sábado, 12 de junho de 2021



                      provação





Sou um homem só numa tarde vazia.

Evocando, a um só tempo, epopeia e elegia.

Proibido de ver além da gasta memória.

Ferido pelos estilhaços do desejo e do medo.

Sou o que fui de muitas formas e mortes.

Denso rio de ignorância e soberba.

No fundo, vulnerável e frágil como os valentes

que ousam enfrentar a travessia

de mãos vazias.


À falta dela, amo a ausência que a faz

ainda mais bela.

Fiel à insana vocação humana de, em já não a tendo, 

insistir em reaver o que está irremediavelmente perdido. 

Missão na qual sucumbem os mais 

destros e fortes.




 



sexta-feira, 11 de junho de 2021




        lembrança



A primeira vez que a vi,

Ela tombou a cabeça

E jogou os cabelos para o lado.

A última vez que a vi,

Ela tinha um coque

E um novo namorado.


(Rogério Noia da cruz)



 

terça-feira, 8 de junho de 2021




                     outra vibe



O pior da separação 

é quando um dos dois ainda gosta,

ainda alimenta ilusões,

baseado nas boas recordações 

que o coração

preserva.

Enquanto o outro lado virou a página, 

está em outra vibe,

e no máximo só consegue

lembrar com desdém das coisas de outrora,

e ainda mais das fantasias quixotescas

que o antigo amor teima em manter.



domingo, 6 de junho de 2021




                sabedoria




Para tudo que tens opinião,

preste muita atenção, há muito o que considerar.

Não se deixe enganar com adornos,

quinquilharias, contas de vidro, 

tudo aquilo que brilha feito ouro de tolo. 

Preocupe-se antes de mais nada, em desatar os nós, 

desaprender as baboseiras que te ensinaram, 

destruir as paredes que te aprisionam, para, aí sim, 

sob os mais nobres princípios,

ver a realidade despida dos embutes 

que os manuais chamam de sabedoria.


















  

sábado, 5 de junho de 2021


                    o grande gesto



Nós dois, mutantes,

mudamos

para lidar

com as coisas que não podem

ser mudadas.


E assim vamos nós,

pensar a vida,

em sua luta renhida,

ao redor de nossos sonhos gastos,

tomando muito cuidado

para não voltar

a desperdiçá-la. 


E assim vamos nós,

mansos feito cavalinhos de carrossel,

mas não aceitando mais cabrestos,

nem nada que não faça

o coração palpitar.

Ainda que armas sutis nos ameacem,

um mudo entendimento antecederá 

o grande gesto

de ser mais do que fomos.






Impressionante como as pessoas estão perdendo

a capacidade de diferenciar o certo do errado.

O mundo era melhor sem Internet.




 




Não tente entender ou mudar as pessoas.

Apenas aceite. Ou mande-as às favas.



 

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