sexta-feira, 2 de outubro de 2020

 

    

                                                      pegadinha





Nada mais enganoso do que achar

que faz parte de alguma coisa.

Ou melhor, faz. Até deixar de fazer. 

Pelos motivos mais bestas.

O que se leva anos à fio para conquistar,

num lapso, num vacilo, num pegadinha do destino,

vai tudo por água abaixo. 


As conquistas são lentas, batalhadas.

Já a debacle é fulminante. E invariavelmente, 

irremediável.

A vida não se resolve sem um empurrão do acaso.

Para cima ou para baixo.

Estamos sempre à mercê de acontecimentos

que não controlamos. 

Fraquezas, impulsos, limitações 

que põem tudo à perder. 

Os impulsos pairam acima da razão. 

Mesmo quando nada nos falta. 

Dentro de nós, os conflitos que abarcam 

os ontens e amanhãs tropeçam no imponderável. 

Enlevo e ruína sob o mesmo diapasão.

De repente, a vida vira de ponta cabeça. 

Os mesmos desejos que unem, afastam. 



 

  







 






 



quarta-feira, 30 de setembro de 2020



                           tormento sem fim





O tormento nunca têm fim. 

Em contendas por perdidas causas,

em meio a conflitos e armistícios, 

feitos de preces e sacrifícios,

algo sempre acontece. 

Os deuses tem seus favoritos. 

Uns poucos privilegiados, 

em detrimento da grande maioria 

que os cínicos chamam de inocentes uteis.


A forma do tempo é a espiral.

Tudo o que acontece pela primeira vez, retorna.

Vivemos pregustando a morte. 

Acaso ou destino, a firme desdita é irrevogável.

Mas é no enfrentamento que a fábula se consuma.

Quando o infortúnio desalenta e abate, 

nunca o homem é tão homem.

A vida não é um sonho, mas bem-aventurados

os que sonham.







segunda-feira, 28 de setembro de 2020



            como as coisas 

         deveriam ter sido





Os sonhos que sonhei 

presidem a vida que não vivi. 


                          Só perduram no tempo 

               as coisas fora do tempo.


Onde, uma nova consciência, comprar ? 

Que me permita suportar

o peso de tantos equívocos ?


             Penso nas coisas como deveriam ter sido.

             Adão, a tentação resistido.

             Caim, a Abel abraçado.

             Noé, na arca, o homem não ter levado...



              


                                                      invulnerável





Nada mais pode ferir-me.

Nem  o desencanto com os homens,

nem o desamor das mulheres.

Os embustes humanos me fizeram invulnerável. 

Já não temo os ardis, tantos foram os logros.

Tudo o que eu vier a passar, 

não será mais do que já não tenha passado.

Se persisto é porque o instinto e a coragem 

sem enlaçam no incessante vai e vem da vida.

E ao pensar naquilo que nunca saberei, 

dou graças ao Eterno.

Não saber é o que me faz invulnerável.



domingo, 27 de setembro de 2020



                       PARA O QUE DER E VIER





Tenho a maior admiração pelo Fábio Assumpção. Bonitão, um puta ator, uma história de vida de tirar o chapéu.  Viveu o apogeu, curtiu tudo de bom que a fama trás, até cair em desgraça, mergulhou no mundo das drogas, ficou exposto a impiedosa execração pública , os vídeos das bebedeiras e vexames bombaram na internet, enfim, chegou ao fundo do poço, de onde poucos saem. Mas para surpresa geral, o cara saiu, se reabilitou, como fez questão de tornar público, muito justo, dar a volta por cima sempre é bacana de ser mostrado.

O detalhe é que a sua reabilitação ficou longe, muito longe, de repercutir, de viralizar como as cenas em que aparecia literalmente na sarjeta, alvo do deboche e da chacota de galera.

O que confirma o que se sabe desde sempre, que o que mais atrai, seduz o maldito ser humano é a desgraça alheia. Ver os outros fodidos, rastejando, sendo humilhados, se humilhando, para assim poder se consolar, mitigar as próprias mazelas. Pude ver isso agora mesmo, nessa insignificante blog, cujo recorde de visualizações se deu ontem, não por descoberta de méritos, qualidades de meus escritos chinfrins, mas em função de uma antiga e mal-resolvida pendenga amorosa ter se transferido para cá, com direito a desabafos e tudo o mais. 

Um circo, do qual me envergonho profundamente, cujo teor tomei a liberdade de excluir, e pelo qual peço reiteradas desculpas a outra parte envolvida.

De volta à normalidade, saúdo a meia dúzia de fiéis leitores que

estão comigo para o que der é vier.


 

  


  


 

 

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