domingo, 22 de novembro de 2020



            a sina dos deserdados



          


E se eu tivesse  nascido aleijado,

deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,

largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,

num buraco qualquer, num gueto, indesejado, 

mal-amado, 

maltratado,

como tantas crianças,

como a maioria das crianças, 

que crescem sob as maiores privações,

sem acesso a nada,

estudo, saúde, 

discriminados,

marginalizados,

sejamos francos,

quem poderia me julgar ?

Quem poderia me condenar 

por não seguir as regras,

aos padrões vigentes,

impostos pela burguesia, pelos poderosos ?

Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,

a vida foi generosa comigo,

o que me obriga a ser minimamente compreensivo

e tolerante

diante da excruciante sina dos deserdados.

Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.

Ninguém é ruim por acaso.

E nem todos são maus por natureza.












  

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