segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023


                         verdades sem caminho





As coisas se repetem.

A provisoriedade de tudo se renova, negando-se a olhar 

para trás.

Diante de nós, o insubornável mantém a promessa 

ao quebra-la.

Os ritos diários são feitos de coisas inacabadas.

Anônimos esforços tramitam os beirais da submissão.

Nada termina antes de retornar ao começo.

Como pedras que desmoronam sem sair do lugar.

Na impossibilidade de reverter os fatos, o novo tece

sua trama de verdades sem caminhos.

Entre tantas hipóteses, nada é garantido.

Somente a mente e o pensamento perfuram o vazio

imperturbável da vida. 





  







Minha vida, metade sonho, metade escombros,

entre feliz e zombeteira,

de alegrias desenfreadas e agonias enterradas,

chega a seu termo 

fiel a sua tortuosa jornada.

Inútil como um livro não lido. 




domingo, 19 de fevereiro de 2023



                   cansei





Cansei do amor.

E pelo visto, a recíproca é verdadeira.

Não tenho mais os requisitos.

Sequer vontade.

Já foi o tempo.


Via de regra, o amor se extingue amalgamado 

a ilusões e pendengas que pairam como um desastre anunciado.

De tanto ser incensado e idealizado como sendo melhor do que é, os maiores erros e desvarios enseja.

Porque amar implica em contendas, cobranças, 

e mil e outras responsabilidades.

Algo impraticável para um sentir que não respeita protocolos, 

desafia a razão, 

chega sem cerimônia, abusado, intempestivo,

prometendo mundos e fundos,

não obstante ser "mandante de todos os crimes,

assassino de todas as graças". (Moreno Pessoa)


Pois cansei. 

Cansei de passar da euforia à depressão

a qualquer momento. 

De viver entre o prazer e dor, nas mesmas mãos.





 




sábado, 18 de fevereiro de 2023



                        meu canto



Meu canto é meu refúgio.

Apascenta o coração solitário.

Perscruta a débil vontade.


Meu canto é meu brado inútil.

Povoa meu imaginário inconsútil.

Em que me refaço 

recriando o sol de cada dia.


Meu canto é meu oásis inventado.

Espaço despovoado de planos.

Onde novos enganos tecem ternuras

banhadas de luto inocente.






 

                       


                       caminhos sem volta



Porque o que aconteceu jamais poderá ser mudado.

Mas pode acontece de novo.

                                De novo.

                                                De novo.

Às vezes das cinzas, a via cega se repete e se agrava,

sangra e se eleva,

esbate-se incitando raízes e frutos umbrosos.

E uma vez percorrido o caminho sem volta,

implode-se, indecifrável,

em cada coisa que não é.




                                anjos caídos





Onde me encontro, tudo reflui. 

Neste lugar em que tudo é carência, nada me falta. 

Nada que eu não seja merecedor.

O que tive a terra comeu.

Nem raízes ficaram.

A existência cega silencia todos os passos.

A memória lentamente se apaga.

As coisas perdidas já não doem.

Meus desejos são os mesmos dos anjos caídos. 








Eu vou, tu ficas.

Tu ficas, eu vou.

Opostos que se traem.



 

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