sábado, 13 de fevereiro de 2021



                            ingênuo enleio





As coisas que passam, não passam,

quando não se bastam.

O pesar do que o coração quis e não teve.

Ingênuo enleio que freme e agoniza.

Tu, que já não estás comigo e sequer conheci o íntimo.

No pensamento, ainda te vejo, nua e bela, nos meus braços.

Dói-me saber que nunca mais a terei.

Lembranças que passam mas não passam,

vergastam o meu viver.




 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

 

                                   despojos






Nada me prende a nada.

No entanto, a tudo me obrigo.

Em solene reverência às graças recebidas.

Ao pão nosso de cada dia.

Ao teto que nunca me faltou.

Aos afetos, e até desafetos, que tanto me ensinaram.

Sou grato mesmo a ti, ó, musa infiel,

dona de meus pensamentos e desencantos.

Meu mundo é feito de lápides.

Tudo o que valeu a pena ficou para trás.

Já não pertenço a este plano sombrio.

O tempo que engendra a vida

é o mesmo que engendra a morte.

Cumpre, apenas, aceitar.

Entretido em recolher os despojos.

Em meio aos quais ainda vicejam 

desejos que desfruto,

à míngua do amor que me foi denegado. 


 



 








quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021



     a miséria de viver




Alegrias e tristezas. Verdades e mentiras.

Certezas e dúvidas. 

Temos ideias e razões, mas nunca

chegamos ao âmago das coisas.

Que tudo na vida

tem um lado bom e outro mau. 

E as leis universais são fruto do mais trágico. 

Nunca conhecemos a vida que a vida oculta. 

Vivemos na deslembrança do que perdemos, 

do pesar de não ser o que poderia ter sido.

O espírito acorrentado a um infinito remorso, adoece. 

A vida adoece.

A miséria de viver é a única certeza que permanece.



 











    



 




 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021




Meu amor é assim, 

alucinado, destrambelhado.

Não tente entender.

Tenho urgência de viver.

Não tenho mais nada a perder.


Há quem diga que o melhor do amor

acaba logo,

tão logo a paixão arrefece, 

mas o improvável também acontece.

Quando a magia prevalece.


Há que acreditar, começando por saber

valorizar.

Se empenhar, não desanimar.

O amor alucinado, destrambelhado,

pode até não vingar,

como o meu não vingou.

Mas nada foi melhor, mais gratificante,

enquanto durou.





 







 


                   a quem interessar possa



Poucos de nós somos capazes de reconhecer

os próprios erros. Assumir culpas e responsabilidades

por atos que não só prejudicam

mas inviabilizam as relações arduamente costuradas

ao longo dessa grande colcha de retalhos

que é a vida.

Poucos são os que conseguem olhar para além

do próprio umbigo, deixar o egoísmo

e as mesquinharias de lado, e sobretudo,

colocar-se no lugar dos outros, para melhor

entendê-las, ampará-las, partilhar de suas dores e

problemas.

Em suma, pouquíssimos de nós correspondem ao

elevado conceito que fazemos

de nós mesmos. Conceitos estes naturalmente

moldados por ideais e premissas deformadas 

pelo próprio meio ambiente em que estamos

inseridos. Ou seja, pelo que nos é incutido

em casa e na rua.

Nesse contexto distópico, o conflito entre o que

temos, o que somos, e poderíamos ter sido,

permanece como uma abstração 

que nos sonega a percepção de que a felicidade

está nas coisas mais simples.

De que estar de bem consigo próprio e com a vida,

é a maior das conquistas.


 (agosto/2016)

domingo, 7 de fevereiro de 2021





De certeza em certeza

vamos perdendo a leveza.

A medida que julgamos e condenamos,

como donos da verdade

que não somos.


 

sábado, 6 de fevereiro de 2021



                       a inconstância despótica da vida


 





Não se iluda, as coisas só pioram com o tempo.

A gente só piora com o tempo.

Difícil dizer se a gente piora porque

as coisas pioram,

ou as coisas pioram porque a gente piora.


O aprendizado é curto e lento.

Logo tropeçamos em outros erros.

Mas ninguém tem culpa de nada.

Somos o que somos.

A vida é o que é. 

O tempo não melhora as coisas.

Lá pelas tantas, tudo desaba.

Podemos apenas contemporizar, retardar.

Toda alegria é transitória. O sofrimento permanece.

A consciência lúcida e serena

das coisas e das dores

é só o que atenua

a inconstância despótica da vida.





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