dor de consciência é para os fracos
As perdas são uma constante na vida.
Ninguém perde (nem ganha) por esperar.
As dores não se mensuram.
Cada qual com seu jeito de lidar.
O tempo traga os afetos entrelaçados e fraternos.
O sangue coagulado de nossa genealogia nos exime de culpas.
Somos geneticamente programados para tudo de bom
ou de ruim.
A vida racha e descamba sem aviso prévio.
Ungidos por um legado mais antigo que o tempo,
migramos entre o céu e o inferno
em busca de minorar o sofrimento.
Poucos conseguem.
Poucos subsistem aos infortúnios sem sofrer sequelas.
Não depende de nós torcer o curso do destino.
Sequer cogitar que tristeza e sofrimento sejam fruto
de mau comportamento.
Não tarda para alguém minimamente inteligente
concluir que, neste mundo,
tudo existe e acontece aleatoriamente.
Prova disto é que por maior que seja a obra
e o humano sacrifício,
a carne morre e a matéria fica.
Dito isto, francamente, nada mais tolo do que sentir-se
desvalorizado ou injustiçado,
por ser, simplesmente bom e honesto.
Pois nada de bom existe que não tenha o seu
lado ruim.
Todos os nossos atos estão sujeitos ao juízo
arbitrário de alguém.
Não se culpe nem se prive de nada em função
de escrúpulos morais, que desvirtuam
o sentido do que é certo e errado.
Não faz sentido dar crédito a tudo
que aos prazeres se oponha.
Dor de consciência é para os fracos e abduzidos
pelo hipocrisia do senso comum.
Todo mal que nos assola provém de conceitos distorcidos
e meias verdades.
A noção do pecado existe basicamente para se opor àquilo
que desejamos.
Ou seja, aos prazeres da vida.
Nem sempre puros, honestos.
Mas, afinal, a vida é suja, e como pregava Santo Agostinho,
"se há alguma coisa que é pior ainda do que o vício,
é o orgulho da (falsa?) virtude".
Os homens inventam leis, modificam à vontade os códigos, como
saber o momento preciso em que nossos atos passam da inocência
ao crime ? (Anibal Machado).