sexta-feira, 13 de novembro de 2020


                                    a nova realidade



 


Viver não é mais preciso.

Séculos de História reduzido à fábulas.

Basta simular, projetar, fantasiar sob estímulos alheios.

Amamos, copulamos, matamos e morremos

sem sair de casa, 

no âmbito de uma telinha mágica. 

O próximo passo - a inteligência artificial -

recriará o Genesis. 

O homem como deveria ter sido.

Sem a tutela de Deus.

Cuja invenção nunca deu certo.

Nem do homem, nem de Deus.













     









quinta-feira, 12 de novembro de 2020




                                        polifonia





Tanta exuberância, tanta abundância, tanta

diversidade, 

e o planeta não existiria sem o labor

anônimo da minúscula abelha. 


Tanta prosápia, tanta bazófia, tanta jactância,

e o homem não é capaz de conviver

em paz e harmonia.


Tanto querer, tanto empenho, tanta devoção,

e nem assim o amor 

resiste as armadilhas do tempo.


 

terça-feira, 10 de novembro de 2020



                             vida bizarra





Sou apenas um homem só 

"que sonha que alguém o sonha".

Sei que para ti sou apenas um eco,

alguém que deixou de ter qualquer mérito ou

atenuante.

No entanto, folgo em constatar, 

nem todos pensam assim.

Ah, vida bizarra, em que são os estranhos 

que te dão mais valor.

Se essa é a lei da vida, não sei.

Só sei que aos olhos de quem mais amei,

um inimigo me tornei.  







 




 



 




 


 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020



"Por que açoitas essa pobre rameira ?

Vira contra ti próprio essa chibata.

Estás ardendo de desejo de com ela

realizar o ato de que a castigas."


(Shakespeare/ rei Lear/ato IV/cena V) 





domingo, 8 de novembro de 2020

                           

                                           outros olhos





O que vês em mim, que tanto te espanta ?

O que vês agora, que já não vias antes ?

Talvez com outros olhos.


Não, não fui eu que mudei.

Sou o mesmo que conhecestes, de longa data.

Fraco, falho, promíscuo ( como dizes ).

Tu que mudaste.

Tu que abriste os olhos

para o que antes não vias.

Para aquilo que o amor escamoteava,

não te deixava ver.





sábado, 7 de novembro de 2020

 

                             houve um tempo



                                 



Houve um tempo maravilhoso na minha vida,

em que eu tinha tudo, era feliz

mas não dava valor.

Por falta de sabedoria.


Envelheci.

Perdi quase tudo que tinha.

Mas não vou cometer o mesmo erro.

Descobri muitas coisas. 

Redescobri outras tantas.

E sobretudo, saber valoriza-las.

Mesmo as mais simples.

Como uma boa noite de sono.

Acordar sem dor.

Reparar na paisagem, nos detalhes,

nos pequenos prazeres.

Como um prato de feijão bem temperado.

O valor de um abraço.

Deixar a emoção fluir, sem vergonha de demonstrar, 

assumir as culpas,

não querer ser a palmatória do mundo.

Encarar as privações e provações

não como castigo, 

mas como degraus a mais

para o crescimento espiritual.


Perdoar-se,

para poder perdoar.

Porque o perdão faz mais bem 

para quem perdoa

do que para quem é perdoado.




 





 
Ele me pede uma esmola,
sem saber que o mendigo sou eu.




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