quinta-feira, 8 de novembro de 2018



da série, minha vida virou uma piada

Passei toda minha vida no convívio familiar, até os 27 anos vivendo com meus pais, depois em dois casamentos desfeitos - o segundo recentemente terminado. Com meus pais e minha irmã mais nova falecidos, dois filhos adultos e meu caçula vivendo com a mãe, eis que pela primeira vez na vida, me vejo só. Velho e absolutamente só. 
A vida é injusta e cruel. Lembrei de um velho amigo, Maneco Pé-Leve, que também se viu assim, sem família, e cujo maior medo, confessou-me certa vez, aos prantos, em meio a uma bebedeira, era ninguém reclamar seu corpo e ser enterrado como indigente. "Promete pra mim, cara, não deixa isso acontecer. Me promete, cara, me promete ...",  repetia, soluçando como uma criança. Prometi, é claro, até mesmo para dar um fim àquele repentino melodrama em pleno bar lotado. 
Pouco tempo depois ele voltou para Itajaí, sua cidade de origem, e nunca mais o vi. Espero que ainda esteja vivo, mas se já tiver partido desta para melhor, que alguma alma caridosa tenha cumprido por mim a tal promessa.
Quanto a mim, pouco se me dá se acabar enterrado como indigente. Morrer não me assusta, e o que vier à acontecer com minha carcaça, pouco importa.  Aliás, simpatizo muito com a iniciativa da minha mãe, que após um final de vida sofrido e difícil para todos, dispensou o próprio velório. ''Não quero ninguém chorando em cima do meu caixão", sentenciou.
Minha velha não era fácil. Oxalá esteja em paz.
      

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