segunda-feira, 22 de novembro de 2021


                          a confraria dos véios 





Não deveriam beber, fumar, comer petiscos gordurosos,

mas não estão nem aí para os ditames da tal vida saudável.

Se há algo que a confraria dos véios dos botequins, das praças, 

das padarias, 

não abre mãos, é curtir os prazeres que ainda estão ao alcance.

Entre os quais, é claro, a conversa fiada sobre todo

e qualquer assunto. Com direitos aos disparates de praxe.

Você sabe, se não sabe fique sabendo : há véios e véios. 

Os véios das confrarias são diferenciados. São aqueles que

labutaram - alguns ainda labutam -, aprontaram, experimentaram

os altos e baixos da vida, e por fim, se recusam 

a entregar os pontos e resignar-se às agruras da velhice.

Volta e meia um tropeça num palito de fósforo, entorna 

a bebida na roupa, mija nas calças - ah, a maldita 

incontinência urinária que chega sem aviso prévio !

Mas para os véios da confraria, bater ponto no segundo lar

é sagrado. Para tomar uma gelada, beliscar um tira-gosto, 

o pão besuntado de manteiga, o sanduba de mortadela, de pernil. 

Que o diga o seu João, 

o Toninho, o Maneco, o Paulo, o Genaro, o Zé Luiz, e cia, 

habitués da padaria Caiçara, na Ponta da Praia de Santos.


Loquacidade à toda prova, assunto nunca falta para eles. 

Mesmo sendo quase sempre os mesmos. 

De manhã à noitinha, há sempre uma rodinha,

ou um petit comitê encostado no balcão, como se ninguém

tivesse pressa, ter o que fazer. 

E não têm mesmo. 

Ocupar o tempo ou cair nas garras da obsolescência, 

é o ( derradeiro ?) desafio que se impõe.

Ficar em casa é um suplício. Por causa ou por falta da mulher.

Da companheira de décadas que virou uma chata, ou de quem 

se separou, ou bateu as botas...

Sabem-se sobreviventes, os véios das confrarias, 

mas as baixas são inevitáveis. 

Heróis, fracassados, ou meramente cansados, exauridos,

consumidos, 

buscam apenas um bálsamo para suas perdas e dores.

Basicamente, alguém que lhes escute, lhes dê atenção.

Algo gradativamente suprimido do convívio com seus entes queridos. 


(Homenagem a todas confrarias de véios, desta e de outras plagas).



 

   









  



  

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

 



                             estrelas e espinhos


                                 (tela de Salvador Dali)



Nesses dias de carências inúteis e

escassas expectativas,

quase nada precisa ser dito ou feito. 

As ações falam por nós.

Águas quietas e escuras guardam os segredos

que já não importam.

Nada do que aprendemos tem serventia

quando a escuridão cobre os dias.

Apenas a constatação de que nem todo amor 

que ornamentou a vida de estrelas e espinhos, 

vale mais do que o que 

não se pode dar.


 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

sexta-feira, 5 de novembro de 2021




A humanidade vive hoje o seu ápice :

tornou tudo descartável. 







A rotina nos devora.

Só as dores se renovam.

Mudam de patamar com o tempo.

À procura de seus próprios e tortuosos fins.




 



                             distrações





Naquele instante mágico

em que tudo acontece,

iludidos e pretenciosos,

imaginamo-nos,

regentes do que somos.

Esquecidos de que nada somos, 

nada temos,

além de breves distrações 

em meio 

aos intermináveis suplícios da vida. 

Sim, o mundo é cruel, 

especialmente às primeiras horas da manhã,

quando quase todo mundo dorme,

sem imaginar toda a merda que vai acontecer.









terça-feira, 2 de novembro de 2021



Se há um dia em que não me importo

de não ser lembrado por ninguém,

é hoje. Finados.







 

 

 

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