sexta-feira, 3 de abril de 2020


 


                                             

                        A despedida e o Fort Nite



Após quase meio século por aqui, com o que restou da família Berger dispersa e duas separações nas costas, sinto ter chegado a hora de mudar de ares. Voltar às minhas origens, ou sumir no mapa, sei lá.
Faltando pequenos detalhes, e a vida voltar à normalidade, se é que um dia vai voltar depois desse furacão do coronavírus, já começo a olhar as coisas com olhos de despedida, ciente de que jamais esquecerei tudo que vivi nessa cidade. 
Uma infinidade de coisas boas, outras nem tanto, mas com um saldo altamente positivo, principalmente em relação aos bons amigos que fiz, e aos três filhos maravilhosos que tive a sorte de ter. Vão me fazer muita falta, embora deles já esteja bastante distanciado.
Deles, e de tudo o mais que fazia parte da minha vida pregressa. Razão pela qual partirei com o sentimento de missão cumprida, em busca daquilo que já não encontro aqui. De quem precise e goste verdadeiramente de mim. O último elo que aqui me prende - meu filho mais novo - acaba de me dar a carta de alforria, ao reagir com naturalidade à minha decisão. 
"O importante é ser feliz, pai. Se aqui já não está bom pra você, tem mais é que partir para outra," me disse agora há pouco, sem desviar os olhos do vídeo-game. Como se estivesse simplesmente exterminando mais um inimigo no FortNite... 

















                            a semente que não vingou





A ausência consentida não deixa saudades,
às vezes nem rastro.
Sequer os íntimos momentos demoram-se
na memória 
mais do que as mágoas.
Livres de ser o que o extinto amor
nos fez ser,
nos redescobrimos.
Perdidas as crenças todas no que fomos,
íncubos e súcubos das profanas inconfidências
emergem das coisas que já não se resolvem.

Melhor seria calar.
As palavras desmoralizadas já não
surtem efeito.
Na crispação dos sentimentos desfeitos, 
a negação de tudo.
Infindo e sepultado, o amor é uma carcaça
que apodrece.
No calcinado e purgativo lugar
repleto de fúria,
ainda arde a dor 
do que nunca fomos.
A semente que não vingou  
sobrevive à consciência do mal
que nos infligimos.
  













quinta-feira, 2 de abril de 2020







                               a morte






A morte não assusta
quem já está desenganado.
Sem motivos para lutar.
A pandemia ou outra coisa qualquer
temer.
A morte sabe 
e espera.
Só o peru morre na véspera.





terça-feira, 31 de março de 2020












Eu queria me lembrar dela 
desse jeito,
antes que ela se cansasse do jogo,
e nós,
um do outro.







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