sábado, 9 de outubro de 2021


                             apartheid





O horror da guerra, quem esteve e sobreviveu, nunca mais esquece.

O horror dos lares maculados pela violência doméstica, 

traições, incestos.

O horror da fome, da miséria que recrudesce, neste Brasil

sem conserto e pelo mundo afora.

O horror do submundo do crime, do flagelo das drogas, de longe, 

a raiz unívoca da degradação humana.

O horror das favelas, palafitas, buracos insalubres 

que o ser humano divide com os bichos.

O horror da desigualdade, do grande e insolúvel apartheid

que condena a humanidade a conflagração.




 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021



                                causa perdida






Não se amofine. Não se desespere.

Desgraça pouca é bobagem.

Um plano logo se sobrepõe a outro plano.

Funde-se o gozo e a dor em erma permanência.

O ardil do árduo labor medra na mesma pedra 

que a tudo transcende.

No existir que não existe, ser vário é imperativo.

Escroto, se for o caso.

Afinal, é o que o pântano da existência requer.

O defunto nem esfriou e já é esquecido.

Vender gato por lebre é a moeda corrente.

Mundo de Satan ou de Dieu, qu`importe ?

O desejo de amar se esgota no súcubo

das relações fluídas.

A nódoa congênita que tudo macula 

nos torna uma causa perdida.








 





O melhor de um cão

é que ele não liga

para o pedigree do dono.



           



terça-feira, 5 de outubro de 2021



   

           quase não sou mais eu




                  

Quase não sou mais eu. A medida que o tempo 

avança feroz sobre mim,

o distanciamento se expande 

como matéria de conhecimento e expiação.

A solidão enlaça-me com a ternura de uma anaconda.

Vivo como um soldado que perdeu a batalha,

preso à memória do homem que fui um dia.

O amor que persiste em mim é a grade

de meu cárcere. 

Fonte de toda angústia e melancolia

que movem os teares de minha entressonhada

mortalha.

É tempo de sacrificar o cordeiro redentor,

fazer por merecer 

o mundo lavado de todas as infâmias.

Arrasto minha cruz comprada no cartão de crédito.









 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021



                      antiuniverso





Dias rotundos retroagem 

à carapaça iracunda que divide a terra 

entre o humano e a besta.

Densas catástrofes anunciadas 

se expandem

nas arcadas vilipendiadas, 

em que a raça espúria se esgueira, 

entre sangue e ossadas.


Promontórios devassados, pontes tombadas, 

soerguem enigmas unidos a dor e ao prazer. 

Nascidos, provisoriamente, em ventres ungidos

na beatitude de sociopatas e genocidas.


O antiuniverso em franca expansão açambarca 

a dor e o prazer.

Novos braços se abraçam. 

Ao pecador previamente perdoado, tudo é permitido.

Queira o Senhor ou não.



  

sexta-feira, 1 de outubro de 2021




               a espera do que não virá



Não virá o dia com que sonhava,

isso eu sei.

Como sei que nada mudará o fato

de que continuarei esperando

pelo dia 

que não virá. 






                           a vida real



nos guetos

nas favelas

nos asilos

é onde se vive

a vida real

sem glamour

adulterada

nauseabunda

em que morrer

é o melhor 

que pode acontecer.






Postagem em destaque

                                       não acredite                         quando digo                        que te amo Não acredite quand...