sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

 

                                   despojos






Nada me prende a nada.

No entanto, a tudo me obrigo.

Em solene reverência às graças recebidas.

Ao pão nosso de cada dia.

Ao teto que nunca me faltou.

Aos afetos, e até desafetos, que tanto me ensinaram.

Sou grato mesmo a ti, ó, musa infiel,

dona de meus pensamentos e desencantos.

Meu mundo é feito de lápides.

Tudo o que valeu a pena ficou para trás.

Já não pertenço a este plano sombrio.

O tempo que engendra a vida

é o mesmo que engendra a morte.

Cumpre, apenas, aceitar.

Entretido em recolher os despojos.

Em meio aos quais ainda vicejam 

desejos que desfruto,

à míngua do amor que me foi denegado. 


 



 








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