memória
O tempo leva a vida como o vento.
Todas as coisas que já morreram erigem
a vida sucateada.
Salvo a irrevogável memória
dos tempos ditosos.
Que pairam como a última
pièce de résistance.
Gostaria de iniciar 2021 num tom mais animador, mas
não há otimismo que resista a tanta coisa ruim que se
acumula. Desde o recrudescimento da pandemia a essa
discussão esquizofrênica sobre a eficácia das vacinas,
passando pela falta de perspectivas de melhora no ambiente
econômico e político, o fato é que o ano novo começa sob o
signo do desânimo e da desolação.
Que não nos falte forças para seguir em frente, na crença
de que não há bem que sempre dure, nem mal que
nunca acabe.
O horror das guerras,das atrocidades, dos crimes hediondos,
nunca deveriam ser esquecidos.
Seus registros macabros deveriam constar do ensino escolar.
Para que as novas gerações não percam ainda mais
o senso da realidade.
Filmes como "John Rabe" deveriam ser obrigatórios nas aulas de história.
Como exemplos do que há de pior e melhor
na espécie humana.
aceitação
A aceitação das coisas como são.
Parindo amor, mágoa, morte.
Sina de criaturas carcomidas pelo verme da vida.
Feita de máscaras, farsas, trapaças.
Em dias crivados de enganos.
A linguagem das coisas castas
consagradas ao inútil hábito de crer.
Urdindo cada separação e cada véspera.
Em espelhos, ecos, epitáfios que ramificam na grande
e insondável árvore das causas e efeitos.
Nas tramas de vidro e ferro, tudo é cíclico.
Lobos e cordeiros bebem na mesma fonte.
A memória encolhe e se purifica na aceitação
saturada de lembranças.
o quanto sei de mim Faço do meu papel o sonho de um desditado. Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o go...