terça-feira, 17 de outubro de 2017


                                             AFINIDADES






- Quanto tempo cara, tudo bem  ? E a família ?
- Tudo certo, graças a Deus. E você, também anda sumido...
-  Pois é, sabe como é a vida , sempre empurrando a gente pra lá e pra cá.
- Mas dando para levar, tá bom, né ?...
- É isso mesmo.
- E então, ainda continua escrevendo ?
- Só alguns pitacos, de vez em quando, para não perder o hábito. Mas profissionalmente, parei.
- Que pena, gostava de ler o que você escrevia. 
- Um dos meus poucos leitores ...(risos)
- Você parou cedo. Quantos anos faz que largou o jornalismo ?
- Mais de 30... E antes que me pergunte, não me arrependo. Se tivesse continuado, estaria hoje aposentado com um salário de fome e dependendo de bicos para sobreviver.
- Afff...
- Volta e meia encontro algum ex-colega, ou fico sabendo de jornalistas de nome na pior, e sinceramente, dou graças a Deus de ter chutado o pau da barraca lá trás.
- Tô sabendo... Te puxaram o tapete, não foi ?
- Pois é... Prova cabal de que há males que vem pra bem.
- Mas era uma coisa que você gostava, né ?
- Gostava e continuo gostando, tanto que voltei a escrever para o jornal quase 20 anos depois, até levar outra rasteira. Mas, enfim, são coisas do passado que prefiro deixar pra lá. 
Meu lance agora é um blog, onde escrevo sobre tudo, sem maiores pretensões.
- Vou ler, vou ler...
- Vou ficar honrado. 
- De futebol também ?
- Olha, quer saber ? É sobre o que menos escrevo. Sinto como se já tivesse esgotado o assunto.
- É aquela mesmice de sempre, né ?
- Exato. O enredo não muda, pode reparar.
- O próprio povão já não está tão ligado em futebol.
- É verdade. Nos últimos anos, a política roubou o cenário. 
- Pena que sem muito proveito, né ? Muita informação para uma população de ignorantes e analfabetos funcionais assimilarem.
- KKKKK...Pode crer.
- No frigir dos ovos, a barriga continua falando mais alto.
- De fato, é incrível como nem com toda essa roubalheira e as evidências da participação do Lula a ficha desse pessoal caiu.
- O pior é que caiu, e preferem continuar acreditando no crápula.
- Pois é, chega a ser desanimador. É como malhar em ferro frio. E não é por falta de informação. Ao contrário, acho que o problema agora é o excesso de informação.  

- Acho que a coisa é mais complexa. Com a internet, hoje em dia todo mundo tem opinião. Todos se sentem em condições de opinar mesmo sobre aquilo que nada entendem. Ou seja, quase tudo, né ? ...(risos) Ou seja, abriram a caixa de Pandora.
- Exatamente. O que a gente vê de abobrinhas no facebook é uma grandeza.
- Nem fale. Tanto é que tem cada vez mais gente deixando de frequentar, excluindo o perfil. Estão sacando que essas discussões não acrescentam nada. O face, em particular, está virando um reduto de publicações mentirosas, baixarias, exatamente como escreveu o Umberto Eco : o paraíso dos idiotas. 
- Também estou reduzindo meus acessos. E evitando aceitar solicitações de amizades de gente que só posta merda.
- É o que mais tem. Por isso nunca passei de um número reduzido de amigos, familiares e um pessoal com quem de alguma forma me identifico. Se bem que nesse meio tempo acabei me deparando com um bocado de malas sem alça, que tratei de bloquear. 
- Se for peneirar, sobra pouca gente... (risos)
- Pois é, sem falar nos que acabam mostrando sua verdadeira índole, principalmente quando se trata de política. De defender ideias liberais e pseudo-vanguardistas, calcadas em velhos clichês típicos da famigerada doutrinação político-ideológica. 
-  É uma gentalha. Discutir com esse pessoal do PT é perda de tempo. 
-  O pior é ver gente que eu conheço de longa data e respeitava pelo currículo, saindo em defesa de um crápula como o Lula e seu partido de ladrões. Por mais que eu tente, não consigo dissociar o antigo amigo do militante abduzido, não me conformo que gente que eu tinha como esclarecida e preparada compactue com essa sujeira toda.
- É, meu chapa, essa raça de petistas e comunistas está infiltrada em toda parte. Até antigos ídolos populares
aderiram ao proselitismo barato do "mais honesto".

