sexta-feira, 1 de maio de 2020
o mal necessário
Dar palavras aos sentimentos, ah,
tarefa ingrata.
O mistério das coisas está
em não se mostrar.
Sentir vale mais do que pensar.
Porque o sentido oculto das coisas
é o que dá sentido ao sentir.
As imperfeições, o pecado,
o mundo doente é o que o
torna atraente.
Ser feliz o tempo inteiro
deve ser bem chato.
A vida só têm valor se sofrida.
Para se dar valor ao que se tem.
Se "todo mal do mundo vem de nos
importamos uns com os outros",
ora,
então
convenhamos,
o mal é um mal necessário.
o fim do mundo
Formigueiros humanos se amontoam nos guetos,
nas periferias das grandes cidades.
Chafurdando no próprio lixo,
comendo restos, coabitando com outros
especialistas na arte de sobreviver,
ratos, baratas,
eventualmente petistos
de uma certa gente.
Há gente demais no planeta.
Não há comida suficiente.
Não há trabalho para todos.
Os recursos naturais se esgotam,
a começar pelo mais precioso : água.
Chegará o tempo em que a auto-exterminação
será inevitável.
De uma forma ou de outra.
Além dos motivos de sempre - fome, massacres,
guerras -,
vírus letais que se propagam silenciosamente.
Qual o pior cenário ?
Levantes generalizados, o postergado holocausto
nuclear, ou pilhas de cadáveres se amontoando nos
necrotérios, nas ruas ?
A vida nunca mais será a mesma de ontem.
O sol continuará brilhando, mas para poucos
eleitos.
O luto, o fumo dos destroços
tudo ofuscará.
O próprio sol se cobrirá de sangue ao entardecer
de cada dia, como que à homenagear
os que se foram.
Não mais guerreiros, mas mercenários.
Não mais heróis, apenas testemunhas
do aniquilamento gradual da esperança,
da fé numa vida melhor.
O mundo soçobra em meio a degradação moral,
a falta de escrúpulos dos governantes,
ao massacre contínuo a quê as pessoas de bem
são submetidas.
O mal triunfou.
O mundo acabou.
Aliás, nem chegou a existir.
quarta-feira, 29 de abril de 2020
desejo sem enleio
Nada de mais grandioso almejo.
Esvaídos os sentimentos, as crenças
pouco a pouco dissipadas.
O coração tresmalhado nos ermos
campos da alma.
Como um transeunte que passa,
com sua inútil bagagem.
A realidade resumida a meras distrações,
campos da alma.
Como um transeunte que passa,
com sua inútil bagagem.
A realidade resumida a meras distrações,
a contemplação pueril da vida,
enquanto o fim se aproxima.
O desejo sem enleio é tudo que anseio.
Desejo de sossego, na ilusão final de que os sonhos desmantelados de alguma coisa sirvam.
enquanto o fim se aproxima.
O desejo sem enleio é tudo que anseio.
Desejo de sossego, na ilusão final de que os sonhos desmantelados de alguma coisa sirvam.
Contemplar-me, como quem esqueceu
de quem fui.
Que a mim mesmo a vida desperdiçada satisfaça.
Nada mais sentir é tudo que almejo.
Nada esperar, nada querer, para não mais sofrer.
Sem nada por fazer, que já não tenha feito.
Apenas decorrer os dias sem louvor.
Poupar o coração do adejar inútil
das coisas desejadas.
Do que foi sonhado e não foi cumprido,
nem pode ser.
A mim e à própria vida mal resolvida.
Não sentir, não ceder aos sentimentos,
como bom servo das leis desiguais,
eis o nada que é tudo.
de quem fui.
Que a mim mesmo a vida desperdiçada satisfaça.
Nada mais sentir é tudo que almejo.
Nada esperar, nada querer, para não mais sofrer.
Sem nada por fazer, que já não tenha feito.
Apenas decorrer os dias sem louvor.
Poupar o coração do adejar inútil
das coisas desejadas.
Do que foi sonhado e não foi cumprido,
nem pode ser.
A mim e à própria vida mal resolvida.
Não sentir, não ceder aos sentimentos,
como bom servo das leis desiguais,
eis o nada que é tudo.
os sete pecados capitais
A vida é repleta de surpresas, como bem sabemos. Menos em relação ao ser humano, cuja previsibilidade congênita não permite que tenhamos maiores ilusões quanto a natureza deletéria de seu comportamento. Que se manifesta a partir do que chamaria de sete pecados capitais :
1. Mau-caratismo (quem é mau-caráter, será sempre mau-caráter).
2. Hipocrisia (a mãe de todos os males).
3. Preconceito ( todos têm, a diferença é que uns disfarçam melhor).
4. Sectarismo político (dispensa comentários).
5. Idolatria cega e burra (idem).
6. Egoísmo ( camuflado ou não ).
7. Ingratidão.
Para piorar, como diz o nosso filósofo Pondé, a verdadeira virtude é silenciosa e não se sustenta num mundo em que os traços acima predominam. Ainda mais nesses tempos em que, como disse outro pensador brilhante, o italiano Umberto Eco, falecido em 2015, a Internet deu voz aos parvos e ignorantes.
Como lidar com esse, digamos, caráter sombrio de nossas almas, é o desafio que se impõe a quem ao menos tenta ser uma pessoa melhor.
segunda-feira, 27 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
carência
Pense num sujeito carente, de autoestima tão baixa
que pensa que só a morte lhe fará justiça. Mas não tem certeza.
Tão carente que quando numa manhã, um bentivi pousou na sua varanda,
ele jura ter ouvido ele cantar : vim ti ver, vim ti ver...
Carente a ponto de passar um tempão fazendo apelos,
e versos e mais versos no afã de sensibilizar a ex-amada,
e tudo o que conseguiu foi uma ameaça de ser denunciado na delegacia das mulheres, por assédio.
Não satisfeito, tentou fazer chantagem emocional
com a sugar baby, e nem ela aguentou.
De tão carente (e retardado?), fez postagens insinuando que estava seriamente doente, que
prestes a se mudar da cidade,
para ver se alguém se manifestava. Está esperando até hoje.
É ou não é o caso de internação ? Ou de puxar o gatinho ?
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