segunda-feira, 24 de abril de 2023



                        em causa própria






Ralei muito para chegar onde estou,

nos arrabaldes de mim mesmo.

Rodei, rodopiei, cai e levantei

nem sei quantas vezes.

Me jacto em dizer : nada nem ninguém

me derrubou.

Nem as falsetas da vida, nem a bola nas costas

da mulher amada.

Penei, é claro, cheguei às vias do desespero,

mas uma força interior inexplicável sempre

esteve comigo.

Uma força interior semelhante a de Leon Tolstói, 

que fugiu de casa aos 80 anos

para viver com uma rapariga de 22 ( mentira, só estou

legislando em causa própria, como manda 

nossa infame judiciário).










domingo, 23 de abril de 2023


                              a vida é agora 





Por que tanta demora ?

Assim vai perder a hora.

O tempo não espera.

A fruta apodrece,

o rio seca.

O amor murcha. 

Por que tanta demora

para entender 

que a vida é agora ?





                       o homem que não fui



Sou um homem que sonha outro homem.

O homem que não fui.

O homem que queriam que eu fosse

e não consegui.

Sou o homem que sonham por mim. 




sábado, 22 de abril de 2023



            cão sem dono



Um cão magro na rua

passa sem olhar o semáforo.

Talvez já cansado de viver.


Assim como eu, anda 

pra lá e pra cá,

sem que ninguém ligue.


Eu ali, esperando o ônibus 

na fria garoa, me senti como

aquele cão sem dono.





 



                    a mulher que passa





Como Vinicius, eu quero a mulher que passa.


Como todo poeta, faço versos para a mulher

que não é minha.


Como um louco, quero amar todas as mulheres do mundo.


Como um simples mortal, de tanto querer a todas,

acabo sem nenhuma.



sexta-feira, 21 de abril de 2023




                 a luta



A mudez do tempo, monumento de sonhos desfeitos, 

cinzela olvidos e ledos enganos.

Acorrentado à vida, o corpo pastoreia

incontornáveis esperanças e lutas desesperadas.

Entre a luz e a treva, entre a cruz e a espada, 

o acaso algema e liberta, para converter a animalidade

em humanas façanhas.


Fatigante é o exercício de viver.

Oscilando entre ferir ou ser ferido,

quase sempre algoz de si mesmo, o tormento 

não tem fim.

Frente à frente com o carrasco, sem entender

a sentença, sem perceber 

os limites do permitido, o homem

luta para não destruir-se à toa.


 

 











 



                  o amor possível





É possível que tu me ames.

É possível que eu te ame.

Ambos, lutando contra esse querer

que nos prende

na jaula que nos une.


Sim, é possível que nos amemos.

Mesmo sabendo que não há futuro

para esse amor feito de carência e desespero.

Que nos faz tão diferentes e tão iguais.

Sem ninguém senão nós mesmos

para cuidar um do outro.


Não é lindo e sequer tranquilo

esse amor libertino,

mas é o único possível.

A um só tempo acre e doce.

Enfermo e sem rumo.

Que vive de tudo que foi

sem nunca ter sido.









  










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