiz da minha vida constela-me de estrelas

e naufrágios.

Meu coração cabotino foi um mau conselheiro.

Vereda aberta em que a frágil beleza do amor se emporcalhou.

Não obstante os infatigáveis sonhos, colheitas e frutos

o austero mundo consumiu, 

concomitantemente aos espaços corrompidos, enfim e no fim, 

de alguma forma redimidos.

Sigo sem saber para quê e para onde vou,

raspando a memória da realidade oca, refugo da minha história.

Desço aos arrabaldes da existência beirando os detritos

que me mantém vivo. 

O amor consignado ao vil preço das barganhas sexuais,

recusa a capitulação nada honrosa. Padeço mas já não sofro.

A luta perdida partilha o pão dos desejos gregários.

Dessa vez sem receios e remorsos vãos.

Estou só. A ninguém devo satisfações.

Apesar da erosão do tempo e da fadiga, a carapaça luminosa

de meu ser

ainda faz a vida valer a pena. 












 



 



                      passantes



Escrevo o que me vem à cabeça.

Daí tanta bobagem

Longe de mim ser original.


                     Não receio te perder.

               Ninguém perde o que não tem.

               

Sem prosperidade a vida emperra.


              Sem Deus, a vida não faz sentido.

              Exista ele ou não.


Ninguém é feliz 

não tendo o que perder.

Eis o paradoxo. 


              A morte é uma libertação.

              No mais das vezes, indesejada.


Todo estrago 

deveria ser compensado

com afago.


             A vida passa

             sem ligar

             para os passantes.


Essas garotas de verão,

exibindo seus corpões,

no inverno

para quem se exibirão ?


             Se você caiu na lábia de algum vigarista,

             não se chateie.

             És apenas mais um para o clube.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023



Encontrei-a, afinal.

Mas reluto em admitir.

"Confessar um amor 

pode significar perdê-lo". ( Cah Morandi) 






                   anacrônico ou cômico ?


Passou um vento rasante,

levantando a saia da mocinha.

Para alegria dos passantes.


                    Tua boca me diz uma coisa.

                     Os olhos dizem outra.

              E o coração, que é bom,

              não diz nada.



Quando penso que tudo o que eu queria

era ter você só para mim,

me dou conta de quanto sou anacrônico. 

            Ou cômico.


             Bandas já não passam.

             Mas bundas é o que não faltam.






 




              amor que vela e abandona



Desolados, nos despedimos.

Eu querendo que ela ficasse.

Ela querendo ficar.

Dentro de nós, o amor que vela e abandona

se faz de desentendido.







Assim são os segredos.

Repletos de medos.


                     Se vivo, ninguém me ouve.

              Se morto, ninguém se importa.

              Vão se ferrar !


Que importa

abrir ou não a porta

se não há ninguém 

para entrar ?








 




 




                    dúvidas



E se tudo for o contrário do que eu penso ?

E se tudo em que acredito é no mínimo discutível ?

Afinal, quando a punhalada vem de quem menos se espera,

como não duvidar de tudo ?

Maculado aquilo que se tinha de mais sagrado,

valerá a pena se arriscar de novo ?






              vilão de mim mesmo



Fiz de mim alguém distante dos grandes planos.

Sem nunca decompor a ilusão das formas.

Não me orgulho do que me tornei.

Vilão de mim mesmo.



 


                        

                    quimeras



Quem sonha não imagina

a vida repuxada de âncoras.

Mãos ferozes girando a manopla dos densos mistérios.

Que movem as dobras do tempo.

Nada se perde ao morrer o plano sem rumo.

Descolado da realidade doentia que sorve as quimeras.

Sem as quais a vida não cheira nem fede. 






                queria dizer que te amo



Queria dizer que te amo.

Não fosse uma expressão tão banalizada.

Que nem se pode mais levar à sério.

Ainda assim, gostaria de dizê-lo. 

Meu coração assim o exige.

Antes que outro o faça.

E eu fique a ver navios.


 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023




         as lembranças que vale a pena lembrar




 

Quem, nato em círculos sulcados de trilhas e ausências,

onde o amargor do perdido se dilui na impermanência,

as sutilezas da intemporalidade não estranha.

Do irredimível êxtase afasta o cálice.

A força invencível expulsa do Paraiso perpassa 

a palavra amorfa,

para que a brevidade das coisas faça sentido.

A procura de consolo na mumificada e intransferível 

bem-aventurança,

refluem dentro de nós os sentidos embotados

pelo tempo.

Querendo fechar o corpo para o desgosto das despedidas,

não como pedra, mas como a concha ou a noz

que guardam dentro de si

a essência da vida.

