domingo, 19 de agosto de 2018



os desmandos de viver



                      


Num dia a gente pensa que é feliz, que está tudo bem
e que há que ser grato por tudo.
No outro, vê que não é nada disso, que é tudo ilusório
e a vida é a merda de sempre.

Num dia a gente se sente animado e esperançoso,
feliz como pinto no lixo, 
com as migalhas que a vida proporciona.
No outro, cai na real e vê que tudo é frágil e precário,
e que o fiel da balança 
tem uma mórbida propensão ao malogro.

Num dia a gente se sente alegre e em paz,
com a alma leve diante do brilho radiante do sol.
No outro, as rotineiras decepções e rasteiras 
botam as coisas em seus devidos lugares.

Num dia a gente se sente forte e abençoado 
por ter pelo que lutar,
um amor verdadeiro, filhos queridos.
O ganha-pão que dá para o gasto.
No outro, o castelo de areia desmorona,
e as armadilhas do cotidiano escancaram 
a face perversa e dolorosa 
das relações dilapidadas pelo tempo.

Num dia a ilusão de que, apesar de tudo,
os sacrifícios, renúncias e provações valeram a pena.
Que o mais importante é estar com a consciência tranquila
por ter feito o que achava justo e correto.
No outro, a amarga constatação de que nada satisfaz
as expectativas e exigências de pessoas
que só te dão valor pelo que pode proporcionar.

Ninguém dá conta dos desmandos de viver.










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