sábado, 23 de julho de 2022




                 SEM FUTURO





Esse confuso querer,

ora querendo, ora não querendo,

dúvidas consumindo a mente,

matando um pouco mais o que a gente sente

sempre que você mente. 


Você me chama de ignorante,

ignora o quanto sou paciente,

abusa por eu ser tão carente,

qual o futuro desse amor subserviente ?





                     rei morto





Tantos rostos, tantos desgostos

Tantas coisas tortas

Tantas horas mortas

Sem respostas

O amor te voltado as costas

A vida sempre fechando portas

Tipo assim, brincadeira de mau gosto

Rei posto é rei morto.









 

terça-feira, 12 de julho de 2022


Coisas que levarei comigo






O aroma de café perfumando as manhãs de outrora.

Os raios riscando o breu de incontáveis noites.

As trovoadas retumbantes precedendo tantos temporais.

Os recitais de sapos e grilos nos brejos da infância.

O abraço calorosa da grossmutter inolvidável.

As águas turbulentas do Jacuí, a barragem do Fandango

da minha terra natal, Cachoeira do Sul.

A intimidadora (para os adversários) avalanche tricolor,

do sempiterno Olímpico.

As musas, as musas, que fizeram minha vida mais plena.

Meu pai, não por ser meu pai, a criatura mais doce que conheci.

Minha mãe, dona Dalila, santa e megera.

Minha irmã caçula Ingrid, cujo amor imensurável pelos filhos

só não a salvou da leucemia.

Os poucos amigos para todo o sempre, minha sempre presente 

irmã Ivania.

Os momentos felizes (que foram muitos) dos meus dois casamentos.

Curitiba, que nunca foi fria comigo, muito ao contrário. 

Santos, minha terra de adoção, onde vi crescer meus filhos, 

onde fui amado e odiado, e bem ou mal ganhei a vida.

As peladas épicas dos sábados à tarde do Clube da Ponta.

O inigualável e sempre diferente por do sol da orla santista

O gosto por estas mal traçadas que deram sentido a minha vida.

As férias de verão da juventude, no paraíso terrestre do Agudo.

As vezes em que literalmente nasci de novo. Salvo (só pode)

por meu incansável Anjo da Guarda. 

A inigualável sensação de dever cumprido. 










 


















 



             cada indivíduo é um mundo



 


Vários mundos entretecem o mundo.

Feitos de muros e monturos.

Rodeados por coisas obscuras.

Cada indivíduo é um mundo.

Inóspito, sombrio.

Em vidas que se encontram e se dispersam,

por caminhos sem rota, sem volta.

Mundos extraviados em corpos perecíveis, como 

no Paradiso maravilhoso 

e terrível de José Lezama Lima.


Meu mundo é de contrição e usura.

O gozo fugaz me remete ao estigma de estar só.

Meu mundo lavado anseia por novas realidades,

em que um novo olhar se faz necessário.

Para viver o que nunca chegou a ser, a mentira do amor. 

Só não me chame de bebê...





 




                         o desfecho de sempre





Mais um ex-amor à derribar.

Mais uma decepção à lamentar.

Culpa de quem, pouco importa,

diante do desfecho de sempre.

Ambos cheios de razões e de dedos.

Ambos errados.


segunda-feira, 11 de julho de 2022


                                      tudo e nada






A vida dá e tira. 

O costume inútil de querer ser feliz

se resume ao gozo momentâneo.

O tempo paciente lima os dias de antanho.

Sigamos, pois, insones e sonhando.

Sendo nada para ser tudo.

O espírito sincopado em conformidade com os ritos.

O rude ofício arquitetando caos e paz.

Nascidos provisoriamente entre belezas crismadas

e esqueletos, cumpre-se o pacto redentor.

A morte do homem para glória de Deus.




 

domingo, 10 de julho de 2022




                       causa perdida





Tudo muda a todo instante.

Todos mudam conforme as circunstâncias.

O bom em ruim se transforma.

Já o contrário, espere sentado.


Rostos se transfiguram.

Gostos se alteram.

Permanecer é uma proeza.

Todos exigem, poucos entregam.

O simples querer é uma causa perdida.







 

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