terça-feira, 14 de fevereiro de 2023



                  sem direito de errar





Não se iluda, o amor é a maior das enganações.

É lindo enquanto dura, mas se desfigura ao longo do tempo.

Inebria e lacera com sua linguagem de cantos

e de guerras.

Para que o escutes, adelga-se em vigílias de angústias 

e volutas de desejos.

Brinca e se fecha como uma flor noturna para acalentar 

o desconhecido.

Joga, se opõe, germina em terra dura, enquanto a vida

escorre pelos cantos e os segundos destilam pressa.

Mora em ti na ilusão de querer sem questionamentos.

Livre, sem precisar de muros, grades, arame farpado,

só deseja mutilar-se.

Seu fruto traz as sementes que sincronizam 

todos os elementos.

Sem distinções, nos faz idênticos.

Eternos aprendizes sem direito de amar.











domingo, 12 de fevereiro de 2023


                                   como dois animais



Nada é como devia ser.

Bravo amor que corrói. 

Sentimentos desiguais, 

que não conseguem conviver em paz.


Às vezes só o amor não basta.

Às vezes ser bom não é suficiente.

Quando o sentir fica em segundo plano.

E as superficialidades se aprofundam, 

em amanheceres repletos de segredos.


Desconfianças afoitas ferem e mutilam.

De tanto ir do céu ao inferno num instante,

exausto de tentar, 

desejaria nunca ter te conhecido.





 




Afago a tua ausência

como quem

suborna a solidão. 


                 A saudade se alastra

                dia adentro.

            Esquivando-se da tristeza.


Saber reerguer-se

e a cada passo, ir além das estradas

de ontem,

e os vazios de hoje.

Para abraçar o novo.


              





sábado, 11 de fevereiro de 2023



                    

                  o que importa é a essência





Não queira ser o que não é.

Não inveje sequer a formosura alheia.

Pois o que importa é a essência.

Nenhuma beleza se sustenta além do tempo.

Mas o que vai por dentro, sim.

Não queira ser como a rosa,

que impera bela e radiosa enquanto no jardim.

Mas quando posta num vaso,

logo murcha e morre.

E como tudo na vida,

é jogada fora.






sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023



                          matar ou morrer



Saiu menino de manhã.

Voltou homem à tarde.

Com amargura viçosa nos olhos.

O rosto acometido de escamas.

Forte de detritos e exímio em bordas de estradas.

De tão cedo que abraçou o mundo,

ninguém o reconhece mais.

De profissão de natureza esguia.

Raskolnikof talhado em sabedoria iletrada.

O pai o quereria morto.

Já a mãe fingia não ver.

O homem baldio.

Que cresceu na condição de matar ou morrer.

Resto anuroso de pessoa.

Cansado de ser ermo.

Sem um verme que o iluminasse.






 










 




                              um corpo cheio de alma






Envelheço.

Fugas, distrações, atos heroicos, onde me encaixo ?

Aos duros contrastes me adapto. 

Acordo para o que finda.

Não busco mais o ilibado.

Me acostumei aos malfeitos.

Os desafios dispenso.

Aprofundo minhas raízes com o simples propósito

de ser mais forte do que a dor 

que me aborda.

De me penitenciar ou rezar o terço prescindo.

Não almejo ser outra coisa que não um corpo

cheio de alma.

Capaz de tudo, inclusive de nada.





 





 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023



                   o estagnar do estafermo






O inexistente aperfeiçoa o nada.

Eludem as coisas que não representam nada.

O lodo das estrelas, sarjetas cobertas de heras,

retratos de formaturas.

O arremedo encarde crepúsculos.

Nada endireita o que nasceu torto.

O livro de São Cipriano ensina como lidar.

Exceto o estagnar do estafermo.

A função da vida é exerce-la.

Pero isso até as pedras fazem.

No lugar do breve há só o espanto.

Brochuras não vingam em arcanos mentais.

Errante e preso, eis o vareio do saber.

Dizer nem uma coisa nem outra.

A fim de dizer todas as coisas ou nenhuma.

Reaprender a errar é um convite a ignorância.

Uma certa luxúria a liberdade convém.

Há que se dar um gosto incasto à vida.

Enquanto o nada acontece.









  



  

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