quarta-feira, 29 de abril de 2020





                                              desejo sem enleio








Nada de mais grandioso almejo.  
Esvaídos os sentimentos, as crenças 
pouco a pouco dissipadas.
O coração tresmalhado nos ermos
campos da alma.
Como um transeunte que passa,
com sua inútil bagagem.
A realidade resumida a meras distrações,
a contemplação pueril da vida,
enquanto o fim se aproxima.

O desejo sem enleio é tudo que anseio.
Desejo de sossego, na ilusão final de que os sonhos desmantelados de alguma coisa sirvam.
Contemplar-me, como quem esqueceu
de quem fui.
Que a mim mesmo a vida desperdiçada satisfaça. 

Nada mais sentir é tudo que almejo.
Nada esperar, nada querer, para não mais sofrer.
Sem nada por fazer, que já não tenha feito.
Apenas decorrer os dias sem louvor.
Poupar o coração do adejar inútil
das coisas desejadas.
Do que foi sonhado e não foi cumprido,
nem pode ser.
A mim e à própria vida mal resolvida.
Não sentir, não ceder aos sentimentos,
como bom servo das leis desiguais,
eis o nada que é tudo.




















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