sexta-feira, 27 de outubro de 2017


                 

                 MEA CULPA É PARA OS FRACOS




Ah, o ser humano...Sempre tão cheio de dedos e pródigo em apontar os defeitos alheios, e tão condescendente consigo próprio. Ainda mais nesses tempos em que tribunais do santo ofício emergem aos borbotões das catacumbas da Internet, para promover verdadeiros linchamentos públicos, eivados de hipocrisia e falso moralismo.
Ora, quem não erra ? Quem não nunca pisou feio na bola, não traiu, prevaricou, não fez besteira, não assediou, ainda que disfarçadamente, e que por sorte ninguém viu. Porque isso faz toda a diferença : não vir à público. O governo petista e seus comensais passaram mais de uma década metendo as mãos no erário público, pintaram e bordaram em todos os sentidos, e enquanto não foram desmascarados, surfavam em índices de popularidade inéditos no país. Até  que a coisa desmoronou, e a máscara caiu, expondo a face hedionda de uma roubalheira que virtualmente quebrou o país.
Obviamente, a exposição pública desse festival de delitos e ilicitudes - que a cada dia tem mais desdobramentos -, tem sido o principal combustível da fúria opinativa e raivosa que se vê nas redes sociais, na esteira da polarização política que se mantém no país não obstante a debacle petista. Uma ira que vai deixando marcas indeléveis na sociedade, na medida em que a tônica do sectarismo e da radicalização se alastram para qualquer assunto que envolva a moralidade e a indignação pública. Ou seja, na mesma toada beligerante das discussões  político-partidárias. 

Não é à toa que volta e meia casos isolados acabem desencadeando as reações mais extremadas, em que alguns pagam o pato ou servem de bode-expiatório para manifestações frequentemente desproporcionais à gravidade dos fatos. Mormente quando dão vazão ao falso moralismo e hipocrisia entranhados na sociedade, e destilados na caixa de Pandora das redes sociais com requintes de crueldade e sadismo. 
Virtuais caças às bruxas e tribunais inquisitórios a cuja sanha qualquer um está sujeito, ser apanhado, pois invariavelmente baseados em aparências, circunstâncias, em detalhes como a cor da pele, orientação sexual, preferências religiosas, político-partidárias, clubísticas e até manifestações de cunho (pseudo) artístico. No fundo, mal-ajambrados pretextos para surtos de preconceitos e xenofobia que recrudescem na contramão de avanços tecnológicos que poderiam alavancar uma era de ouro para a humanidade.

Só que não. Ao invés de agregar, incrementar, promover os laços e valores fraternais, a era cibernética tem servido muito mais para o inverso, ou seja, disseminar desavenças, controvérsias e irrelevâncias.  
A rigor, nada muito distante do cenário que inspirou Fernando Pessoa, há mais de um século, a questionar a falsa moralidade e hipocrisia reinante, com seu célebre Poema em Linha Reta. Pois tal qual o poeta, só conheço príncipes na vida, ninguém que confesse uma infâmia, um enxovalho. 
Positivamente, mea culpa é para os fracos. 




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