sexta-feira, 3 de abril de 2020
a semente que não vingou
A ausência consentida não deixa saudades,
às vezes nem rastro.
Sequer os íntimos momentos demoram-se
na memória
mais do que as mágoas.
Livres de ser o que o extinto amor
nos fez ser,
nos redescobrimos.
Perdidas as crenças todas no que fomos,
íncubos e súcubos das profanas inconfidências
emergem das coisas que já não se resolvem.
Melhor seria calar.
As palavras desmoralizadas já não
surtem efeito.
Na crispação dos sentimentos desfeitos,
a negação de tudo.
Infindo e sepultado, o amor é uma carcaça
que apodrece.
No calcinado e purgativo lugar
repleto de fúria,
ainda arde a dor
do que nunca fomos.
A semente que não vingou
sobrevive à consciência do mal
que nos infligimos.
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