As lembranças que vale a pena lembrar.







terça-feira, 21 de fevereiro de 2023



                  caixas pandóricas



É preciso não ser feliz para ser sábio.

Se desfazer dos disfarces com que se confunde.

A quem pensa bem, lhe basta seus constos.

O canto simula as secreções que o corpo segrega.

Narciso distraído pelas amarguras da rua, de onde

vem essa incapacidade de ser além do que convém ?

O amor vence mas não compensa.

Interesses dispersos emboscam paradoxos suspeitos.

Deus lhe dê em dobro tudo que elucubra. 

O que não é de ninguém, não se tem. Corações, por exemplo.

Caixas pandóricas simulam heresias.

A cada outro, quem vai embora fica.

O membro viril também fraqueja.

Em tempos incertos, porcos comem pérolas.

E o truão caga ouro.



 


 

 



                     trabuco velho 




 

Esteja onde eu estiver, ainda estou aqui.

Vão-se os inimigos e ficam as caveiras.

Qualquer coisa é melhor do que as amarguras da amnésia.

O que se esconde atrás do que vejo ilumina 

os desgostos passados.

Nada continuará sendo depois de ter sido.

De todos os lugares em que estive, o melhor 

era inabitável.

Um reino em que só se entra via crucis.

A alma gasta pode ser salva ?

Radical ( e às vezes indispensável ) é arrancar as coisas 

pela raiz.

O que a morte perde por esperar, ganha em certeza.

Isso é básico : não acredite em tudo que lhe dizem,

alguns falam a verdade.

Não descreia em Deus só porque suas preces

não são atendidas.

Não se apegue ao extraviado. 

Uns saem, outros ficam, os que não voltam são os melhores.

A parte contrária é sempre arbitrária.

Eu tento, tu tentas, e não dá em nada. Ambos imprestáveis.

O coração em apuros não sai de cima do muro.

Somos todos dúvida, o diálogo é impossível.

Estados estacionários congregam enigmas.

Sofismas não se decifram, senão não seriam sofismas.

Quanto a mim, desfaço o que digo na prática.

Abrace quem não confia mas não dê as costas.

Entre uma pedrada e uma trepada, alguma dúvida ?

Como diria meu pai, trabuco velho também dá tiro.





















 


                           livre-arbítrio






Para toda solução, há um problema.


              Com a tua ausência, aprendi a me amar.

              Despojos de guerra. 


O medo de te perder 

me impedia de ver 

o que ganharia.


          Amor, porque me trais ?

        Eu não traio, meu bem.

        Eu subtraio. 


É possível, mas totalmente improvável.

Eu deixar de ser otário.


           Alguém me explique : o interior é anterior

           ao exterior para o que o posterior prevaleça ?


            O prodigioso saber humano

            só é comparável 

            a sua prodigiosa ignorância.


A mínima disposição

é melhor que nenhuma, certo ?


         O alvitre é livre.

            Já o arbítrio, nem tanto.


Dilema pós-moderno : ser corno com ela

ou infeliz sem ela ?







segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023


                         verdades sem caminho





As coisas se repetem.

A provisoriedade de tudo se renova, negando-se a olhar 

para trás.

Diante de nós, o insubornável mantém a promessa 

ao quebra-la.

Os ritos diários são feitos de coisas inacabadas.

Anônimos esforços tramitam os beirais da submissão.

Nada termina antes de retornar ao começo.

Como pedras que desmoronam sem sair do lugar.

Na impossibilidade de reverter os fatos, o novo tece

sua trama de verdades sem caminhos.

Entre tantas hipóteses, nada é garantido.

Somente a mente e o pensamento perfuram o vazio

imperturbável da vida. 





  







Minha vida, metade sonho, metade escombros,

entre feliz e zombeteira,

de alegrias desenfreadas e agonias enterradas,

chega a seu termo 

fiel a sua tortuosa jornada.

Inútil como um livro não lido. 




domingo, 19 de fevereiro de 2023



                   cansei





Cansei do amor.

E pelo visto, a recíproca é verdadeira.

Não tenho mais os requisitos.

Sequer vontade.

Já foi o tempo.


Via de regra, o amor se extingue amalgamado 

a ilusões e pendengas que pairam como um desastre anunciado.

De tanto ser incensado e idealizado como sendo melhor do que é, os maiores erros e desvarios enseja.

Porque amar implica em contendas, cobranças, 

e mil e outras responsabilidades.

Algo impraticável para um sentir que não respeita protocolos, 

desafia a razão, 

chega sem cerimônia, abusado, intempestivo,

prometendo mundos e fundos,

não obstante ser "mandante de todos os crimes,

assassino de todas as graças". (Moreno Pessoa)


Pois cansei. 

