picadeiro
Representar, improvisar
é só o que nos compete fazer
no picadeiro da vida.
Ora sorrindo, ora sufocando a dor,
sem tempo para lamentar,
sem tempo para chorar.
Que o show têm que continuar.
o amor de Deus é ininteligível
É triste querer fazer e não poder.
Querer dar e não ter.
Sentir e de nada valer.
Não como gostaria.
Urdidura de amor e compaixão.
Dizem que é preciso crer, ter fé.
Mas o amor de Deus é ininteligível.
Dor e padecimento infundidos sob a crença estúpida
de que há razões secretas para tudo.
Ora, quem nos salvará, quando não há
quem nos salve do imponderável ?
O mesmo Deus que salva e mata ?
Bem-aventurados os que vivem sem precisar
de subterfúgios.
Que se curam sem recorrer a paliativos.
Que são mais fortes do que a morte,
porque não a temem.
amor com amor se paga
No roçado da vida, carpia o mundo impregnado de pobreza e miséria.
A boca em ruínas e os olhos cegos de evidências co(r)tejam
o limo e o ermo.
Sisma de andar à beira do desvario, eventualmente enlouquecer,
a força da mudez dos sonhos.
Acalenta o dom de viver sem expectativas,
arrimo de suspiros, arrepios, caminhos de arrebol,
para ao fim e ao cabo,
refestelar-se nos mais simples prazeres.
De pecar não abdica, até por descrença de tudo.
Respeito, só pelo que rasteja, pelo que não carece de disfarce
e partilha a terra (Heráclito).
Tudo o que almeja é voltar às origens.
Como o salmão que nasce programado para viajar
milhares de quilômetros e depois retorna ao mesmo lugar.
Para morrer.
Catécumena criatura, gesta a vida como quem capina
com enxada cega.
Íntimo das coisas desimportantes, das coisas descartadas,
de estrelas que não luzem.
Afeito à grotas, gretas, ruelas, caminha entre púbis e prebendas,
engendrando momentos em que as ausências
desocupam os cômodos.
Mas os desejos não cessam.
Em meio ao rebanho que apascenta o pastor,
encontra-se no amor que com amor se paga.
o quanto sei de mim Faço do meu papel o lenho da minha cruz. Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o gozo...