segunda-feira, 12 de outubro de 2020


                                                                                   enganos



 

Quisera ter olhos para ver 

além da dúvida e do diálogo.

Ver além daquilo que vejo e não vejo.

No ensejo da felicidade que não tive,

e que agora sonho que tive.

Naquilo que flui em curso misterioso.

À guisa de lembranças triviais e sagradas 

que à realidade devastada se sobrepõe.

Minha cegueira é cárcere e nostalgia

que se eludem, na espera inútil

daquilo que não tive, e nem terei.


Ah, os enganos. 

Feitos de ecos, sonhos, coisas secretas

que meus olhos não veem. 

Talvez, por preferir o engano

de me deixar enganar

que quem mais amo,

desse amor não é digno.






domingo, 11 de outubro de 2020




                                           carma


  



  

Sou como uma velha espada,

à espera da derradeira batalha.

Elude-se em mim a promessa de que basta

arrepender-se para ser perdoado.

O que não é garantia de impunidade. 

A prestação de contas

faz o carma que cada um carrega.

Se desta ou de outras vidas, eis o mistério 

que leva os santos à fogueira.






 

 

sábado, 10 de outubro de 2020



                                    FÁBULAS






"E conhecereis a verdade, 

e a verdade vos libertará." (João 8:32)


Resta saber qual verdade.

A de Deus ou a dos homens ?

Ora, da soma de todas as coisas, pouco ou quase nada vislumbramos.

O saber que perscruta o tempo e plasma 

os sonhos, é de metal ou pergaminho.

Tudo que nos é levado a acreditar

não passam de fábulas,

conceitos e fundamentos que fogem

a nossos parcos conhecimentos. 

Que o sol brilha exatamente do mesmo jeito

há quatro bilhões e meio de anos ?

Que Deus criou um universo nem começo nem fim ?

E o mais incrível : que se preocupa comigo ? 

Com cada um de nós ? 


Nunca saberemos qual a verdade,

quem fala a verdade.

Criamos os mitos e os ritos, e os destruímos.

A vil palavra se presta à tudo.

Ao próprio paradoxo de um formidável processo

civilizatório, 

consagrado à mentira, as traições. 

Da cicuta de Sócrates ao beijo de Judas em Cristo,

erigimos e renegamos nossa fé 

antes mesmo de o galo cantar três vezes.

 

Em atos, pensamentos, ninguém foge à dubiedade

do livre-arbítrio,

que nos dá a terrível potestade 

de escolher o mal.

A verdade morreu.

Aliás, nunca existiu.

Tudo se insere nas gongóricas mitologias, 

como o fio que Ariadne 

pôs nas mãos de Teseu, 

para que não se perdesse no labirinto.

Porque tudo se perde. 

Tudo é circunstancial. 

Estamos sempre querendo livrar a cara,

enganar, ludibriar, tirar proveito. 

Na vida envolta em metáforas, em que

sinas e reveses se misturam,

nada nos afeta mais do que a traição

daqueles que mais amamos.

Mas não obstante o horror do ciclo natural 

das coisas,

a rosa em outra rosa se transforma.

Na dor, nos arrependimentos,

no olvido,

o passado é o barro com a qual o presente

moldamos.

Não há razão para que dos erros passados

continuemos escravos. 

Desde que mudado, 

não sendo mais o mesmo que errou.


À luz da pristina ciência, não passamos 

de um amontoado de pó.

Coube-nos, por sorte, o dom do raciocínio.

E viver sob a liberalidade de uma doutrina de perdão 

que  se dispõe a anular o passado.

À invenção de fábulas que conjugam os enigmas

da catarse humana, 

cujas palavras mentirosas e pactos rompidos 

alimentam o ciclo interminável de desatinos  

que nos condena à infâmia.




 


 




  










 

 





                                  O espelho e a vidraça. 
            



                     os laços





Quantas vezes nos perguntamos

Por que as coisas desandam,

Por que a vida deteriora,

Quando tudo que precisamos é ter consciência 

do quão importante são os laços afetivos, amorosos.

Deus tem maneiras estranhas, até cruéis,

de esfregar isso na cara da gente.


  



quinta-feira, 8 de outubro de 2020



                    o maior amor do mundo






Esqueça os estereótipos,

O maior amor do mundo é avassalador,

Mas também definha, transgride.

Posto que em terreno lodoso viceja.

Belo e forte, enquanto bem cuidado.

Degenera, quando descuidado.


O maior amor do mundo é bifronte.

Brilha e apaga num instante.

Entretido com rostos que na verdade

São máscaras. 

Em simulacros de litania e tirania.


O maior amor do mundo vive de esquecer.

Sobrevivendo a todo tipo de desdouro.

Ao que o desgaste do tempo impõe, 

Aparência, decadência.

No pior, o melhor mostrando.

No decurso dos descaminhos, o coração errante 

fala mais alto.

A memória sobranceira a tudo transcende.

E resplandece acima do ardiloso tempo. 


Não percebes o óbvio ululante ?

Que nem injúrias e infâmias injustas 

arrefecem

o maior engodo do mundo ?






 






 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020





O que eu penso ( e escrevo ) não muda nada.

O que eu faço, muda tudo. E é tudo que importa.





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