Cansei de passar da euforia à depressão

a qualquer momento. 

De viver entre o prazer e dor, nas mesmas mãos.





 




sábado, 18 de fevereiro de 2023



                        meu canto



Meu canto é meu refúgio.

Apascenta o coração solitário.

Perscruta a débil vontade.


Meu canto é meu brado inútil.

Povoa meu imaginário inconsútil.

Em que me refaço 

recriando o sol de cada dia.


Meu canto é meu oásis inventado.

Espaço despovoado de planos.

Onde novos enganos tecem ternuras

banhadas de luto inocente.






 

                       


                       caminhos sem volta



Porque o que aconteceu jamais poderá ser mudado.

Mas pode acontece de novo.

                                De novo.

                                                De novo.

Às vezes das cinzas, a via cega se repete e se agrava,

sangra e se eleva,

esbate-se incitando raízes e frutos umbrosos.

E uma vez percorrido o caminho sem volta,

implode-se, indecifrável,

em cada coisa que não é.




                                anjos caídos





Onde me encontro, tudo reflui. 

Neste lugar em que tudo é carência, nada me falta. 

Nada que eu não seja merecedor.

O que tive a terra comeu.

Nem raízes ficaram.

A existência cega silencia todos os passos.

A memória lentamente se apaga.

As coisas perdidas já não doem.

Meus desejos são os mesmos dos anjos caídos. 








Eu vou, tu ficas.

Tu ficas, eu vou.

Opostos que se traem.



 


                       

                       o homem violentado



Um homem violentado, ferido até a alma,

é capaz de tudo. Isento de culpa.

Previamente indultado.

O homem violentado carrega sua dor

em legítima defesa.

Incapaz de se condoer,

como um animal que mata

para sobreviver.


 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023




As mudas germinam no lodo eivado de abusos.

Fadados a ser ramos ou estopins.

A flor que medra na aridez ignora o sol.

Flor que a beleza não alcança.



 



Os dias se repetem.

Tudo parece igual.

Ledo engano.

Só são iguais para quem não consegue ver 

além do trivial.

Para quem estacionou na mesmice.

Acampado na miséria.



 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


                           

                           achismo



 




O mundo das coisas vastas prodigaliza o breve clímax.

Explica-se no achismo. Debulha os paradigmas.

Nau no porto, de passagem e a serviço.

Ataraxia é o meu ponto fraco.

Na ponta da língua, o malogro fecunda a matéria dormente.

Persona grata dispensa exéquias.

Tudo se resolve por exclusão.

Um homem sozinho vive de artifícios.

Aqui é onde assaz se desfaz o inaudito, em prol

das lides incontroversas. 

Um jogo de contrários exclui o contraditório.

Amores e ódios andam lado a lado, às vezes se distraem

e trocam de lado.

A lua homizia sarjetas.

Inúteis borboletas adotam ermos jardins.

Vilezas humanizam o mundo das coisas castas.

Nada mais fácil do que descartar alguém.

Por ignorância, discriminação, despeito.

Motivos não faltam.

Sofismas enganam a mente.

A lucidez é quase uma ilação de demência.

Ser normal é uma excrescência.
















 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023



                  sem direito de errar





Não se iluda, o amor é a maior das enganações.

É lindo enquanto dura, mas se desfigura ao longo do tempo.

Inebria e lacera com sua linguagem de cantos

e de guerras.

Para que o escutes, adelga-se em vigílias de angústias 

e volutas de desejos.

Brinca e se fecha como uma flor noturna para acalentar 

o desconhecido.

Joga, se opõe, germina em terra dura, enquanto a vida

escorre pelos cantos e os segundos destilam pressa.

Mora em ti na ilusão de querer sem questionamentos.

Livre, sem precisar de muros, grades, arame farpado,

só deseja mutilar-se.

Seu fruto traz as sementes que sincronizam 

todos os elementos.

Sem distinções, nos faz idênticos.

Eternos aprendizes sem direito de amar.











domingo, 12 de fevereiro de 2023


                                   como dois animais



Nada é como devia ser.

Bravo amor que corrói. 

Sentimentos desiguais, 

que não conseguem conviver em paz.


Às vezes só o amor não basta.

Às vezes ser bom não é suficiente.

Quando o sentir fica em segundo plano.

E as superficialidades se aprofundam, 

em amanheceres repletos de segredos.


Desconfianças afoitas ferem e mutilam.

De tanto ir do céu ao inferno num instante,

exausto de tentar, 

desejaria nunca ter te conhecido.





 




Afago a tua ausência

como quem

suborna a solidão. 


