sábado, 18 de fevereiro de 2023

                       


                       caminhos sem volta



Porque o que aconteceu jamais poderá ser mudado.

Mas pode acontece de novo.

                                De novo.

                                                De novo.

Às vezes das cinzas, a via cega se repete e se agrava,

sangra e se eleva,

esbate-se incitando raízes e frutos umbrosos.

E uma vez percorrido o caminho sem volta,

implode-se, indecifrável,

em cada coisa que não é.




                                anjos caídos





Onde me encontro, tudo reflui. 

Neste lugar em que tudo é carência, nada me falta. 

Nada que eu não seja merecedor.

O que tive a terra comeu.

Nem raízes ficaram.

A existência cega silencia todos os passos.

A memória lentamente se apaga.

As coisas perdidas já não doem.

Meus desejos são os mesmos dos anjos caídos. 








Eu vou, tu ficas.

Tu ficas, eu vou.

Opostos que se traem.



 


                       

                       o homem violentado



Um homem violentado, ferido até a alma,

é capaz de tudo. Isento de culpa.

Previamente indultado.

O homem violentado carrega sua dor

em legítima defesa.

Incapaz de se condoer,

como um animal que mata

para sobreviver.


 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023




As mudas germinam no lodo eivado de abusos.

Fadados a ser ramos ou estopins.

A flor que medra na aridez ignora o sol.

Flor que a beleza não alcança.



 



Os dias se repetem.

Tudo parece igual.

Ledo engano.

Só são iguais para quem não consegue ver 

além do trivial.

Para quem estacionou na mesmice.

Acampado na miséria.



 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


                           

                           achismo



 




O mundo das coisas vastas prodigaliza o breve clímax.

Explica-se no achismo. Debulha os paradigmas.

Nau no porto, de passagem e a serviço.

Ataraxia é o meu ponto fraco.

Na ponta da língua, o malogro fecunda a matéria dormente.

Persona grata dispensa exéquias.

Tudo se resolve por exclusão.

Um homem sozinho vive de artifícios.

Aqui é onde assaz se desfaz o inaudito, em prol

das lides incontroversas. 

Um jogo de contrários exclui o contraditório.

Amores e ódios andam lado a lado, às vezes se distraem

e trocam de lado.

A lua homizia sarjetas.

Inúteis borboletas adotam ermos jardins.

Vilezas humanizam o mundo das coisas castas.

Nada mais fácil do que descartar alguém.

Por ignorância, discriminação, despeito.

Motivos não faltam.

Sofismas enganam a mente.

A lucidez é quase uma ilação de demência.

Ser normal é uma excrescência.
















 

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