quinta-feira, 10 de agosto de 2017


                  AMOR À TODA PROVA

(Para minha irmã, Ingrid Berger)


Há momentos cruciais na vida em que repentinamente, tudo se torna insignificante, secundário, em que até mesmo as coisas triviais deixam de importar. Em que nos sentimos amargurados, impotentes, completamente à mercê da sorte ou seja lá o que norteia nossos passos nessa trôpega existência

É quando nos vemos num leito de hospital, acometidos por uma dessas enfermidades ou acidentes repentinos e inesperados, e tudo passa a girar em função do mais básico e primitivo instinto humano : a luta pela sobrevivência.

É quando nos damos conta da fragilidade de tudo que nos cerca, do tempo que desperdiçamos com problemas superestimados, com coisas e preocupações tolas, bestas, sem sentido. E sobretudo, da burrice de deixar que pequenas mesquinharias, preconceito, orgulho e outras bobagens se sobreponham à razão. Ao bom senso. Ao coração. Aos ditames do coração.

Porque a grande verdade que se revela nos momentos críticos, determinantes, é que, no fim das contas, o que realmente importa e se eleva acima de tudo, é o que emana do coração. É o que o coração inspira e nos diz. E não há nenhum outro lugar em que isso fica mais externado e explícito que um leito de hospital. No quarto de um enfermo. 

Locais onde se trava a luta mais ferrenha e desesperada de todas, despida de qualquer glamour e encantos : a luta pela vida. Mas em que a grandeza do ser humano se manifesta em sua plenitude, em forma de solidariedade, apoio, amparo moral, emocional e físico. Grandeza que transcende o âmbito do próprio amor romântico, pois inspirada em sentimentos cada vez mais raros nos dias de hoje : empatia e compaixão.

Em minha vida, passei por dois momentos delicados em que tive o conforto de pessoas dessa índole, que estiveram a meu lado quando mais precisei, numa meningite bacteriana que peguei aos 35 anos, e mais recentemente, uma cirurgia de quadril que me deixou fora de combate por alguns meses. Minhas duas ex-mulheres, as quais serei sempre grato por isso. Ambas por isso mesmo suspeitas, pode-se dizer, mas nunca será demais reconhecer e ter viva na memória o quanto foi importante e reconfortante tê-las a meu lado. Para me animar, confortar, me medicar, e até dar banho. Enfim, coisas que quem já passou por isso, sabe bem como são importantes.

Mas nada que se compare ao drama que minha irmã Ingrid vem enfrentando desde outubro do ano passado, quando foi diagnosticada com leucemia mieloide. Uma doença devastadora, como todos sabem, cujo tratamento extremamente agressivo, a base de várias sessões de quimioterapia, não só enfraquece a pessoa como destrói a sua auto-estima, pela perda de cabelo, de peso, e sobretudo, do estado de ânimo. Minha irmã perdeu 23 quilos nesse processo até aqui, não tem forças para nada, mas se recusa a desanimar, a perder a fé. 
Em parte, porque sempre foi obstinada e determinada, para o bem ou para o mal. Ao mesmo tempo guerreira e cabeça-dura. Mas principalmente pelo apoio que tem encontrado no filho Vinicius, que não só assumiu a responsabilidade de administrar a casa e cuidar das duas irmãs especiais, como incutir na mãe toda a força e otimismo de que seu amor é capaz. 
Um amor que não poderia estar sendo submetido a uma prova maior de resiliência e devoção, e que com certeza, tem sido o grande alento e motivação dela para não esmorecer em sua luta pela vida. Luta, por sinal e se Deus quiser, prestes a ser vencida. 

P.S. Contrariando as expectativas e ao próprio prognóstico médico, minha irmã acabou falecendo no dia 27/08 deste ano. Luta pela vida perdida, mas vida imortalizada na memória daqueles que dela jamais esquecerão.     

                 



            

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