despojos
Nada me prende a nada.
No entanto, a tudo me obrigo.
Em solene reverência às graças recebidas.
Ao pão nosso de cada dia.
Ao teto que nunca me faltou.
Aos afetos, e até desafetos, que tanto me ensinaram.
Sou grato mesmo a ti, ó, musa infiel,
dona de meus pensamentos e desencantos.
Meu mundo é feito de lápides.
Tudo o que valeu a pena ficou para trás.
Já não pertenço a este plano sombrio.
O tempo que engendra a vida
é o mesmo que engendra a morte.
Cumpre, apenas, aceitar.
Entretido em recolher os despojos.
Em meio aos quais ainda vicejam
desejos que desfruto,
à míngua do amor que me foi denegado.
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