legado
O que fazer diante do irremediável ?
Além de sufocar a revolta, a impotência ?
Buscar forças na duvidosa fé em um improvável Deus ?
Das sinas ninguém se salva.
As leis secretas matam os justos e os perversos.
Da mesma matéria perecível todos somos feitos.
O legado é o que fica.
Às vezes nem isso.
pegadinha
Nada mais enganoso do que achar
que faz parte de alguma coisa.
Ou melhor, faz. Até deixar de fazer.
Pelos motivos mais bestas.
O que se leva anos à fio para conquistar,
num lapso, num vacilo, num pegadinha do destino,
vai tudo por água abaixo.
As conquistas são lentas, batalhadas.
Já a debacle é fulminante. E invariavelmente,
irremediável.
A vida não se resolve sem um empurrão do acaso.
Para cima ou para baixo.
Estamos sempre à mercê de acontecimentos
que não controlamos.
Fraquezas, impulsos, limitações
que põem tudo à perder.
Os impulsos pairam acima da razão.
Mesmo quando nada nos falta.
Dentro de nós, os conflitos que abarcam
os ontens e amanhãs tropeçam no imponderável.
Enlevo e ruína sob o mesmo diapasão.
De repente, a vida vira de ponta cabeça.
Os mesmos desejos que unem, afastam.
tormento sem fim
O tormento nunca têm fim.
Em contendas por perdidas causas,
em meio a conflitos e armistícios,
feitos de preces e sacrifícios,
algo sempre acontece.
Os deuses tem seus favoritos.
Uns poucos privilegiados,
em detrimento da grande maioria
que os cínicos chamam de inocentes uteis.
A forma do tempo é a espiral.
Tudo o que acontece pela primeira vez, retorna.
Vivemos pregustando a morte.
Acaso ou destino, a firme desdita é irrevogável.
Mas é no enfrentamento que a fábula se consuma.
Quando o infortúnio desalenta e abate,
nunca o homem é tão homem.
A vida não é um sonho, mas bem-aventurados
os que sonham.
o quanto sei de mim Faço do meu papel o sonho de um desditado. Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o go...