                 A saudade se alastra

                dia adentro.

            Esquivando-se da tristeza.


Saber reerguer-se

e a cada passo, ir além das estradas

de ontem,

e os vazios de hoje.

Para abraçar o novo.


              





sábado, 11 de fevereiro de 2023



                    

                  o que importa é a essência





Não queira ser o que não é.

Não inveje sequer a formosura alheia.

Pois o que importa é a essência.

Nenhuma beleza se sustenta além do tempo.

Mas o que vai por dentro, sim.

Não queira ser como a rosa,

que impera bela e radiosa enquanto no jardim.

Mas quando posta num vaso,

logo murcha e morre.

E como tudo na vida,

é jogada fora.






sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023



                          matar ou morrer



Saiu menino de manhã.

Voltou homem à tarde.

Com amargura viçosa nos olhos.

O rosto acometido de escamas.

Forte de detritos e exímio em bordas de estradas.

De tão cedo que abraçou o mundo,

ninguém o reconhece mais.

De profissão de natureza esguia.

Raskolnikof talhado em sabedoria iletrada.

O pai o quereria morto.

Já a mãe fingia não ver.

O homem baldio.

Que cresceu na condição de matar ou morrer.

Resto anuroso de pessoa.

Cansado de ser ermo.

Sem um verme que o iluminasse.






 










 




                              um corpo cheio de alma






Envelheço.

Fugas, distrações, atos heroicos, onde me encaixo ?

Aos duros contrastes me adapto. 

Acordo para o que finda.

Não busco mais o ilibado.

Me acostumei aos malfeitos.

Os desafios dispenso.

Aprofundo minhas raízes com o simples propósito

de ser mais forte do que a dor 

que me aborda.

De me penitenciar ou rezar o terço prescindo.

Não almejo ser outra coisa que não um corpo

cheio de alma.

Capaz de tudo, inclusive de nada.





 





 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023



                   o estagnar do estafermo






O inexistente aperfeiçoa o nada.

Eludem as coisas que não representam nada.

O lodo das estrelas, sarjetas cobertas de heras,

retratos de formaturas.

O arremedo encarde crepúsculos.

Nada endireita o que nasceu torto.

O livro de São Cipriano ensina como lidar.

Exceto o estagnar do estafermo.

A função da vida é exerce-la.

Pero isso até as pedras fazem.

No lugar do breve há só o espanto.

Brochuras não vingam em arcanos mentais.

Errante e preso, eis o vareio do saber.

Dizer nem uma coisa nem outra.

A fim de dizer todas as coisas ou nenhuma.

Reaprender a errar é um convite a ignorância.

Uma certa luxúria a liberdade convém.

Há que se dar um gosto incasto à vida.

Enquanto o nada acontece.









  



  



                          mágica





O dinheiro faz mágica

até quando acaba.

Faz pessoas desaparecerem.


               Quer saber quem realmente

                lhe quer bem ?

                Comece a dizer não.


Quando alguém lhe virar as costas,

não vá atrás. Agradeça.

Um encosto a menos.


                Às vezes a melhor maneira

                de resolver um problema é ignorá-lo.


Quando o seu melhor 

não bastar,

tente o pior.


            




 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023



Só posso ser melhor do que sou se, 

e tão somente se,

vir outro eu ser para mim

o que para ele serei.


(Paulo Leminski/ Catatau)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

 

em paz comigo mesmo


entardecer em Saint Vicent Beach


O dia em que eu não mais tiver olhos para o belo. Reparar na beleza do mundo.
O dia em que eu não puder fazer o que gosto, o que me dá prazer. Das coisas mais simples as obscenas.
O dia em que eu não puder andar por aí, gastar o tempo à toa, tomar um expresso no meio da manhã ou um chope ao cair da tarde.
O dia em que eu não sentir mais vontade de preparar algum prato especial para alguém especial, ou para mim mesmo. Com direito a um vinho escolhido a dedo.
O dia em que eu não reparar numa bela mulher passando, não arriscar um flerte, não cobiçar seu belo traseiro.
O dia em que eu não sentir mais vontade de vender meu peixe, literalmente falando, não perpetrar essas mal- traçadas que ninguém lê mas que são como o ar que respiro.
O dia em que eu acordar sem atentar para o canto amigo dos pássaros, e não agradecer mentalmente por tudo que tenho e desfruto.
O dia em que eu não for mais capaz de amarrar os cadarços dos sapatos, de limpar a própria bunda.
O dia em que eu olhar no espelho e não me reconhecer.
Bom, aí eu desejarei partir ou já terei ido desta para melhor. Talvez sem querer. Talvez sem saber.
Mas em paz comigo mesmo.



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