- Verdade. Se continuassem sendo de esquerda, tudo bem, mas petistas ? Lulistas ? Que tipo de valores norteia essa gente ? 
- Os valores da sarjeta, ora... (risos)
- Falando em valores de sarjeta, a turminha do politicamente correto também não fica atrás em matéria de hipocrisia e desfaçatez. Fulaninhos que soltam o verbo em prol da obediência cega à Constituição, aos princípios democráticos, ignorando que essa porra foi elaborada, manipulada e deformada pela classe política com o objetivo maior de auto-preservação. Cuja joia da coroa é o foro privilegiado. Um troço tão mal-ajambrado que os próprios urubus da Suprema Corte vivem às turras e dando interpretações diferentes as coisas. É um tal de um acha isso e o outro aquilo, um prende e o outro solta, que o tal STF virou uma casa da mãe joana.  
-  Uma putaria. E não vão sossegar antes de acabar com a Lava-Jato e livrar a cara dos bandidos que estão presos e os ameaçados de ser. E o passo decisivo para isso é a ameaça de rever a decisão inicial a favor da prisão de réus condenados em segundo instância. Se isso cair, todo o trabalho da Lava-Jato vai para o saco.
- Era só o que faltava. Aí, só mesmo apelando para as Forças Armadas.
- E tu acha que eles estão a fim ? Que a sociedade vai aderir, como em 64 ?
- Sei lá. Com certeza, haveria resistência da horda petista, dos sindicatos e movimentos subsidiados pelo partido. Mas dependendo dos termos, acho que a maioria apoiaria. Uma intervenção branca nos três poderes em Brasília, com o fechamento do Congresso e a prisão dos vagabundos protegidos pelo tal foro privilegiado. 
- É, mas a imprensa ia cair matando. Ia ser contra, com certeza. Esquerda e direita estariam irmanados, por pura conveniência e instinto de preservação, pois ambos são dependentes e se beneficiam do sistema, por mais corrupto que seja.
- Pois é, que o digam as publicações e paus mandados que se foderam com o corte das gordas verbas publicitárias governamentais da era petista. Se queimaram, nem emprego conseguem mais.
- Bem feito. Quem manda trair os valores basilares da profissão. Integridade, ética, isenção. Ou será que eu aprendi errado quando escolhi o jornalismo como profissão ?
- Errado nada, imagina. A profissão é que se aviltou, como tantas outras. Bons e maus profissionais sempre existiram, o problema é que a coisa descambou de tal maneira com a mentalidade delituosa entronizada pelo petismo que ficou difícil separar o joio do trigo. 
- Difícil mesmo. Nem a imprensa tradicional escapa, ora puxa para um lado, ora para outro. Tinha deixado de ler a Veja, e agora risquei também a Folha e o Estadão. Mesmo porque a Internet já é um prato cheio.
- Se é... 
- Enfim, amigão, tá russo. 
- Se ! Complicado demais.
- E vai piorar !
- Será ? Você acha mesmo ?
- Claro. Afinal, nada é tão ruim que não possa piorar um pouco mais...
- Kkkkk...
É a lei de Murfhy... 
- Oremos... 

Criar personagens fictícios para expressar ideias e opiniões é um recurso extremo no jornalismo, mais especificamente, no gênero de crônicas, em que há mais liberdade e liberalidade de forma e estilo. O resultado costuma ser interessante, na medida que amplia o campo de raciocínio e percepção para além do formato tradicional. O que espero ter conseguido.

  

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