sexta-feira, 3 de abril de 2020



                                             

                        A despedida e o Fort Nite



Após quase meio século por aqui, com o que restou da família Berger dispersa e duas separações nas costas, sinto ter chegado a hora de mudar de ares. Voltar às minhas origens, ou sumir no mapa, sei lá.
Faltando pequenos detalhes, e a vida voltar à normalidade, se é que um dia vai voltar depois desse furacão do coronavírus, já começo a olhar as coisas com olhos de despedida, ciente de que jamais esquecerei tudo que vivi nessa cidade. 
Uma infinidade de coisas boas, outras nem tanto, mas com um saldo altamente positivo, principalmente em relação aos bons amigos que fiz, e aos três filhos maravilhosos que tive a sorte de ter. Vão me fazer muita falta, embora deles já esteja bastante distanciado.
Deles, e de tudo o mais que fazia parte da minha vida pregressa. Razão pela qual partirei com o sentimento de missão cumprida, em busca daquilo que já não encontro aqui. De quem precise e goste verdadeiramente de mim. O último elo que aqui me prende - meu filho mais novo - acaba de me dar a carta de alforria, ao reagir com naturalidade à minha decisão. 
"O importante é ser feliz, pai. Se aqui já não está bom pra você, tem mais é que partir para outra," me disse agora há pouco, sem desviar os olhos do vídeo-game. Como se estivesse simplesmente exterminando mais um inimigo no FortNite... 














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