terça-feira, 12 de julho de 2022


Coisas que levarei comigo






O aroma de café perfumando as manhãs de outrora.

Os raios riscando o breu de incontáveis noites.

As trovoadas retumbantes precedendo tantos temporais.

Os recitais de sapos e grilos nos brejos da infância.

O abraço calorosa da grossmutter inolvidável.

As águas turbulentas do Jacuí, a barragem do Fandango

da minha terra natal, Cachoeira do Sul.

A intimidadora (para os adversários) avalanche tricolor,

do sempiterno Olímpico.

As musas, as musas, que fizeram minha vida mais plena.

Meu pai, não por ser meu pai, a criatura mais doce que conheci.

Minha mãe, dona Dalila, santa e megera.

Minha irmã caçula Ingrid, cujo amor imensurável pelos filhos

só não a salvou da leucemia.

Os poucos amigos para todo o sempre, minha sempre presente 

irmã Ivania.

Os momentos felizes (que foram muitos) dos meus dois casamentos.

Curitiba, que nunca foi fria comigo, muito ao contrário. 

Santos, minha terra de adoção, onde vi crescer meus filhos, 

onde fui amado e odiado, e bem ou mal ganhei a vida.

As peladas épicas dos sábados à tarde do Clube da Ponta.

O inigualável e sempre diferente por do sol da orla santista

O gosto por estas mal traçadas que deram sentido a minha vida.

As férias de verão da juventude, no paraíso terrestre do Agudo.

As vezes em que literalmente nasci de novo. Salvo (só pode)

por meu incansável Anjo da Guarda. 

A inigualável sensação de dever cumprido. 










 


















 



             cada indivíduo é um mundo



 


Vários mundos entretecem o mundo.

Feitos de muros e monturos.

Rodeados por coisas obscuras.

Cada indivíduo é um mundo.

Inóspito, sombrio.

Em vidas que se encontram e se dispersam,

por caminhos sem rota, sem volta.

Mundos extraviados em corpos perecíveis, como 

no Paradiso maravilhoso 

e terrível de José Lezama Lima.


Meu mundo é de contrição e usura.

O gozo fugaz me remete ao estigma de estar só.

Meu mundo lavado anseia por novas realidades,

em que um novo olhar se faz necessário.

Para viver o que nunca chegou a ser, a mentira do amor. 

Só não me chame de bebê...





 




                         o desfecho de sempre





Mais um ex-amor à derribar.

Mais uma decepção à lamentar.

Culpa de quem, pouco importa,

diante do desfecho de sempre.

Ambos cheios de razões e de dedos.

Ambos errados.


segunda-feira, 11 de julho de 2022


                                      tudo e nada






A vida dá e tira. 

O costume inútil de querer ser feliz

se resume ao gozo momentâneo.

O tempo paciente lima os dias de antanho.

Sigamos, pois, insones e sonhando.

Sendo nada para ser tudo.

O espírito sincopado em conformidade com os ritos.

O rude ofício arquitetando caos e paz.

Nascidos provisoriamente entre belezas crismadas

e esqueletos, cumpre-se o pacto redentor.

A morte do homem para glória de Deus.




 

domingo, 10 de julho de 2022




                       causa perdida





Tudo muda a todo instante.

Todos mudam conforme as circunstâncias.

O bom em ruim se transforma.

Já o contrário, espere sentado.


Rostos se transfiguram.

Gostos se alteram.

Permanecer é uma proeza.

Todos exigem, poucos entregam.

O simples querer é uma causa perdida.







 



             ser ou não ser





Pode um ser

               ser ou não ser

literal ou teatral

               ser, afinal, etc e tal

tal e qual

               mero animal

que sói, ser, entretanto,

               sentimental ?



sábado, 9 de julho de 2022



                    

               não há milagre maior

               do que acordar 

               para um novo dia






Nada mais inútil que o hímen.

No silêncio cabem muitos silêncios.

Nada mais difícil do que a virtude mental.

É trilhando abismos que se perde o medo da queda.

À promoção do prazer é o bem ao qual nos consagramos. 

Ou seria o inverso ?

A essência de uma mulher não é o que ela mostra, mas

o que esconde.

Cultivemos a afetividade, para aceitarmos as incoerências.

Anjo negro de jaspe, céu incrustado de azul turquesa,

corpos incandescentes em rotas de colizão. 

Complexidades involuntárias repletas de plenitude.

Punhos fechados medram resistências ferozes.

Acordes incoerentes põe nossa fé à prova.

Peles e escamas são as verdadeiras armaduras. 

Egrégias etimologias talham o inconcluso alfabeto do entendimento.

Isto não é poesia, e sim um canto que transborda de ser apto.

Diz o bufão que odeia imposturas, affff...

Felizes os que se deleitam em sacrificar a premência. 

Nenhum anseio transmuta verdes em flores brancas.

Fascinados pelas coisas fúteis, com entradas mas sem saídas.

Persuadidos pela seletividade elástica. 

Monogâmicos de gostos eletivos.

A parva humanidade, profanadora de covas medievais.

O que há por detrás da transcendência ? 

Anacoretas não moram em palácios. 

Sede fiel a si mesmo, "fazei todas as coisas sem murmuração e contendas".

A palavra reconfortante descansa tranquila como 

um lagarto no sombreado. 

A inocência da virtude é a moldura da solicitude.

Pássaros esquadrinham os céus,

tartarugas singram os mares,

abetos se erguem em procissão : tudo em perfeita harmonia.

Já o amor cega.

O juízo impessoal não faz distinção de benefícios.

A impostura é um cavalo de Tróia.

O sentimento mais profundo se mostra no silêncio.

O infortúnio encoraja outras formas de ser.

Não há desonra no ato de capitular. Desonra é desistir

sem lutar.

Não há milagre maior do que acordar para um novo dia.



















 



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