terça-feira, 4 de fevereiro de 2020



                                                     cláusula pétrea







Sossega coração, o amor é isso que se vê.
Um vendaval, um furacão, 
que depois passam, só deixando estragos.
Mas, tudo bem, se queres insistir.
Se gostas de ser enganado.
Depois não reclame.
Nem tente suicidar-se.
Afinal, ninguém te obriga
a tal desvario.
Ignorar que quem ama, à desilusão está fadado.
 
Talvez o amor nem te traia. 
E belo, leal e forte se mostre. 
Às vezes as coisas desandam do nada.
Para macular-se e perder sua 
essência,
é só uma questão de tempo. 
Nos contratos da natureza
humana, a cláusula pétrea exige 
que um dia tudo acabe.




segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020








Quando se ama, não se iluda,
dorme-se como rei,
e acorda-se como mendigo.






por de sol maravilhoso






                                 







                     o canto da sereia







Não, não quero um amor para sempre.
Para sempre é muito tempo.
Cansativo.
Aliás, nem precisa ser amor.
Uma relação prazerosa, com afinidades 
e uma certa química, 
já está de bom tamanho.
Se há algo que o tempo ensina
é que o amor não pode ser um claustro. 
Nada que sufoque ou oprima. 
Ciúmes, apenas na medida certa.

Se as pessoas soubessem o engodo embutido 
no "juntos para sempre", tratariam de se resguardar.
Evitar as manjadas armadilhas da vida à dois.
Ao doce enleio do amor somos atraídos,
como o canto da sereia que ao incauto ilude.
Pois findo o encanto, tudo o que sobra
são os defeitos.








                          honestidade








Apesar dos pesares,
não obstante a subversão de valores,
é preciso continuar acreditando.
É preciso ter fé, mesmo não crendo.
É preciso estender a mão, 
mesmo não confiando.
É preciso ser forte, sabendo-se fraco.
É preciso amar, ainda que ressabiado.
Do contrário, a vida pode se tornar
um inferno maior do que já é.

O mundo não tolera fraqueza, covardia.
Há que ter coragem, 
mesmo acuado,
sentindo medo.
Imenso trabalho nos custa a conduta correta.
Pedra por pedra, degrau a degrau, 
para construir alguma coisa. Ou coisa alguma.
Labutar anos à fio, sem retorno, reconhecimento,
e o sentimento de uma vida roubada,
eis o legado da honestidade. 






  

domingo, 2 de fevereiro de 2020




                                                         selfie da alma








Como bem dizem os poetas e afins,
somos todos atores no teatro da vida.
Protagonistas, mas quase sempre coadjuvantes, 
na farsa que se desenrola à revelia de tudo.
De disfarce em disfarce, fundamental não é ser, é parecer.
Não é ter, é aparentar.
Ninguém é bem sucedido no papel de si mesmo.
A selfie da alma exige espessa maquiagem 
para disfarçar o que somos.
Feios, horrendos por dentro.
Daí o temor de se mostrar, a necessidade de se resguardar.
O desfile das falsas virtudes é o cimento da vida coletiva.
  









sábado, 1 de fevereiro de 2020



                                     impermanência 


     



Ser apenas, entretanto, tu mesmo.
Cada pedaço de ti é um todo 
que se desintegra.
O mundo é um incessante morrer.
A bondade é relativa, as boas ações impermanentes.
A maldade é a única coisa duradoura.
Temos as coisas sem ter.
Ferida a alma, 
às vezes sob disfarces balsâmicos,
a maldade tece sua mortalha sobre tudo.







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